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A mostrar mensagens com a etiqueta gil t. sousa

não achas que chegou a hora?

não achas que chegou a hora? um dia ainda me dizes que já não há nada. mais nada no lado de fora do tempo. os anos, sabes? essa maré que nos salva e afoga, que ora nos traz, ora nos leva. o amor ou a dor. sempre o amor ou a dor… ou um lugar, ou a hipótese de um lugar. qualquer ponto no universo onde a estrada acabe. onde o tempo acabe. onde toda a memória possa pairar como um céu sobre o passado. sobre todos os passados. tu sabes. um dia ainda me dizes tudo isto outra vez. não achas que chegou a hora? os navios ainda erram na linha de azul que nos amarra à terra. a estas janelas, a este dom de olhar. à dádiva de ver para lá e para cá, os navios, o mar, estes pássaros que o sol arrasta. esta luz antiga em que crescemos. que nos escreveu na pele o costume de adormecer e despertar como se as horas chegassem de dentro e morressem ainda mais dentro e isso fosse a marca, a escritura solene que te torna dono do que sempre te pertenceu. gil t. sousa do blog exercícios de esquecimento

diz-me

diz-me um segredo qualquer coisa inacessível dessa tua alma alguma coisa que eu possa ainda fingir que não sei gil t. sousa no blog exercícios de esquecimento

é como acordar

é como acordar. mas aquilo que flúi quando acordas, aquilo que te liga os dias donde vens aos dias a que queres chegar, aquela abundância de razão e de consciência que te dá sentido à vida... esse movimento está ausente e sentes-te como um fumo. qualquer coisa te pode esmagar, qualquer gesto te pode transportar a um chão que não existe, a um caminho que os teus passos não sabem percorrer. e as tuas mãos ficam húmidas desse delírio. e os olhos caem-te aflitos no lugar da doçura ausente. e ficas sem gritar, ergues-te sobre esse dia que chega e tudo é maior do que possas ter para te agarrar. e deixas-te ir, etéreo como um fumo… podia ser esse o minuto da loucura. podia ser esse o momento de abraçar a luz e estalar docemente numa noite qualquer. como uma fenda de fogo, como um punhal de lume que enfim te rasgasse o mundo. gil t. sousa do blog poesia

mais longe

fora do tempo é mais longe do que qualquer espelho minha ilha meu incêndio de pedra sobre a corrente assassina de me perder cansa-me de água e de sol inquieta-me do segredo das sementes e do chão tóxico dos vulcões em que me deitei quando a noite me atormentava de não chegares quando a madrugada me matava de partires gil t. sousa do blog falso lugar

kopenhagen script

1 as árvores furiosamente nuas largam os seus pássaros negros num outro mês qualquer e as estradas separam as folhas rolam as pedras cansadas de sol para que o sul seja um lugar onde a água espera e o destino se esconde em forma de ilha que mão amputar se assim nos pedem o frio? 2 são tão largas as horas que se consegue ver a solidão dum comboio vermelho a raspar a noite como homens à procura de uma porta definhando gloriosamente nas suas estações de desespero 3 pelas gárgulas das catedrais escoam-se noites antigas que homens pacientemente sábios recolhem letra a letra a neve, tão mansa, guarda-lhes a sombra e os passos que numa janela alta e distante um outro homem há-de ler 4 às vezes os navios doem como ópio num pulmão derrotado ou como quando tu ficas no impossível meridiano da ausência e eu te aceno de um silêncio que é quase a loucura dos pássaros gil t. sousa do blog #poesia

solidão de papel

não me fales mais dessa solidão de papel eu ainda tenho a sede das oliveiras a paciente sede dos rios que nunca chegam dos rios avistados que não se podem tocar eu ainda tenho a dor da terra queimada a fortíssima dor das chuvas que não voltam das raízes que morrem sem poder gritar o teu nada é só mais um perfume! e eu eu tenho sangue na voz tenho no peito o grito do lobo a imensa tristeza de uma lua que o céu não quis gil t. sousa do blog #poesia

Paixão

estou no mais alto da pura manhã o meu coração é uma lágrima enorme um frágil astro que procura na linha dos teus lábios o despertar generoso dos solstícios o alegre andamento das estações e quando desces a montanha do teu sono e ficas tão nua da noite eu eu só sou o sereno rio que passa e que numa paixão de luz te leva ao azul infinito do mar gil t. sousa #poesia

mão

e a minha mão desceu o teu rosto num movimento de coisa que parte e tu disseste: porque é que as mãos dos que amámos nos acenam vazias? mas não na minha mão havia uma lágrima enorme e azul que tu já não sabias ver gil t. sousa do blog #poesia

flor de sal

não chames por mim levo nos olhos queimados o fim dos desertos não te posso escutar na branca solidão dos dias porque até no meu silêncio te matei não chames por mim levo nos passos o veneno da Lua a espuma do tempo sai-me das mãos vazias e apaga o trilho por onde as vozes podem chegar não chames por mim levo o peito tão rasgado de ausência! e no meu coração só há uma vermelha flor de sal que já ninguém pode tocar gil t. sousa do blog #poesia