E foi um pouco devido ao gosto pela dança que conheceu o marido. “Ele estava na tropa. Quando vinha a casa, espreitava-me nos bailes. Começou a escrever-me, mas eu não lhe dava troco”, revela. Até que se inscreve como sua madrinha de guerra e aí iniciam uma troca de aerogramas. Apesar de não pensar em casar, Lucília casa aos 18 anos. Dois factos curiosos: o casamento é feito por procuração e na cerimónia, o noivo não está presente. “O meu marido tinha de acabar a tropa, então não podia vir. Fiz uma festa na mesma que correu de forma normal”, relata. No entanto, o soldado acaba o tempo de serviço e emprega-se em Angola. Lucília decide ir viver para lá. “Viajei 10 dias sozinha no barco, sem medo e com muitas perspectivas. Como tinha lá familiares meus, fui-me adaptando. Lembro-me de estar sentada à beira-rio e de recordar as aulas de geografia sobre esse mesmo país e os seus rios”, evoca.
No entanto, engravida, e na mesma altura, em Portugal, a mãe adoece, padecendo do estômago. “Tive de voltar. Com o meu filho de um mês nos braços, regressei para cuidar da minha mãe. O meu marido chegaria pouco tempo depois”. De Dezembro a Fevereiro, a jovem zela pela saúde da progenitora. Contudo, esta acaba por falecer com a jovem idade de 44 anos. “A perda da minha mãe foi o pior momento da minha vida. Marcou-me para sempre porque sinto muito a sua falta. O meu padrasto não era compreensível e tinha o vício da bebida. A minha avó materna, que viveu mais tempo que a minha mãe, era uma pessoa fria e distante. Daí, a minha mãe e eu sermos tão ligadas uma à outra. Por isso, quis estar ao pé dela e dar-lhe o meu apoio e carinho”, expressa com o sentimento de tristeza profunda estampada no rosto.
Depois deste trágico episódio, Lucília e o marido pensam em voltar para Angola. O 25 de Abril impede-os. Lisboa torna-se uma hipótese de trabalho. Com um curso de dactilografia tirado em Viseu, prepara-se para rumar até a capital. Porém, o filho contrai uma bronquite asmática e os planos modificam-se uma vez mais. “Como não tinha ninguém a quem deixar o meu pequenino, optei por ficar com um café na terra do meu marido. Mas não aguentei ver as pessoas com fome, sem conseguirem pagar…”, e acrescenta, “depois, também engravidei da minha filha. Aí, decidi permanecer em Queirã e cuidar dos meus filhos”. A vouzelense investe então todo o seu tempo na educação e formação moral dos filhos, nas tarefas domésticas e na criação de leitões. Enquanto isso, o marido torna-se de novo emigrante: passando 10 meses em Israel na construção civil e 12 anos na Suiça onde a família o visita nas férias. Em Portugal, trabalhava sempre na área dos transportes. Até quando regressa definitivamente, arranja emprego numa firma de camionagem de Oliveira do Hospital, onde se encontra actualmente. Durante a semana, Lucília fica assim sozinha em casa, mas não deixa por isso de se manter ocupada. “Com o meu cão e a minha gata, vou tratando dos animais e da horta. Quando tenho possibilidade, vou até à Madeira visitar a minha filha”.
As palavras da beirã reflectem simplicidade e tranquilidade, aliadas a uma grande nobreza de espírito. “As alegrias da minha vida foram os meus filhos e a dedicação à minha família. De resto, sou feliz com a minha vida pacata. Quando me canso da calma do campo, guio até a cidade. Vou ao jardim, às lojas e vejo as montras… Estou bem assim sem grandes ambições, pois como costumo dizer «rico não é quem tem muito, é aquele a quem não falta nada»” finaliza, acarinhando um dos seus queridos coelhos.
10 comentários:
Oi Amiga
Mais uma grande mulher e cada vez mais próxime da minha terrinha amiga a vida é bem dificil para muitas mulheres, mas a Esperança fazem delas seres himanos maravilhos.
Até breve
Herminia
Podes crer! A esperança é sempre a última a morrer! E olha que á a conhecço há muitos anos e continua sempre com a mesma alegria e juventude! Há pessoas em que parece que o tempo não passa!
Obrigada pela vossa presença aqui!
Bjs Susana
Olá Lena,
linda postagem,belo texto!!!
Uma mulher de coragem e lutadora,
enquanto há vida há esperança...
Obrigado pela visita...
Bom fim de semana,
beijinhos de carinho e amizade,
Lourenço
YES!...
"vendo tudo quanto tenho"...???
Vida exemplar a desta mulher, verdadeira heroína anônima entre tantas que habitam este planeta azul.Também gostei do tom passional da sua crônica.
Vida longa às bravas mulheres vouzelenses.
Um beijo!
Olá!
É verdade,Vouzela tem mulheres sensíveis,amigas e apegadas aos valores maternos.A Lucília é uma senhora muito querida.
Jocas gordas
Lena
lINDA HISTORIA.
COMOVENTE.
A ESPERANÇA NÃO PODE MORRER.
TEM QUE ESTAR SEMPRE MUITO PRESENTE.
GOSTEI DE VIM ATÉ AQUI.
PARABÉNS.
SANDRA
Tenho urgentemente de dar uma volta por essas terras...
Mas... se calhar,
já deixei passar o melhor -
AS VINDIMAS!
Beijinho
Adoro esta linda mulher! Devo-lhe tudo o que sou.
Um ser humano belíssimo, muito sensível. Se houvesse mais pessoas como ela, o mundo era muito melhor.
Obrigada,
Susana
(desculpa, amiga, eu tenho andado um pouco desligada da net)
Enviar um comentário