«Glenn Gould said, "Isolation is the indispensable component of human happiness."» [Contraponto] «How close to the self can we get without losing everything?»
Don DeLillo, “Counterpoint”, Brick, 2004.
Seis realizadores nomeáveis para os Óscares deste ano numa mesa redonda promovida pelo The Hollywood Reporter para falar sobre o trabalho do ano e a inevitável bambochata dos projectos para o futuro. Há por aí vídeos espalhados com as palavras, interpelações e expressões pretensamente espirituosas dos seis egos em análise.
Os Óscares. Essa terrível estatueta dos infernos para o profissional de cinema ou cinéfilo culto. Há, todavia, uma imagem que, por mais tempo que a minha alma deambule sobre este planeta, jamais irei esquecer: a subida ao palco do Kodak Theatre de Martin Scorsese, no dia 25 de Fevereiro de 2007, para receber das mãos do trio Coppola/Lucas/Spielberg a estatueta dourada pela “Melhor Realização” em Entre Inimigos (The Departed, 2006): a alegria agarotada de um homem sexagenário que conquistou o presente que ardentemente desejou durante anos, de sorriso comovido, rasgado de orelha a orelha, o orgulho pelo reconhecimento, menos apalhaçado, patético e grotesco que um Benigni em 1999, menos enfatuado que um Cameron, “King of the World”, em 1998, mas mais contido que um realmente feliz, sem vergonha de o mostrar em directo para milhões de pessoas, Stanley Donen, pai do Serenata à Chuva (Singin’ in the Rain, 1952) quando em 1998 recebeu o Óscar honorário e executou um notável pas de deux, em pleno Shrine Auditorium, com a estatueta ao som do “Cheek to Cheek” de Irving Berlin, canção imortalizada no filme musical de Mark SandrichChapéu Alto (Top Hat) de 1935 por Fred Astaire e mais tarde parte integrante de um dos melhores álbuns musicais de sempre, Come Dance with Me! (1959) de Frank Sinatra, com arranjo orquestral e direcção de orquestra de Billy May. Muito poucos se podem gabar da indiferença com que encaram o evento e, em jeito de peroração palmelense, vocês sabem de quem estou a falar…
Mas, voltando ao meeting dos prováveis, alguém faltou...
Serve o presente texto para anunciar a criação de mais um espaço na blogosfera. O meu mui estimado blogger e jornalista Pedro Correia, apesar do verde que inunda o seu coração – já o meu só tem uma cor, como diria o JP, é azul e branco –, inaugura o blogue com um manifesto suficientemente claro e abrangente, de onde se destaca a vontade declarada de dar uso à liberdade de expressão: a opinião sem constrangimentos ou ditames de uma ordem superior, não compactuando, todavia, com extremismos ou vilanias.
Parabéns ao Pedro e à bastante heterogénea equipa de autores, e votos de muitos sucessos, que neste pequeno mundo da blogosfera lusa se traduz em interacção e reciprocidade, jamais deixando de lado os interesses individuais em favor de um interesse colectivo pretensamente higienizado e plural, mas que normalmente reflecte o carácter e a vontade de uma só pessoa cuja megalomania, toldada por uma auto-ilusão de impoluível, tenta esmagar a criatividade alheia e padronizar o comportamento segundo uma cartilha, essa sim obscura, que satisfaz as necessidades primárias de um ego que, de tão insuflado, se torna falsificador da própria realidade e da mundividência do colectivista, passando a questão ao foro restrito da patologia psíquica.
Três anos depois do mediano Miami Vice, Mann volta ao grande ecrã sentado na cadeira que mais lhe diz, a do realizador, dirigindo desta vez a dupla Depp & Bale, adaptando para o cinema a verídica e aclamada história de gangsters, publicada em 2004, pelo escritor e jornalista Bryan Burrough, Public Enemies: The True Story of America’s Greatest Crime Wave. Reduzindo ao mínimo (por preguiça) o argumento do filme: trata da ascensão de J. Edgar Hoover (Billy Crudup) na chefia impiedosa do BOI – que comandava desde 1924 –, mais tarde FBI (1936) e do seu agente especial – objecto das suas tão típicas invejas pessoais – Melvin Purvis (Christian Bale) no restabelecimento da ordem pública, quando em 1933 os Estados Unidos enfrentavam o crescimento exponencial da criminalidade no pós-1929 e a pior vaga de crimes da sua história. À época sobressaíam criminosos, ainda hoje famosos, como John Dillinger (Johnny Depp, na imagem), Baby Face Nelson (Stephen Graham), Pretty Boy Floyd (Channing Tatum), entre outros não referenciados no filme como Bonnie e Clyde, Machine Gun Kelly ou o gang de Ma-Barker e do seu impiedoso e assustador associado “Creepy” Alvin Karpis.
Estreia em Julho nos Estados Unidos e, provavelmente, no fim do ano em Portugal.
Com este filme e o que ontem referi, ambos a estrear em ano de forte crise económica mundial – 80 anos após a Grande Depressão –, nada melhor que recordar os feitos das mentes criminosas que se serviram da instabilidade e da debilidade política, económica e social para atingir os seus fins perversos. Hoje, todavia, até os criminosos de puro sangue perderam o seu olhar vítreo e celerado, as cicatrizes lapidares, a rudeza e a ostentação impudica dos seus troféus de caça. Nos dias que correm, os grandes criminosos são conduzidos em jaguares, envergam Zegna e Armani, estudam o tempo em Rolex ou Patek Philippe, assinam os crimes com Mont Blanc ou Conway Stewart, carregam os seus papéis em Louis Vuitton prontos para uma lavagem em Gibraltar, nas Ilhas Virgens ou nas Caimão, regressando a solo firme nos seus Cessna, Gulfstream ou Learjet, mal sentando o rabo temerário nos cadeirões esterilizados das salas dos conselhos de administração de, pelo menos, 200 m2, equipadas de mobiliário de design, à espera que o Estado, de cócoras perante tal magnificência e opulência, lhes ponha a mão por baixo com o dinheiro que nos vai retirando sempre que ousamos pedir um café que possa despertar-nos para a dureza do quotidiano – talvez seja esse o delito, mantermo-nos acordados.
Antes dos Óscares e dos Globos de Ouro, surgem, por tradição, os prémios da associação de críticos norte-americanos (ditos independentes, banidos da associação, digamos canónica, New York Film Critics Circle em 1966) National Society of Film Critics (membro americano da prestigiadíssima organização de críticos internacional FIPRESCI – Fédération Internationale de la Presse Cinématographique). Se é costume dizer-se que os Globos de Ouro são a antecâmara dos Óscares da Academia de Hollywood, os prémios da NSFC, quase por regra, contrariam (por antecipação, e diga-se o que se disser) os mais cobiçados prémios cinematográficos do mundo. Por exemplo, Haverá Sangue (There Will Be Blood) de Paul Thomas Anderson venceu nas categorias de Melhor Filme, Realizador, Actor e Fotografia (4 prémios em menos categorias), tendo vencido apenas dois Óscares: Melhor Actor e Fotografia. A NFSC agrega um conjunto de mais de 60 críticos prestigiados no meio cinematográfico norte-americano que se reúne num restaurante nova-iorquino no início de cada ano civil e atribui os seus prémios por votação secreta em boletim de voto. No passado sábado, 3 de Janeiro, 49 dos actuais 63 membros reuniram-se no célebre Sardi’s Restaurant em Nova Iorque, e atribuíram pela 43.ª vez os seus prémios anuais.
Eis a lista dos vencedores (a bold) e os respectivos derrotados por cada categoria. Numa análise rápida, o grupo de críticos não-alinhados continua a provocar estragos, senão atentem, desde logo, no trio que liderou a categoria “Melhor Filme”:
Melhor Filme 1. A Valsa com Bashir, de Ari Folman (Vals Im Bashir; 26 votos) 2. Um Dia de Cada Vez, de Mike Leigh (Happy-Go-Lucky; 20) 3. WALL-E, de Andrew Stanton (20)
Melhor Realizador 1. Mike Leigh, por Um Dia de Cada Vez (Happy-Go-Lucky; 36) 2. Gus Van Sant, por 2 filmes Milk e Paranoid Park (20) 3. Danny Boyle, por Slumdog Millionaire (16)
Melhor Actor 1. Sean Penn, por Milk (87) 2. Mickey Rourke, por The Wrestler (40) 3. Clint Eastwood, Gran Torino (38)
Melhor Actriz 1. Sally Hawkins, por Um Dia de Cada Vez (Happy-Go-Lucky; 65) 2. Melissa Leo, por Frozen River (33) 3. Michelle Williams, por Wendy and Lucy (31)
Melhor Actor Secundário 1. Eddie Marsan, por Um Dia de Cada Vez (Happy-Go-Lucky; 41) 2. Heath Ledger, por O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight; 35) 3. Josh Brolin, por Milk (29)
Melhor Actriz Secundária 1. Hanna Schygulla, por Do Outro Lado (Auf der anderen Seite; 29) 2. Viola Davis, por Dúvida (Doubt; 29, obtidos em menos boletins de voto) 3. Penélope Cruz, por Vicky Cristina Barcelona (24)
Melhor Argumento 1. Um Dia de Cada Vez, por Mike Leigh (Happy-Go-Lucky; 29) 2. Un conte de Noël, por Arnaud Desplechin e Emmanuel Bourdieu (24) 3. Synecdoche, New York, por Charlie Kaufman (17)
Melhor Fotografia 1. Slumdog Millionaire, Anthony Dod Mantle (29) 2. O Voo do Balão Vermelho, por Pin Bing Lee (Le voyage du ballon rouge; 22) 3. O Cavaleiro das Trevas, por Wally Pfister (The Dark Knight; 18)
Porém, o exercício mais divertido, após a atribuição destes prémios, tornou-se em passar uma rápida revista pelos jornais, revistas e sítios da web norte-americanos, mais ou menos ligados ao mundo do cinema (incluindo os generalistas com uma forte componente cultural), e atentar nos artigos de opinião. A zurzidela e o escárnio são de ir às lágrimas (eis um exemplo).
«Cleveland: 1935. Eliot Ness, engalanado com o seu ainda recente e lendário triunfo sobre Al Capone e os seus associados, aponta a mira para Cleveland e parte numa cruzada em que se confirma, e por vezes até ultrapassa, os seus feitos passados. Corpos desmembrados começam a aparecer numa determinada área do Lago Erie Sound. Os seus torsos decapitados não deixam qualquer pista sobre a sua identidade ou o motivo da sua morte. Eliot Ness e o seu garrido bando denominado por “Os Desconhecidos” perseguiram o assassino palmilhando o submundo de Cleveland durante anos. Tudo o que publicamente se sabe é que ele jamais foi capturado. Mas o que se sucedeu na realidade revelou-se ainda mais chocante.» [tradução: AMC]
O que acabaram de ler é a sinopse que acompanhou a promoção da “novela gráfica” (ou novela em banda desenhada), ilustrada pelo famoso desenhador de “Comics” Brian Michael Bendis e escrita em parceria com Marc Andreyko, intitulada Torso. Publicada inicialmente em seis fascículos entre 1998 e 1999, a novela foi posteriormente editada num só volume, que viria a incluir as imagens reais dos torsos mutilados, retratando os verídicos e sangrentos acontecimentos, ocorridos em Cleveland no Estado do Ohio, entre 1935 e 1938, que redundaram em 13 vítimas. Os corpos surgiam à luz do dia decapitados e desmembrados por um assassino em série que escapou, sucessiva e, pelo menos, publicamente, às malhas da justiça. No entanto, a súbita interrupção dos crimes em simultâneo com o internamento voluntário num hospital psiquiátrico de um homem, médico-legista de profissão, bem relacionado politicamente e parente de um adversário declarado de Ness, curiosamente de apelido Sweeney, a quem Ness atribuiu o nome de código “Gaylord Sundheim” – estranha associação entre o apelido e as práticas sanguinárias, com um nome de código muito próximo do dramaturgo Sondheim que inspirou Burton –, que chumbou por duas vezes no teste do polígrafo, parecia indicar uma resolução próxima e definitiva para os misteriosos crimes. Ness mudou-se para Washington, D.C. em 1942, e o caso foi encerrado.
Mais uma série de crimes por resolver, que antecedeu 30 anos os conhecidos Crimes do Zodíaco no Estado da Califórnia… e é bem possível, a fazer fé nos boatos que correm pela imprensa sediada em Hollywood, que se repita a receita cinematográfica, encerrando-se uma desejada trilogia… (desde que se afaste de uma vez por todas – queira Deus ou alguém por Ele – o cenário de um arriscado embarque num projecto fílmico-gastronómico já tentadoramente proposto a Mr. F. por Keanu Reeves).
«Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me a verdade. Sentei-me a uma mesa onde a comida era fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que eles não tinham e nem sequer podiam comprar. O estilo, a casa com o terreno em volta e o “entretenimento” não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade. Na minha vizinhança havia um homem que morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem melhor visitando-o a ele.» Henry David Thoreau, Walden ou a Vida nos Bosques, pp. 358-359 [Lisboa: Antígona, Junho de 1999, 367 pp.; tradução de Astrid Cabral, com revisão e adaptação de Júlio Henriques; obra original: Walden; or, Life in the Woods, 1854.]
Em destaque, a passagem sublinhada por Christopher McCandless no livro encontrado junto aos seus restos mortais no Alasca. No topo da página aquele havia escrito e sublinhado em letras maiúsculas a palavra “VERDADE” (cf. Jon Krakauer, O Lado Selvagem).
Tento responder com os argumentos que de relance me afloram a mente, mesmo que a questão não tenha existência física de facto, provinda de um interlocutor suficientemente vigilante para questionar as minhas escolhas. Ela está lá a gravitar, entre sinapses, à espera do momento infinitesimal em que a espoleta solta a interrogativa e surgem os fragmentos de uma possível resposta, não pensada, pronta a sair ao correr das emoções. Porquê o Cashback? Ou, seguindo o título que o IGAC escolheu, porquê o Bem-vindo ao Turno da Noite? Colocaste-o em 10.º lugar… Talvez responda, a abertura. Sim o momento em que se dá o contacto com a obra e que depende em muito da disposição emocional nesse marco temporal. O toque melodramático, potencialmente kitsch – dir-me-ão –, preservado indelevelmente pelo som que se solta, uma das melhores árias de ópera de todos os tempos, geradas pelo efémero e admirável compositor, que repousa ao lado de muitos outros que enobreceram a arte, em Père Lachaise, Paris: Vincenzo Bellini (1801-1835) – a ária é “Casta Diva” da ópera Norma, imortalizada por Maria Callas (1923-1977), neste caso interpretada pela soprano escocesa Jeni Bern, conduzida pelo jovem maestro e compositor inglês Guy Farley, com a Orquestra Metropolitana de Londres.
Não sei se conseguem ler as legendas em árabe, (e apenas me interrogo dadas as piedade e simpatia arrebatadas pelas suas gentes, religião e cultura que grassam pela blogosfera lusa esquerdófila e amnésica, e também pela saudosista e neonazi – como sempre, a ciência, os pólos opostos atraem-se –, contra esses celerados capitalistas/sionistas), mas pedindo perdão pela eventual contundência do aparte, eis esta deliciosa abertura:
«São necessários aproximadamente 227 kg para esmagar um crânio humano. Mas a emoção humana é uma coisa bem mais delicada. Olhem para a Suzy, a minha primeira namorada a sério. A minha primeira separação a sério, a acontecer mesmo à minha frente. Nunca pensei que iria assemelhar-se a um acidente de carro. Travei a fundo, e estou a deslizar em direcção a um impacto emocional. Então, será isto tudo culpa minha? Eu. Ben Willis. É engraçado o que nos passa pela cabeça numa altura como esta. Os dois anos e meio que passámos juntos. As promessas que fizemos. As férias que passámos com os pais dela. O candeeiro que ambos comprámos no Ikea. Era o meu último ano na Escola de Artes. E nas semanas que se seguiram à separação, tentei entender o que poderia ter corrido mal. Porque é que acabámos? É engraçado, mas quando recuo no tempo o motivo parece-me tão insignificante. Num dia ela está comigo e a dizer “eu amo-te”, e na semana seguinte ela está com outra pessoa... Provavelmente, a dizer-lhe a mesma coisa. Será que, na realidade, ela me amou? Afinal, o que é o amor? E será assim tão passageiro? […] [a terminar o excerto arabizado, um diálogo banal, que se desbanaliza com as imagens] Sean: Tens de arranjar uma rapariga bonita; uma modelo ou assim. Bem: Porquê? Sean: Bem, porque se tiveres uma rapariga bonita atrelada a ti, é porque a mereces. As mulheres estão sempre em competição umas com as outras. A Suzy vê-te com uma tipa sexy, então ela irá pensar “Se eu conseguir arrancar o Ben àquela rapariga bonita, então eu tenho de ser mais bonita que ela.”
O sucesso do Sean com mulheres era bastante impressionante.
Sean: É verdade. Pergunta à tua mãe.»
Diálogo extraído do filme britânico, exibido em 2008 nas salas de cinema portuguesas, Bem-vindo ao Turno da Noite (Cashback, 2006), argumento e realização de Sean Ellis [tradução: AMC, 2009]
Mote e fantasia: «O tempo voa, mas a boa notícia é que tu és o piloto.»
Foi ontem. Um tal de Jerome David, mais conhecido pelo seu apelido Salinger, completou noventa anos de idade. Desapareceu das luzes da ribalta em 1965, permanecendo em estrito isolamento perante o turbilhão do mundo exterior. Nasceu a 1 de Janeiro de 1919, no seio de uma família de raízes judaicas (apesar de a mãe, de origem irlandesa, se haver convertido ao judaísmo somente após o casamento com o seu pai de ascendência polaca). Depois da aproximação do espiritualismo Zen, Yoga, e das religiões orientais, em meados da década de 1950 converteu-se à Ciência Cristã – não confundir com Cientologia, são seitas religiosas completamente distintas em todos os seus preceitos. Salinger despediu-se do meio editorial com a novela Hapworth 16, 1924, publicada na íntegra na edição de 19 de Junho de 1965 da revista The New Yorker – número esgotado, tendo Salinger impedido a reedição, apesar de em 2005 ter surgido em oito DVD’s e um livro The Complete New Yorker: Eighty Years of the Nation's Greatest Magazine, onde o referido número não foi retirado. O seu primeiro trabalho de ficção de fundo trouxe-lhe, de uma forma vertiginosa, a fama mundial: The Catcher in the Rye, de 1951, (ed. port: Uma Agulha em Palheiro, na edição da Livros do Brasil; À Espera no Centeio, na edição da Difel) e o seu protagonista de dezasseis anos Holden Caulfield. Mais tarde dedicou-se à disfuncional família de prodígios de nome Glass e retirou-se. Diversas fontes asseguram que, Salinger após a retirada, continuou com o seu ritmo normal de escrita, mas escorraçou a publicação da sua rotina, confidenciando à sua quase-ninfeta e amante Joyce Maynard (de apenas 18 anos), com quem viveu maritalmente durante dez meses entre 1972 e 1973, que:
«A publicação é um negócio sujo […] Irás ver a que me refiro um dia. Todos aqueles boçais, opinativos frequentadores de cocktails, tão prontos a julgar. Suficientemente maus quando o fazem a um escritor. Mas quando eles começam a fazê-lo com os teus personagens – e eles fazem-no – é assassinato. […] Trata-se apenas de uma maldita interrupção que eu não posso mais tolerar».
Joyce Maynard, At Home in the World: A Memoir, p.89 (tradução: AMC)
[New York : Picador, 1st edition, 1998, 347 pp.]
Ontem J. D. fez 90 anos, a fazer fé na escassa informação que fugiu do seu escrupuloso escrutínio, deixou instruções quanto à publicação dos seus escritos inéditos. O polémico livro de memórias da sua filha Margaret, Dream Catcher: A Memoir, publicado em 2000, expande não só o ambiente de clausura para dentro da própria casa do autor, como aguça o apetite do mundo salingeriano pelas possíveis obras a publicar num futuro, que a avançada idade do autor deixa entrever, próximo:
«Eu não sei por que razão os seus fatos não cabem no armário do seu quarto. Embora tenha visitado a sua casa por mais de trinta anos, eu nunca vi o seu armário nem o seu quarto de banho. O seu quarto, quarto de banho e escritório formam um “L” à volta da cozinha. A porta permanece sempre fechada. Fui convidada a entrar uma ou duas vezes em toda a minha vida quando ele me queria mostrar alguma coisa no seu escritório. Uma vez para me mostrar umas prateleiras novas com as quais ficara encantado. Outra para me mostrar um novo sistema de catalogação que ele havia engendrado para o material que se encontrava num dos seus cofres. Uma marca vermelha significava, se eu morrer antes de terminar o meu trabalho, publicar isto “tal como está”, azul significava publicar mas só depois de o corrigir e rever, e por aí em diante.» Margaret A. Salinger, Dream Catcher: A Memoir, p. 323. (tradução: AMC) [New York: Washington Square Press, 2000, 436 pp.]
E, afinal, para onde vão os patos do Central Park quando o lago gela no Inverno?
Começo com uma irritação – afinal é o tom que ultimamente mais se adequa a este blogue, dado o microcosmos relacional do seu autor: os responsáveis pela manutenção do BlogRolling continuam a empatar com a conversa da nova plataforma, melhoramentos, da vitimização perante esses cruéis hackers espalhados pelo mundo, do trabalho insano de reconstituição do serviço… desde Outubro! A partir de então estou impedido de remover, alterar endereços ou os títulos dos blogues já existentes. Só consigo adicioná-los, mas está-me vedado o deslincamento, essa potencial arma de destruição em massa na blogosfera. Não fora a quantidade de hiperligações, ter-me-ia dedicado a criar o arrolamento na plataforma do Blogger.
Felicitações ao Eduardo Pitta pelo 4.º aniversário do seu blogue Da Literatura – extensíveis, como é óbvio, ao meu conterrâneo João Paulo Sousa –, um dos meus blogues de leitura diária e, como é possível comprovar, consta da Via-Sacra deste blogue (coluna do lado direito). E, já agora, um bom ano de 2009 para os seus autores. Este ano optei pela não particularização, via telefone, e-mail ou texto no blogue, limitei-me a encher um post com um muito a propósito poema de Thomas Hardy.
Para continuar na onda de atribuição de prémios e comendas, não poderia esquecer-me de Dana Stevens por esta brilhante abertura de um artigo seu, publicado em 29 de Dezembro último na página da Slate: «I must have the opposite of Asperger’s syndrome: I'm allergic to hierarchies, lists, and ranking.» Em primeiro lugar, fiquem a saber que deixarei passar o feriado na tranquilidade possível do meu lar, para amanhã recorrer, de urgência, a um neurologista – talvez um dos Lobo Antunes – e tentar desfazer a associação entre listomania e a mencionada síndrome. Depois, é de realçar o notório mau gosto da senhora americana, nem caiu em graça, nem conseguiu ser engraçada. Finalmente, o horror a listas – listofobia – pode querer indiciar um distúrbio neurológico de outra ordem que a senhora desconhece, e pedras ao vizinho… e que eu tão-pouco pretendo conhecer.
«Pacheco tem aquela velha repugnância marxista pelo registo autobiográfico emotivo, e por isso não liga à blogosfera do CÁ DENTRO, mas a blogosfera do CÁ DENTRO tem gente interessantíssima, culta e de boa prosa.»
Quanto a livros, aguardo a concretização da promessa de publicação do magnum opus de Don DeLillo, Underworld, pelos responsáveis da nova e excelente editora Sextante. E, apesar, de haver lido o 2666 de Bolaño na sua língua original, faço eco do apelo do homónimo, por pseudónimo, do conhecido femeeiro Giacomo Girolamo do século XVIII – ao autor do apelo não me refiro porque cortou a sua ligação a este blogue: publique-se, com urgência, o dito romance.
Finalmente, tenho vontade de fechar esta coisa. Arrancos e arremedos não me têm faltado – aliás, quem já me conhece o suficiente, via blogue, sabe desta minha faceta de consistente na inconstância. Mas procurarei dedicar-me mais à Literatura, que no último ano foi bastante descurada. Embora não se tenha reflectido na quantidade de leitura de livros publicados no ano, atente-se, por exemplo, no número de notas de apreciação (ou pseudo-recensões) escritas em 2008 por comparação às elaboradas em 2007: 8 contra 34.
A todos, uma vez mais e sem excepção, desejo um bom ano de 2009.
Tal como fiz na véspera de Natal, deixo aqui ficar Thomas Hardy (1840-1928), com a sua ironia e o seu profundo cepticismo na humanidade, para o ano novo que se aproxima.
I (OLD STYLE)
Our songs went up and out the chimney, And roused the home-gone husbandmen; Our allemands, our heys, poussettings, Our hands-across and back again, Sent rhythmic throbbings through the casements On to the white highway, Where nighted farers paused and muttered, “Keep it up well, do they!”
The contrabasso’s measured booming Sped at each bar to the parish bounds, To shepherds at their midnight lambings, To stealthy poachers on their rounds; And everybody caught full duly The notes of our delight, As Time unrobed the Youth of Promise Hailed by our sanguine sight.
II (NEW STYLE)
We stand in the dusk of a pine-tree limb, As if to give ear to the muffled peal, Brought or withheld at the breeze’s whim; But our truest heed is to words that steal From the mantled ghost that looms in the gray, And seems, so far as our sense can see, To feature bereaved Humanity, As it sighs to the imminent year its say:-
“O stay without, O stay without, Calm comely Youth, untasked, untired; Though stars irradiate thee about Thy entrance here is undesired. Open the gate not, mystic one; Must we avow what we would close confine? With thee, good friend, we would have converse none, Albeit the fault may not be thine.”
December 31. During the War.
Thomas Hardy, At the Entering of the New Year (publicado em 1920).
Dito assim, parece mais uma daquelas firmas poderosas e obscuras de advogados saídas de um qualquer thriller judicial de John Grisham. Mas não é, apesar de andarmos lá perto, trata-se de mais uns milhões para conta pessoal de Dan Brown, que prepara para a mesma altura o lançamento do seu novo romance, desta vez versando sobre os meandros e a influência tentacular da Maçonaria na democracia americana desde a proclamação da independência pelos Pais Fundadores em 1776.
Anjos e Demónios (Angels & Demons)
Realizado por Ron Howard, com argumento do repetente Akiva Goldsman e de David Koepp (novidade em relação a O Código Da Vinci, e já teve a seu cargo o argumento de filmes como o último Indiana Jones, Sala de Pânico, Homem Aranha ou Parque Jurássico), com a banda sonora novamente a cargo de Hans Zimmer, e com as interpretações de Tom Hanks, Ewan McGregor, Stellan Skarsgård, Armin Mueller-Stahl, entre outros, cabendo a representação do inevitável papel feminino emparelhador – usando o habitual e provável kitsch hollywoodesco: para as fugas pelas ruas de Roma de mão dada ao herói Hanks, no caso a interpretação da sensual cientista do CERN, Vittoria Vetra, uma expert em pró e antimatéria –, à actriz israelita de 39 anos Ayelet Zurer.
Estreia em Portugal, decerto com grande espalhafato mediático e uma tonitruante maledicência crítica, no dia 14 de Maio de 2009 (estreia mundial simultânea).
Eis que, com esta lista, termina o arrolamento do melhor (e também do pior) que se pôde encontrar em três campos artísticos distintos – Cinema, Literatura e Música – no triste ano de 2008. A última tarefa: ordenar, por ordem de preferência, os álbuns de pop, rock, música alternativa ou de tudo misturado – deixo essa tarefa aos rotuladores, patrulha zelosa e implacável perante a mínimo desacerto de catalogação – que, por ordem aleatória, foram sendo divulgados, à razão de um por dia, ao longo da última semana e meia.
Os Melhores Dez Álbuns Musicais de 2008 (por ordem de preferência):
The Breeders, Mountain Battles (4AD);
Portishead, Third (Island);
Vampire Weekend, Vampire Weekend (XL);
Nick Cave and the Bad Seeds, Dig!!! Lazarus Dig!!! (Mute);
Deerhunter, Microcastle (Kranky/4AD);
TV on the Radio, Dear Science (4AD/Interscope);
Thievery Corporation, Radio Retaliation (Eighteenth Street Lounge);
Los Campesinos!, Hold on Now, Youngster… (Wichita);
The Kills, Midnight Boom (Domino);
Bloc Party, Intimacy (Wichita).
Breve referência a cinco decepções, que não atingiram o nível da devastação emocional porque a última parte do trajecto das suas carreiras (com ou sem hiato) já vinha prenunciando a queda vertiginosa (por ordem alfabética da banda ou do cantor(a)):
Black Francis, SVN FNGRS (Cooking Vinyl);
Juliana Hatfield, How To Walk Away (Ye Olde);
Primal Scream, Beautiful Future (Atlantic);
The Verve, Forth (EMI);
Weezer, Weezer (The Red Album), (Geffen).
Outras categorias (insuportáveis):
Mercantilismo impudico: Coldplay, Viva la Vida or Death and All His Friends, que venha tudo, até um possível plágio e desde que pingue qualquer coisinha (nem com Delacroix ou com a ajuda de uns sais... Eno);
Se cantassem em português: Keane, Perfect Symmetry com o conjunto Albatroz e com o Marante, se este sozinho formasse um grupo;
Pedintes & quejandos: Ana Free, In My Place, mas sem amplificadores, por favor; ou na versão radical tampão para os ouvidos.
E por aí em diante… Tudo o que a criatividade, mais ou menos ordinária, permitir.
Das três listas de preferências que costumo divulgar no final do ano, esta é aquela cuja novidade, a sê-lo, reside apenas na ordem a dar aos livros editados em Portugal durante o ano de 2008. Com efeito, desde que iniciei as lides blogueiras em Dezembro de 2005, é meu hábito manter em permanente actualização a listagem de livros que vou lendo, classificando-os em cinco categorias – do “Mau” ao “Muito Bom” –, reservando uma sexta – “Obra-Prima” – para aqueles cuja excepcionalidade literária obriga, desde logo, a uma distinção relativamente aos demais – o pior, é que esta última, dada a profusão de obras nela inseridas a cada ano, tem vindo a perder o peso da excepcionalidade. Como referi, a novidade desta lista resulta apenas da singularização das obras, organizadas numa lista de preferências – prática que encetei, com alguma reserva mental, no ano passado, se bem que em 2006 houvesse destacado a melhor obra entre as melhores seleccionadas. Só para recordar, deixo aqui ficar a lista dos vencedores dos últimos anos (como referi, explicitamente escolhido a partir de 2006, assumido por mim no ano de 2005):
2005 – Kazuo Ishiguro, Nunca Me Deixeis, Gradiva (Never Let Me Go, 2005);
2006 – Vladimir Nabokov, Convite para uma decapitação, Assírio & Alvim (Priglasheniye na kazn, 1936);
2007 – Colm Tóibín, O Mestre, Dom Quixote (The Master, 2004) e, ex aequo*, Jonathan Littell, As Benevolentes, Dom Quixote (Les Bienveillantes, 2006).
Nota: *decisão de igualização tomada no decurso do ano, depois de assentada a poeira, consolidou-se a certeza de se tratar de uma obra que perdurará como notável referência nas próximas décadas.
Este ano foram lidos e avaliados 48 livros editados em 2008 (50 em 2007), predominantemente de ficção, havendo-se revelado a avaliação de 46 (48 em 2007) e, entre esses, apenas 8 (contra a boa produção de notas de apreciação em 2007, 34) foram objecto de textos individuais de análise oportunamente publicados. Quanto à sua divisão pelas 6 grandes categorias qualitativas (ou 5+1) – de mau (1 estrela) a Obra-Prima (6 estrelas) –, foram classificados, para além das 2 obras não referidas, 2 livros como “Mau”, 2 como “Medíocre”, 8 com o designativo “A ler”, 13 como “Bom”, 16 como “Muito Bom” e, finalmente, 5 como “Obra-prima”.
Lista final (que podia ser uma repetição do palavreado usado no ano anterior dada a coincidência numérica): Dos 21 livros que atingiram a classificação máxima “Muito Bom” (5 estrelas), houve cinco que se destacaram pela qualidade excepcional, daí haver-se adoptado o critério de desdobramento do nível máximo em dois patamares de avaliação, correspondendo o mais elevado à tal distinção pela excepcionalidade, apondo-se o natural epíteto de “obra-prima” (6 estrelas). Assim, de acordo com o meu critério estético-literário, um conjunto de cinco obras publicadas (2 novidades e 3 reedições) destacou-se das restantes 16. As cinco figurarão por ordem de preferência nos cinco primeiros lugares da lista composta pelos dez melhores livros editados em 2008.
Eis, finalmente, a lista definitiva de Os Dez Melhores Livros de 2008 (por ordem de preferência):
Robert Musil, O homem sem qualidades, vols. I e II, Dom Quixote (Der Mann ohne Eigenschaften, 1930-1942);
José Donoso, Casa de Campo, Cavalo de Ferro (Casa de Campo, 1978);
Julio Cortázar, O Jogo do Mundo (Rayuela), Cavalo de Ferro (Rayuela, 1963);
Herberto Helder, A faca não corta o fogo, Assírio & Alvim (2008);
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental, Relógio D'Água (L’Éducation sentimentale, histoire d’un jeune homme, 1868);
Per Petterson, Cavalos Roubados, Casa das Letras (Ut og stjæle hester, 2003);
Virginia Woolf, Rumo ao Farol, Relógio D'Água (To the Lighthouse, 1927);
Maria Velho da Costa , Myra, Assírio & Alvim (2008);
Knut Hamsun, Fome, Cavalo de Ferro (Sult, 1890);
George Steiner, Os livros que não escrevi, Gradiva (My Unwritten Books, 2008).
Restantes 11 livros com classificação máxima (por ordem alfabética do autor), separados em dois grupos. O primeiro grupo integra as obras que potencialmente poderiam ter sido introduzidas, por substituição, na lista dos “Dez Melhores”:
1.º grupo
A. S. Byatt, Possessão, Sextante (Possession, 1990);
John Updike, Regressa, Coelho, Civilização (Rabbit Redux, 1971);
Mikhail Bulgakov, Coração de Cão, Nova Vega (Sobac’e Serdce, 1925);
Philip Roth, Património, Dom Quixote (Patrimony: A True Story, 1991);
Rawi Hage, Como a Raiva ao Vento, Civilização (De Niro's Game, 2006).
2.º grupo
Albert Sánchez Piñol, Pandora no Congo, Teorema (Pandora al Congo, 2003);
João Tordo, As Três Vidas, QuidNovi (2008);
Louis-Ferdinand Céline, Castelos Perigosos, Ulisseia (D’un château l'autre, 1957);
Mikhail Lérmontov, O Herói do Nosso Tempo, Relógio D'Água (Guerói náchevo vrémeni, 1840);
Paul Auster, Mr. Vertigo, Asa (Mr. Vertigo, 1994);
Robert Musil, A portuguesa e outras novelas, Dom Quixote (Zwei Erzählungen / Drei Frauen, 1911/1924).
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E assim começa, com uma espécie de introdução que se estende por 19 capítulos, a odisseia de Ulrich pelos meandros e teias da aristocracia do Império Austro-húngaro. Uma descrição astronómico-meteorológica – 1. Um caso do qual, curiosamente nada resulta:
«Uma zona de baixas pressões sobre o Atlântico deslocava-se para leste, em direcção a um anticiclone situado sobre a Rússia; não denunciava ainda qualquer tendência para o evitar, e dirigia-se para norte. Os isotermos e os isóteros cumpriam as suas obrigações. A temperatura do ar mostrava uma relação normal com a temperatura média anual, com as dos meses mais frio e mais quente e com a oscilação mensal aperiódica. O nascer e o pôr do Sol e da Lua, as fases desta última, de Vénus, dos anéis de Saturno e muitos outros fenómenos significativos correspondiam às previsões dos anuários da astronomia. O vapor de água no ar tinha atingido a sua tensão máxima e a humidade relativa era fraca. Para usar uma expressão que, apesar de um tanto antiquada, serve na perfeição para dar a realidade dos factos: era um belo dia de Agosto do ano de 1913.» Robert Musil, O homem sem qualidades, p. 31 [Lisboa: Dom Quixote, 1.ª edição, Março de 2008, vol. I, 843 pp.; tradução de João Barrento; obra original: Der Mann ohne Eigenschaften, 1930-1942.]
Desde o passado dia 22, e sempre entre a 1 e as 2 da tarde, este blogue tem vindo a revelar, por ordem perfeitamente aleatória, os 10 melhores álbuns (de originais) musicais de 2008.
“Walk It Off”* The Breeders – Mountain Battles (4AD)
*Em substituição da melhor música do álbum (e a mais apelativa à rememoração pixiana), “It’s the Love”, até à data, ainda sem de vídeo de promoção. Houve um tempo para tudo, uma vida bem vivida, por isso mesmo ficaram as marcas indeléveis da saudade pelas avidez, indiscrição e frivolidade de como ela era enfrentada a cada minuto, sem tempo de olhar a malefícios, danos ou desatinos. Notas:
No final do ano será divulgada a lista dos “Dez Melhores”, organizada por ordem de preferência;
No dia de Natal foram revelados dois álbuns;
Todos os álbuns irão ficaram desde o dia 22 agendados no Blogger para surgirem no intervalo de tempo determinado em cada dia.
Tal como havia prometido, hoje é o dia de anúncio dos 10 filmes que estrearam no ano de 2008 em salas de cinema portuguesas, que mais fizeram pulsar a minha veia cinéfila. Preocupei-me sobretudo em encontrar – e sempre dentro do conjunto de 69 filmes que tive oportunidade de ver –, uma lista tão heterogénea quanto o possível, transnacional, englobando vários estilos, criadores consagrados e outros menos conhecidos. Até chegar à lista final foram ultrapassadas várias etapas, que descrevo de forma resumida:
Identificar entre os cerca de 230 filmes estreados em Portugal em 2008, quais o que tinha realmente visto (e não foi uma tarefa fácil, uma vez que em alguns existia apenas um ideia difusa de os haver realmente visto): 69/230 (30%);
Depois limitei-me a assinalar os que pelas piores ou melhores razões não me tinham, de forma alguma, deixado indiferente: 50/69 (73%);
Seguidamente, separei os filmes por origem da produção, bastando para isso encontrar duas subclasses: Produzidos nos Estados Unidos – Não Produzidos nos Estados Unidos: 34/50 – 16/50. Na prática, expurgados os “indiferentes” (19), apenas ficaram os medíocres e os que considerei “bons” ou “muitos bons”: 15/34 (44%) – 12/16 (75%);
Chegou a fase da “1.ª triagem”. De entre os 27 filmes provindos da etapa anterior, foram escolhidos 17 com hipótese de integrar a lista final de 10 filmes: 9/15 (53%) – 8/12 (67%).
A Selecção Final de 10 filmes, independentemente da origem de produção, resultou, por mero acaso, num equilíbrio de 5 filmes americanos e 5 filmes não norte-americanos.
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Eis Os Dez Melhores Filmes de 2008 (por ordem de preferência):
O Lado Selvagem, de Sean Penn (Into the Wild, 2007);
Darjeeling Limited, de Wes Anderson (The Darjeeling Limited, 2007);
Corações, de Alain Resnais (Cœurs, 2006);
Haverá Sangue, de Paul Thomas Anderson (There Will Be Blood, 2007);
A Rapariga Cortada em Dois, de Claude Chabrol (La fille coupée en deux, 2007);
Uma Segunda Juventude, de Francis Ford Coppola (Youth Without Youth, 2007);
Caos Calmo, de Antonio Luigi Grimaldi (Caos Calmo, 2008);
O Segredo de um Cuscuz, de Abdel Kechiche (La graine et le mulet, 2007);
Vigilância, de Jennifer Lynch (Surveillance, 2008);
Bem-vindo ao Turno da Noite, de Sean Ellis (Cashback, 2006).
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Agora, os restante 7 que, após alguma reflexão, foram rejeitados pela “última triagem”, mas que poderiam integrar a listagem dos 10+, substituindo as duas últimas posições (onde optei claramente pelo baixo orçamento em detrimento da megaprodução), organizados por ordem alfabética do título em português:
Antes que o Diabo Saiba que Morreste, de Sidney Lumet (Before the Devil Knows You’re Dead, 2007);
O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford, de Andrew Dominik (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, 2007);
Do Outro Lado, de Fatih Akin (Auf der anderen Seite, 2007);
Este País Não É Para Velhos, de Joel e Ethan Coen (No Country for Old Men, 2007);
Gomorra, de Matteo Garrone (Gomorra, 2008);
My Blueberry Nights – O Sabor do Amor, de Wong Kar Wai (My Blueberry Nights, 2007);
A Turma, de Laurent Cantet (Entre les murs, 2008).
Muitos filmes ficaram por ver (cerca de 161), a maioria deles por falta de tempo e do dom da ubiquidade, e muitos deles por não terem chegado às salas de cinema da Invicta. Entre os não vistos, alguns poderiam haver influenciado a lista final, de acordo com a crítica e com a análise de pessoas cuja opinião reputo de cinefilamente válida. Por isso destaco, por ordem alfabética do título em português, 10 filmes que não vi (i.e., putativamente influentes na lista dos 10+):
Alexandra, de Aleksandr Sokurov (Aleksandra, 2007);
Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes (2008);
Austrália, de Baz Luhrmann (Australia, 2008);
Berlim, de Julian Schnabel (Berlin, 2007);
Fome, de Steve McQueen (Hunger, 2008);
A Fronteira do Amanhecer, de Philippe Garrel (La Frontière de l’Aube, 2008);
Luz Silenciosa, de Carlos Reygadas (Stellet licht, 2007);
Quatro Noites com Anna, de Jerzy Skolimowski (Cztery noce z Anna, 2008);
O Silêncio de Lorna, de Jean-Pierre e Luc Dardenne (Le Silence de Lorna, 2008);
W., de Oliver Stone (W., 2008).
Finalmente, e pela primeira vez desde que entrei nisto da ostentação listómana no meu blogue, divulgo por ordem decrescente de náusea, fastio, charlatanice ou nódoa fílmica, a lista dos “Dez Piores Filmes de 2008” (sofreram um processo idêntico de selecção ao dos dez melhores) – eis os meus Razzies:
Sweeney Todd: O Terrível Barbeiro de Fleet Street, de Tim Burton (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street, 2007);
Capítulo 27 – O Assassinato de John Lennon, de J.P. Schaefer (Chapter 27, 2007);
Angel – Encanto e Sedução, de François Ozon (Angel, 2007);
Duas Irmãs, um Rei, de Justin Chadwick (The Other Boleyn Girl, 2008);
O Sonho de Cassandra, de Woody Allen (Cassandra’s Dream, 2007);
Ensaio Sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles (Blindness, 2008);
Savage Grace – Desejos Selvagens, de Tom Kalin (Savage Grace, 2007);
O Acontecimento, de M. Night Shyamalan (The Happening, 2008);
Destruir Depois de Ler, de Joel e Ethan Coen (Burn After Reading, 2008);
Os Amores de Astrea e Celadon, de Eric Rohmer (Les amours d'Astrée et de Céladon, 2007).
Também ficariam muito bem naquela lista as últimas obrazinhas, por vezes pretensiosamente arrevesadas, de realizadores consagrados como Kenneth Branagh (Sleuth pintaresco), Todd Haynes (Tô nem aí…), Steven Spielberg (Velhadas Jones), Paul Haggis (Panfletarismo david-goliano em Elah), Ang Lee (Brokeback Hetero) ou Frank Darabont (o sebastiânico, usando a marca do Carpinteiro); ou até, o acto falhado do pretenso neo-IvoryJoe Wright (Como expiar filmando com scanner).
Nota: nos próximos dias (já em 2009), se o tempo e a paciência o permitirem, escreverei um pequeno texto, à laia de justificação, para cada filme que integra a lista de «Os Dez Melhores Filmes».
Desde o passado dia 22, e sempre entre a 1 e as 2 da tarde, este blogue tem vindo a revelar, por ordem perfeitamente aleatória, os 10 melhores álbuns (de originais) musicais de 2008.
“Family Tree” TV on the Radio – Dear Science (4AD/Interscope)
Notas:
No final do ano será divulgada a lista dos “Dez Melhores”, organizada por ordem de preferência;
No dia de Natal foram revelados dois álbuns;
Todos os álbuns ficaram desde o dia 22 agendados no Blogger para surgirem no intervalo de tempo determinado em cada dia.
«De repente, assalta-me uma ideia!… e se eles me dessem, a mim, o prémio Nobel?… seria uma ajuda formidável para o gás, as contribuições, as cenouras!… mas os palermas lá de cima não mo vão dar! nem o rei deles! dão-no a todos os panascas que se possa imaginar!… sim, os que mais vaselina usam em todo o planeta!… claro! está tudo decidido!… a si basta-lhe ter visto Mauriac, de casaca, inclinando-se como uma dobradiça, encantado, concordante, em cima do pequeno palanque… nada constrangido!… nada engasgado!… “oh! como é belo, gordo, o vosso Nobel!” dizia eu ontem a alguém… e esse alguém insurgia-se! “então! mas Nimier propõe-no a si!… ingrato!… você não leu? só precisa de um pouco de coragem!… escreva-nos outra Viagem e eles resolvem tudo!…” eu posso ter a minha opinião… pessoalmente, não acho a Viagem assim tão divertida…» Louis-Ferdinand Céline, Castelos Perigosos, p. 43 [Lisboa: Ulisseia, Setembro de 2008, 362 pp.; tradução de Clara Alvarez; obra original: D’un château l’autre, 1957.]
Desde o passado dia 22, e sempre entre a 1 e as 2 da tarde, este blogue tem vindo a revelar, por ordem perfeitamente aleatória, os 10 melhores álbuns (de originais) musicais de 2008.