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A mostrar mensagens com a etiqueta Hilda Hilst

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita Olha-me de novo. Porque esta noite Olhei-me a mim, como se tu me olhasses. E era como se a água Desejasse Escapar de sua casa que é o rio E deslizando apenas, nem tocar a margem. Te olhei. E há tanto tempo Entendo que sou terra. Há tanto tempo Espero Que o teu corpo de água mais fraterno Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta Olha-me de novo. Com menos altivez. E mais atento. Hilda Hilst

Fragmentos

Muros castos e tristes Cativos de si mesmos Como criaturas que envelhecem Sem conhecer a boca De homens e mulheres. Muros Escuros, tímidos: Escorpiões de seda No acanhado da pedra. Há alturas soberbas Danosas, se tocadas. Como a tua própria boca, amor, Quando me toca... Hilda Hilst

Do Desejo

(...) Se eu disser que vi um pássaro Sobre o teu sexo, deverias crer? E se não for verdade, em nada mudará o Universo. Se eu disser que o desejo é Eternidade Porque o instante arde interminável Deverias crer? E se não for verdade Tantos o disseram que talvez possa ser. No desejo nos vêm sofomanias, adornos Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro Voando sobre o Tejo. Por que não posso Pontilhar de inocência e poesia Ossos, sangue, carne, o agora E tudo isso em nós que se fará disforme? (...) Hilda Hilst

Poema para Hilda Hilst

Abro a folha da manhã Por entre espécies grã-finas Emerge de musselinas Hilda, estrela Aldebarã. Tanto vestido enfeitado Cobre e recobre de vez Sua preclara nudez Me sinto mui perturbado. Hilda girando boates Hilda fazendo chacrinha Hilda dos outros, não minha Coração que tanto bates. Mas chega o Natal e chama a ordem Hilda. Não vez que nesses teus giroflês Esqueces quem tanto te ama? Então Hilda, que é sab(ilda) Manda sua arma secreta: um beijo em morse ao poeta. Mas não me tapeias, Hilda. Esclareçamos o assunto. Nada de beijo postal No Distrito Federal o beijo é na boca e junto. Carlos Drummond de Andrade

Amavisse

Como se te perdesse, assim te quero. Como se não te visse (favas douradas Sob um amarelo) assim te apreendo brusco Inamovível, e te respiro inteiro Um arco-íris de ar em águas profundas. Como se tudo o mais me permitisses, A mim me fotografo nuns portões de ferro Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima No dissoluto de toda despedida. Como se te perdesse nos trens, nas estações Ou contornando um círculo de águas Removente ave, assim te somo a mim: De redes e de anseios inundada. (...) Hilda Hilst

Do Desejo

(...) Colada à tua boca a minha desordem. O meu vasto querer. O incompossível se fazendo ordem. Colada à tua boca, mas descomedida Árdua Construtor de ilusões examino-te sôfrega Como se fosses morrer colado à minha boca. Como se fosse nascer E tu fosses o dia magnânimo Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer. (...) Hilda Hilst