Aviso que a lista não segue a preferência maior enquanto os demais são menos inesquecíveis. Inesquecível é inesquecível, obviamente. Todos no mesmo patamar. O que fiz foi levantar da cadeira e passar rapidamente o olhar pelas prateleiras das estantes e quando o olhar parava, anotava o título, deixando, assim, que meu inconsciente ditasse. Quer forma mais confiável do que esta? Ledo engano. Pois que não parei primeiramente na frente dos russos (quantos romances inesquecíveis eles escreveram!) e o único russo que surgiu na memória foi Soljenitsin por conta de sua morte recente; pois que também nem cheguei na parte da literatura japonesa (que vem me seduzindo nos últimos três anos) e, que absurdo!, deixei de olhar para Hemingway e Fitzgerald e John Dos Passos e....
A LISTA (toda semana 10 títulos)
1- Daniel Deronda, de George Eliot
2- Auto-de-Fé, de Elias Canetti
3- O tambor, de Günter Grass
4- Retrato de uma senhora, de Henry James
5- Barragem contra o Pacífico, de Marguerite Duras
6- Eugênia Grandet, de Honoré de Balzac
7- Emma, de Jane Austen
8- Amsterdam, de Ian McEwan
9- O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago
10- Um dia na vida de Ivan Denisovich, de Alexandre Soljenitsin
TRECHOS DE O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago (foto).
Podia ser verdade, podia ser mentira, é essa a insuficiência das palavras, ou, pelo contrário, a sua condenação por duplicidade sistemática, uma palavra mente, com a mesma palavra se diz a verdade, não somos o que dizemos, somos o crédito que nos dão.
A mais inútil coisa deste mundo é o arrependimento, em geral quem se diz arrependido quer apenas conquistar perdão e esquecimento, no fundo, cada um de nós continua a prezar as suas culpas.
O jogo entre uma memória que puxa e um esquecimento que empurra é jogo inútil, o esquecimento acaba por ganhar sempre.
O mundo esquece tudo, o mundo esquece tanto que nem sequer dá pela falta do que esqueceu.
Não esquecer que todas as cartas de amor são ridículas, isto é o que se escreve quando já a morte vem subindo a escada, quando se torna de súbito claro que verdadeiramente ridículo é não ter recebido nunca uma carta de amor.
A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.