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Clara visão...

Adam Wallacavage


Em Cerrana do Oeste
me veio ao peito o primeiro inflar.
Foi difícil não afogar
com aquele ar denso e de fumaça repleto,
exalada dos charutos cubanos
aportados nos enormes bigodes
dos que detinham nas mãos
a pequena cidade.

Mas apesar da dificuldade
respirei aqui e ali e fui vendo e vivendo
os gris e ares podres de Cerrana,
em outras terras temidos,
em certos mares invejados.

Em Cerrana do Oeste cresci
acostumada a encarar máscaras
feitas de flores roxas, rosas,
brancas e amarelas,
a fazer sala pra vaidade,
e banquete pra fartura.
Até a violência veio pra jantar certa vez,
com a desculpa de encontrar a paz.

Lá em casa certa feita
num dos raros dias em que a ela vi vazia,
fiquei com a vista turva,
e sentia fraca a claridade
na visão embaciada.
Precisei do amparo da parede pra não cair,
mas mesmo assim estatelei no chão.
Com a cara pra cima
e as nádegas amassadas,
a causa da quase cegueira então vi:
era só o lustre tomado de amorfos,
que impediam a lâmpada de iluminar.

Cris Campos

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4 comments:

Diego said...

Cris, coisa esplêndida. Você envolve do começo ao fim. A simplicidade que aparenta no fim, a "causa", só contribui para a estética de sua poesia. "Não ligue pra essas caras tristes... sentadas são tão engraçadas, donas das suas salas..." Me lembrou essa passagem do poeta. Meus parabéns.

Dulce said...

Uau!
Cris, adorei! Parece uma viagem... pelos menos, eu viajei!
Gr. Bjo!

claudio castoriadis said...

Parabéns!Uma baita estandarte poético.

eder ribeiro said...

Concordo com a Dulce. Vc tem uma facilidade de nos envolver nesses poemas-contos de uma tal forma q qdo saímos queremos permanecer para nutrir um pouco de sua qualidade como poetisa. Eu amos tudo isso. Bjos, adorada manamiga e um excelente e iluminado finde.

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