domingo, 23 de novembro de 2008

NOTÍCIA À MODA DA CASA


Gláucia Lemos


O encontro foi o de praxe, mas a novidade, o novo endereço.
Poeta mora é em torre de marfim, lá no alto inatingível. Alguns. Alguns também residem em apartamentos, e quando se cansam dos antigos, trocam por novos, assim, tão depressa como se tirassem o escolhido do bolso da camisa. Só assim. Como se fossem figuras de joguinho de computador. Estala o dedo, muda de palácio. Depois é só distribuir e-mail. Novo endereço dois pontos.
E fomos todos reunir na nova moradia do poeta. Novidade? Mais espaço, mais ventilação. O principal, porém, não tem nenhuma novidade, é a acolhida, a descontração do encontro. Grupo pequeno como é bom, meia dúzia de inteligente bom-humor. Reunimos com uma ausência, por conta de acepipe baiano que castigou a leitora crítica, fazendo falta na alegria da noite.
Como sempre, por conta dos afazeres, o casal de doutores chegou por último, para fazer contraponto com a moça que bateu ponto tão mais cedo, que nem o anfitrião tinha chegado à casa.
Jantamos à portuguesa, bebemos à baiana sem álcool, ninguém precisa de combustível para acelerar a animação.
Lá para as tantas, o anfitrião, entusiasmado com a aprazibilidade da varanda, desacomodou todo o mundo da sala para fruirmos a aeração do outro ambiente. Literatura mesmo não aconteceu dessa vez. Literato também joga conversa fora. Até que o doutor tentou iniciar uma conversa pertinente, perguntando a alguém sobre projetos imediatos, mas alguns assuntos interferiram, e o clima da noite estava mais para rir do que para poetar. E rolaram salsichas, pasteizinhos e olhos-de-sogra, refrigerantes diet e comuns, pontuados com piadas inocentes. E lá estivemos, como sempre, até as 10 da noite, quando todos se despediram ao mesmo tempo.
Bom mesmo é uma noite por mês entre amigos despretensiosos, com muita descontração e um tanto de descompromisso; o cotidiano de todos nós já é bastante comprometido com os envolvimentos existenciais que nos são atribuídos pela condição de estarmos vivos e atuantes. Graças a Deus que estamos. E todos, mais uma vez, ficamos felizes, com uma felicidade merecida, aguardando o próximo encontro.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ATUALIZAÇÃO DA ANTOLOGIA


Gerana Damulakis

Na Antologia panorâmica do conto baiano — século XX — (Ilhéus: Editus, 2004), que saiu na Coleção Nordestina nº 37, procurei uma vasta gama de representantes do conto na nossa terra, incluindo até os contistas bissextos, mas que fizeram nome na literatura. Ainda assim, a crítica, isto é inevitável em se tratando de antologias, apontou ausências. Ora, a antologia deixou de fora os autores não nascidos na Bahia, mesmo que aqui tivessem passado boa parte de suas vidas, pois que há de haver critérios. Ausentes estavam Nelson Araújo, Marcos Santarrita, Ayêska Paulafreitas, Judith Grossman e outros, todos inegavelmente contistas cujos textos antológicos são de fácil identificação porque evidentes em suas obras. Desta feita, na atualização, o critério vai gerar mais ausências. Explico: além de conservar de fora os que não nasceram em terras baianas, estão ausentes baianos que vivem no chamado Sul Maravilha e, talvez, em demais maravilhas Brasil afora. Mas a intenção não é suscitar polêmica, é fruto de fatos desagradáveis. Sem invenção, há autores que residem fora da Bahia que expressaram seu desacordo em fazer parte de antologias produzidas aqui. Como em tantas situações na vida, muitos pagam por poucos, não há como fugir da triste verdade. O caminho foi, para não divulgar nomes, optar por não incluir autores que não residem na Bahia.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

JOSÉ SARAMAGO: 86 ANOS


Dia 16 de novembro José Saramago completou 86 anos. Vale a leitura do texto que ele postou naquele dia no seu blog: O Caderno de Saramago.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

14 DE NOVEMBRO DE 1901: NASCEU SOSíGENES COSTA


O PAVÃO VERMELHO

Ora, a alegria, este pavão vermelho,
está morando em meu quintal agora.
Vem pousar como um sol em meu joelho
quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho
sobrepuja os pavões que estão lá fora.
É uma festa de púrpura. E o assemelho
a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.
E a cor vermelha chega a ser sonora
neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possuí outrora.
Depois que amei este pavão vermelho,
os meus outros pavões foram-se embora.

domingo, 9 de novembro de 2008

O POEMA QUE É UM ROMANCE

Gerana Damulakis


Preciso terminar a introdução da minha antologia atualizada e não consigo. Digo para Cassas que somente depois que concluir a penosa tarefa escreverei alguma coisa sobre seu mais recente livro. Mas algo me puxou, reli o livro de Cassas, senti tudo de novo, aquele encantamento e não vou esperar: vamos ler A mulher que matou Ana Paula Usher (História de uma paixão), editado pela Imago, neste 2008.
Luís Augusto Cassas é um poeta experiente, senhor da palavra, do verso, da estrofe, do poema, fazendo com eles o que desejar. Tenho seus livros e sei do seu caminhar. Não sei é se, por ser este o mais recente livro, sou levada e me posicionar desta forma tão tomada pela emoção, ou se acontece o mesmo a cada vez que recebo um livro dele saído da editora. Sim, porque ele é um poeta que sabe nos arrebatar. Porém, ao ir escrevendo e lembrando que realmente já senti tudo isto por conta de outros dos seus títulos, ainda assim este de agora está me parecendo mais estonteante. É um poema, é um romance, é a história de uma paixão. No final dá uma vontade louca de perguntar se não haveria uma maneira de, em lugar da morte do amor, fazê-lo renascer qual uma fênix. Não, quem renasce não é o amor, é o sujeito amoroso que das trevas procura e encontra a luz. Ora, isto é confundir ficção com realidade. A poesia, por mais confessional que ela possa ser se comparada aos demais gêneros literários, não deixa, por outro lado, de ser a ficção do sentimento. Só que há versos que nos fazem viajar na história da paixão, como em “Torpedo à Moda Antígona”: contigo eu moraria/ numa casinha de palha/ à beira da praia/ onde o vento faz a curva/ e viveria de brisa/ bebendo em teus lábios/ a água que vem da chuva”. É incrível o efeito do livro sobre o leitor, até esqueci que meu olhar deve ser o de uma observadora da literatura e não apenas uma deslumbrada leitora.
O título não deve ser associado nem ao poderoso e emblemático personagem, a amortalhada Senhora Madeline de Usher de Edgar Allan Poe, nem a qualquer outra que se chame Ana Paula, pois não precisamos de pontes. O livro está dividido em partes com seus títulos, contém uma estrutura perfeita, uma organicidade tal que, ao se deparar com seis páginas de prosa, a impressão do leitor é a de que o conjunto em prosa é inteiramente necessário. A prosa vem com o mesmo ritmo dos poemas, numa cavalgada frenética. Leia assim, sem tomar fôlego; depois, releia com calma, aí será de tirar o fôlego!
O poema “Um”, uma conjugação do ato amoroso, está disposto como a seguir: “quando estou em ti/ e tu estás em mim/ inverte-se o princípio/ do início ao fim/ no primeiro momento/ há movimento:/ eu sou tu és/ no segundo momento/ há desfalecimento:/ não sei quem sou/ acaso és?/ no terceiro momento/ viramos fragmentos:/ o nós e o vós/ habitam em nós/ depois não há nada/ e o espírito do só/ recolhe-se ao pó”. Conclusão: é um poema perfeito, leia com amor. Melhor, com paixão. Os poemas “A Cama”, Doença & Cura”, “Herança” ( em linha contínua), “O Vento e a Estrela”, “Dia dos Namorados”, “O Círculo”, “Epílogo”, A Busca do Mito”, “As Núpcias”, suscitam a vontade de começar reproduzindo-os aqui.
“O Discurso de Lilith nos Lençóis de Or” está fechado em cinco capítulos curtos: a primeira mulher, ou seja, o mito de Lilith é irresistível para a literatura, os escritores ficam encantados com a gama de significações encerrada nesta lenda, pois, criados por Deus em condição de igualdade, Adão e Lilith viviam juntos até que ela cometeu o primeiro pecado — que não foi a mordida na maçã — ao proferir o nome d’Ele; expulsa, então, do paraíso graças aos seus excessos, afoiteza e galhardia, e suas inquietações, Lilith passou a simbolizar a desventura, o mal, o diabólico exagero. Adão não suportou a solidão e rogou a Ele uma mulher, mas isto é outra história.Voltando ao “Discurso de Lilith...”, asseguro que é uma peça poética para ser desfrutada com releituras várias, dados a genialidade do discurso e o ritmo impresso; numa certa altura leio: “Sou Sodoma saqueada, Paris desfigurada, Berlim destronada, Londres transtornada. (...) Até ontem fui Noite. Meu nome é Luz”. Já em “A Mulher que matou Ana Paula Usher”, é restaurada “ a luz do meu arco-íris bombardeado”, porque o livro é um reencontro com a luz após um amor doloroso.
O autor sabe trabalhar a matéria amorosa com extrema energia, recorrendo tantas vezes ao acervo mitológico que reforça o imagético mundo de sua poesia. Uma poesia que não receia as exigências discursivas, que conhece os ritmos e os movimentos da língua portuguesa para apontá-los diretamente rumo às brilhantes senhas literárias. O certo é que Luís Augusto Cassas transcende sempre... e daí encanta o leitor.

sábado, 8 de novembro de 2008

DE JOSÉ SARAMAGO

...porque os livros do mundo, todos juntos, são como dizem que é o universo, infinitos...

Ensaio sobre a cegueira