sexta-feira, 10 de outubro de 2008

AO CADÁVER DESCONHECIDO


Aramis Ribeiro Costa


Depositado sobre a lage fria
Álgido, exangue, rijo e dissecado
Guardas, no corpo teu, formolizado
Exaustivas lições de Anatomia.

Teus órgãos, veias, músculos que, um dia
Foram teu corpo vivo e respeitado
São peças de um cadáver retalhado
De alguém que mais ninguém conheceria.

Devias ter, no entanto, um monumento
Um dia consagrado, um pensamento
Do mundo contristado e agradecido.

Homem, mulher, criança, não importa!
Salvando vidas, tua carne morta
Revive, ó imortal desconhecido.

Aramis Ribeiro Costa tem 17 títulos publicados: romance, novelas, contos, poemas e histórias infantis. Este poema está em Espelho Partido (FUNCEB, 1996).

MIRADA

Gerana Damulakis


para os grandes CDA e Mario Quintana

Possuo uma ânsia de andar este caminho

e concentrar as alegrias momentâneas

de viver completamente

uma fantasia que se fez real.

Possuo tanta angústia - muita angústia -,

muita consciência e muito medo

e uma dúvida constante nestes instantes

que me cobre e me pergunta

sobre o limite.

Possuo lágrimas de emoção

e risos de satisfação.

E possuo, finalmente, a certeza da tênue

fronteira entre a plenitude da vida

e o abismo do fim

- e daí me consumo.

De Guardador de Mitos. Homenagem a Carlos Drummond de Andrade e Mario Quintana, Praça da Alfândega, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, por rvolcan, retirada do Flickr.