Luís António Cardoso da Fonseca Mail: luiscardosofonseca@hotmail.com

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

" As horas " - Michael Cunningham

" Quantas vezes, depois disso, ela se perguntara o que poderia ter acontecido se tivesse tentado continuar com ele, se tivesse retribuído o beijo de Richard nas esquina da Bleecker com a MacDougal, partido com ele para qualquer lado( para onde?), se nunca tivesse comprado o pacote de incenso ou o casaco de alpaca com os botões do feitio de rosas. Não poderiam ter descoberto alguma coisa...maior e mais estranha do que aquilo que tinham? É impossível não imaginar esse outro futuro, esse futuro recusado, como tendo sido vivido em Itália ou França, entre grandes salas cheias de sol e como um imenso e duradouro romance assente numa amizade tão abrasadora e profunda que os acompanharia até à sepultura e, quem sabe, talvez mesmo para lá dela. Ela podia, pensa, ter entrado noutro mundo. Podia ter tido uma vida tão intensa e perigosa como a própria literatura.

David Bowie & Marianne Faithfull-"I got you Baby"

Ou, por outro lado, talvez não, pensa. Aquilo é quem eu era. Isto é quem eu sou: uma mulher decente com um bom apartamento, com um casamento estável e afectuoso, que vai dar uma festa. Aventura-te longe de mais no amor, lembra a si mesma, e renuncias à cidadania no pais que fizeste para ti. Acabas simplesmente a navegar de porto em porto.
Mesmo assim, há o sentimento de oportunidade perdida. Talvez nunca haja nada que possa igualar a recordação de terem sido jovens juntos. "


Excerto de " As horas ", de Michael Cunningham, Trd. Fernanda Pinto Rodrigues, Ed. Gradiva

Marianne Faithfull


Entrevista de Marianne Faithfull, aquando da publicação da sua autobiografia.


"As Tears Go By" (Hullabaloo London 1965)


"Broken English"

Marianne Faithfull - "Ballad of Lucy Jordan"

terça-feira, 2 de outubro de 2007

" O fardo do amor " - Ian Mcewan

Epitaph - King Crimson

" Tive uma sensação familiar de frustração. Ninguém estava de acordo sobre nada. Vivíamos numa neblina de percepções semipartilhadas e inexactas e os dados que os nossos sentidos transmitiam vinham envoltos por um prisma de desejo e convicção que toldava também as nossas recordações. Víamos e recordávamos a nosso próprio favor ao mesmo tempo que nos convencíamos. A objectividade implacável, sobretudo em relação a nós próprios, era uma estratégia social sempre condenada Descendemos dos contadores indignos e apaixonados de meias verdades que para convencerem os outros se convenciam simultaneamente a si próprios. As sucessivas gerações têm sido seleccionadas pelo sucesso, e atrás deste veio o nosso defeito, profundamente enraizado nos genes, como os sulcos no trilho de uma carroça - quando não nos serve, não estamos de acordo em relação àquilo que está à frente dos nossos olhos. Crer é ver. É por isso que há divórcios, disputas fronteiriças e guerras, e é por isso que a imagem da Virgem Maria está a chorar sangue e a estátua de Ganesh a beber leite. E é por isso que a metafísica e a ciência foram cometimentos tão grandiosos, invenções tão admiráveis, maiores do que a agricultura, artefactos humanos contrapostos ao cerne da natureza humana. A verdade desinteressada. Mas não podia salvar-nos de nós próprios, as raízes eram demasiado profundas. Não podia haver qualquer espécie de redenção na objectividade. "

Excerto de " O fardo do amor ", de Ian Mcewan, trd. Maria do Carmo Figueira, Ed. Gradiva,2005

Soul II Soul - "Keep on Movin"

Briga entre freiras na Itália vai parar no Vaticano *

Um convento na Itália está prestes a ser fechado depois que uma briga envolvendo as únicas três freiras que moravam no local foi parar no Vaticano.
As relações entre as irmãs Clarissa, do Convento Santa Clara, em Bari, se deterioram a tal ponto que a madre superiora, irmã Liliana, foi parar no hospital com arranhões no rosto.
As irmãs Clarissa fazem parte da uma das ordens mais rigorosas da Igreja Católica, dedicando-se a uma vida de oração, penitência e contemplação.
No entanto, a paz que reinava no convento nos últimos anos foi quebrada depois da morte da antiga madre superiora, irmã Candida.
Segundo o jornal italiano Corriere della Sera, "teria havido uma discussão entre as três freiras sobre quem seria a sucessora de Candida" e Liliana acabou assumindo o posto.
Depois disso, o relacionamento entre Liliana e as irmãs Annamaria e Gianbattista piorou tanto que, no dia 19 de julho, as duas avançaram na madre superiora, arranhando seu rosto e jogando-a no chão.
Annamaria e Gianbattista se mudaram para um convento próximo e deixaram Liliana sozinha no convento Santa Clara.
Apesar dos esforços para reconciliar as freiras, o arcebispo Giovanni Battista Pichierri foi obrigado a pedir ajuda ao Vaticano.
Pichierri escreveu para a Santa Sé relatando que as irmãs "haviam obviamente perdido sua vocação" e pediu para fechar o convento, já que apenas a madre superiora continuava no local.
A irmã Liliana, no entanto, está disposta a continuar a briga e em uma recente carta ao papa Bento 16, avisou que só "a vontade de Deus" seria capaz de tirá-la do local onde passou os últimos 44 anos de sua vida.

*da BBC Brasil , publicado na Folha Online

domingo, 30 de setembro de 2007

Em louvor da alheira


Alheiras de Lamego, Vinhais e de Caça (Foto: PRG)
" Uma alheira, com a pele fendida, tostada do calor da fritura, a derreter aquele unto doirado e rescendente a alho, tempero de que lhe vem o bonito nome, tendo a acompanhá-la, como ordena o bom preceito, a sua verde guarnição de grelos tenros, salteados em pouca manteiga, e sobre eles a graça mais de todas amorável de um ovinho escalfado - quem haverá, aí, senhores, que não se tente? É uma das maravilhas da nossa cozinha bárbara, dada ainda ao deleite das coisas simples, do trivial, sem grandes requintes de civilizada laboração, mas a competir por isso mesmo, pela sua singeleza, com os ditames da Fisiologia do Gosto, de mestre Brillat-Savarin."
Excerto da capítulo " Em louvor da alheira ", do " Roteiro sentimental do Douro ", de Manuel Mendes, Edições Afrontamento, 2002

Arturo Pérez-Reverte


Ler aqui entrevista ao " El País ".

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" Muitas vezes, meu caro senhor, as aparências iludem, e quanto a pronunciar uma sentença sobre uma pessoa, o melhor é deixar que seja ela o seu próprio juiz. " Robert Walser

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