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abril 13, 2014

Beatriz e Virgílio - Yann Martel

Título original: Beatrice and Virgil
Ano da edição original: 2010
Autor: Yann Martel
Tradução: Fátima Andrade
Editora: Editorial Presença

"Henry, um escritor reconhecido, decide escrever um livro, meio ficção e meio ensaio, como forma de abordar todos os aspectos de um mesmo tema. Completamente desencorajado pelos seus editores, desiste do projecto e vai viver para outra cidade. Aí, contudo, continua a receber cartas de leitores e, um dia, um taxidermista escreve-lhe a pedir ajuda. Henry apercebe-se então de que estão ambos a tentar escrever sobre o mesmo tema. Um livro polémico e provocador, que confirma o autor de A Vida de Pi, o Man Booker Prize de 2002, como um dos mais surpreendentes escritores canadianos da actualidade."

Embora tivesse alguma curiosidade para voltar a ler Yann Martel, autor do surpreendente A Vida de Pi, não tinha grandes expectativas porque a maioria das críticas que li aos outros livros que escreveu eram mais ou menos desencorajadoras. Na realidade, este Beatriz e Virgílio não me encantou, achei-o até um pouco pretensioso.

Henry é um escritor conhecido que tem dedicado os últimos anos ao livro que está a escrever sobre o Holocausto. Na realidade Henry está a trabalhar em dois livros, uma obra de ficção e um ensaio sobre o Holocausto e Henry gostaria que os dois fossem publicados como um único livro, com a ficção a complementar a dura realidade. Quando os seus editores, de forma, mais ou menos simpática lhe dizem que a ideia é péssima e que os livros não são assim tão geniais, Henry fica em choque. Sem capacidade para recomeçar a escrever, parte com a mulher para uma cidade na Europa onde acabam por se ir integrando e ficando, e uma viagem que começou por ser isso mesmo, uma viagem, acaba por ser tornar na nova casa do casal que não pensa regressar à sua vida passada.

Henry ocupa os seus dias a descobrir novas vocações em si, tem aulas de música, está integrado numa companhia local de teatro amador e aguarda com ansiedade a chegada do primeiro filho de ambos. O único contacto que vai tendo com a sua carreira literária são as cartas dos leitores que lhe chegam e às quais faz questão de responder uma a uma. E é nesse correio de leitores que surge um envelope, de um leitor misterioso, que por coincidência vive perto de Henry. Ao contrário dos outros leitores este envia a Henry um excerto de uma peça de teatro, cujos protagonistas são Beatriz e Virgílio, duas personagens que parecem ter sido inspiradas nas homónimas de Dante, na sua Divina Comédia. O tom no pequeno bilhete que o misterioso leitor enviou com a peça de teatro e a qualidade literária da mesma, deixam Henry curioso e com vontade de conhecer o seu autor. E é o que faz, num dos seus passeios diários com o seu cão, vai até à porta da morada que constava no envelope que recebeu e, após um momento de hesitação, por estar defronte de um taxidermista, entra. O misterioso leitor e autor da peça de teatro é um sexagenário, homem duro, de poucas palavras, ríspido e pouco simpático.
Aparentemente o homem precisa da ajuda de Henry para acabar de escrever a sua peça.

E o livro vai decorrendo desta forma, com Henry a tentar perceber quem é o taxidermista e como é que alguém, aparentemente tão frio, tem a capacidade de escrever algo tão profundo em termos de emoções e de sensibilidade. À medida que vai conhecendo o estranho homem, Henry vai descobrindo alguém que carrega uma culpa, que não sabe como se redimir e que tenta pedir desculpa através de uma peça de teatro, cujos protagonistas são um burro e um macaco. Mais uma vez Yann Martel a recorrer aos animais para fazer passar a mensagem.
Nós, leitores, nunca temos a certeza de que o taxidermista tenha noção de quão monstruoso foi aquilo da qual fez parte, mas também nunca sabemos em que condições e que papel desempenhou no Holocausto, porque é disso que estamos a falar.

Não tenho muito mais a dizer sobre o livro. Não que não haja por onde esmiuçar, sobre o Holocausto existiria sempre muito para dizer. Mas no que ao livro diz respeito, não encontro muito mais que dizer. Como disse no início, achei-o um pouco pretensioso. Tenho sempre alguma aversão a livros sobre escritores onde nas entrelinhas se vão percebendo alguns auto-elogios.
Destaco a peça que o taxidermista está a escrever, Beatriz e Virgílio são as verdadeiras estrelas deste livro e a descrição que Virgílio faz de uma pêra, porque Beatriz nunca viu ou comeu tal fruto, é deliciosa.

Embora não tenha sido um livro que me tenha prendido particularmente, não deixa de ser uma obra que vale a pena ler. Sei de muito boa gente que a considera uma obra-prima.  Mais por isso que pela minha opinião muito pessoal, recomendo! :)

Boas leituras!

Excerto (pág. 43):
"Beatriz: Mas a que sabe? Não aguento mais.
Virgílio: Uma pêra madura transborda de suculência doce.
Beatriz: Oh, isso parece bom.
Virgílio: Corta uma pêra e verás que a sua polpa é de um branco incandescente. Brilha com uma luz interior. Aqueles que trazem consigo uma faca e uma pêra nunca têm medo do escuro.
Beatriz: Tenho de provar uma.
Virgílio: A textura de uma pêra, a sua consistência, é outra coisa difícil de pôr em palavras. Algumas pêras são um tudo ou nada crocantes.
Beatriz: Como uma maçã?
Virgílio: Não, nada parecido com uma maçã! Uma maçã resiste a ser comida. Uma maçã não +e comida, é conquistada. A qualidade crocante de uma pêra é muito mais atraente. É generosa e frágil. Comer uma pêra é semelhante a... beijar.
Beatriz: Oh, céus! Parece tão bom.
Virgílio: A polpa de uma pêra pode ser ligeiramente granulosa. Contudo, derrete-se na boca.
Beatriz: Tal coisa é possível?
Virgílio: Com todas as pêras. E isso é só o aspecto, o toque, o cheiro, a textura. Ainda nem te falei do sabor.
Beatriz: Meu Deus!"

fevereiro 24, 2013

[Filme] A Vida de Pi

Título Original: Life of Pi
Realização: Ang Lee
Duração: 127 min
Origem: EUA

Finalmente arranjei um tempinho para ver a adaptação ao grande ecrã da inesquecível obra de Yann Martel e gostei bastante. Está muito fiel ao livro e as cenas com os animais estão assustadoramente realistas. Embora possa parecer estranho, acho que posso dizer que os actores foram bem escolhidos, porque embora o grande protagonista seja de facto Pi, se houvesse um óscar para os "actores" animais, Richard Parker teria que estar na lista de nomeados.
Ang Lee conseguiu transmitir a beleza visual descrita por Yann Martel sem esquecer o que realmente impressiona no livro, a história e o que a faz tão surpreendente.

Confesso que tinha algum receio que viesse a ser um filme "pipoca" mas, felizmente não foi esse o caso. É um bom filme, visualmente impressionante, com boas actuações e a história de Pi é algo que vale mesmo a pena conhecer. 
Espero que, para quem nunca leu o livro, A Vida de Pí seja tão surpreendente como foi o livro para mim. Para quem já leu o livro, talvez o filme, por ser tão tão fiel à obra, seja mais um regresso a um local que nos deixou muitas e boas recordações. :)

Qualquer que seja o caso, vejam!

julho 29, 2012

[Filme] A Vida de Pi


Entretanto está marcada a estreia do filme baseado na obra de Yann Martel, A Vida de Pi (já comentado aqui), para dia 29 Novembro de 2012, nos EUA. 

Acho este livro muito complicado de adaptar ao cinema, no entanto parece que Ang Lee parece ter conseguido.

O trailer deixa-me algumas reservas, visualmente parece muito bonito, quanto à história... O melhor é esperar para ver! :)

Fica o trailer:


agosto 08, 2011

A Vida de Pi - Yann Martel

Título original: Life of Pi
Ano da edição original: 2001
Autor: Yann Martel
Tradução: António Pescada
Editora: Editorial Presença

"Filho do administrador do jardim zoológico de Pondicherry, na Índia, Pi Patel possui um conhecimento enciclopédico sobre animais e uma visão da vida muito peculiar. Quando Pi tem dezasseis anos, a família decide emigrar para a América do Norte num navio cargueiro juntamente com os habitantes do zoo. Porem, o navio afunda-se logo nos primeiros dias de viagem. Pi vê-se na imensidão do Pacífico a bordo de um salva-vidas acompanhado de uma hiena, um orangotango, uma zebra ferida e um tigre de Bengala. Em breve restarão apenas Pi e o tigre, e a única esperança de sobreviverem é descobrirem, de alguma forma, que ambos precisam um do outro... Já considerado uma das mais extraordinárias criações literárias da última década, A Vida de Pi é um livro mágico, onde o real e o absurdo se misturam numa história intemporal."

Confesso que estou a sentir alguma dificuldade em escrever a minha opinião sobre este livro. O meu problema está em ter gostado muito do livro e querer transmitir tudo aquilo que me encantou na história de Pi. Não me sinto capacitada para, com as minhas palavras, dar-vos uma pequena ideia da beleza subjacente a tudo o que está escrito, nem para descrever os sentimentos fortes que me provocou a história da vida de Pi. Enfim, não sei se sou capaz de fazer com que vão a correr para a livraria mais próxima... ;)
Vou ter em conta que, se calhar alguns de vocês vão de facto a correr para a livraria mais próxima, e vou tentar não esmiuçar muito o livro, para que possam sentir o mesmo prazer que eu senti na leitura deste livro. Vai ser uma opinião livre de spoilers (pelo menos assim espero)! :p

A Vida de Pi é um livro que no início me deixou de pé atrás. A religião é um assunto recorrente e importante na vida de Pi, o rapazinho indiano que se torna praticante de três religiões, o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, de forma natural, porque encontrou nas três, formas válidas para estar próximo de Deus. No início tive receio que todo o livro fosse concentrar-se muito nos dilemas religiosos de Pi, mas felizmente isso apenas acontece na primeira parte do livro. Felizmente, na primeira parte do livro, a religião não foi o único tema. Gostei muito da descrição da vida no Jardim Zoológico de Pondicherry e da forma como ele desconstrói as teorias de que os animais selvagens são infelizes fora do seu habitat natural. confinados a espaços pequenos. É um ponto de vista interessante e, que serve essencialmente para justificar alguns comportamentos e acções no barco salva-vidas.
Na primeira parte ainda não estava a perceber o porquê de tantas opiniões extraordinárias acerca deste livro e estava a começar a pensar que alguma coisa se passava de errado comigo. :)

A segunda parte descreve a luta pela sobrevivência que Pi teve de travar quando, após o naufrágio do navio onde seguia com a família e alguns dos animais do zoo, vai sem saber muito bem como, parar a um barco salva-vidas tendo por companhia uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de Bengala. Nesta estranha arca de Noé a lei da sobrevivência é a única a prevalecer porque o comportamento de um animal é o mesmo, quer esteja na selva, no zoo ou num barco no meio do pacífico.
Esta segunda parte oscila entre o absurdo e o real onde, conscientemente, senti necessidade de ajustar o meu cérebro para o "modo de leitura de Fantasia", pois estava a parecer-me um livro mais próximo da fantasia do que de outro género literário qualquer. No entanto, e talvez esteja aí uma das razões para este livro me ter deixado tão surpreendida, nunca me foi possível "sintonizar" o cérebro para a fantasia, porque de repente aconteciam coisas tão reais e descritas de uma forma tão vívida, que acabavam por camuflar as partes em que o livro me parecia virado para um público mais juvenil, a lembrar-me As Viagens de Gulliver. Andei o livro todo ora de sobrolho franzido, sem saber muito bem o que pensar, ora de coração aos pulos e estômago embrulhado, sem saber o que a próxima página me traria, fantasia ou a dura realidade. Esta segunda parte provocou, por isso, um misto de emoções que me deixou à beira da bipolaridade. :)

Por último, sobre a terceira parte apenas vou dizer que a senti como um murro no estômago e a li com um aperto quase constante da garganta, e mais não digo! :)

Gostei muito da escrita de Yann Martel e da forma como a história se foi desenvolvendo. Uma história que, sendo original, é ao mesmo tempo banal, expondo necessidades primárias e medos primitivos que aproximam o Homem do animal, quando o que está em causa é a sobrevivência. É um livro que parecendo simples é na verdade complexo. É um livro que maltrata o leitor porque não respeita a nossa paz de espírito. É um livro que convida a uma reflexão sobre a vida, o nosso lugar no mundo, o lugar dos outros nesse mesmo mundo, os sonhos, a perda e tantas outras coisas mais...

Um livro que não me fez acreditar em Deus, que não tem qualquer intenção de converter, mas que me mostrou uma visão da fé e da forma como a religião pode ser vivida que achei bonita. E, acreditando ou não em Deus, também eu prefiro a história com animais. ;)

Recomendo, como é óbvio!

Boas leituras!

Excerto:
"Mantendo uma expressão profundamente triste e lastimosa, começou a olhar em volta, virando lentamente a cabeça de um lado para o outro. A figura dos macacos perdeu instantaneamente o seu carácter divertido. Ela tinha dado à luz dois filhotes o jardim zoológico, dois machos robustos, de cinco de oito anos que eram o seu (e o nosso) orgulho. Eram, sem dúvida, eles que ela tinha na sua mente ao procurar sobre a água, imitando sem intenção aquilo que eu tinha feito durante as últimas trinta e seis horas. Reparou em mim e isso não lhe provocou qualquer expressão. Eu era apenas mais um animal que tinha perdido tudo e estava votado à morte. O meu ânimo caiu a prumo."

agosto 02, 2011

A Vida de Pi - Yann Martel - Breve comentário

Não tenho, por agora, tempo para partilhar a minha opinião acerca deste livro surpreendente, que acabei de ler há minutos. No entanto, a vontade de partilhar alguns dos sentimentos que este livro me provocou é demasiado grande para ser ignorada. São eles sentimentos de: repulsa, ternura, medo, alegria, tristeza, surpresa, incredulidade, estranheza, vontade de chorar e de desviar os olhos da página, revolta, ansiedade, amizade, fome, sede e muitas vezes uma vontade enorme de deitar o pequeno-almoço todo cá para fora. :/

Resumindo, é surpreendente e emocionalmente fortíssimo.

Quando tiver mais tempo livre, a opinião completa aparecerá por aqui. :)

Boas leituras!