Francamente, cada vez que leio coisas sobre a situação da Renault/Proton/Lotus, tenho aquela sensação de estar dentro de um filme do Luis Buñuel ou de um quadro do Salvador Dali: quanto mais surrealista melhor. Eu gosto do Dali - já fui a Figueres, o museu feito em sua honra e vi "inesperadamente" o seu túmulo quando fui a correr à casa de banho para resolver um almoço demasiado agitado para o meu pobre intestino - mas tem dias que ao ler qualquer história que meta nomes como a Proton, Dany Bahar, Renault, Genii ou Gerard Lopez, só ponho as mãos à cabeça e digo para mim próprio: "vamos lá ver qual é a próxima bomba".
Primeiro que tudo: Tony Fernandes já se livrou de tudo isto. Está mais do que confirmado oficiosamente - embora o anuncio oficial deva acontecer no final do ano - e as equipas de Formula 1 aceitam com naturalidade a troca de nome para "Team Caterham" e não perderá os dinheiros já combinados com a FOM. Por ali, não há qualquer problema, e a equipa irá mudar-se para Silverstone, o "centro do universo" da formula 1, estando em negociações para adquirir as instalações de Leafield, que já pertenceram à Arrows e à Super Aguri. E quer fazer em grande, passando para lá até algumas das máquinas que permitem a montagem dos Caterham de estrada, o que significa que quer reativar a marca, ou então mostrar aos outros como teria feito à Lotus, caso ficasse com a marca.
Em suma: ele está a seguir com a sua vida, e a tentar ser feliz neste mundo da Formula 1. Boa sorte para ele, claro.
A complicação vem do lado da Renault-Proton-Genii, especialmente Dany Bahar. Com o acordo feito entre ele e Fernandes, quer capitalizar a situação, modificando o nome para "Team Lotus" já em 2012. Pediu que essa modificação fosse autorizada pelas restantes equipas, mas estas viram nisto uma oportunidade para "lixar" Bahar e quando vio o pedido por fax, Ferrari, Sauber e Hispania simplesmente disseram "não", obrigando a que se marcasse uma reunião formal da Comissão da Formula 1, que acontecerá a 3 de novembro, na semana anterior ao GP de Abu Dhabi.
Porquê? Basicamente todos o odeiam, especialmente Red Bull, Sauber e Ferrari, equipas onde ele trabalhou anteriormente: Peter Sauber não o suporta nem pintado a ouro, Dietrich Mateschitz acusa-o de traição - aparentemente, devido a algumas falcatruas no tempo em que trabalhou nos energéticos, e que foram descobertas após a sua saída - e na Ferrari, a coisa tem mais a ver com má gestão no departamento das lojas da marca. Isso, e a sua personalidade arrogante e convencida, nunca caiu nada bem no seio das equipas de Formula 1.
Portanto, ver esta situação como um pretexto para se vingarem de Bahar e estragar os seus planos, não é de todo descabido. É que a modificação de qualquer nome precisa de 18 dos 26 votos possiveis da Comissão da Formula 1, que constituido pelas equipas, FIA, Ecclestone, Pirelli, organizadores e alguns patrocinadores, como a Marlboro. Com quatro equipas contra - as três acima referidas mais da Hispânia - se algum dos patrocinadores, como a Marlboro, decidir também votar contra, é muito provável que a mudança de nome seja vetada.
E isto tudo não poderia acontecer na pior altura, pois nesta altura se negoceia, como é sabido, a sua venda, em conjunto com Marcel Boekhoorn, o patrão da McGregor. Para piorar as coisas, segundo conta Luis Vasconcelos na edição desta semana da Autosport, a Renault poderá usar o seu poder vetar o uso do seu nome em 2012, caso a Genii falhe um pagamento que deve à marca do losanglo no inicio do mês que vêm. Se o pior aocntecer, compromete-se o pagamento de cerca de 50 milhões de euros a que tem direito devido à sua posição no Mundial de Construtores deste ano.
E aqui as coisas começam a entrar no campo do surreal, pois ontem o
Joe Saward,
no seu blog, conta que Gerard Lopez tem intenções de... comprar a Lotus! Aparentemente, é um plano com algum tempo, e Lopez não está para entrar com dinheiro - também, vive de empréstimos, não é? - mas sim quer lierar um consórcio que entraria com dinheiro suficiente para fazer uma proposta à Proton para adquirir a marca de Hethel por uma soma suficientemente lucrativa para a construtora malaia, que pertence ao Estado malaio. E quem seriam os interessados? Malaios, nomeadamente
Tan Sri Syed Mokhtar, um dos homens mais ricos do país,
Zainal Hatim e
Tan Sri Arumugam. E todos esses homens, os mais ricos do país, estão envolvidos em vários negócios, desde agricultura, comunicações, turismo, etc.
É um negócio ainda nebuloso, mas parece que - parece incrível, mas é verdade - tem pernas para andar. Não se sabe quando - e se - este negócio for para a frente, mas certamente a ideia é de que há muita gente que gostaria de se livrar de Dany Bahar. Mas em suma, a Proton - e a Lotus, de uma certa forma - chegou a este ponto porque estão a sofrer com o seu estilo de liderança e os seus projetos megalómanos, com a ideia de fazer ao mesmo tempo quatro carros de estrada, a equipa de Formula 1 e o projeto da IndyCar Series, para não falar do tal projeto do T125 Exos, 25 chassis feitos para clientes ultra-milionários do qual... nenhum deles ainda foi adquirido.
Contudo, as coisas estão cada vez mais a parecer um circo. Resta saber quando é que a tenda vai pegar fogo, ou se é que já pegou.