Suiça francesa
(Foto retirada da Internet)
Nessa altura, um sobrinho, emigrante na Suiça passava férias em Portugal. Horácio antevê uma oportunidade e pede ao familiar que o leve. Estávamos em 1988. Não querendo aguentar mais essas longas ausências, Isabel ruma também para a Suiça. “Fui ter com ele sem saber falar francês e sem conhecer a realidade daquele país. Já estávamos saturados de estarmos distantes um do outro e precisávamos de estarmos juntos. O mais difícil foi deixar o meu filho, já com 12 anos, com a minha mãe. Não o pude levar por dois motivos: não queria que ele saísse assim a meio do ano escolar e as leis da Suiça eram rígidas – ele não podia entrar na escola sem papéis e o meu marido só tinha contrato de 9 meses renováveis”, explica. Isabel ficou com o coração apertado, apesar de saber que o filho aceitava bem a situação, pois gostava muito dos avós e distraia-se na escola com os amigos. Na Suiça, o marido vai juntando os contratos de trabalho de 9 meses, até perfazer um total de 36 meses e obter os tão desejados documentos de residência, trabalho e afins. Por seu turno, Isabel aprende francês lendo jornais, dicionários e vendo televisão. Ao mesmo tempo, trabalha ilegalmente na cozinha de uma casa de repouso. A situação dura 2 anos até ser acusada por anónimos. Felizmente, algum tempo depois, consegue um contrato como camareira, primeiro num hotel longe de casa, depois num mais perto. Graças à situação regularizada do marido, Isabel volta para o primeiro local de trabalho: o lar de idosos, nos afazeres da cozinha, da sala de jantar e dos quartos. Nesse período, tentam que o filho com 17 anos venha viver com eles. Porém, o adolescente não se adapta, pois tem saudades da namorada, dos amigos, dos avós e da terra natal. Os pais, mesmo inconformados, deixam-no regressar e ficam felizes ao vê-lo tirar o curso de contabilista e ingressar numa empresa. Mais tarde, envereda para a GNR onde permanece actualmente. Adulto, casa-se e tem uma menina. Na Suiça, o pai sofre um acidente de trabalho sério. Recuperado, Horácio pensa em voltar de vez para Portugal para estar junto do filho, da nora e da neta. “Adorava a Suiça, mas o meu marido convenceu-me a regressar ao nosso país para estarmos com a nossa linda netinha. E assim foi, mas com a condição de termos um apartamento na cidade.”, confidencia. O casal escolhe um apartamento em Viseu por ser perto de Penela, ter a privacidade citadina e comparar-se um pouco ao tipo de vida suíço. Na cidade de Viriato, nem tudo é fácil. O marido arranja prontamente emprego na construção civil. No entanto, fica desiludido com as condições salariais e o estilo de vida e emigra para França onde se encontra actualmente. Passados dois anos, Isabel emprega-se finalmente como camareira em hotéis da Visabeira. Terminado o contrato de um ano, fica desempregada. “A vida aqui é dura porque não sentimos qualquer retorno na qualidade de vida e de trabalho. Por isso, o meu marido emigrou e eu se tivesse uma oportunidade, ia também”. Todavia, preferiu ficar.
Penela da Beira
(Foto retirada da Internet)
Sempre que pode, conduz até a aldeia de Penela e até São João da Pesqueira para estar com o filho e a neta. “Gosto de estar na minha casa da aldeia. Sinto-me livre e sossegada, cultivo a minha horta e trato do meu jardim. Só não vivo lá permanentemente porque é muito fria no Inverno e deserta. Os idosos conversam sobre o passado e a melancolia instala-se. No Verão, é muito mais bonita e animada, com festas, pessoas e convívio”, profere com alegria. No final, a pergunta da praxe sobre se era uma mulher feliz? A penelense responde que não tem sonhos, nem ambições, apenas quer viver “tranquila e com saúde e ver o filho feliz e a neta crescer”. E acrescenta, “considero-me uma mulher feliz porque lutei sempre. Apesar de nos termos casado sem nada e trabalhado muito, conseguimos as coisas com que sonhávamos e temos uma vida boa dentro das nossas possibilidades”.
Primeira vela da colecção, comprada em Veneza.
Antes de concluirmos a história de mais uma grande mulher beirã, quer saber uma curiosidade sobre a Isabel? Ela tem uma enorme colecção de velas! Já lhe perdeu a conta. “Tudo começou numa viagem à Veneza. Vi confeccionar tantas velas lindas, comprei uma e fiquei fã. A partir daí, comecei a comprar de todas as cores e feitios”, remata, soltando uma gargalhada sonora e mostrando divertida o armário das ditas.
Armário das Velas