«Glenn Gould said, "Isolation is the indispensable component of human happiness."» [Contraponto] «How close to the self can we get without losing everything?»
Don DeLillo, “Counterpoint”, Brick, 2004.
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
O Número Mágico
sábado, 17 de dezembro de 2011
O que fica abaixo do Básico?
PS – por falar num greasy cocky mf, apeteceu-me de imediato falar de um filme, cuja exteriorização do meu estado de alma por si estimulado poderá ou não surgir neste espaço – até porque já está escrito –, e que tem funcionado como bandeira da jactância pequeno-burguesa dos que se impingem no grupo restrito da cinefilia lusa. Básico (como o rudimentar espúrio, que me levou aos adjectivos seguintes): cocky & tacky, numa espécie de panlinguismo zurzidor. A ver vamos.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Mão Cheia
(tradução de um estado de espírito – cf. título e tempo)
Filarmónica de Viena
Musikvereinssaal, Viena
Abril de 1972
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Literatura: Os Melhores Livros de 2009
Mais um fim de ano e pela quarta vez consecutiva chegou a altura de, neste blogue, fazer um pequeno balanço sobre as minhas predilecções literárias baseando-me nos livros que tive a oportunidade de ler e que foram editados durante o ano que agora termina.
Foi assim que começou a minha actividade na blogosfera: uma espécie de partilha sobre as sensações, mais ou menos agradáveis, decorrentes da leitura de determinado livro. Na altura defini como critério – discutível, pois claro, como deveriam ser todos os outros que nos são impostos, fazendo apelo à minha veia libertária – escrever sobre livros publicados em Portugal durante o ano corrente. Poupava-me tempo e esforço, e era o suficiente para obter as minhas doses de escapismo de periodicidade curta: divagar e colocar no ciberespaço os meus devaneios sobre livros, literatura, autores e críticos. Porém, desde muito cedo, apercebi-me de que discorrer sobre os méritos e as fraquezas de um livro não era terreno fácil. Não falo, é evidente, das fortes condicionantes endógenas de natureza técnico-científica que fatalmente me poderiam afectar no campo da teoria da literatura. Sou, nunca o escondi, um homem das finanças empresariais, que divergiu, no campo estritamente académico, das letras no ensino complementar do secundário, numa altura em que a literatura era para mim o Eça dos Maias, o Garrett de As Viagens…, ou os Lusíadas – mortinhos por chegar ao canto IX. Falo, isso sim, sem atavios ou eufemismos, daqueles que procuram nos outros a base de todas as suas frustrações, ou porque querem escrever e não podem, ou porque escrevem e não conseguem. Aprendi que elaborar um texto sobre um livro era uma arma de arremesso aos hermeneutas da palavra escrita, aos recenseadores do regime, aos letrados que gostam dos numerus clausus no mister opinativo. Ou então, acusado sem defesa, um trampolim para o conforto, ou tentativa vã e ignara de me pôr em bicos de pés para arranjar uma mesada numa revista, jornal ou suplemento da especialidade – esses falavam de uma forma criptodiletante de Dante Gabriel Rossetti, de De Quincey, do Dr. Johnson ou até de Saussure como se fossem parceiros de uma jogatina do mais alto calibre literário, mas que na realidade desconheciam o que ia mais além dos chavões de circunstância. A vontade foi-se esfumando, diminuía a cada retorno. Até que acabou, por fim.
- 2005 – Kazuo Ishiguro, Nunca Me Deixeis, Gradiva (Never Let Me Go, 2005);
- 2006 – Vladimir Nabokov, Convite para uma decapitação, Assírio & Alvim (Priglasheniye na kazn, 1936);
- 2007 – (2 obras ex aequo) Colm Tóibín, O Mestre, Dom Quixote (The Master, 2004) + Jonathan Littell, As Benevolentes, Dom Quixote (Les Bienveillantes, 2006);
- 2008 – Robert Musil, O homem sem qualidades, vols. I e II, Dom Quixote (Der Mann ohne Eigenschaften, 1930-1942).
Com efeito, durante o ano de 2009 distribuí os 47 livros publicados nesse ano por 6 categorias (“5+1” como prefiro chamar, já que a classificação máxima é atribuída a título excepcional): 3 obras-primas (6 estrelas); 15 livros com “Muito Bom” (5 estrelas); 11 com “Bom” (4); 9 com a designação “A Ler” (3); 7 com “Medíocre” (2); e 2 com “Mau” (1).
Pela primeira vez farei a distinção entre as categorias de “Ficção” e de “Não-Ficção”.
Mas antes de prosseguir, deixo aqui ficar uma breve homenagem ao “colosso” – como se lhe referiu há uns meses Philip Roth –, que partiu nos idos de Janeiro deste ano, com as próprias palavras desse “colosso” sem Nobel, e que definem toda a sua brilhante literatura de ficção (sem tradução por motivos de não profanação das palavras):
«I’ve led in some ways a sheltered life. I’ve not been wounded in Italy like Hemingway and I’ve never fought marlin at see. I’m a product of the nearly forty years of Cold War. So naturally I’ve written about domestic, rather peaceable matters, while trying always to elicit the violence and tension that does exist beneath the surface of even the most peaceful-seeming life. That is, I think I see human life as basically difficult and paradoxical. Just being a thinking animal puts us into a paradoxical and somewhat painful situation: we are a death-foreseeing animal and an animal of mental appetite; we have a Faustian side, always wanting more or something else.»
James Plath (editor), Conversations with John Updike. Jackson, MS: University Press of Mississippi, May, 1994, 308 pp. (citação: p. 192)
- John Updike, Coelho em Paz , Civilização (Rabbit at Rest, 1990);
- Thomas Mann, A Montanha Mágica, Dom Quixote (Der Zauberberg, 1924);
- Cormac McCarthy, Suttree, Relógio D’Água (1979);
- Paul Auster, Invisível, Asa (Invisible, 2009);
- David Lodge, A Vida em Surdina, Asa (Deaf Sentence, 2008);
- Daphne du Maurier, O Outro Eu, Relógio D’Água (The Scapegoat, 1957);
- Ernesto Sabato, O Túnel, Relógio D’Água (El túnel, 1948);
- Sebastian Barry, Escritos Secretos, Bertrand (The Secret Scripture , 2008);
- John Fante, Pergunta ao Pó, Ahab (Ask the Dust, 1939);
- Atiq Rahimi, Pedra-de-Paciência, Teorema (Syngué sabour. Pierre de patience, 2008).
- Bernardo Carvalho, O Filho da Mãe, Cotovia (2009);
- Kazuo Ishiguro, Nocturnos, Gradiva (Nocturnes, 2009).
- Ian Kershaw, Hitler: Uma Biografia, Dom Quixote (Hitler, 2008);
- Umberto Eco & Jean-Claude Carrière, A Obsessão do Fogo, Difel (N’espérez pas vous débarrasser des livres, 2009);
- Thomas Bernhard, Os Meus Prémios, Quetzal (Meine Preise, 2009);
- Slavoj Zizek, Violência – Seis Notas à Margem, Relógio D’Água (Violence: Six Sideways Reflections, 2008);
- Jean Daniel, Com Camus – Como aprender a resistir, Temas e Debates (Avec Camus : Comment résister à l’air du temps, 2006).
- David Lodge, A Consciência e o Romance, Asa (Consciousness and the Novel, 2003).
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
4
- Porque, criado a 17 de Dezembro de 2005, encerrado a 23 de Setembro de 2006. Foram publicados 535 textos e contou com 33.862 visitantes (45.123 de páginas visitadas). Poema de Sophia: “Porque”; epígrafe de Bernardo Soares (Pessoa), Livro do Desassossego: «Tendo visto com que lucidez e coerência lógica certos loucos justificam, a si próprios e aos outros, as suas ideias delirantes, perdi para sempre a segura certeza da lucidez da minha lucidez.»
- In Absentia, criado a 2 de Dezembro de 2006, encerrado a 6 de Abril de 2008. Foram publicados 457 textos e contou com 43.649 visitantes (57.817 de páginas visitadas). Poema de Sophia: “Ausência”; epígrafe de Raymond Carver, do conto “Jerry, Molly e Sam”: «Ele ficou ali sentado. Pensou que, bem vistas as coisas, não se sentia muito mal com a sua consciência. O mundo estava cheio de cães. Havia cães e havia cães. Com alguns cães não havia nada a fazer.» (Sob a fina camada do título do blogue, pairou um alto-relevo dos primeiros versos do poema “The Fascination of What’s Difficult”, de William Butler Yeats.)
- Nunca Mais, criado a 30 de Abril de 2008, sempre na iminência de encerrar. Foram publicados 302 textos, incluindo este, e contou com 30.386 visitantes (38.608 de páginas visitadas) até às 13 horas de hoje. Poema de Sophia: “Nunca Mais”; Epígrafe de Don DeLillo (verificou-se uma pausa para reflexão entre 24 de Fevereiro e 23 de Setembro deste ano)
- Somatório dos hiatos temporais entre a criação e a extinção de blogues, e pausa para reflexão: 305 dias (70+24+211), em 1461 dias possíveis.
- Dias de actividade: 1156
- Número total de visitantes: 107.897 (141.548 de páginas visitadas)
sábado, 17 de outubro de 2009
João Tordo, com todo o mérito
«As Três Vidas, o último romance de João Tordo, tem, de certa forma, matizes kafkianos na estrita medida do qualificativo definido por Borges, implicando, para isso, que da leitura da obra se tivesse verificado o uso (mais ou menos consciente) das seguintes premissas: a subordinação e o infinito – que Borges afirmava serem obsessões do jovem Kafka, e que, de certa forma, influenciarão, definitivamente, a sua extensa obra, plena de circularidades e perpetuidades.»
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Se eu fosse membro da Academia…
Regressando à fatal realidade de cinéfilo luso, apenas refiro que das 31 longas-metragens a concurso na 81.ª edição dos Óscares da Academia (excluindo os documentários, mas incluindo os filmes de animação e os de língua estrangeira), tive a feliz oportunidade, através de uma habilidosa engenharia na gestão do tempo disponível, de ver 18 filmes. E ei-los aqui inevitavelmente alinhados (dado o insanável distúrbio da listomania), por ordem de preferência (sem classificação aposta):
- O Estranho Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button), de David Fincher;
- O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married), de Jonathan Demme;
- Milk, de Gus Van Sant;
- Frost/Nixon, de Ron Howard;
- A Turma (Entre les murs), de Laurent Cantet;
- Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen;
- Resistentes (Defiance), de Edward Zwick;
- Dúvida (Doubt), de John Patrick Shanley;
- A Duquesa (The Duchess), de Saul Dibb;
- A Troca (Changeling), de Clint Eastwood;
- Em Bruges (In Bruges), de Martin McDonagh;
- O Leitor (The Reader), de Stephen Daldry;
- Procurado (Wanted), de Timur Bekmambetov;
- Revolutionary Road, de Sam Mendes;
- O Visitante (The Visitor), de Thomas McCarthy;
- Tempestade Tropical (Tropic Thunder), de Ben Stiller;
- O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), de Christopher Nolan;
- Quem Quer Ser Bilionário? (Slumdog Millionaire), de Danny Boyle.
Estes 18 filmes permitiram-me dispor de uma perspectiva global sobre a votação em 7 das 20 categorias a concurso: melhores “Actor Secundário”, “Argumento Adaptado”, “Direcção Artística”, “Filme”, “Fotografia”, “Montagem” e “Realizador”.
Todavia, não vi:
- nenhum dos 3 filmes candidatos a “Melhor Filme de Animação”;
- 4 dos 5 filmes a concurso na categoria “Melhor Filme em Língua Estrangeira”;
- 3 dos 5 filmes candidatos a “Melhor Argumento Original”;
- 2 dos 5 filmes concorrentes na categoria “Melhor Som”;
- 1 dos 2 filmes com canções candidatas à “Melhor Canção”.
Nas restantes 8 categorias, para além das 7 supramencionadas, permaneceu em todas, com muita pena minha, 1 filme por ver. Em suma, perante os factos atrás referidos formulei as minhas preferências apenas sobre estas 15 categorias, embora tenha a firme certeza de que serão todas, sem excepção, como tiros fora do alvo (o que pode querer significar que na próxima segunda-feira o anúncio da minha inusitada falta de pontaria, venha acompanhada do prometido encerramento temporário e indefinido deste blogue*).
Eis as minhas escolhas, elencadas por ordem alfabética do título das categorias principais, incluindo as de interpretação de papéis secundários (à frente de cada escolha nas categorias em que houve um filme que não passou pelos meus olhos, surge a notação “n.v.”, que significa “não-visto”, seguindo-se o título do respectivo filme):
- Actor – Sean Penn (Milk) / [n.v. – O Wrestler]
- Actor Secundário – Heath Ledger (O Cavaleiro das Trevas)
- Actriz – Anne Hathaway (O Casamento de Rachel) / [n.v. – Frozen River]
- Actriz Secundária – Taraji P. Henson (O Estranho Caso de Benjamin Button) / [n.v. – O Wrestler]
- Argumento Adaptado – Eric Roth (O Estranho Caso de Benjamin Button)
- Filme – O Estranho Caso de Benjamin Button
- Realizador – David Fincher (O Estranho Caso de Benjamin Button)
Em conclusão, somando estas escolhas com aquelas que, por economia de texto não foram aqui discriminadas, Benjamin Button juntar-se-ia ao trio de filmes recordistas na arrecadação das famosas estatuetas douradas, com 11 Óscares (em relação às 13 nomeações perde o Óscar de “Melhor Actor” para Sean Penn em Milk, de Gus Van Sant, e o de “Melhor Guarda-Roupa” para A Duquesa (The Duchess), de Saul Dibb).
A título informativo, “o trio dos 11” é constituído pelos filmes: Ben-Hur (1959), de William Wyler; Titanic (1997), de James Cameron; e O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003), de Peter Jackson.
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Nota: *Como é óbvio, a materialização do que há muito foi prognosticado, designadamente através da atribuição de outros prémios que já perfazem as seis dezenas, serve apenas de justificação pueril, à laia de cortina de fumo em fase de dissipação, para pôr em ordem determinados assuntos, pessoais e intransmissíveis, cuja actualização constante de um blogue, com derivações twitteiras, põe em causa. Por outro lado, não se tratará, caso o evento despoletador se venha a verificar, de um abandono definitivo, mas de uma pausa para reorganização. Quando a 30 de Abril do ano passado se deu continuidade à actividade na blogosfera, a carga absoluta do título do blogue teve que ver precisamente com imposição de uma medida cautelar que enfrentasse essa inconstância de partidas definitivas e que, num curto espaço de tempo, se transformavam em tímidos ou constrangidos regressos.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Óscares 2009: inquérito final [actualizado]
Há pouco menos de um mês foram anunciadas as nomeações – de que dei aqui notícia – destacando-se, à partida, dois filmes: (1) O Estranho Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button) realizado pelo norte-americano David Fincher (n. 1962), com 13 nomeações; (2) Quem Quer Ser Bilionário? (Slumdog Millionaire) do realizador inglês Danny Boyle (n. 1956), com 10 nomeações. Ambos os filmes concorrem às categorias mais apetecidas: melhores filme, realização e argumento (neste caso adaptado para o grande ecrã), embora nas categorias de interpretação o primeiro conte apenas 2 em 4 possíveis nomeações (actor principal e actriz secundária), e o segundo não disponha de qualquer nomeação.
Seguindo a lógica de atribuição dos últimos galardões cinematográficos, o péssimo e indecoroso filme de Boyle é o grande favorito aos Óscares, parte com uma vantagem de 58 prémios atribuídos, contra os apenas 12 conquistados por Benjamin Button.
Em suma, tudo leva a crer que iremos ter a consagração do espectáculo pirotécnico e escatológico sobre a miséria do terceiro mundo, a pornografia da pobreza, o produto final excrementício… e será esse O Cheiro da Índia? (cf. Pier Paolo Pasolini, 90º Editora, 2008)
Na coluna do lado direito deste blogue, figurará até ao dealbar da tarde do próximo domingo um inquérito subdividido em quatro categorias, que incidirá sobre as preferências dos visitantes deste blogue em quatro das categorias a concurso nos Óscares deste ano: melhores filme, realizador, actor e actriz principais.
Para responder ao inquérito seria, como é óbvio, desejável ter visto os 11 filmes que integram as quatro categorias mencionadas (embora nas duas primeiras figurem em ambas os mesmos cinco filmes). Todavia, há preferências que se vão solidificando no nosso interior, por arrebatamento emocional, por exemplo, que dificilmente seriam abandonadas pelo simples acto de ver um filme concorrente, e nesse caso parece-me natural que, mesmo sem ter uma visão global sobre o conjunto, o voto possa ser exercido. Trata-se apenas de um passatempo e não do exercício formal para eleição dos melhores, equivalente ao realizado pelos membros votantes da Academia que, a não ser seguido, enviesaria de forma pouco honesta a atribuição de prémios.
Logo, não tem de haver pruridos de espécie alguma para eleger, directa ou indirectamente, um filme em cada uma das quatros categorias.
[adenda, às 23h57m]: Dos onze filmes nomeados que constam das quatro categorias para votação no inquérito, três, à data, ainda não estrearam em salas de cinema portuguesas: O Visitante (The Visitor; estreia 19/Fevereiro); O Wrestler (The Wrestler; estreia 26/Fevereiro); Frozen River (sem estreia marcada, provável comercialização directa no mercado de DVD, filme que também se encontra nomeado na categoria “Melhor Argumento Original”; curioso paralelismo com a edição 80 dos Óscares com o filme Away from Her, que contava com a nomeação de Julie Christie na categoria “Melhor Actriz”, para além da nomeação do filme para “Melhor Argumento Adaptado”).
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Decisão
A tomada de uma decisão implica sempre um custo de oportunidade. Seja ele qual for, há sempre uma perda, mensurável de inúmeras maneiras, compensável ou não pelos frutos da escolha no momento inicial. Claro que há correcções que podem obviar o sentimento de perda irreparável, mas jamais voltaremos ao ponto de partida, mesmo que nos convençamos que de facto é possível uma retroactividade plena, desfazer aquilo que foi feito e partir do zero.
Nunca mais voltaremos a partir do zero, «Para sempre está perdido / O que mais do que tudo procuraste / A plenitude de cada presença.» (Sophia).
Foi esta a decisão. Por mais estúpida e mais insignificante que possa parecer… estamos no domínio das aparências, porventura esconder-se-á algo de mais elevado, uma necessidade de rumo ou de mudança… outros valores se levantam.
Porém, ali ao lado, o tempo escoa-se, e, apesar da altura da fasquia, a manutenção do estado em que as coisas estão não é de todo impossível.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
B.I. Musical
Proposto pelo Henrique, este desafio é bem mais complicado do que realmente aparenta. Lembramo-nos de canções, de músicas e letras, e associamo-las a diversas situações da nossa vida, a bons e a maus momentos, desespero, noites de insónia, a intraduzíveis momentos de alegria, à saudade, a medos e anseios; porém, dificilmente as encaixamos nas dez singelas questões que esta dúbia corrente nos propõe. Tentei introduzir nas questões alguns dos meus cantores e/ou grupos favoritos, mas o tempo que isso pedia não o permitiu; ficou a ganhar a espontaneidade.
Sem mais palavras vãs, eis o meu bilhete de identidade musical:
1 - És homem ou mulher?
«Eu sou o homem da cidade que manhã cedo acorda e canta, e, por amar a liberdade, com a cidade se levanta.» - Carlos do Carmo, “Um Homem na Cidade”.
«I was born in the city, but I longed to run free. A screaming horse in my belly, scar on my heart, I live outside of convention. You Know the people who stare.» - The Cult, “Wild Hearted Son” + «But don’t play with me, ‘cause you’re playing with fire.» - Rolling Stones, “Play With Fire”.
«Call me unpredictable, tell me I’m impractical. Rainbows I’m inclined to pursue.» but «You’re just too marvelous, too marvelous for words. Like “glorious”, “glamorous” and that old standby “amorous”.» ambas cantadas por Frank Sinatra “Call me irresponsible” e “Too Marvelous for Words”, respectivamente.
«Take your hands off me. I don't belong to you, you see. Take a look at my face for the last time. I never knew you. You never knew me. Say hello goodbye.» - Soft Cell, “Say Hello, Wave Goodbye”
«This is the happy house – we’re happy here in the happy house – oh it’s such fun.» - Siouxsie and the Banshees, “Happy House”
«Should I stay or should I go now? Should I stay or should I go now? If I go there will be trouble. And if I stay it will be double. So come on and let me know.» - The Clash, “Should I Stay or Should I Go”.
«As loud as hell a ringing bell, behind my smile it shakes my teeth, and all the while as vampires feed, I bleed.» - Pixies, “I Bleed”
«Vivendo dessa maneira continuar é besteira. Não adianta não, não, não. O que passou é poeira. Deixa de asneira que eu não sou limão. Não sou limão, eu não!» - João Gilberto, “De conversa em conversa”
«I want to see my family, my wife and child waiting for me. I’ve got to go home. I’ve been so alone, you see.» - New Order, “Love Vigilantes”.
«When desire becomes an illness instead of a joy, and gilt a necessity that got to be destroyed.» - The The, “Infected”.
11 – Passa a corrente a cinco pessoas.
«And I can't break the chain. God help me break the chain. I wanna break the chain, please help me break the chain.» - Gene Loves Jezebel, “Break The Chain”.
(Porém, inusitadamente, Deus ajudou…)
sábado, 31 de janeiro de 2009
Os meus leitores votaram
A listagem foi facilmente organizada, e incluiu os filmes vencedores entre 1989 e 2008 (produzidos entre 1988 e 2007, apresentados entre a 61.ª e a 80.ª sessões de entrega dos Óscares), que, como terão reparado, iam desde o musical, por exemplo, o mauzinho filme Chicago de Rob Marshall, com argumento de Bill Condon – género que, confesso, anda bem longe das minhas preferências – ao mais sombrio dos thrillers, onde podemos sem qualquer dúvida incluir filmes como O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991) de Jonathan Demme, com argumento de Ted Tally – filme que foi um dos raros na história dos Óscares a arrecadar as cinco estatuetas das principais categorias –, ou Este País Não É para Velhos (No Country for Old Men, 2007) com realização e argumento a cargo dos manos Joel e Ethan Coen, passando pelos géneros fantástico, biográfico, western, histórico, épico, e pelas películas de forte pendor melodramático, do mais xaroposo e lamechas ao mais cru e bem gerido em termos emocionais.
De todas a categorias atrás mencionadas, não há uma onde talvez possamos encaixar o filme vencedor deste pequeno inquérito, como veremos.
Votaram 82 pessoas (sem hipótese de repetição, a não ser por meios mais ou menos ilícitos e sofisticados de supressão de cookies ou de votar em vários computadores com diferentes acessos à internet).
Beleza Americana (American Beauty, 1999), filme realizado pelo britânico (de ascendência lusa) Sam Mendes, com o argumento original de Alan Ball (o criador da consagrada série televisiva Sete Palmos de Terra). O filme arrecadou 5 Óscares na sua 72.ª cerimónia de entrega (encontrava-se nomeado para 8). Para além da estatueta para “Melhor Filme”, venceu nas categorias para melhores “Realizador”, “Actor” (soberba interpretação de Kevin Spacey), “Argumento Original” e “Fotrografia”, perdendo, de forma inexplicável, o Óscar de “Melhor Banda Sonora Original”, composta por Thomas Newman, para a do filme O Violino Vermelho (Le violon rouge) criada por John Corigliano, realizado pelo canadiano francófono François Girard (e se bem estão recordados, realizador do meloso e pegajoso Seda em 2007, baseado num romance do autor italiano Alessandro Barrico).
Eis, então, os primeiros três classificados (4 filmes), que dividiram entre si cerca de 63% dos votos, um pouco abaixo dos dois terços:
- Beleza Americana (American Beauty, 1999), de Sam Mendes – 18 votos (21%);
- Imperdoável (Unforgiven, 1992), de Clint Eastwood – 15 votos (18%);
- A Lista de Schindler (Schindler’s List, 1993), de Steven Spielberg, e O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991), de Jonathan Demme – ambos com 10 votos cada (12% + 12%).
Outras notas:
- Em branco ficaram 4 dos 20 filmes: Chicago (2002) de Rob Marshall, O Desafio do Guerreiro (Braveheart, 1995) de Mel Gibson, Gladiador (Gladiator, 2000) de Ridley Scott, e Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989) de Bruce Beresford;
- Durante as últimas duas décadas houve dois filmes que conseguiram igualar o recordista do número de estatuetas arrecadas, 11 no total, Ben-Hur (1959) de William Wyler: Titanic (1997) de James Cameron e O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003) de Peter Jackson, receberam 1 voto e 4 votos, respectivamente;
- Finalmente, e refiro-o com alguma pena minha, apesar de toda a campanha promocional e do lóbi das Caldas do meu querido amigo Henrique Fialho, Imperdoável de Clint Eastwood andou quase sempre atrás do filme vencedor.
Até ao dia 22, haverá mais qualquer coisa inútil na coluna do lado direito deste blogue. Jogos florais sobre cinema e para votar, obviamente.
Por enquanto, deixo-vos ficar uma das cenas mais marcantes do excelente filme vencedor:
«It’s the weirdest thing. I feel like I've been in a coma for about twenty years. And I'm just now waking up. Spectacular!» [“Lester Burnham”, Kevin Spacey]
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Delito de Opinião
O meu mui estimado blogger e jornalista Pedro Correia, apesar do verde que inunda o seu coração – já o meu só tem uma cor, como diria o JP, é azul e branco –, inaugura o blogue com um manifesto suficientemente claro e abrangente, de onde se destaca a vontade declarada de dar uso à liberdade de expressão: a opinião sem constrangimentos ou ditames de uma ordem superior, não compactuando, todavia, com extremismos ou vilanias.
Tenho dito. Delito de Opinião.
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Agradecimentos
Um abraço ao Pedro Correia e a toda a equipa do Corta-Fitas pela lembrança.
À Fátima, que nunca se esquece, retribuo a sua incomensurável simpatia, desejando-lhe um magnífico ano de 2009.
Preocupações, desejos e outras coisas para 2009
Felicitações ao Eduardo Pitta pelo 4.º aniversário do seu blogue Da Literatura – extensíveis, como é óbvio, ao meu conterrâneo João Paulo Sousa –, um dos meus blogues de leitura diária e, como é possível comprovar, consta da Via-Sacra deste blogue (coluna do lado direito). E, já agora, um bom ano de 2009 para os seus autores. Este ano optei pela não particularização, via telefone, e-mail ou texto no blogue, limitei-me a encher um post com um muito a propósito poema de Thomas Hardy.
Para continuar na onda de atribuição de prémios e comendas, não poderia esquecer-me de Dana Stevens por esta brilhante abertura de um artigo seu, publicado em 29 de Dezembro último na página da Slate: «I must have the opposite of Asperger’s syndrome: I'm allergic to hierarchies, lists, and ranking.» Em primeiro lugar, fiquem a saber que deixarei passar o feriado na tranquilidade possível do meu lar, para amanhã recorrer, de urgência, a um neurologista – talvez um dos Lobo Antunes – e tentar desfazer a associação entre listomania e a mencionada síndrome. Depois, é de realçar o notório mau gosto da senhora americana, nem caiu em graça, nem conseguiu ser engraçada. Finalmente, o horror a listas – listofobia – pode querer indiciar um distúrbio neurológico de outra ordem que a senhora desconhece, e pedras ao vizinho… e que eu tão-pouco pretendo conhecer.
O Abrupto continua na sua senda de corporização em blogue da presidencialmente famosa “Lei de Gresham”– eu já a conhecia desde os bancos da faculdade e comprovo a flexibilidade da sua utilização. E parece – que se realce o verbo, porque apenas se vislumbra um aparente nexo de causalidade – estar na origem da expulsão de mais uma boa moeda… Todavia, o mais grave do Grande Educador da blogosfera nem está tanto quando aquele se refere, por outras palavras, “ao muito de mau que se faz nesta blogosfera lusa”, felizmente efervescente, mas, quando usando da falácia facilmente adquirida no seu miasmático milieu dos jogos sórdidos da política, se refere aos outros blogues, que segundo diz, visita diariamente, e aos seus autores no seu tom professoral e de guia espiritual, talvez servindo-se do seu livrinho de antanho, vide o elogio sofista que faz ao meu muito estimado João Gonçalves: «O blogue que eu mais leio continua a ser o Portugal dos Pequeninos. O que João Gonçalves escreve é muitas vezes irritante, tem o defeito de aceitar como válidas informações em segunda mão, - o que num blogue "pesado" ainda resulta mais errado ou injusto, - mas continua a ser das poucas e cada vez menos coisas legíveis na blogosfera.» É, apenas, execrável.
Mas a enunciação da verdadeira etiologia das tristes palavras naquele texto patético-colérico, é muito bem feita pelo Pedro Mexia numa única frase:
«Pacheco tem aquela velha repugnância marxista pelo registo autobiográfico emotivo, e por isso não liga à blogosfera do CÁ DENTRO, mas a blogosfera do CÁ DENTRO tem gente interessantíssima, culta e de boa prosa.»
Finalmente, tenho vontade de fechar esta coisa. Arrancos e arremedos não me têm faltado – aliás, quem já me conhece o suficiente, via blogue, sabe desta minha faceta de consistente na inconstância. Mas procurarei dedicar-me mais à Literatura, que no último ano foi bastante descurada. Embora não se tenha reflectido na quantidade de leitura de livros publicados no ano, atente-se, por exemplo, no número de notas de apreciação (ou pseudo-recensões) escritas em 2008 por comparação às elaboradas em 2007: 8 contra 34.
A todos, uma vez mais e sem excepção, desejo um bom ano de 2009.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Falta-me tempo (forte sentimento)
Intermitências. Amuos, júbilos, irritações, partilha... sobretudo, partilha. Começou com o Porque a 17 de Dezembro de 2005, prosseguiu com o In Absentia em 2 de Dezembro de 2007, termina com o Nunca Mais, inaugurado a 30 de Abril de 2008.
A todos (2 leitores e meio), antecipo-me, agradeço a vontade (ou a realização) de celebrar com palavras este momento, sem mais tarde – perdoem-me! – discriminar por escrito a, certamente, extensa lista de bloggers que assinalou a data.
Termino com um dos meus poetas favoritos, cuja morte se assemelha em muito àquela que está na origem da permanente inquietação que me trouxe até aqui; até no tal tempo emparedado por nascimento e morte.
Deixando a métrica e a prosódia de lado, e a minha profunda perplexidade pela quase inexistência de Keats em versão portuguesa, aqui fica um dos meus sonetos preferidos, que ilustra bem o ânimo que por aqui assentou arraiais.
[na sua versão original, trata-se de um soneto inglês, composto por três quartetos e um dístico, com versos em pentâmetro jâmbico – métrica integralmente descurada na versão que se segue, por falta de ciência e paciência do celebrante.]
Quando temo o fim próximo da minha existência
Antes que a pena haja respigado meu cérebro atulhado,
Antes do monte de livros, símbolos e sinais em coerência,
Armazenados como grão maduro em celeiros abonados;
Quando observo o rosto da noite de estrelas manchado
Símbolos gigantescos e nebulosos de um amor-desatino,
E pensar que poderei não viver para haver esboçado
As suas sombras, através da mão mágica do destino;
E quando sinto, ser encantador de um dia radioso,
Que não mais poderei divisar as tuas formas ardentes,
Apreciar o dom das fadas e sentir-me poderoso
De amor irreflectido! – e logo nas vertentes
Deste mundo imenso estou só, vem-me em pensamento,
Até o amor e a fama se afundam no esquecimento.
John Keats (1795-1821), “When I have fears that I may cease to be” (escrito em 1817; 1818) [versão de AMC, 2008].
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Ligações perigosas
Creio que a tal regra foi sendo cabalmente cumprida, com algumas excepções que podem ter-se ficado a dever a razões de vária ordem:
- O cada vez mais ineficaz Technorati não capta todos os blogues que aqui se vão ligando;
- A eliminação, pura e simples, de ligações a sítios racistas, xenófobos, sexistas e homófobos, de seitas religiosas e/ou esotéricas, de cilício ou de avental, e de blogues onde é manifesta a intolerância pela opinião alheia;
- Os deslincadores (uma das piores estirpes blogueiras) sem aparente razão objectiva que justifique a acção de deslincar (exemplos de algumas razões compreensíveis e objectivas: redução das ligações ao mínimo indispensável, aos blogues mais visitados ou abolição, pura e simples, de hiperligações a outros blogues), ou se meramente subjectiva e pessoal sem que haja da contraparte qualquer tipo de explicação, são permanente e liminarmente eliminados;
- Apenas são incluídos no meu rol de hiperligações os blogues que reputo pertencer ao submundo, ou seja, 99% dos blogues nacionais; os restantes blogues, os de incomensurável qualidade ditada pelo crivo pachequista (nem merece que se lhe atribua o habitual sufixo “-iano”), ou seja, os tais etéreos e democráticos, os que possam pertencer à escassíssima margem de 1%, são liminarmente retirados devido ao abrupto e prestimoso auxílio da ferramenta Upperworld Detector, mais conhecido por “caçador de torres de marfim” (entre a enormidade de funções de detecção, entra em acção bloqueadora, por exemplo, se captar o uso reiterado de frases e expressões como “salvífico”, “justicialista”, “essa não é a questão essencial”, “manhá”, “Super Dragões”, “Rui Rio”, “O Rui Rio disse…”, “Gosto muito do Porto, lá nasci, até sou portista, mas…”, etc.
Ser recíproco na amabilidade recebida da ligação é, porém, uma tarefa árdua de construção e desconstrução de arrolamentos de hiperligações, principalmente quando a constância na manutenção dos blogues é verdadeiramente inusitada. Comecei com o Porque, entretanto criei o Data – que funcionaria como uma espécie de receptáculo de matéria adiposa –, seguiu-se-lhe o In Absentia e, por fim, cheguei ao Nunca Mais, todos os títulos auxiliados pela excelsa poesia de Sophia, que se adequa grandemente ao meu estado de inquietação permanente. Logo, surgiu a necessidade premente de transportar dos falecidos (ou moribundos) a lista infindável de blogues, seguindo sempre a tal regra da reciprocidade – tarefa assaz estúpida, quando o autor (eu, na 3.ª pessoa como convém ao submundo) apagava a listagem antes de abrir o novo.
Todavia, as novas tecnologias cedo resolveram esse problema através do surgimento de ferramentas agregadoras de hiperligações com publicação imediata (mediante a cópia de um código em HTML para a página em causa). Aderi ao Blogrolling (logótipo acima), mas o dito cujo, com todas as suas debilidades identificadas na organização dos blogues arrolados (designadamente, na ordenação alfabética devido, na sua maioria, a questões diacríticas) foi, há duas semanas, vítima de um severo acto de intrusão informática – ah, que maravilha, o submundo a atacar o submundo! Conclusão, os seus autores ainda não se refizeram do ataque, limitando-se a largar umas mensagens no Twitter, onde dá para aferir o seu estado de profundo choque, com a ditosa esperança num futuro melhor, devolvendo aos utilizadores todas as funcionalidades que vinham a usar – gratuitamente, é preciso que se diga.
Até lá, que me desculpem aqueles que aqui se vão ligando e que não recebem em troca uma pequena lembrança desta parte, mas há dias que não consigo sequer aceder ao adicionamento de hiperligações, agravado pela impossibilidade de remover ou de rectificar (nomes, endereços, etc.) daqueles que já figuravam no arrolamento.
Mas nem tudo é mau. Pelo menos, o código vai funcionando, e a listagem que figura na barra da direita deste blogue continua de pé… desactualizada.
Submundo – n. m. (De sub-+mundo), se aplicado à blogosfera, conjunto de blogues cujos autores não disputam entre si colunas de opinião nos jornais, programas televisivos e tertúlias radiofónicas; não usufruem ou usufruíram de cargos políticos ou cargos de relevo para a consolidação da democracia nacional; são chatos como as carraças (ou melgas, de acordo com a preferência parasitária), porque denunciantes de crimes de colarinho branco que acabam com processos judiciais por difamação, injúria, calúnia, enquanto os imaculados denunciados gozam de total impunidade nos seus Bancos, a abrir e a transferir dinheiro aos magotes para offshores, a criar universidades para sacar mais uns benefícios do estado, gozando da dupla função de OMO (lava mais branco), onde até fazem a sua perninha dando umas lições sobre ética democrática e empresarial, viajando pelos pólos criados no exterior, essencialmente no Brasil e Angola.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Menino gabado,,,
Corre por todos os blogues a notícia:
A editora Assírio & Alvim já tem blogue. E eu acrescento, já o teve há cerca de um ano, mas foi subitamente interrompido ao fim de alguns dias, talvez por falta de entusiasmo.
Mas, finalmente, D. Rosa, a Assírio tem blogue e… está na feira…
No passado dia 29 de Maio gabava-a aqui neste blogue, conjuntamente com a Cotovia e a minha editora de eleição, a Relógio D’Água do resistente Francisco Vale.
Mas já diz o ditado (completando):
…menino estragado.
Eu, leitor interessado, complemento a informação que o incensado blogue se esqueceu de fornecer:
- A Assírio & Alvim também está presente na 78.ª Feira do Livro do Porto no pavilhão A-10 (corredor da entrada, ao fundo do lado direito);
- Livros do dia: infelizmente não disponho dessa informação de carácter privilegiado(passei por lá hoje em busca do livro de Ezra Pound (& Hilda Doolittle), Fim do Tormento / O Livro de Hilda, que ainda não tenho, mas não só não o vislumbrei como não me souberam responder sobre o seu paradeiro: a) em stock, b) sem stock, c) prestes a chegar, d) exclusivo do Parque Eduardo VII, e) a vaguear pela estratosfera, f)nenhuma das anteriores, g) perguntar no stand de uma das seguintes editoras: Bertrand, Bico de pena, Pergaminho, Temas e Debates (jamais no do Círculo de Leitores, não nos largam...)
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Notícia do dia: entretanto, no próximo número da revista Ler mais 150 arquitectos dão a sua opinião sobre a localização e o layout da próxima Feira do Livro de Lisboa. Entre eles contam-se nomes como o centenário Oscar Niemeyer, o consagrado arquitecto canadiano e santanista Frank Gehry e a famosa Linda Reis (a.k.a. Pomba Gira) que entrou em contacto com Antonio Gaudí, Frank Lloyd Wright, Adolf Loos, Le Corbusier, Alvar Aalto, entre outros. Ao que até agora se conseguiu apurar, ninguém da denominada Escola do Porto foi contactado: Álvaro Siza, Alcino Soutinho, Eduardo Souto Moura, entre outros.
sábado, 24 de maio de 2008
Reciprocidade
Quando entrei neste mundo – há quase dois anos e meio –, o Insónia foi dos primeiros blogues (ou weblogs, como prefere o Henrique) que me abriu as portas à curiosidade.
Vinha referenciado neste curto espaço da literatura. E por lá me fui quedando, desfrutando das manifestações do carácter do seu criador: rebelde, descomprometido, com talento, sem mesuras de confraria literária... honesto e íntegro, acima de tudo. Parabéns, meu caro Henrique.
Obrigado Sérgio. O “Nunca Mais”, ao contrário da certeza que ostenta, é para mim uma transitoriedade. Sou consistente na minha inconsistência. Irrito-me, amuo, choro, exulto, alegro-me, esboço um sorriso, sou acometido de uma raiva incontrolável…
O meu diletantismo é a reverberação perfeita do meu comportamento errático na blogosfera. Logo, “nunca” é um quase “sempre”. Palavras que, no meu idiolecto, se tocam no radicalismo da sua semântica. Um abraço.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Entre leituras
Talvez o tenha assumido de uma forma implícita, quando no final do mês passado decidi dar a estocada final no blogue que vinha mantendo havia mais de um ano e meio; mas a irregularidade de actualização que me impus com a criação deste libertou-me de uma tarefa que, apesar de estar longe de um imposição exógena emanada de uma autoridade palpável ou de uma endógena, desdobrável e infame entidade subconsciente, que comandasse a minha vida fora dos momentos de lazer – ou na oportunidade de obtenção desses mesmos momentos –, me consumia uma parte considerável do recurso tempo.
Falo, é claro, das notas de prova dos livros publicados durante o ano corrente que iam passando pelos meus olhos, e com isso, acreditem, sem o pretensiosismo de dirigir a leitura dos poucos que me liam – e há, felizmente, instrumentos metabloguísticos que permitem aferir dessa regularidade leitora –, mas mais como uma necessidade de libertar as minhas pulsões literárias através das leituras que ia fazendo: o critério “ano de edição” apenas restringia a incomensurável área sobre que poderia estabelecer as minhas divagações – nunca recensões ou pequenas exegeses de carácter quase científico, a minha formação é outra, bastante diversa da literatura, strictu sensu, e, acima de tudo, as minhas notas poderiam ser entendidas como usurpação do trabalho alheio, aliás bem remunerado, apesar do incondicional amor decretado, quase que excluindo o vil metal da razão de ser da actividade exercida.
Aqui – entenda-se todo espaço físico que, com o meu único objectivo de válvula de escape, ocupo ou ocupei na blogosfera – apenas procurei emitir as minhas notas de leitura: simples opiniões, acopladas de um qualificativo (quantitativo ou numérico-estelar, coadjuvado por uma escala discreta qualitativa: do mau à obra-prima). Curiosamente, valeram-me alguns deslincamentos, a forma mais ignóbil de tratamento do outro na blogosfera, porque mesquinha, pela calada e sem qualquer justificação ou intenção de, pelo menos, prestar uma curta explicação, pública ou privada.
Em suma, toda a verborreia acima materializada, para dizer que com o “Nunca Mais”, acabou a secção classificativa dos livros editados durante o ano, em permanente actualização. Falarei apenas sobre aqueles que me apetecer, obedecendo, única e exclusivamente, e uma vez mais, ao ano de edição, que no presente é o de 2008. No final do ano – se ainda por cá gravitar – divulgarei a lista de preferências.
Dada a extensão do texto anterior, insignificante e estéril, já não me sobra muito espaço – aqui definido paradoxalmente pelo tempo disponível para a escrita – para falar de oito livros editados em 2008 que me acompanharam nos meses de Abril e Maio (por ordem de leitura, sempre entremeados com livros editados em anos anteriores – trata-se de uma regra basilar que imponho à actualização das novidade editoriais):
- John Updike, Regressa, Coelho (Civilização; Rabbit Redux, 1971);
- W.G. Sebald, Campo Santo (Teorema; Campo Santo, 2003);
- Mircea Eliade, Uma Segunda Juventude (Bico de Pena; Le temps d’un centenaire, 1981);
- Enrique Vila-Matas, Exploradores do Abismo (Teorema; Exploradores del abismo, 2007);
- Adolfo Caminha, Bom Crioulo (Palimpsesto; 1895);
- Robert Musil, O homem sem qualidades, Vol’s I e II (Dom Quixote; Der Mann ohne Eigenschaften, 1930-1942);
- Eduardo Halfon, O anjo literário (Cavalo de Ferro; El ángel literario, 2004);
- Albert Sánchez Piñol, Pandora no Congo (Teorema; Pandora al Congo, 2005).
O último da lista foi terminado ontem (hoje), às 2:30 da madrugada, e depois de à meia-noite ter ficado estabelecido que apenas o terminaria hoje. Albert Sánchez Piñol escreveu, uma vez mais – depois do soberbo A Pele Fria (ed. port. Teorema, 2006; La pell freda, 2002) – um livro (o seu segundo) excepcional. Este antropólogo barcelonês de 43 anos é um caso de sucesso e de eminência literárias em Espanha – qualificativos que ultimamente costumam ser mutuamente exclusivos. A sua prosa, mesmo para quem – como eu – não é especial adepto de livros de aventuras, é enleante, segura, audaz e arrebatadora (ler as curtas linhas que escrevi no extinto Porque sobre um dos melhores romances, senão mesmo o melhor, editados em Portugal no ano de 2006, A Pele Fria).
Mas sobre Pandora no Congo, O homem sem qualidades, Uma segunda juventude, O Anjo literário e talvez Os Exploradores do Abismo, tentarei falar em conjunto ou em separado nos próximos textos deste blogue.
Tempo e pachorra.
Por agora, enquanto leio Hölderlin e Michaux, ando a esquadrinhar Possessão, obra-prima da autora inglesa A.S. Byatt (n. 1936) – felizmente, sem haver sofrido a possível contaminação do filme de 2002 de Neil LaBute, com Gwyneth Paltrow e Aaron Eckhart –, editado pela primeira vez entre nós pela ainda púbere, porém já de uma qualidade superior ao lixo dos conglomerados, editora Sextante, que mereceu estas linhas lacónicas na última edição da revista Ler: «Empreendimento no mínimo volumoso, acaba de sair Possessão. Uma História de Amor, Booker Prize de 1990 (edição Sextante) – com tradução de António Pescada.» (pág. 15)
sábado, 5 de abril de 2008
1,... [com promessa]
O rapaz e a mãe ficaram a olhar para a carrinha até aquela desaparecer ao dobrar da esquina. No interior da casa reinava de novo um silêncio de morte. Ele já não se tinha de preocupar com o Rover, ter de verificar se ele estava a fazer algo aos tapetes, ou a morder os móveis, ou até verificar se ele tinha água suficiente ou algo que comer. Rover era a primeira coisa com que se costumava preocupar todos os dias quando regressava da escola e quando a ela voltava de manhã; andara sempre preocupado que o cão pudesse fazer alguma coisa que desagradasse o seu pai e a sua mãe. Agora toda essa ansiedade acabou e, com ela, o prazer, e a casa estava silenciosa.
Ele regressou à mesa da cozinha e tentou pensar em algo que pudesse desenhar. Um jornal estava pousado numa das cadeiras, ele abriu-o e deparou-se com um anúncio a meias da Saks que mostrava uma mulher que envergava um fino vestido, aberto para exibir a perna. Ele começou a desenhá-lo e voltou a pensar em Lucille. Será que poderia ligar-lhe, interrogava-se, e fazer aquilo que haviam feito da última vez? Apesar de ela, com certeza, poder vir a perguntar pelo Rover e não tinha alternativa senão mentir-lhe. Ele recordou-se da forma como ela afagara o Rover nos seus braços, até chegara a beijar-lhe o nariz. Ela amava o cachorrinho. Como é que ele lhe poderia contar que já não o tinha? Só de estar sentado a pensar nela, sentia-o a entesar como um pau de vassoura, e de súbito, perguntou-se, e se lhe telefonasse a dizer que a família estava a pensar num segundo cão para fazer companhia ao Rover? Mas nesse caso ele teria de fingir que continuava a possuir o Rover, o que passaria a envolver duas mentiras, e isso já era um pouco assustador. Nem é tanto as mentiras, à medida que tentava recordar, primeiro, que ele ainda tinha o Rover, segundo, que estava a falar a sério quanto ao segundo cão, e, terceiro, a pior de todas, que quando ele saísse e se levantasse de Lucille ele teria de dizer que infelizmente não poderia levar outro cão porque… Porquê? Só o facto de haver perfilado esses pensamentos, deixou-o exausto. Depois viu-se a si mesmo no meio do calor dela e pensou que a sua cabeça lhe explodia, e veio-lhe à ideia que quando tudo acabasse ela poderia insistir que ele levasse outro cachorrinho. Forçá-lo a isso. Afinal de contas, pensou ele, ela não lhe aceitou os três dólares e o Rover foi uma espécie de presente. Seria embaraçoso rejeitar a oferta de outro cão, especialmente por ele haver regressado especificamente por essa razão. Ele não se atreveria a ir para frente com tudo isso e desistiu da sua ideia. Mas depois arrastou de novo à sua memória a imagem dela escarrapachada no chão da maneira que o fizera, e ele voltou a procurar um motivo para alegar na recusa do segundo cão, depois de ter percorrido Brooklyn inteiro para o ir buscar. Ele quase que lhe podia ver a expressão da cara no momento em que ele recusasse o segundo cão, a estupefacção ou, pior, a fúria. Sim, era bem possível que ela ficasse furiosa e que visse tudo através dele, podendo-se sentir insultada, apercebendo-se de que ele apenas viera para se aproveitar dela e tudo o resto era uma leviandade. Até o poderia esbofetear. O que faria ele a seguir? Ele não podia dar luta a uma mulher adulta. Mas, ocorreu-lhe que por esta altura ela era bem capaz de já ter vendido os outros dois cães, que a três dólares cada um eram bastantes baratos. E depois? Ele começou a interrogar-se, suponhamos que ele lhe telefonava e, sem mencionar qualquer cão, lhe dizia que gostaria de regressar a sua casa para a visitar? Ele apenas teria de contar uma mentira, que ele ainda tinha o Rover e de que a sua família o adorava, e por aí fora. Ele podia facilmente aguentar com isso. Sentou-se ao piano e tocou alguns acordes, a maioria nas teclas pretas de som grave, para se acalmar. Na realidade, ele não sabia tocar piano, mas adorava inventar acordes, deixando que as vibrações atingissem os seus braços. Ele tocava, sentindo-se como se algo dentro dele abanasse desenfreadamente e houvesse colapsado ao mesmo tempo. Ele estava diferente do que tinha sido, não limpo e vazio, mas coberto de segredos e das suas mentiras, algumas ditas outras não, mas todas desagradáveis o suficiente para o manter ligeiramente fora da sua família, num local onde ele agora os poderia observar, e observá-los com ele. Ele tentou criar uma melodia com a mão direita tentando encontrar os acordes harmonizáveis com a esquerda. Por pura sorte, ele conseguia criar alguma beleza. Era realmente surpreendente, como os seus acordes só estavam ligeiramente dissonantes, com uma intensidade discordante mas mantinham-se, de algum modo, num diálogo harmonioso com a melodia tocada pela sua mão direita. A mãe dele entrou na sala surpreendida e pasmada de prazer. “O que se está a passar?” clamou ela em delírio. Ela sabia piano e tocar música de ouvido, tentou ensiná-lo mas falhou, porque, acreditou ela, o ouvido dele era muito bom e ele preferia tocar aquilo que ouvisse do que ter o trabalho de ler notas na pauta. Ela aproximou-se do piano e permaneceu perto do rapaz, observando-lhe as mãos. Espantada, desejando, como sempre que ele pudesse ser um génio, ela riu-se. “Estás a improvisar?” ela quase gritou, como se estivessem lado a lado a descer uma montanha russa. Ele apenas podia abanar a cabeça, não se atrevendo a falar, caso contrário talvez pudesse perder o que ele, de alguma forma, apanhou do ar, e riu-se com ela porque se sentia tão feliz por haver secretamente mudado, e, ao mesmo tempo, tinha dúvidas de que no futuro pudesse alguma vez voltar a tocar assim.
(nota: a divisão do conto em capítulos é da minha inteira responsabilidade – Cap. V: 4615 caracteres)
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Amanhã, terminarei, pelos menos de forma temporária, a minha actividade na blogosfera. A indisciplina e o torvelinho de emoções que se me assaltou nos últimos tempos, advindos sobretudo de um cansaço mental percebido – e, convenhamos, se aquele é de facto consciente, já não estamos nada mal… – não se coaduna com o vício diário de exibir a pobreza dos meus pensamentos ao mundo – e acreditem que não é falsa modéstia, vinha sentindo uma certa deterioração que com alguma premência exigia um afastamento… para não gangrenar e arruinar de vez (passe a redundância) um dos meus passatempos favoritos: escrever (e, claro, ser lido).
Às 20:45 estarei nas Antas a assistir ao primeiro jogo da época e será porventura o último até ao seu final. Com mais 6 ou menos 6 pontos lá estarei a emprestar a minha voz àqueles cujo justo domínio avassalador durante três décadas, dentro e fora de portas, um sistema judicial estranhamente unidireccional, tão podre e tão repugnante como aqueles que neste momento são por ele investigados, pretende fazer esquecer… Canal Caveira eclipsou-se e ninguém pretende que, recorrendo ao simples método da reconstituição histórica, se escrutine os 60 anos que precederam o 25 de Abril de 1974. A rádio não exibia repetições… Um tal de Joel, que substituiu Rui Oliveira e Costa, dizia na televisão pública na passada terça-feira com toda a desfaçatez: "seis pontos não compensam vinte anos". Ao ponto a que chegou a desvergonha e o descaramento de quem não consegue aceitar, pelo menos, algumas das inúmeras derrotas e de reconhecer o mérito a quem de facto o teve durante anos a fio; é que nem das "unhas" se conseguiu recordar!...A promessa: deixarei aqui uma pequena história, conto ou, se preferirem, uma pequena peça escrita sem pretensões literárias de apelo à memória, que é tão curta neste país de medíocres. Irá chamar-se "Bokassa". [cancelada por manifesta falta de vontade]