Os autores do Tubo foram desafiados a criarem uma obra inspirada na frase abaixo:
" Ao pé da Árvore de Natal,apenas um presente sobrava. Um cartão identificava o destinatário: Para quem tem mais valor"
Subindo Degraus
Annie sempre que tinha um tempo livre durante a semana aproveitava-o colocando em dia as leituras de alguns blogs que seguia. E o pontapé inicial do grande rebuliço provocado pela matriarca nesse Natal só ocorreu porque ela fora tocada pelo "Soneto de Natal", publicado no Tubo de Ensaio Laboratório de Artes, de autoria do Gilberto de Almeida.
A partir da reflexão dessa e também de outras postagens de cunho natalício do mesmo autor houve, por assim dizer, um despertamento de atitudes , ideias...
Exato um mês antes do Natal, Annie enviou e-mails aos seus filhos, genros, noras e netos comunicando as regras para quem viesse passar o natal com ela.
1- Assim que recebesse o e-mail deveria todas as noites fazer uma oração e, como Salomão, pedir a Deus sabedoria.
2- Na semana do Natal, cada um deveria ir a um supermercado comprar alimentos de primeira necessidade para montarem uma cesta e confiando na sabedoria adquirida deveria fazer a entrega a uma pessoa que estivesse precisando.
3- As lembrancinhas ofertadas aos familiares teriam que ser confeccionados por cada um.
4- Poderia também gravar alguma apresentação artística ou até mesmo fazer ao vivo no dia.
Observação: Os itens 2 e 3 teriam que ser passo a passo registrado com fotos. Estas deveriam ser impressas, pois seriam o passaporte para o melhor de todos os Natais.
Os netos que ainda não trabalhavam deveriam usar da própria mesada para a compra dos alimentos.
Sentia em seu coração uma alegria, estava prestes a proporcionar a sua família um Natal diferente, com certeza seria o marco de uma nova mentalidade... Sendo assim, não mais justificava uma árvore de natal de quase quatro metros.
Preferiu ir pessoalmente buscá-la no porão, fazia anos que não entrava lá, logo de cara bateu o olho no estrado de uma cama e foi desse jeito que ela encontrou e deu vida à sua nova árvore de natal.
O grande dia chegou e na medida em que entravam entregavam as fotos ao mordomo, essas eram colocadas em um envelope com nome e depois penduradas em uma estranha árvore de galhos secos que fora colocada no meio do salão.
Em princípio, a maioria achava que Annie havia enlouquecido...No lugar da grandiosíssima árvore e enfeites glamourosos, aquela de galhos secos e uma outra de estrado com meia dúzia de penduricalhos. Até o tradicional amigo oculto foi abolido, isso sem contar o cardápio simples que seria servido na ceia.
Certa hora, Annie pediu que todos fizessem um círculo em volta da árvore de galho seco e que contemplassem sua aparente simplicidade... Após alguns minutos pediu que todos retirassem seus respectivos envelopes e retornassem ao grande círculo, também comunicou que não iria esperar até meia noite para entregar a lembrancinha que fizera e foi assim que aos poucos o colorido tomou conta do círculo. Quando todos haviam recebido as almofadas, pediu que sentassem e retirassem um papelote da bandeja que Sara estava a servir. Quem pensou que não haveria amigo oculto errou... Não haveria presente melhor do que compartilhar as emoções, aprendizados e reflexões proporcionadas pelas tais regras e também pela metáfora que havia no centro do círculo humano.
E ficaram sentados ali durante horas até que Julia sua neta de 16 anos perguntasse:
― Vó, que estranho... Todos estão com os presentes do amigo oculto, então , de quem será o envelope que continua na árvore?
Que tal você ir até lá e conferir.
Hummm, no envelope está escrito " De Annie e sua família -
Para quem tem mais valor . Vovó, você é mesmo muito sábia...
E de repente o espírito do verdadeiro Natal se fez, como se tivesse sido combinado, todos levantaram , deram as mãos e cada um de sua maneira reverenciou aquele menino simples de luminosidade grandiosa que nasceu em um estábulo lá em Belém.
Claudiane Ferreira
Convido-os a visitarem ou revisitarem as postagens natalinas do autor que foi mencionado nesse conto.