domingo, 31 de agosto de 2008

OS 100 ROMANCES INESQUECÍVEIS

Gerana Damulakis



Quando Kátia Borges começou, lá no blog Madame K http://mmeka.wordpress.com/, a listar suas 100 músicas prediletas, fiquei com vontade de fazer o mesmo, listando meus 100 romances inesquecíveis e/ou os 100 poemas que não deixam meus pensamentos. Comentei com Kátia que iria fazer isto e ela me deu a idéia de destacar um, usando trecho do texto, sempre que enumerasse 10 deles, tal como ela faz com a lista: 10 de cada vez, e ela coloca o vídeo de uma das músicas.

Aviso que a lista não segue a preferência maior enquanto os demais são menos inesquecíveis. Inesquecível é inesquecível, obviamente. Todos no mesmo patamar. O que fiz foi levantar da cadeira e passar rapidamente o olhar pelas prateleiras das estantes e quando o olhar parava, anotava o título, deixando, assim, que meu inconsciente ditasse. Quer forma mais confiável do que esta? Ledo engano. Pois que não parei primeiramente na frente dos russos (quantos romances inesquecíveis eles escreveram!) e o único russo que surgiu na memória foi Soljenitsin por conta de sua morte recente; pois que também nem cheguei na parte da literatura japonesa (que vem me seduzindo nos últimos três anos) e, que absurdo!, deixei de olhar para Hemingway e Fitzgerald e John Dos Passos e....

A LISTA (toda semana 10 títulos)

1- Daniel Deronda, de George Eliot

2- Auto-de-Fé, de Elias Canetti

3- O tambor, de Günter Grass

4- Retrato de uma senhora, de Henry James

5- Barragem contra o Pacífico, de Marguerite Duras

6- Eugênia Grandet, de Honoré de Balzac

7- Emma, de Jane Austen

8- Amsterdam, de Ian McEwan

9- O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago

10- Um dia na vida de Ivan Denisovich, de Alexandre Soljenitsin

TRECHOS DE O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago (foto).

Podia ser verdade, podia ser mentira, é essa a insuficiência das palavras, ou, pelo contrário, a sua condenação por duplicidade sistemática, uma palavra mente, com a mesma palavra se diz a verdade, não somos o que dizemos, somos o crédito que nos dão.

A mais inútil coisa deste mundo é o arrependimento, em geral quem se diz arrependido quer apenas conquistar perdão e esquecimento, no fundo, cada um de nós continua a prezar as suas culpas.

O jogo entre uma memória que puxa e um esquecimento que empurra é jogo inútil, o esquecimento acaba por ganhar sempre.

O mundo esquece tudo, o mundo esquece tanto que nem sequer dá pela falta do que esqueceu.

Não esquecer que todas as cartas de amor são ridículas, isto é o que se escreve quando já a morte vem subindo a escada, quando se torna de súbito claro que verdadeiramente ridículo é não ter recebido nunca uma carta de amor.

A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio duma planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz.

21

Luiz Britto


Na palidez marmórea da tarde,
apenas uma xícara vazia
uma mancha molhada na mesa,
flores fanadas num vaso,
uma tarde tão fria

E um canto lúgubre de plátanos e
pântanos,
uma certa presença erradia,
dores inauditas e secretas,
que fazem caminho nas penedias

Uma viola parada, a cítara muda,
a harpa que hoje morria,
e o vento passando, como sempre
trazendo a espuma longínqua do mar
numa despedida cheia de bizarria


2 1 --- o vigésimo primeiro texto de VESTÍGIOS DA NOITE SOBERANA, livro de poemas. Foto de giusmelix, retirada do Flickr.