Mostrar mensagens com a etiqueta Tim Burton. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Tim Burton. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cocky & Tacky (como prometido)


Depois do 6.º aniversário desta coisa e, não vindo a talho de foice – a questão é mesmo uma ceifa apocalíptica sanjoanina evangelista, com direito a trombetas e a juízo (o muito que escasseia, não só por aqui…) Onde ia? Ah! E por haver falado nesse dia festivo num greasy cocky, ligando-o ao momento presente em que me debato por rememorar os poucos filmes que passaram pelos meus olhos (por comparação com anos anteriores) estreados em Portugal durante o ano em causa, emergiu a cockiest moda fílmica do ano que se apelida (enrolando línguas) Apichatpong Weerasethakul e o seu tacky-picture O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores, escolhido por aquela coisa chamada Tim Burton que encabeçava um grupo que premiou Javier Bardem pela sua interpretação no horrendo Biutiful (look at the pun, there) e que incluía, inter alia, o canastrão Benicio, a presumivelmente douta Beckinsale, o requisitado Desplat (qualquer dia musica até a Casa dos Segredos), a menina “Meio-Dia” (que, conceda-se, tem uma interpretação soberba no fabuloso Vincere de Bellocchio), ou o recalcitrante indiano isabelino.
E uns tempos depois, vendo-o no grande ecrã, reflecti sobre a origem da náusea e concordei com os poucos que ousaram profanar a transmigração das almas de escolha burtoniana, como já mencionei aqui naquele dia fatídico, e reproduzo um par de frases que me fez rir de satisfação:
«Uncle Boonmee believes his encroaching kidney failure is karmic retribution for having killed “too many commies,” as well as “lots of bugs.” The viewer is free to calculate how many domestic-terrorist insects he may have palled around with.» (TheBoston Phoenix)
Hã? Fustigação ou zurzidela? Não me preocupa, até porque hoje, à hora de publicação deste texto, passeio-me certamente, findos os afazeres, pela Galleria Vittorio Emanuele II, percorrendo lentamente o trilho urbano entre o Teatro alla Scala e il Duomo.


In bocca al lupo a tutti giovani e spavaldi cinefili, e dai giudizi affrettati degli altri!

domingo, 23 de maio de 2010

Palma de Ouro – Cannes 2010

Como seria de esperar, Tim Burton e os seus pares premeiam um filme nos domínios do fantástico, repleto de criaturas monstruosas, que toca o temas da transitoriedade da morte, fundamentada na transmigração das almas e na reencarnação:
Lung Boonmee Raluek Chat (título transliterado que, em tradução livre, significa Tio Bonmee, Aquele que Recorda as suas Vidas Passadas), do realizador tailandês Apichatpong Weerasethakul.
Do realizador apenas conheço o sofrível, pseudomístico, entediante e tenuemente homoerótico, Febre Tropical (Sud Pralad, 2004), tendo vencido o Prémio do Júri na edição de 2004 do festival francês.
Os críticos das páginas especializadas do indieWIRE e do Salon acertaram no vencedor tendo-o elegido como o melhor filme na competição oficial. No entanto a película originária da Tailândia está longe de ser consensual. Ouvido há coisa de 20 minutos no canal France 24, pela boca da crítica cinematográfica norte-americana Lisa Nesselson: “Como é que um filme em que existe uma cena de sexo entre uma mulher e um peixe-gato pode ganhar a Palma de Ouro?
Eis o trailer, enquanto aguardamos (porventura em vão) pela sua distribuição em Portugal:
Nota: ver aqui ou aqui os restantes vencedores.

quinta-feira, 18 de março de 2010

O que vale mesmo a pena…

…de entre o característico fogo-de-artifício burtoniano, arabescos computorizados, um pastiche mal concertado entre o País das Maravilhas e o Outro Lado do Espelho, a que se juntam as normais garridices de encher o olho num bailado excruciante pró-tauromáquico, sempre matizado pelas já doentias alusões à técnica funesta e assaz perigosa da decapitação ou pela exibição impudica de grotescos decapitados, dizia, o que vale mesmo a pena é o que se segue, e não sendo cunicultor, nem sequer apreciador do tal bicho à caçador, mia (e não se trata aqui do evanescente e mordaz Gato de Cheshire, é coisa mais tangível e inocente):
Mia Wasikowska (n. 1989)
Honra a Peter Jackson e à sua mais comedida fantasia onírico-etérea travestida de thriller de estalar os ossos.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Aperitivo: o Melhor e o pior…

Pois, o Melhor, com a ajuda de Jon Krakauer, e sobretudo de Eddie Vedder e Sean Penn:


Quando caminho a seu lado
Eu sou o melhor dos homens
Quando pretendo deixá-la
Volto sempre a vacilar

Uma vez construí uma torre de marfim
Para que a pudesse adular desde cima
Quando desço para me libertar
Ela enganou-me novamente

Há um grande
Um grande sol agreste
Que bate nas pessoas importantes
No mundo grande e sério

Quando ela vem para me saudar
Ela é a misericórdia aos meus pés
Diviso o seu charme natural
Ela limita-se a arremessá-la contra mim

Uma vez escavei uma cova recente
Para encontrar uma terra melhor
Ela apenas sorria e ria na minha cara
E voltava a impor as suas regras

Há um grande
Um grande sol agreste
Que bate nas pessoas importantes
No mundo grande e sério

Quando atravesso aquele rio
Ela acalma-se a meu lado
Quando tento compreender
Ela apenas abre as mãos

Há um grande
Um grande sol agreste
Que bate nas pessoas importantes
No mundo grande e sério

Uma vez deitei-me a perdê-la
E vi o que tinha feito
Curvei-me e desfiz-me das horas
Do seu jardim e do seu sol

Logo procurei desejá-la
Voltei-me para ver o seu choro
Quarenta dias e quarenta noites
E isso continua a castigar-me

Eddie Vedder, “Hard Sun”, Into the Wild [versão: AMC, 2008]


E o pior


Revelação: Hoje, depois das 20 horas.

sábado, 26 de julho de 2008

Acima de Ledger

Aaron Eckhart em O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008)
Ou melhor, o próprio actor excedeu-se, ultrapassou a barreira da sua mediocridade interpretativa, estabelecida, ironicamente, em todos os filmes, sem excepção (gay sheepboys, incluído), em que participou até ao penúltimo. Em The Dark Knight, os irmãos Nolan deram-lhe seguramente a hipótese para brilhar – é um papel num milhão. Não pretendo significar com isto, no entanto, que qualquer actor inserto na pele do personagem delineado pudesse atingir tal grau de resplandecência. Não, é aí mesmo onde se aloja a questão, toda a interpretação de Ledger é superação, esforço e dedicação, que até pode ser entendida pelo perfil histórico-fílmico do próprio actor, anódino e sem chama, como fazendo uma curta análise aos seis filmes Batman da nova geração: por exemplo, estou perfeitamente convencido de que Jack Nicholson, ligeiramente mais novo e menos indolentemente canastrão, jamais lograria alcançar o nível do australiano sem recorrer ao histrionismos que lhe conhecemos para tentar ultrapassar a fase da decadência – não falo, é claro, do Nicholson de Voado sobre um ninho de cucos (One Flew Over the Cuckoo’s Nest, 1975) de Milos Forman, de Chinatown (1974) de Polanski, de Profissão: Repórter (Professione: repórter, 1975) de Antonioni, de Shining (1980) de Kubrick ou até de Uma Questão de Honra (A Few Good Men, 1992) [You can’t handle the truth!] de Rob Reiner, um pouco mais velho que Ledger quando interpretou Joker e a anos-luz de distância (isto é, bem acima) no capítulo da eminência cinematográfica.

Deixando de parte a transfiguração de Heath Ledger, o filme de Nolan é tão banal como o seu predecessor Batman – O Início (Batman Begins, 2005), também com Christian Bale na pele do herói imaginado por Bob Kane, e banaliza-se com a sucessão de falhanços (opinião pessoal) desde o seu verdadeiro começo na era contemporânea, quando Tim Burton o resolveu ressuscitar para o grande ecrã em 1989, com Michael Keaton a fazer de homem-morcego.
Aliás, considero que o principal problema dos filmes Batman (como já referi, seis até hoje) com diversos realizadores (por esta ordem, Burton, Burton, Schumacher, Schumacher, Nolan e Nolan) reside na estranhíssima falta de apelo ou, se quisermos, de uma clara falta de identificação actor/personagem-herói/público; é uma relação clara e impudicamente falhada com Michael Keaton nos filmes de Burton (Keaton tentou, de forma perceptível para olho medianamente treinado em cinema, dar uma passo maior que a sua perna e estatelou-se ao comprido), e depois com performances sofríveis de Val Kilmer e George Clooney nos seguintes dois – actores cujos tiques pessoais já se tornaram inultrapassáveis –, e finalmente com Christian Bale nos dois últimos, cuja participação só poderá ser entendida pelo cachet e pela (por ele) constatada decadência capitalista de colegas actores da sua geração rendidos ao verde dos dólares e até dos personagens, como é o caso do meu mui estimado Ed Norton (que facada no coração).
Pelo vistos a saga irá continuar com os manos Nolan, com Bale e Eckhart confirmados. Agora, só resta esperar que este último não ensandeça no esforço de interpretar o papel de Two-Face (Harvey Dent), anteriormente interpretado em Batman Para Sempre (Batman Forever, 1995) por outro dos colossos de Hollywood, Tommy Lee Jones.

Very punctual, even to his own funeral! Boys, kill the Bat!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Repugnância

Convencionou-se, de forma tácita, que Tim Burton é um bom crachá para alardear uma certa intelectualidade cinematográfica. Não gostar de Burton é não gostar de cinema. Não ver os seus filmes fará, com toda a certeza, acusar uma certa dose de filistinismo no balão da altivez cultural. Em claro paradoxo metafórico, criminoso é aquele que, perante o largo espectro de recursos cinematográficos empregados, potenciados por uma mente imaginosa corporizada numa imensa e cara fábrica de ilusões, não se deixa inebriar por tamanho esforço artístico e tal arrojo estético.
Para ser sincero – e com alguma pena minha, porque é precisamente a dura ausência de alguém que o idolatrava o (um dos) leitmotiv deste blogue –, Tim Burton nunca me convenceu: ele é muito fogo-de-artifício, muita cor e malabarismos de câmara, um desmesurado exibicionismo do grotesco e do macabro, os finais ribombantes, apoteóticos e cataclísmicos, como expressão máxima da sua extravagância imagética. É, em suma, recorrendo à fisiologia e a um pequeno motejo semântico, o paroxismo fílmico da pirotecnia plasmático-fluidal.

O Sweeney Todd de Burton baseia-se num musical da Broadway de 1979 (Sweeney Todd, the Demon Barber of Fleet Street) criado por um dos mais icónicos compositores americanos dessa vertente das artes do palco, Stephen Sondheim.
Na origem do sucesso de Sondheim está a obra criada na primeira metade do século XIX e inicialmente publicada em folhetins num dos pasquins fundados pelo editor britânico Edward Lloyd – os famosos penny dreadful –, que contratou à peça um tal de Thomas Peckett Prest (o putativo pai da obra).

No filme de Burton, todos cantam: Depp, Bonham-Carter (casada com Burton), Rickman e até, imagine-se, o irritante Borat. De facto é um musical, embora atípico, na medida em que se desvia do arquétipo cénico dos grandes e vetustos musicais de Hollywood.
Ao contrário da opinião da maioria da crítica e dos nomeadores profissionais que integram a chusma de sessões de atribuição de prémios que se realiza por esta altura, que exageram na sua eloquência encomiástica, considero perfeitamente mediana a interpretação dos trechos de diálogo e de monólogo cantados. Tentando, de forma falaciosa, comparar o incomparável, basta que apenas nos recordemos do último filme de Christophe Honoré, As Canções de Amor (Les chansons d’amour, 2007), e da excelência interpretativa do jovem elenco.

Porém, é no exibicionismo gore que Burton perde em toda a linha. A crua e gratuita explicitação da violência, assim como a subentendida – como exemplo a mera sugestão de canibalismo via ingestão de empadas de carne, que, a propósito, passou a substituir a de gato com a chegada de Sweeney Todd –, é de presença assídua do princípio ao fim do filme, embora essa gratuitidade siga um processo gradual de intensificação que culmina numa orgia de ossos, miolos, entranhas e sangue. E se, em termos gerais, a plástica contemporânea da violência no cinema não é susceptível de fazer retinir as minhas campainhas da denominada licenciosidade artística, já a inexorável tendência górica ou gótica nas artes visuais deixa-me completamente nauseado. Não lhe vislumbro uma finalidade, mesmo que meramente estética. É gratuita. É pura pornografia. Nada deve à arte. Mesmo que, enquanto se esquarteja, se assista a uma fabulosa representação vocal de uma ária de Mozart ou de um lied de Schubert.
Johhny Depp e Helena Bonham-Carter são dois excelentes actores.
John Holmes e Ilona Staller (aka Cicciolina) eram considerados os melhores no seu ofício, mas não mudaria a minha apreciação sobre a qualidade da obra se Holmes (Sweeney), enquanto sofria uma felação praticada com inigualável destreza por Ciccio (Mrs. Lovett), cantasse para a sua navalha reluzente as palavras de Sondheim «There there, my friend... / Come, let me hold you...» ao som da sua música.

É mau. Muito mau.