Por fim, depois de quatro meses de ausência, a Formula 1 estava de volta. Um novo tipo de carro era mostrado ao mundo, mais aerodinâmico, mais agressivo, com rodas maiores, asas maiores, tudo isso para ser mais veloz em pista. Mas nada se sabia sobre se isso iria prejudicar as ultrapassagens, apesar de serem quatro a cinco segundos mais velozes do que os carros de 2016.
A Formula 1 também mudava, tinha novas caras. Pela primeira vez em mais de 45 anos, havia uma ausência: Bernie Ecclestone. Não, o Diabo não o foi buscar, ainda vive. Contudo, a compra da Formula 1 por parte da Liberty Media, em setembro, tinha passado a ideia de que, mais cedo ou mais tarde, Ecclestone seria reformado. E foi o que aconteceu, num dia de janeiro: após a confirmação da compra por parte dos accionistas, eles decidiram "reformar" o "anãozinho tenebroso", dando-lhe um cargo honorifico pelos bons serviços. No seu lugar, apareceram três pessoas: Sean Bratches, Chase Carey e Ross Brawn.
O facto de tirarem Brawn da sua reforma, pescando trutas nos rios britânicos, só poderia acontecer se todos estivessem ali com o firme propósito de reformar, tornar a Formula 1 mais atraente do que é agora. E de uma certa forma, lá vão conseguindo algumas coisas, dizendo que é apenas o inicio. A parte mais complicada acontecerá mais adiante, quando estes três negociarem com as equipas, juntas no Grupo de Estratégia, com o objetivo de elaborar um novo contrato para a Formula 1 a partir de 2020. Muita coisa vai ser dita ao longo deste ano, e outras coisas teremos de ver como acontecerão, desde as relações entre a FOM e as equipas, o calendário, que carros quererão ter no futuro, as transmissões televisivas, as ligações com as redes sociais, redistribuição de dinheiros... muita, muita coisa.
Infelizmente, tudo isto não chegou a tempo para que a Manor pudesse alinhar para esta temporada. As dívidas e o fracasso na tentativa de arranjar novos compradores fizeram com que esta fechasse as suas portas no inicio de 2017, reduzindo o pelotão para vinte carros.
Parecia que as novas regras poderiam ver algo novo na hierarquia, mas na sexta-feira, depois dos dois treinos, parecia que tudo estava na mesma: os Mercedes na frente, Lewis Hamilton a liderar a tabela de tempos. Parecia que iria voltar o velho filme de anos anteriores, desde 2014.
Contudo, o dia começava em terras australianas com uma noticia inesperada: ressentido das suas lesões sofridas na Race of Champions, em janeiro, o alemão Pascal Wehrlein decidira não alinhar na corrida, e seria substituído pelo italiano António Giovanazzi. Piloto reserva da Ferrari, era o primeiro italiano a correr na Formula 1 em mais de cinco anos, quando Jarno Trulli e Vittantonio Liuzzi alinharam no GP de Abu Dhabi de 2011, respectivamente na Lotus e na Hispania. Assim sendo, o jovem piloto de 23 anos iria ter a sua primeira chance de ouro para mostrar o seu talento naquele que é, provavelmente, o carro mais modesto do pelotão.
O dia de sábado apresentava-se ameno, com céu encoberto de nuvens brancas. Não parecia que iria chover, mas o cenário ficava um pouco mais multicolor para a primeira qualificação do ano. As coisas começaram de forma interessante, para ver se os pilotos aguentam estes novos carros, como se fossem "mustangs" indomáveis, com pouca capacidade de os domar. Ao fim da Q1, os primeiros pilotos ficaram de lado, e há algumas surpresas, como por exemplo, o canadiano
Lance Stroll, que vai largar da penultima posição, apenas na frente de
Joylon Palmer. E até
Stoffel Vandoorne ficou à frente do piloto de 18 anos...
Mas ambos ficaram na frente de
António Giovanazzi, o piloto da Sauber que está no lugar de Wehrlein neste fim de semana. Quem ia para a Q2 era o seu companheiro de equipa, Marcus Ericsson, e claro, o resto do pelotão intermediário.
A parte interessante era ver quem, na Q2, iria alinhar para a parte final da qualificação, e quem ficaria a vê-los correr nessa última parte. Uma coisa que deu nas vistas foi o facto de Valtteri Bottas ter conseguido ficar na frente de Lewis Hamilton nesta fase, apesar de ambos passarem para a Q3, e outra coisa foi ver os Toro Rosso irem para a última parte, bem como o Haas de Romain Grosjean demonstrando o potencial desse carro. Felipe Massa também entrou com o seu Williams, cumprindo o que tinha a fazer, e os Red Bull, apesar dos problemas em controlar os seus carros, também passaram.
Quem não passou? Para além daqueles que eram esperados, como Fernando Alonso - apesar de tudo, conseguiu um digno 13º posto - os Force India desiludiram, pois nem Esteban Ocon, nem Sergio Perez fizeram esse trabalho. E Nico Hulkenberg, com o seu Renault, também não conseguiu chegar lá.
Assim, para a parte final, com o céu a ficar cada vez mais ameaçador, a Q3 começou de imediato, com os pilotos a quererem marcar tempo antes que a chuva molhasse o asfalto. Bottas foi o primeiro, mas Vettel tirou menos... dois milésimos e ficou no topo da tabela de tempos. Hamilton, contudo, fez 1.22,496 e era o melhor. E foi bem a tempo, porque Daniel Ricciardo perdeu a traseira e bateu nos pneus, causando a bandeira vermelha no treino. Faltavam oito minutos para o final.
Rebocado o carro, a qualificação prosseguiu com mais uma novidade: Hamilton melhorava o seu tempo, baixando para 1.22,188, fazendo assim a primeira pole do ano.
É óbvio que todos viam que com ou sem novas regras, a Mercedces parece dominar. A interferência de Vettel nos três primeiros poderá ter sido algo temporário, mas poderá indicar também outras coisas. Que há mais equilibrio do que aparenta, e que a Ferrari - sobretudo a Ferrari - poderá ser o maior desafiador dos Flechas de Prata nesta temporada. Agora... Lewis Hamilton estará a caminho de um quarto título mundial? Ainda não sabemos. Amanhã, o primeiro capitulo de uma longa temporada será escrito.