Manuel Anastácio
No horizonte, na ténue linha onde os gritos morrem
E se cala o eco,
As montanhas concentram-se num fractal
Onde o bem e o mal tomam formas
De insuportáveis dimensões.
Antes do horizonte, insustentáveis, as coisas fogem ao
E se cala o eco,
As montanhas concentram-se num fractal
Onde o bem e o mal tomam formas
De insuportáveis dimensões.
Antes do horizonte, insustentáveis, as coisas fogem ao
olhar,
E os sentidos obrigam a um só momento.
Antes do horizonte não há memória nem pensamento,
E a erosão destrói a história e qualquer outra ilusória
E os sentidos obrigam a um só momento.
Antes do horizonte não há memória nem pensamento,
E a erosão destrói a história e qualquer outra ilusória
narração.
As imagens, oxidadas, envelhecem, veladas em poeira e
As imagens, oxidadas, envelhecem, veladas em poeira e
abrasão.
Os mantos abrem buracos por onde o coração das coisas
Os mantos abrem buracos por onde o coração das coisas
vê as estrelas
E Abraão, sem vê-las, planeia veredas.
Mas antes do horizonte apenas seguem sendas e atalhos
Cortados em retalhos sem limite.
Antes do horizonte, os caminhos
Esbarram na impossibilidade de atravessar o que a luz
E Abraão, sem vê-las, planeia veredas.
Mas antes do horizonte apenas seguem sendas e atalhos
Cortados em retalhos sem limite.
Antes do horizonte, os caminhos
Esbarram na impossibilidade de atravessar o que a luz
obriga.
Dos mais curtos, dos prometidos, há pedaços.
Há fragmentos de percursos interrompidos.
Há farrapos de mera possibilidade.
E, na verdade, perdidos,
Somos rendidos nos caminhos pelos deuses que passam
E nos trespassam com sonhos e promessas
Que se esbatem no horizonte.
A erosão corrói a cutícula do universo
E há no seu inverso, a deposição, o mistério das coisas
Dos mais curtos, dos prometidos, há pedaços.
Há fragmentos de percursos interrompidos.
Há farrapos de mera possibilidade.
E, na verdade, perdidos,
Somos rendidos nos caminhos pelos deuses que passam
E nos trespassam com sonhos e promessas
Que se esbatem no horizonte.
A erosão corrói a cutícula do universo
E há no seu inverso, a deposição, o mistério das coisas
como elas são.
Manuel Anastácio é poeta e professor, assina o blog Da Condição Humana: http://literaturas.blogs.sapo.pt/
Conservei a ortografia do português europeu.
Ilustração da postagem: "Lamentação da Virgem", de "As Horas da Cruz" do Mestre de Rohan. 1435