Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sábado, 13 de junho de 2009

António Variações


«Exuberante, exótico, único. Dos tempos do "Tone do Jaime", como era chamado na pacata vila de Fiscal, onde nasceu, à espécie rara que durante os anos 80 desconcertou Lisboa, vai uma grande distância. Quase tão grande como aquela que separa Braga de Nova Iorque, ou Londres de Amesterdão, as cidades embrião daquele que se pode considerar o primeiro ícone pop da cultura portuguesa. Dizer que António Variações nasceu antes do tempo pode ser redundante, mas a verdade é que ele esteve à frente em quase tudo o que fez: cultivou o corpo antes de qualquer homem sonhar com um ginásio, ousou vestir como ninguém numa altura em que não se conheciam consultores de imagem, cantou a pop quando ela praticamente não existia. E morreu vítima de uma doença que poucos sabiam dizer o que era. Afinal tinha razão: o corpo pagou.» continuar a ler aqui.
André Rito, Jornal i, 13/06/2009

Visões Ficções

sexta-feira, 12 de junho de 2009

«As necessidades e sensações eróticas das mulheres, o seu desejo de prazer, a alegria com a sua própria sexualidade, só há poucas décadas começou a ser desvendada.
As mulheres eram desejadas mas não tinham desejo. Eram objectos sexuais mas não sujeitos sexuais. Raramente lemos sobre a maioridade sexual de uma mulher descrita na sua perspectiva. Onde é que a Marilyn Monroe nos conta a sua própria história sexual? E a Bela Adormecida, disse-nos alguma vez como foi acordar com o beijo do príncipe?
As mulheres não falaram durante muito tempo porque as silenciaram. Tanto na vida como na literatura, nos filmes ou nos palcos. Aquelas que ousaram paixões intensas viram-se condenadas, mortas, perseguidas, apelidadas de ordinárias e prostitutas. Em Portugal tivemos alguns casos famosos. A amada do Vitorino Nemésio, Margarida Jácome Correia, foi enfiada à força pela família numa clínica de loucos. O seu livro está aí e descreve bem o seu drama. E não esqueçamos que, ainda hoje, todos os anos, em África, dois milhões de meninas são mutiladas para lhes retirarem a capacidade de sentirem prazer sexual.»

Excerto de entrevista dada a Andreia Sanches, por Ana Zanatti, publicada no P2(Público) de 12/06/2009

Catraia

Com bikini e sem bikini

Gisele Bündchen, para a Calzedonia, ver aqui.


«Mucho antes de que se inventara el bikini, antes incluso de que Indonesia fuera un país o se escribiera el Corán, las mujeres de las tribus de la isla de Papúa ya lo hacían. Esto es: top less.
Lo que no es seguro es si podrán seguir haciéndolo por mucho tiempo ahora que la práctica ha sido ilegalizada por la nueva ley antipornografía, aprobada el pasado mes de octubre por el parlamento de Indonesia. El texto, redactado con intencionada ambigüedad, declara prohibidos "el desnudo o las representaciones de desnudos", así como los "movimientos del cuerpo contrarios a la moral pública".» continuar a ler aqui.


David Jiménez, El Mundo, 12/06/2009

Exemplos



«Mais do que tudo, os portugueses precisam de exemplo. Exemplo dos seus maiores e dos seus
melhores. O exemplo dos seus heróis, mas também dos seus dirigentes. Dos afortunados, cujas
responsabilidades deveriam ultrapassar os limites da sua fortuna. Dos sabedores, cuja primeira
preocupação deveria ser a de divulgar o seu saber. Dos poderosos, que deveriam olhar mais para
quem lhes deu o poder. Dos que têm mais responsabilidades, cujo "ethos" deveria ser o de servir.»
Excerto do discurso de António Barreto, no 10 de Junho de 2009, dia de Portugal

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A cidade das aldeias*

« O presente trabalho, realizado sob a forma de reportagem fotográfica e vídeo, visa possibilitar a leitura do que subsiste dos antigos Lugares da cidade do Porto e dos caminhos entre eles, registando e divulgando o que ainda hoje se pode observar, revelador de uma forma de assentamento e formação de território, de construção e de vivência de uma outra cidade, a cidade das aldeias, que corre o sério risco de ser literalmente engolida pela velocidade desenfreada própria dos dias em que vivemos, resultado das dinâmicas de desestruturação urbana e social que, infelizmente, vão esquecendo estes espaços, as suas gentes e os conjuntos edificados.

Comparando a planta da cidade do Porto desenhada sob a direcção de Augusto Teles Ferreira e impressa no ano de 1892 com a cidade actual verificamos que, ainda hoje, subsiste uma substrutura rural que, à época, constituía uma rede de caminhos e lugares exteriores ao centro urbano em processo de consolidação.Esses lugares, aquando da delimitação administrativa da cidade ocorrida no final do século XIX, seriam integrados no perímetro urbano, ficando a Estrada de Circunvalação como linha de fronteira da nova cidade que acolhia no seu interior um conjunto de lugares e de freguesias novas, incorporava áreas de freguesias vizinhas e deixava de fora algumas parcelas de terreno, que, embora pertencentes ao concelho, sempre foram consideradas exteriores à cidade que se havia circunvalado.

Pela imagem, pretende-se tornar pública essa outra cidade que abrange, na área geográfica do concelho do Porto, núcleos como Pinheiro de Campanha, S. Pedro, Azevedo, Areias, Contumil, Pego Negro, Granja, Vila Cova, Campo, Aldeia Nova do Monte, Fojo, Águas Férreas, Outeiro do Tine, Aval de Baixo, Ramalde do Meio, Vilanova de Cima, Furamontes, Ribeirinho, Campinas, Arrábida, Olivais, entre muitos outros lugares que nos vão falando de percursos, de espaços, de construções e de gentes.

Este sentimento de viver periférico, presente nos lugares visitados, poderá, um dia, vir final e felizmente a desaparecer e dar lugar a uma realidade policêntrica, assente em contínuos de território, o qual, ligado por redes e canais, será capaz de unir e esbater as sensações de dentro e fora, contribuindo para minimizar a sensação de centro e periferia, quer no plano físico quer no plano das mentalidades e sentimentos, consolidando e dando espessura ao tecido urbano.Assim, as redes vão-nos ligar os pontos e os canais vão-nos traçar as rectas e articular a sobreposição das redes, cosendo-as ao concelho ao qual pertencem e aos concelhos limítrofes, promovendo um tecido forte e coeso, permitindo que não sejam áreas conflituantes, mas sim conjugadas e convergentes num só objectivo: a ampliação da cidadania e a gestão participada do território municipal pelas populações, comprometendo todos num esforço unitário, em busca de uma estrutura onde todos tenham lugar.

É um registo fotográfico que permite pensar que, numa cidade equilibrada, esta diversidade de ocupação do solo ajuda a qualificar o ambiente urbano, oferecendo a leitura de várias épocas históricas, de vários tempos, de vidas que podem, trinta e cinco anos passados sobre o 25 de Abril, se todos quisermos, coexistir em harmonia, derrubando a última muralha desta cidade e pensar, na Área Metropolitana do Porto, mais do que na metropolitanidade, na rur-urbanidade.»

Mário João Mesquita, apresentação da *exposição a decorrer no CPF.

terça-feira, 9 de junho de 2009


Movimento Perpétuo Associativo

«O jornal britânico The Times elogiou na terça-feira a actuação dos portugueses Deolinda em Londres, destacando a presença em palco de Ana Bacalhau e as canções que preenchem o álbum Canção ao lado» continuar a ler aqui.

Sol, 09/06/2009

Em nome do desenvolvimento(2)

«El gobernador de California, Arnold Schwarzenegger, ha presentado un plan de ahorro mediante la apuesta por la enseñanza on line en detrimento de los libros de texto tradicionales, según informa la BBC. Con esta iniciativa, el gobernador pretende reducir el gasto anual en millones de dólares. Además, añade que al privilegiar el estudio digital los alumnos conseguirán una mejor formación.» continuar a ler aqui.

El País, 09/06/2009

Em nome do desenvolvimento(1)

«La petrolera anglo-holandesa Royal Dutch Shell ha acordado el pago de una indemnización de 15,5 millones de dólares (11,1 millones de euros) para evitar un juicio por su complicidad en el asesinato de nueve activistas ogonis en Nigeria en los años noventa, condenados a muerte por la dictadura del país por manifestarse contra las extracciones petroleras en el delta del Níger. Entre los ejecutados estuvo Ken Saro-Wiwa, célebre ecologista y poeta, un escándalo que en buena parte contribuyó a la salida de Shell de un país en el que había estado presente desde el descubrimiento del crudo en 1958, cuando todavía era colonia británica.» continuar a ler aqui.

El País, 09/06/2009

Viver com menos...

Ilustração de Raúl Arias


«Hay crisis. Todos hablan de ella. A todos nos afecta. Todos coinciden en que es grave. Pero nadie acaba de explicarnos bien lo que pasa. Los analistas académicos hablan como si sufriéramos una fiebre más o menos pasajera, un desajuste del sistema que se solucionará con alguna receta.
Pero hay otras voces. Economistas, sociólogos, pensadores de diversos ámbitos que opinan que estamos ante algo más que un desarreglo de los mercados financieros. ¿Qué crisis es ésta? Para muchos, más que una crisis económica es una crisis ecológica: no hay planeta suficiente para mantener el ritmo de vida que llevamos. El modelo de crecer y gastar, usar y tirar, explotar y contaminar llega a su fin.
«Aunque tengamos la mirada puesta en la debacle de los mercados financieros, la convulsión que estamos experimentando denota mayor hondura, remitiéndonos a los modos de producir, consumir y vivir hoy predominantes en el planeta», afirma Santiago Álvarez, director del Centro de Investigaciones para la Paz, en el último número de la revista» continuar a ler aqui.
Pedro Cáceres, El Mundo, 09/06/2009

domingo, 7 de junho de 2009

« Num país democrático, como os Estados Unidos, o deputado quase nunca tem um poder duradoiro sobre o espírito dos seus eleitores. Por muito pequeno que seja um corpo eleitoral, a instabilidade democrática leva-o a mudar constantemente de fisionomia. Portanto, é preciso cativá-lo todos os dias. Ele nunca pode estar seguro dos eleitores e, caso estes o abandonem, perde imediatamente os seus recursos, pois não goza de uma posição assaz elevada para ser facilmente notado por aqueles que não lhe são próximos e, na independência completa em que vivem os cidadãos, não pode contar com o facto de que os seus amigos ou o governo o venham a impor facilmente a um corpo eleitoral que não o conhece.É portanto no cantão que representa que estão depositados as sementes da sua fortuna: é desse canto de terra que ele tem de sair para se elevar até uma posição de chefia e para poder influenciar o destino do mundo.»

Excerto do Capítulo XXI, da eloquência parlamentar nos Estados Unidos, " Da Democracia na América ", de Alexis de Tocqueville, Trd. João Carlos Espada, Ed. Principia

Recenseamento das almas

« - Olha lá, meu rapaz, quantos camponeses morreram desde o último censo?
- Quantos? - Uma porção deles! - respondeu o intendente, pondo a mão diante da boca para dissimular um soluço.
- Sim, era justamente isso o que eu pensava - murmurou Manilov. - Morreram bastantes...
- Mas quantos? - insistiu Chichikov.
- Sim, quantos? - repetiu Manilov.
- Quantos? Como posso eu saber ao certo? Ninguém os contou... - desculpou-se o intendente.
- Sim, claro ninguém os contou... - pronunciou Manilov. E voltando-se para Chichikov: - É o que eu supunha, morreram muitos, mas não se sabe bem quantos.
- Pois bem, meu amigo - disse Chichikov, dirigindo-se ao intendente -, não há outro remédio agora senão contá-los. Arranje-me, por favor, uma lista completa dos mortos, com os nomes de todos.
- Isso mesmo - confirmou Manilov. - Uma lista com os nomes de todos os mortos.
- Às suas ordens, senhor! - proferiu o intendente, e retirou-se.
- E para que quer essa lista? - inquiriu então Manilov.
A pergunta confundiu um pouco o visitante. Corou, tartamudeou, fazendo visíveis esforços para encontrar as palavras adequadas. E o caso não era para menos. Manilov ia ouvir coisas extraordinárias, como nunca antes escutara nenhum ouvido humano.
- Deseja saber para que quero esta lista? Pois bem, vou dizê-lo: tenciono comprar-lhe os camponeses que...
Não chegou a concluir a frase, Manilov interrompeu-o:
- Permita-me que lhe pergunte: deseja comprá-los com ou sem as terras?
- Não se trata precisamente de camponeses... - esclareceu Chichikov. - Só quero comprar os que morreram...
- Como?... Desculpe-me... Sou um pouco duro de ouvido, creio que percebi mal...
- Pretendo adquirir as almas mortas que figuram ainda como vivas no recenseamento - explicou Chichikov.»

Excerto de " Almas mortas ", de Nicolai Gogol, Trd. José António Machado, Ed. Estampa

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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