"As flores não morrem de pé, vivem em perfumes" |
Parou o sol.
O tempo esqueceu-se de fazer parar os ponteiros do
meu dia.
Morreram as minhas rosas.
Morreram?
Não.
Ainda dormem saudades em botões calados que não
desistem da vida.
As pétalas silenciam a sua beleza deixando-se apagar,
murchando-se
em novelos de abraços.
As flores não morrem de pé, vivem em perfumes.
Ficaram os picos secos como as ameias de um castelo
na defesa das
hastes erguidas e nuas que antes se passeavam no
vento ligeiro e fino,
exibindo os seus trajes em sedas de juventude.
A mocidade dos dedos de estames caiu com o pólen nas
intempéries
da vida, exposta aos caprichos do tempo e ciclos da
Natureza.
Resignadas respondem mudas aos nossos olhos
perguntadores,
transmitindo ao coração a dor da decadência nesta
nudez enrugada e triste
mas serenamente ainda bela.
Um botão uterino com sementes estéreis e espinhos
agudos mas quase
cegos numa última defesa muda, eis o que resta do
que
outrora foi um reino de êxtases em perfumes e cores
num hino à rainha das flores.
Respiro com este “fruto” nas horas feitas de
nostalgia.
Mas neste inverno de azul-cinza a minha alma acorda
deste açude de saudade
e pinta de novo a primavera que dorme entorpecida mas
que acordando
sempre se renova com a mesma idade.
O sol chamará de novo a vida.
Em breve as minhas rosas semearão olhos de
juventude apetecida.
Viverei os encantos de cada maio com as pétalas a
sorrir,
guardarei na memória o perfume de cada aurora,
para viver de novo em cada florir.
E um dia será com uma colcha de rosas
com que quero que me cubram
quando eu partir.
As rosas vão e vêm...
Eu vou...
...para de outra forma
vir...
Manuela Barroso
Inverno de 2013
vir...
Manuela Barroso
Inverno de 2013
"... eis o que resta do que outrora fora um reino de êxtase de perfumes e juventude... ...respiro este fruto nas horas feitas de nostalgia." |
"Um botão uterino com sementes estéreis/Inverno |