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quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ternuras

Colhi-te
no berço da madrugada
e banhei-te
com as cores do sol nascente!
Arredondei
os braços nus e longos,
e abracei-te
num sorriso seguro e terno!
E apertei-te
no calor sereno do meu peito!
Sentei
a ternura no meu colo,
e desfez-se
 o teu cansaço...
E colhi
todas as flores do sol
 para enfeitar o teu dia.
Deitei-te
no horizonte
e repousei
o meu silêncio
com as cores da tarde que morria!
Teci a noite
com sonhos de lua cheia
 e sonhei-te
em campos de cetim...
E... acordei
para um novo dia que nascia!


Manuela Barroso  "Eu Poético III"
                                                            
                                                                                      

domingo, 17 de julho de 2011

Cartas...


A cidade repousava agora no deserto da ausência das capas negras dos estudantes.
Férias.
O cheiro do monte atraía agora, como o pólen que se desprendia das corolas atrevidas das flores.
A aldeia tinha o mistério da abundância dos pássaros insectívoros, atravessando em flecha ou em voo picado, as flores  do jardim.
Verão.
O sol picava as pétalas das flores e da pele.
A adolescência aceita desafios exigentes...
E era sob esta inclemência abrasadora, que me passeava gostosamente pelos canteiros geométricos do meu jardim.
A impaciência pedia a urgência do carteiro, que esperava com ansiedade e palpitações inquietas...
E naquele lugar, áquela hora, ele aparecia meio escondido, como anjo mensageiro de boa nova...
E, por entre os desenhos dos portões de ferro forjado, este anjo trazia uma das mais belas recordações que guardo no cofre da alma : as primeiras cartas de amor que não eram nunca ridículas!
...E primeiro, olhava longamente a letra que me falava tanto!
Depois, lia as palavras que embalavam meus sonhos de menina...
...E o papel tinha aquele cheiro especial que me enfeitiçava! E tudo era mágico!
E sorria!
E, no refúgio do laranjal, saboreava o sonho de um amor proibido, por ser, tão simplesmente tão menina!
O tempo filtrou recordações.
Mas não matou a saudade que ainda vagueia como uma luz, por entre as rosas do meu jardim!
O carteiro, esse, ficará para sempre no meu imaginário como o anjo da alegria que me entregava pedaços de amor!
...E não há luar como o de janeiro...

Manuela Barroso

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Homenagem -Obrigada, Evanir!


Evanir, do blog http://aviagem1.blogspot.com, entendeu, com a sua delicadeza, homenagear  as palavras que se deixam atravessar por sentimentos errantes, no blog http://wwwanjoazul.blogspot.com.
Agradeço, com ternura, este carinho que partilho com todos os que me visitam e que tanto me alegram! Vocês, são os meus presentes, que eu enfeito com os laços da amizade.
A si, Evanir, de uma generosidade comovente, o coração emudece perante uma alma como a sua!
Você transmite paz! E a paz do coração é o paraíso da Humanidade!
Obrigada pelo seu gesto.
Obrigada por me levar na sua VIAGEM!
Terno abraço,
Manuela Barroso

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Simplesmente flui...

Não durmas,
Vê este silêncio que repousa aqui...
Não vás,
Sente esta largura que foge de ti!
Não penses,
Sente a quietude do momento,
Abandona suavemente o pensamento...
Não fujas,
Fica na paz da tua casa
Momento de ave sem asa
Não corras,
Saboreia o doce do vento
Adormece em ti!
Não grites,
Abençoa a palavra que soltas
Dilui-a na brisa que passa...
Flui...
Simpesmente flui...
És o rio
És a vida
És o lago
És o azul
És o Infinito
Que te possui!

Manuela Barroso in "Eu Poético III"

sexta-feira, 1 de julho de 2011

TARDES MANSAS

"Paisagens Naturais" de Helena Chiarello
cacadorinfoto.blogspot.com

Os dias quentes de verão eram o repouso imposto aos corpos exaustos, castigados pelo trabalho árduo
do campo.
A sombra das laranjeiras casava-se com a folhagem oferecida da ramada, donde pendiam agora os cachos negros de verdelho e retinto e que serviam de suporte a ninhos de cerezinas que espreitavam curiosas os estranhos vultos humanos...
...Mas as tardes tinham outro encanto!
O tempo ia correndo preguiçoso entre o rio e um livro à sombra da laranjeira pingando flores intensamente brancas, intensamente perfumadas...
...e deixava  o "amor" adormecido no meio  do romance e fazia-me ao rio com um pequeno e rudimentar apetrecho de pesca...
Tardes de pura quietude!
 Deixava-me absorver pela  mansidão das águas e dos pequenos peixes em recreio, que brincavam com as libelinhas que sobrevoavam a capa das águas  que também  dormiam e onde eu me espelhava juntamente com os choupos  que emolduravam o meu corpo.
Era um cheiro a frescura, a água lavada, misturado com o lodo verde onde serpenteavam enguias e trutas esguias...
...e lançava o meu isco...e sorria...
...Os peixes, numa desconfiança atrevida, apareciam parcimoniosamente picando o anzol, com um "não te quero" ..."mas volto"...
...e davam meia volta como num bailado sem vénias!
... E... nada!
Mas era gostosamente doce e relaxante, sentir o vai-e-vem, o sossego que os barbos e bogas me transmitiam...
...e eu não queria o peixe...eu queria o prazer da tranquilidade das águas sobrevoadas pelas libelinhas , e que se agitavam em tremura, juntamente com o voo rasante das andorinhas...
...E neste relaxamento induzido pelo coaxar das rãs e o borbulhar das águas transparentes nos seixos, onde o céu azul mergulhava, transportava-me para o meu lugar seguro, onde não tinha necessidade
de defesas nem de escudos...
...Era eu própria!
Deixava-me embalar nesta onda de paz...
...olhava o Universo...
...e sentia-me à porta de minha Casa!
Corria uma maré frisante que arrepiou os meus cabelos acordando-me do torpor de pensamentos.
Mergulhei na água cristalina que me acordou...
...as folhas dos choupos dançavam dizendo adeus...
...e enfeitei os meus olhos com espelhos de água e libelinhas num entremeio de renda...
... por onde os raios de sol penetravam...
... bordando este lençol  que cobre ainda o meu berço de menina!