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A mostrar mensagens com a etiqueta Cecília Meireles

Recordação

Agora, o cheiro áspero das flores leva-me os olhos por dentro de suas pétalas. Eram assim teus cabelos; tuas pestanas eram assim, finas e curvas. As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo, tinham a mesma exaltação de água secreta, de talos molhados, de pólen, de sepulcro e de ressurreição. E as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente. Restituiu-te na minha memória, por dentro das flores! Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix, tua boca de malmequer orvalhado, e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios, com suas estrelas e cruzes, e muitas coisas tão estranhamente escritas nas suas nervuras nítidas de folha - e incompreensíveis, incompreensíveis. Cecília Meireles

À hora em que os cisnes cantam...

Nem palavras de adeus, nem gestos de abandono. Nenhuma explicação. Silêncio. Morte. Ausência. O ópio do luar banhando os meus olhos de sono... Benevolência. Inconseqüência. Inexistência. Paz dos que não têm fé, nem carinho, nem dono... Todo o perdão divino e a divina clemência! Oiro que cai dos céus pelos frios do outono... Esmola que faz bem... — nem gestos, nem violência... Nem palavras. Nem choro. A mudez. Pensativas abstrações. Vão temor de saber. Lento, lento volver de olhos, em torno, augurais e espectrais... Todas as negações. Todas as negativas. Ódio? Amor? Ele? Tu? Sim? Não? Riso? Lamento? — Nenhum mais. Ninguém mais. Nada mais. Nunca mais... Cecília Meireles