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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O Número Mágico


Pormenor alterado do logótipo da capa comemorativa de © DanMonick & Gingko Press, para o 7.º aniversário da editora Rhymesayers e da banda Atmosphere – álbum musical e fotográfico comemorativo: Seven Years with Atmosphere and Rhymesayers.

Sete anos… Naquele 17 de Dezembro de 2005 queria que a coisa, com o tempo, se fosse moldando em algo que, em definitivo, não o é agora. Agora não o é… nada! Mas também, que diabo!, estou mais velho e cheguei este ano, há menos de seis meses, aos implacáveis “-entas”.
Chegou o tempo. Auto-análise, auto-ilusão – julgo-me 7 vezes: menos paciente, mais irritado, menos submisso, mais inquieto, menos prudente, mais desgarrado, menos crente na bondade imanente à coisa humana, mais atento às palmadas nas costas provindas da coisa.


Hélas!

sábado, 17 de dezembro de 2011

O que fica abaixo do Básico?



Seis anos a aturar-me na blogosfera. Pela cadência de publicação de textos e pela decadência dos assuntos profusamente enfeitados de figuras, gráficos e vídeos, o 1.º ano do 1.º Ciclo atirou-me, sem me perguntar, para o 2.º patamar… do básico. E, na óptica, basicamente, do blogueiro (obrigado ao Rui Santos e ao Brylcream que amansam os seus caracóis neuronais tumultuosos – o nosso B.Boy, perfectly set for the day!) daqui não sairei tão cedo.
Obrigado aos meus 12 seguidores e aos outros 12 que, na óptica do paradigma do internauta distraído, basicamente caem aqui por acaso.


PS – por falar num greasy cocky mf, apeteceu-me de imediato falar de um filme, cuja exteriorização do meu estado de alma por si estimulado poderá ou não surgir neste espaço – até porque já está escrito –, e que tem funcionado como bandeira da jactância pequeno-burguesa dos que se impingem no grupo restrito da cinefilia lusa. Básico (como o rudimentar espúrio, que me levou aos adjectivos seguintes): cocky & tacky, numa espécie de panlinguismo zurzidor. A ver vamos.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

100 Anos - «Ressureição»


Kaliště, 7 de Julho de 1860 - Viena, 18 de Maio de 1911



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Mão Cheia

…de nada.

Seguido do meu compositor, a minha sinfonia (a primeira de entre muitas coisas que me sobrevieram à mente pelo número de anos que hoje se encerra), na vizinhança dos 100 anos da sua morte, pela batuta do seu grande reabilitador na segunda metade do século XX.
 
Gustav Mahler, Sinfonia n.º 5, 1.º Andamento, “Trauermarsch” (In gemessenem Schritt. Streng. Wie ein Kondukt.)
(tradução de um estado de espírito – cf. título e tempo)
Leonard Bernstein
Filarmónica de Viena
Musikvereinssaal, Viena
Abril de 1972

terça-feira, 23 de novembro de 2010

80 Anos

Nasceu a 23 de Novembro de 1930 no Funchal, o maior (não o medi pela fita métrica cortada em centímetros, senão pela minha mui pessoal escala estética) poeta português vivo. A matemática dos dias marcou hoje oito dezenas em grupos de trezentos e sessenta e cinco – terminado às vezes na meia dúzia para acertos astronómicos –, oitenta órbitas deste rochedo vicioso à volta do fogo; anéis, por ele gravados, na memória de um povo, apenas ao alcance dos sublimes. Poetas da nossa terra. Obrigado por estes momentos densos pelo mais sincero, calmo e etéreo inebriamento: «O incêndio atrás das noites corta / pelo meio / o abraço da nossa morte.»

Parabéns Herberto.

«Esta mão que escreve a ardente melancolia
da idade
é a mesma que se move entre as nascentes da cabeça,
que à imagem do mundo aberta de têmpora
a têmpora
ateia a sumptuosidade do coração. A demência lavra
a sua queimadura desde os recessos negros
onde
se formam
as estações até ao cimo,
nas sedas que se escoam com a largura
fluvial
da luz e da espuma, ou da noite e as nebulosas
e o silêncio todo branco.
Os dedos.
A montanha desloca-se sobre o coração que se alumia: a língua
alumia-se. O mel escurece dentro da veia
jugular talhando
a garganta. Nesta mão que escreve afunda-se
a lua, e de alto a baixo, em tuas grutas
obscuras, a lua
tece as ramas de um sangue mais salgado
e profundo. E o marfim amadurece na terra
como uma constelação. O dia leva-o, a noite
traz para junto da cabeça: essa raiz de osso
vivo. A idade que escrevo
escreve-se
num braço fincado em ti, uma veia
dentro
da tua árvore. Ou um filão ardido de ponta a ponta
da figura cavada
no espelho. Ou ainda a fenda
na fronte por onde começa a estrela animal.
Queima-te a espaçosa
desarrumação das imagens. E trabalha em ti
o suspiro do sangue curvo, um alimento
violento cheio
da luz entrançada na terra. As mãos carregam a força
desde a raiz
dos braços, a força
manobra os dedos ao escrever da idade, uma labareda
fechada, a límpida
ferida que me atravessa desde essa tua leveza
sombria como uma dança até
ao poder com que te toco. A mudança. Nenhuma
estação é lenta quando te acrescentas na desordem, nenhum
astro
é tão feroz agarrando toda a cama. Os poros
do teu vestido.
As palavras que escrevo correndo
entre a limalha. A tua boca como um buraco luminoso,
arterial.
E o grande lugar anatómico em que pulsas como um lençol lavrado.
A paixão é voraz, o silêncio
alimenta-se
fixamente de mel envenenado. E eu escrevo-te
toda
no cometa que te envolve as ancas como um beijo.
Os dias côncavos, os quartos alagados, as noites que crescem
nos quartos.
É de ouro a paisagem que nasce: eu torço-a
entre os braços. E há roupas vivas, o imóvel
relâmpago das frutas. O incêndio atrás das noites corta
pelo meio
o abraço da nossa morte. Os fulcros das caras
um pouco loucas
engolfadas, entre as mãos sumptuosas.
A doçura mata.
A luz salta às golfadas.
A terra é alta.
Tu és o nó de sangue que me sufoca.
Dormes na minha insónia como o aroma entre os tendões
da madeira fria. És uma faca cravada na minha
vida secreta. E como estrelas
duplas
consanguíneas, luzimos de um para o outro
nas trevas.»
Herberto Helder, A faca não corta o fogo, pp. 74-76.
[Lisboa: Assírio & Alvim, Setembro de 2008, 208 pp.]

domingo, 31 de outubro de 2010

Oito

Não me canso de repetir e fazer-me ouvir: “São apenas datas, um sinal no calendário igual aos demais que se repetem três centenas e meia num ano.” E assim tento enganar, ludibriar a dor inextinguível da saudade de outros, que também é minha, e que deste modo se multiplica e intensifica pela estúpida mentira que estipulei seria dita àqueles que mais amo no dia fatal. Todavia, fico com a dúvida que a mera percepção da estupidez cometida possa servir como indicador de algum resquício de lucidez que julgara definitivamente perdida.

«Pelo menos sabes que és a pessoa mais estúpida que jamais viveu neste mundo. Quantas pessoas terão a inteligência necessária para admitir uma coisa dessas?»
Paul Auster, Sunset Park, pág. 188 [Alfragide: Asa, 1.ª edição, Outubro de 2010, 231 pp; tradução de José Vieira de Lima; obra original: Sunset Park, 2010.]
Contudo, o dia passou, permanece a dor… 8, que se declina para o infinito.

terça-feira, 18 de maio de 2010

30 anos - O Melhor de Sempre

Ian Kevin Curtis
(15/Julho/1956 - 18/Maio/1980)
«Human beings are dangerous and they call me in the dark.»
(verso retirado da letra de "At A Later Date" (1977), Warsaw)

 
Vídeo elaborado por um fã, com imagens do memorável e brilhante filme de Anton Corbijn, Control (2007):
  • Sam Riley como Ian Curtis
  • Samantha Morton como Deborah Curtis
  • Som de fundo: "No Love Lost" (1978), Warsaw

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

O “Zé do Boné”: 25 Anos



Era ainda muito novo… mas, até ao último fôlego do meu ser, ninguém me poderá roubar a imagem do fim do jejum de 19 anos e da alegria esfusiante de milhares de portistas nas ruas da cidade terminado o desafio da última jornada com o Braga (4-0), que culminou, na época seguinte, com o inesquecível jogo com o Barreirense (4-1), numa tarde tórrida de um domingo de fim de Primavera no desaparecido Estádio da Antas, onde, com apenas 6 anos, assisti da arquibancada, na companhia da minha família (pais, avós, tios e primos direitos) e de diversos casais amigos de meus pais, à conquista do bicampeonato: 1977/78 e 1978/79 (que, segundo rezam as crónicas, um tal de Manaca não deixou que fosse “tri”).
Na alegria e na tristeza… com apenas 12 anos, numa tarde fria e cinzenta de Janeiro, postei-me no passeio da praça Teixeira de Pascoaes e assisti ao cortejo fúnebre que partiu da Igreja de Santo António das Antas (local onde fui baptizado, junto ao antigo Estádio) e que por mim passou, num silêncio carregado produzido por dezenas de milhares de pessoas cuja atmosfera jamais esquecerei. Uma torrente de pesar provinda da rua de S. Crispim descia a Carlos Malheiro Dias, encetando a subida pela Constituição até ao Marquês, e que se dirigia ao cemitério de Agramonte na Boavista (a cerca de 5 quilómetros do ponto de partida). Já o carro que transportava o eterno “Zé do Boné” desaparecia no horizonte sob os plátanos do Marquês e a multidão que o seguia a pé parecia inextinguível, ainda não havia cessado em S. Crispim. Uma massa compacta de cabeças parecia formar um rio pardacento que, de forma lúgubre, inundara a Constituição. Uma imagem angustiante pela causa que a motivou, porém memorável pela homenagem sentida que milhares de pessoas vindas de todo o país quiseram prestar ao “Mestre” prematuramente desaparecido: o tal que, em democracia, mudou para sempre o rumo do futebol português e a dimensão do meu clube do coração, o Futebol Clube do Porto.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

4



Começou com o Porque, continuou com o In Absentia e em princípio acabará com o inabalável Nunca Mais. Todos se inspiraram em Sophia, ostentando diferentes epígrafes, que revelaram os meus estados de alma no momento inaugural de cada espaço de divagação.
Evolução temporal e alguns dados estatísticos (fonte: Sitemeter):
  • Porque, criado a 17 de Dezembro de 2005, encerrado a 23 de Setembro de 2006. Foram publicados 535 textos e contou com 33.862 visitantes (45.123 de páginas visitadas). Poema de Sophia: “Porque”; epígrafe de Bernardo Soares (Pessoa), Livro do Desassossego: «Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez.»
  • In Absentia, criado a 2 de Dezembro de 2006, encerrado a 6 de Abril de 2008. Foram publicados 457 textos e contou com 43.649 visitantes (57.817 de páginas visitadas). Poema de Sophia: “Ausência”; epígrafe de Raymond Carver, do conto “Jerry, Molly e Sam”: «Ele ficou ali sentado. Pensou que, bem vistas as coisas, não se sentia muito mal com a sua consciência. O mundo estava cheio de cães. Havia cães e havia cães. Com alguns cães não havia nada a fazer.» (Sob a fina camada do título do blogue, pairou um alto-relevo dos primeiros versos do poema “The Fascination of What’s Difficult”, de William Butler Yeats.)
  • Nunca Mais, criado a 30 de Abril de 2008, sempre na iminência de encerrar. Foram publicados 302 textos, incluindo este, e contou com 30.386 visitantes (38.608 de páginas visitadas) até às 13 horas de hoje. Poema de Sophia: “Nunca Mais”; Epígrafe de Don DeLillo (verificou-se uma pausa para reflexão entre 24 de Fevereiro e 23 de Setembro deste ano)
  • Somatório dos hiatos temporais entre a criação e a extinção de blogues, e pausa para reflexão: 305 dias (70+24+211), em 1461 dias possíveis.
  • Dias de actividade: 1156
  • Número total de visitantes: 107.897 (141.548 de páginas visitadas)
E, assim, quis assinalar a passagem do quarto ano, recorrendo a uma espécie de tuning blogosférico para ilustrar a efeméride. E, porventura, através dos ensinamentos que logrei obter por esta experiência que se estendeu pelo último quadriénio, o tuning, pese embora o germanismo, seja a expressão efectiva para alguma da blogosfera dita de referência: muito espaventosa, munida de atavios de um deslumbramento ofuscante e que pungem o ouvido mais delicado por uma barulheira ensurdecedora, mas que apenas cobrem, dissimulam, a pobreza de espírito, a fraqueza intelectual e o arrivismo impetuoso dos escribas.
Não tenho dúvidas de que as generalizações são perigosas, porquanto atingem todos sem excepção, mas no lado direito deste texto suponho que existe uma lista bastante extensa daqueles que não incluo no grupo de tuning da blogosfera lusa – a esmagadora maioria ficou de fora dada a limitação humana do número de blogues que conheço.
Os restantes são aqueles que medem a blogosfera pelos amiguismos potencialmente ascensores ao Olimpo opinativo bem pago, e que se distinguem dos restantes porque ritualmente praticam o “deslincamento” – a arma de arremesso, o qualificativo de menosprezo em acção.
Era um prazer deslincar… A frase não é nova, foi devidamente profanada para servir o fim deste texto pirómano. A que temperatura ardem os blogues? Talvez à temperatura do sobreaquecimento neuronal perante algo que não se entende, ou que se julga entender como agente promotor do enfraquecimento da média qualitativa dos poucos blogues que surgem no arrolamento: tida como a fina-flor da blogosfera, carregada de uma erudição ímpar, que dá vontade de ostentar pelo aplauso que forçosamente advirá da criteriosa selecção que captou o sublime da opinião publicada em hipertexto.
No princípio fui banido do arrolamento de um blogue, cujo promotor se convenceu da sua eminência literária, guindado pela bajulação nauseante dos “delta menos”. Esse acto foi a faísca que fez disparar o lança-chamas do deslincamento: «I love the smell of napalm in the morning.» já dizia o Duvall. Enfim, o horror. O horror.
«You can either surf, or you can fight!»
Fight, fight, fight… Ladeiras, vales de lágrimas, lugares antinómicos e quejandos. Não se pode agradar a todos. E logo agora que o Technorati resolveu entrar de férias… por inabilidade dos seus programadores. «In a war there are many moments for compassion and tender action.» Mesmo seguindo o conrado-coppoliano “Kurtz”, aproveitando a alegoria para o “unlink back”my tender moment of joy between bloggers – há sempre um gosto amargo de fel, como cantava a Bethânia, em jeito de grito de alerta.
Enfim, avancemos. É tempo de comemoração, e acresce que atravessamos a quadra da paz e da harmonia fraterna entre os homens. O anúncio foi feito – 4 anos. Agradeço, antecipadamente, as centenas de mensagens de felicitações recebidas.
PS – obrigado ao construtor bávaro de Ingolstadt, pela utilização abusiva do emblema que há uns tempos simbolizou uma importante revolução tecnológica, aproveitada hoje para passear e ostentar as máquinas no asfalto liso das ruas das nossas cidades.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

20 Anos

Tinha apenas 17 anos. Assistia pela televisão, dominado por um fascínio, quase hipnótico, difícil de explicar, ao júbilo de milhões de alemães e de tantas outras pessoas vindas de todas as partes do mundo perante o derrube de um dos muros mais simbólicos da História mundial. Revi-me nas famosas palavras de JFK, proferidas apenas cinco meses e quatro dias antes de ser assassinado em Dallas, numa cidade cercada por um dos regimes políticos mais ignóbeis que o Homem conheceu.
Naquele frio dia de Novembro chorei pelo grito de liberdade de um povo oprimido e tiranizado que se exprimia em lágrimas de felicidade por cada batida que abria uma fenda no muro da vergonha. Tal como eles, também «Ich bin ein Berliner».

Aquele beijo apaixonado entre dois tiranos do mundo moderno, representantes directos da ortodoxia estalinista, os filhos do monstro, é ainda admirado com uma nostalgia que não se consegue compreender, nem à luz da liberdade de expressão – esbarra com qualquer conceito de justiça, igualdade, humanismo, liberdade, integridade, dignidade da condição humana. E se agora me envergonho, não é pela falácia da comparação sobre a derrogação daqueles valores entre dois sistemas que em tempos se digladiaram, como meio de justificar o regresso do status quo pré-“9 de Novembro”. Se a minha cara se cobre de vergonha é em razão dos 446.994 portugueses, representados por 15 deputados (em 230) na Assembleia da República, que no passado dia 27 de Setembro ao exercer livremente o seu direito de voto – coisa impensável se a sua doutrina tivesse vingado no nosso país – se revêem nas palavras espúrias dos seus dirigentes sobres este acontecimento histórico.
Não me interessa o relativismo, as comparações e o revisionismo. Não interessa a história e o passo em frente. Mas o momento presente, vivido por milhões de pessoas como um valor absoluto de libertação.

«Há muita gente no mundo que realmente não compreende, ou dizem não compreender, qual é a grande divergência entre o mundo livre e o mundo comunista.
Deixem-nos vir a Berlim.
Há alguns que dizem que o comunismo é a vaga do futuro.
Deixem-nos vir a Berlim.
E há outros que dizem, na Europa ou noutro sítio qualquer, que nós podemos trabalhar com os comunistas.
Deixem-nos vir a Berlim.
E há ainda uns poucos que dizem que é verdade que o comunismo é um sistema perverso, mas permite-nos alcançar progresso económico.
Lasst sie nach Berlin kommen.
Deixem-nos vir a Berlim.»
Parte do discurso proferido por John Fitzgerald Kennedy, a 26 de Junho de 1963, em Berlim Ocidental [tradução livre: AMC, 2009]

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

90 anos

©2000 Margaret A. Salinger e J. D. SalingerFoi ontem. Um tal de Jerome David, mais conhecido pelo seu apelido Salinger, completou noventa anos de idade.
Desapareceu das luzes da ribalta em 1965, permanecendo em estrito isolamento perante o turbilhão do mundo exterior.
Nasceu a 1 de Janeiro de 1919, no seio de uma família de raízes judaicas (apesar de a mãe, de origem irlandesa, se haver convertido ao judaísmo somente após o casamento com o seu pai de ascendência polaca). Depois da aproximação do espiritualismo Zen, Yoga, e das religiões orientais, em meados da década de 1950 converteu-se à Ciência Cristã – não confundir com Cientologia, são seitas religiosas completamente distintas em todos os seus preceitos.
Salinger despediu-se do meio editorial com a novela Hapworth 16, 1924, publicada na íntegra na edição de 19 de Junho de 1965 da revista The New Yorker – número esgotado, tendo Salinger impedido a reedição, apesar de em 2005 ter surgido em oito DVD’s e um livro The Complete New Yorker: Eighty Years of the Nation's Greatest Magazine, onde o referido número não foi retirado.
O seu primeiro trabalho de ficção de fundo trouxe-lhe, de uma forma vertiginosa, a fama mundial: The Catcher in the Rye, de 1951, (ed. port: Uma Agulha em Palheiro, na edição da Livros do Brasil; À Espera no Centeio, na edição da Difel) e o seu protagonista de dezasseis anos Holden Caulfield.
Mais tarde dedicou-se à disfuncional família de prodígios de nome Glass e retirou-se.
Diversas fontes asseguram que, Salinger após a retirada, continuou com o seu ritmo normal de escrita, mas escorraçou a publicação da sua rotina, confidenciando à sua quase-ninfeta e amante Joyce Maynard (de apenas 18 anos), com quem viveu maritalmente durante dez meses entre 1972 e 1973, que:
«A publicação é um negócio sujo […] Irás ver a que me refiro um dia. Todos aqueles boçais, opinativos frequentadores de cocktails, tão prontos a julgar. Suficientemente maus quando o fazem a um escritor. Mas quando eles começam a fazê-lo com os teus personagens – e eles fazem-no – é assassinato. […] Trata-se apenas de uma maldita interrupção que eu não posso mais tolerar».
Joyce Maynard, At Home in the World: A Memoir, p.89 (tradução: AMC)
[New York : Picador, 1st edition, 1998, 347 pp.]
Ontem J. D. fez 90 anos, a fazer fé na escassa informação que fugiu do seu escrupuloso escrutínio, deixou instruções quanto à publicação dos seus escritos inéditos. O polémico livro de memórias da sua filha Margaret, Dream Catcher: A Memoir, publicado em 2000, expande não só o ambiente de clausura para dentro da própria casa do autor, como aguça o apetite do mundo salingeriano pelas possíveis obras a publicar num futuro, que a avançada idade do autor deixa entrever, próximo:

«Eu não sei por que razão os seus fatos não cabem no armário do seu quarto. Embora tenha visitado a sua casa por mais de trinta anos, eu nunca vi o seu armário nem o seu quarto de banho. O seu quarto, quarto de banho e escritório formam um “L” à volta da cozinha. A porta permanece sempre fechada. Fui convidada a entrar uma ou duas vezes em toda a minha vida quando ele me queria mostrar alguma coisa no seu escritório. Uma vez para me mostrar umas prateleiras novas com as quais ficara encantado. Outra para me mostrar um novo sistema de catalogação que ele havia engendrado para o material que se encontrava num dos seus cofres. Uma marca vermelha significava, se eu morrer antes de terminar o meu trabalho, publicar isto “tal como está”, azul significava publicar mas só depois de o corrigir e rever, e por aí em diante.»
Margaret A. Salinger, Dream Catcher: A Memoir, p. 323. (tradução: AMC)
[New York: Washington Square Press, 2000, 436 pp.]

E, afinal, para onde vão os patos do Central Park quando o lago gela no Inverno?

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Preocupações, desejos e outras coisas para 2009


Começo com uma irritação – afinal é o tom que ultimamente mais se adequa a este blogue, dado o microcosmos relacional do seu autor: os responsáveis pela manutenção do BlogRolling continuam a empatar com a conversa da nova plataforma, melhoramentos, da vitimização perante esses cruéis hackers espalhados pelo mundo, do trabalho insano de reconstituição do serviço… desde Outubro! A partir de então estou impedido de remover, alterar endereços ou os títulos dos blogues já existentes. Só consigo adicioná-los, mas está-me vedado o deslincamento, essa potencial arma de destruição em massa na blogosfera. Não fora a quantidade de hiperligações, ter-me-ia dedicado a criar o arrolamento na plataforma do Blogger.

Felicitações ao Eduardo Pitta pelo 4.º aniversário do seu blogue Da Literatura – extensíveis, como é óbvio, ao meu conterrâneo João Paulo Sousa –, um dos meus blogues de leitura diária e, como é possível comprovar, consta da Via-Sacra deste blogue (coluna do lado direito). E, já agora, um bom ano de 2009 para os seus autores. Este ano optei pela não particularização, via telefone, e-mail ou texto no blogue, limitei-me a encher um post com um muito a propósito poema de Thomas Hardy.

Para continuar na onda de atribuição de prémios e comendas, não poderia esquecer-me de Dana Stevens por esta brilhante abertura de um artigo seu, publicado em 29 de Dezembro último na página da Slate: «I must have the opposite of Asperger’s syndrome: I'm allergic to hierarchies, lists, and ranking.» Em primeiro lugar, fiquem a saber que deixarei passar o feriado na tranquilidade possível do meu lar, para amanhã recorrer, de urgência, a um neurologista – talvez um dos Lobo Antunes – e tentar desfazer a associação entre listomania e a mencionada síndrome. Depois, é de realçar o notório mau gosto da senhora americana, nem caiu em graça, nem conseguiu ser engraçada. Finalmente, o horror a listas – listofobia – pode querer indiciar um distúrbio neurológico de outra ordem que a senhora desconhece, e pedras ao vizinho… e que eu tão-pouco pretendo conhecer.

O Abrupto continua na sua senda de corporização em blogue da presidencialmente famosa “Lei de Gresham”– eu já a conhecia desde os bancos da faculdade e comprovo a flexibilidade da sua utilização. E parece – que se realce o verbo, porque apenas se vislumbra um aparente nexo de causalidade – estar na origem da expulsão de mais uma boa moeda… Todavia, o mais grave do Grande Educador da blogosfera nem está tanto quando aquele se refere, por outras palavras, “ao muito de mau que se faz nesta blogosfera lusa”, felizmente efervescente, mas, quando usando da falácia facilmente adquirida no seu miasmático milieu dos jogos sórdidos da política, se refere aos outros blogues, que segundo diz, visita diariamente, e aos seus autores no seu tom professoral e de guia espiritual, talvez servindo-se do seu livrinho de antanho, vide o elogio sofista que faz ao meu muito estimado João Gonçalves: «O blogue que eu mais leio continua a ser o Portugal dos Pequeninos. O que João Gonçalves escreve é muitas vezes irritante, tem o defeito de aceitar como válidas informações em segunda mão, - o que num blogue "pesado" ainda resulta mais errado ou injusto, - mas continua a ser das poucas e cada vez menos coisas legíveis na blogosfera.» É, apenas, execrável.
Mas a enunciação da verdadeira etiologia das tristes palavras naquele texto patético-colérico, é muito bem feita pelo Pedro Mexia numa única frase:

«Pacheco tem aquela velha repugnância marxista pelo registo autobiográfico emotivo, e por isso não liga à blogosfera do CÁ DENTRO, mas a blogosfera do CÁ DENTRO tem gente interessantíssima, culta e de boa prosa.»

Quanto a livros, aguardo a concretização da promessa de publicação do magnum opus de Don DeLillo, Underworld, pelos responsáveis da nova e excelente editora Sextante. E, apesar, de haver lido o 2666 de Bolaño na sua língua original, faço eco do apelo do homónimo, por pseudónimo, do conhecido femeeiro Giacomo Girolamo do século XVIII – ao autor do apelo não me refiro porque cortou a sua ligação a este blogue: publique-se, com urgência, o dito romance.

Finalmente, tenho vontade de fechar esta coisa. Arrancos e arremedos não me têm faltado – aliás, quem já me conhece o suficiente, via blogue, sabe desta minha faceta de consistente na inconstância. Mas procurarei dedicar-me mais à Literatura, que no último ano foi bastante descurada. Embora não se tenha reflectido na quantidade de leitura de livros publicados no ano, atente-se, por exemplo, no número de notas de apreciação (ou pseudo-recensões) escritas em 2008 por comparação às elaboradas em 2007: 8 contra 34.

A todos, uma vez mais e sem excepção, desejo um bom ano de 2009.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Falta-me tempo (forte sentimento)

E o tempo, afincado na sua recta que o desloca ao infinito, com as suas marcas indeléveis, assinala três anos de divagação por este mundo de paradoxos, estridente, confessional, histérico, fraterno, egoísta, ambicioso e catártico – a blogosfera.
Intermitências. Amuos, júbilos, irritações, partilha... sobretudo, partilha. Começou com o Porque a 17 de Dezembro de 2005, prosseguiu com o In Absentia em 2 de Dezembro de 2007, termina com o Nunca Mais, inaugurado a 30 de Abril de 2008.

A todos (2 leitores e meio), antecipo-me, agradeço a vontade (ou a realização) de celebrar com palavras este momento, sem mais tarde – perdoem-me! – discriminar por escrito a, certamente, extensa lista de bloggers que assinalou a data.

Termino com um dos meus poetas favoritos, cuja morte se assemelha em muito àquela que está na origem da permanente inquietação que me trouxe até aqui; até no tal tempo emparedado por nascimento e morte.

Deixando a métrica e a prosódia de lado, e a minha profunda perplexidade pela quase inexistência de Keats em versão portuguesa, aqui fica um dos meus sonetos preferidos, que ilustra bem o ânimo que por aqui assentou arraiais.

[na sua versão original, trata-se de um soneto inglês, composto por três quartetos e um dístico, com versos em pentâmetro jâmbico – métrica integralmente descurada na versão que se segue, por falta de ciência e paciência do celebrante.]

Quando temo o fim próximo da minha existência
Antes que a pena haja respigado meu cérebro atulhado,
Antes do monte de livros, símbolos e sinais em coerência,
Armazenados como grão maduro em celeiros abonados;
Quando observo o rosto da noite de estrelas manchado
Símbolos gigantescos e nebulosos de um amor-desatino,
E pensar que poderei não viver para haver esboçado
As suas sombras, através da mão mágica do destino;
E quando sinto, ser encantador de um dia radioso,
Que não mais poderei divisar as tuas formas ardentes,
Apreciar o dom das fadas e sentir-me poderoso
De amor irreflectido! – e logo nas vertentes
Deste mundo imenso estou só, vem-me em pensamento,
Até o amor e a fama se afundam no esquecimento.

John Keats (1795-1821), “When I have fears that I may cease to be” (escrito em 1817; 1818) [versão de AMC, 2008].

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O centenário é meu conterrâneo

(até nascemos em freguesias vizinhas.)

Manoel de Oliveira

MANOEL DE OLIVEIRA
100 anos

«Os meus filmes, de científicos, não têm nada, a não ser as máquinas de filmar e a película. Estão muito mais inseridos num campo poético do que em qualquer outra coisa.»
Manoel de Oliveira, in Público, 15/Dezembro/1992.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

James, a idade de Cristo

A tradução trai-te muitas vezes, no afã de tudo explicitar, esquecem-se da derivação da raiz do teu nome hebraico, mais tarde latinizado… Irmão de sangue do pai do Apocalipse, “O Preferido”…

Hoje completarias a idade de Cristo33, dizem pregado na cruz para redenção dos pecados do mundo. Tu, como um cordeiro sacrificial, nem tiveste tempo para ultrapassar os primeiros três meses dos teus 27, como os dias de Junho que deixaste passar até irromperes do ventre da mãe no teu trinado irascível.

Ainda pensei no teu mais que tudo James “Iguana” Osterberg. Mas ficam estes, Booth & companhia, com os quais jogaste uma memorável peladinha no descampado das Antas atrás do antigo pavilhão Américo de Sá, antes do concerto.


Canto para mim mesmo para adormecer
Desde o momento mais negro uma canção
Segredos que não posso esconder
Durante a luz do dia
Oscilam do mais elevado ao mais profundo
Extremos de doce e amargo
Esperando que Deus exista
Eu tenho fé, eu rezo

Afogado até à raiz dos cabelos
A minha vida está fora de controlo
Acredito que esta onda susterá o meu peso
Então deixá-la fluir

Senta-te
Senta-te junto a mim
Senta-te
Com simpatia

Agora fiquei aliviado por ouvir
Que andaste por lugares distantes
É difícil prosseguir
Quando se sente a solidão
Agora que voltei a bater no fundo
É pior que antes
Como se jamais tivesse visto esses tesouros
Posso viver com a minha pobreza

Senta-te
Senta-te junto a mim
Senta-te
Simpaticamente

Aqueles que sentem o sopro da tristeza
Sentem-se junto de mim
Aqueles que se julgam tocados pela loucura
Sentem-se junto de mim
Aqueles que se consideram ridículos
Sentem-se junto de mim
Amor, no medo, no ódio, nas lágrimas

Senta-te
Senta-te junto a mim
Senta-te
Simpaticamente

James, “Sit Down”, 1989 (Gold Mother, 1991)
[versão: AMC, 2008]

sábado, 24 de maio de 2008

Reciprocidade

Dispersos

Quando entrei neste mundo – há quase dois anos e meio –, o
Insónia foi dos primeiros blogues (ou weblogs, como prefere o Henrique) que me abriu as portas à curiosidade.
Vinha referenciado neste curto espaço da literatura. E por lá me fui quedando, desfrutando das manifestações do carácter do seu criador: rebelde, descomprometido, com talento, sem mesuras de confraria literária... honesto e íntegro, acima de tudo. Parabéns, meu caro Henrique.

Obrigado
Sérgio. O “Nunca Mais”, ao contrário da certeza que ostenta, é para mim uma transitoriedade. Sou consistente na minha inconsistência. Irrito-me, amuo, choro, exulto, alegro-me, esboço um sorriso, sou acometido de uma raiva incontrolável…
O meu diletantismo é a reverberação perfeita do meu comportamento errático na blogosfera. Logo, “nunca” é um quase “sempre”. Palavras que, no meu idiolecto, se tocam no radicalismo da sua semântica. Um abraço.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

3.º Aniversário

Parabéns ao Eduardo Pitta e ao João Paulo Sousa pelo 3.º aniversário do blogue Da Literatura que se tornou, por mérito próprio, uma das grandes referências da blogosfera lusa.

Nota: peço as minhas desculpas, em especial ao Eduardo, pela impontualidade da felicitação, mas motivos de força maior levaram-me a uma ausência temporária da blogosfera.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Tomar Partido [em atraso]

Parabéns atrasados ao Jorge Ferreira pelo 4.º aniversário do seu Tomar Partido.

[imperdoável este esquecimento – que nada teve a ver com questões clubísticas, até porque essas seriam razões apelativas à lembrança, vide sábado –, agravado pela proximidade de datas de aniversário entre os dois blogues. Um bom portista, parabeniza. E fiquemo-nos pelos aniversários...]

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Agradeço

Nós, portugueses, somos um povo tão peculiar… ah, e a nossa língua espelha tão bem a nosso temperamento pátrio.
Pois, “obrigado”, palavra que usada como interjeição significa agradecido, grato: gracias, thank you, grazie, merci, danke, dankzij,…
Mas, obrigado cheira a dever, a imposição, a um acto forçado ou até contrariado, quando muito revela indolência do adimplente para terminar a frase.
Agradecemos com resignação, porque tem de ser… que maçada, obrigado!
Neste momento sinto-me recompensado, e daí não resulta necessariamente uma obrigação, tout court, para agradecer, mas uma viva vontade de retribuir as palavras amáveis e despretensiosas de um conjunto de “amigos invisíveis” – não me conhecem, não sabem o que faço, estou longe das fontes de poder, apenas escrevo desde uma cidade lúgubre, deprimida, que se desertifica e depaupera a um ritmo inexorável; não me podem pedir emprego ou notoriedade, uma cunha ou protecção, apenas amizade que neste pequeno grande mundo, a que se convencionou chamar de blogosfera, se traduz por reciprocidade. Basta isso, apenas isso.
Agradeço aos meus queridos amigos as felicitações que me enviaram pela celebração do 1.º ano de existência deste blogue e dos meus 2 anos a divagar na blogosfera:
André, Carlos, Fátima, Henrique, Lutz, Manel e Paulo.

[agradeço ao Technorati pelos seus serviços… responsabilizando-o no caso de me haver esquecido de alguém.]

domingo, 2 de dezembro de 2007

Facto

Domingo. Uma liturgia. Deambulo pela blogosfera sem destino, sentindo que por aqui se abateu a penúria de escrevente, mesmo de um leve resquício de pulsão criativa que pudesse encher de confiança um ego macerado: já não consigo auto-iludir-me.
Uma reminiscência, no entanto, batia ao de leve nesse campo neuronal devastado. 2 de Dezembro de 2006
É verdade, há um ano iniciava-se a minha peregrinação contumaz pela blogosfera, um ano depois da diletante e sublimada estreia moura-e-cunhiana com o
Porque17 de Dezembro de 2005.
Li algures que o cansaço não é a causa mas o efeito da falta de criatividade e de originalidade. Concordo. Sem vestígios, asseguro-vos, de uma pretendida autoflagelação pública: estou cansado, e não sei aonde me levará este cansaço. Sei que, infelizmente, vai atravessando muitos instantes da minha existência.
Mais um ano...