"Acredito
que o universo tem a sua própria forma de equilibrar as coisas com as suas leis, quando elas estão perturbadas.”- Eckhart Tolle |
“O
momento que estamos a viver, cheio de anomalias e paradoxos, faça-nos pensar.
Numa época em que
as mudanças climáticas causadas pelos desastres ambientais atingiram níveis
preocupantes, a China em primeiro lugar, e muitos países depois, são forçados a
congelar; a economia entra em colapso, mas a poluição diminui
consideravelmente. O ar melhora. Usa-se máscara, mas respira-se.
Num momento
histórico em que certas ideologias e políticas discriminatórias, com fortes
referências a um passado mesquinho, estão a ser reativadas no mundo inteiro,
aparece um vírus que nos faz ver que, num instante, podemos tornar-nos os
discriminados, os segregados, os presos na fronteira, os portadores de doenças.
Mesmo que, a culpa não seja nossa. Mesmo que, sejamos brancos, ocidentais ou
viajemos em classe executiva.
Numa sociedade
baseada na produtividade e no consumo, em que todos corremos 14 horas por dia atrás
do desconhecido, sem sábados nem domingos, sem mais vermelhos no calendário
(feriados), de um momento para o outro, somos parados. Parados em casa, dias e
dias para contar com um tempo cujo valor perdemos se não for mensurável em
compensação ou em dinheiro. Ainda sabemos o que fazer com o tempo?
Numa fase em que o
crescimento dos filhos é por necessidade, muitas vezes delegado a outras
figuras e instituições, o vírus fecha as escolas e obriga-as a encontrar
soluções alternativas para voltar a colocar mães e pais junto dos filhos.
Obriga-nos começar uma nova família.
Numa dimensão onde
as relações, a comunicação, a sociabilidade são lançadas principalmente no
"não espaço" das redes sociais dando-nos a ilusão de proximidade, o
vírus tira-nos a verdadeira proximidade sem beijar, sem abraçar, á distância do não contacto.
Quando é que tomamos estes gestos e o seu significado como garantidos?
Numa fase social em
que pensar no próprio umbigo se tornou a regra, o vírus envia-nos uma mensagem
clara: a única saída é a reciprocidade, o sentido de pertença, a comunidade, o
sentimento de fazer parte de algo maior que temos de cuidar e que cuida de nós.
A responsabilidade partilhada, o sentimento de que o destino não é só o nosso,
mas de todos à nossa volta, dependente das ações de todos e de cada um.
Então, se pararmos
de fazer à caça às bruxas, a pensar de quem é a culpa ou por que tudo isto
aconteceu, mas pensarmos no que podemos aprender com isto, penso que todos
temos muito para pensar e com o que nos comprometer. Porque com o universo e
com as suas leis, obviamente, temos uma dívida de gratidão. O vírus está a
mostrar-nos isso, a grande custo".
Leonardo Morelli