sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

UMA NOITE, MUITAS HISTÓRIAS

Gerana Damulakis

A noite é sem silêncio e no entanto onde os sinos/ Do meu Natal sem sinos?
Manuel Bandeira

A literatura tem seus temas universais. Mesmo a literatura mais regional, aquela que liga o homem à sua terra, trata, em instância mais profunda, das paixões, das angústias, dos sentimentos, enfim. Dentre os temas considerados consubstanciais aos prosadores, encontra-se o tema do Natal. Afeito aos contistas por encerrar geralmente um episódio bastante rico e possível de conter igualmente a brevidade e a densidade que o gênero busca, o tema natalino já se traduz como uma tradição.
O Natal traz a magia despertada pela luz dos enfeites, as recordações de outros dias de Natal e com elas as pessoas amadas que se foram e que outrora riram diante de um presente inusitado ou de um desejo realizado. É um dia de confraternização, porque o espírito natalino envolve todos com bondade, resignação e tolerância. O ritual permite impulsos imaginários e, logo, criações que se tornam narrativas recheadas de surpresas e efeitos literários. Se o tema do Natal fascina, há também, junto ao desejo de contar, o desejo de ouvir histórias, inerente ao homem desde a infância. A linguagem dos contos é explorada na sua condição simbólica, e se o mundo esperado pelo leitor é um mundo mágico ou lírico, então a composição natalina marca a embriaguez entre o real e o irreal. Neste tocante, o escritor francês Guy de Maupassant é um bom exemplo com seu “Conto de Natal”, porque há qualquer coisa de salvação, própria do clima natalino, quando certos vazios ou certos desencantamentos ganham esperanças, ilusões de uma noite. A referência vai para a Editora Itatiaia Limitada, que tem uma bela edição com cinco volumes: Obras de Guy de Maupassant.
Uma das mais pungentes narrativas natalinas é de O. Henry, pseudônimo de William Sidney Porter: o magistral conto “O Presente dos Magos”, que conta sobre um casal pobre, quando, pelo Natal, cada um deseja intensamente presentear o parceiro. Mas eles não têm dinheiro; no entanto, possuem outros tesouros: ele, um relógio de ouro, que pertencera ao avô, e que levava preso num cordão de couro gasto, fazendo com que sentisse vergonha de consultar as horas; ela, portadora de vasta cabeleira, como uma cascata caindo-lhe nas costas. Sem que um soubesse da angústia do outro para conseguir comprar um presente, acabam provando a mesma intensidade de amor. Ele vende o relógio e compra um jogo de pentes de tartaruga, orlados de pedraria, para os cabelos da amada. Ela vende o cabelo, que é cortado tão rente a ponto de conferir-lhe a aparência de um meninote e adquire uma corrente de platina digna do relógio do marido. Este conto está no volume da Ediouro, com seleção e prefácio de José Paulo Paes, Caminhos do destino e outros contos.
A literatura ocidental vem sendo enriquecida com os contos de Natal desde Charles Dickens, que escreveu sua “Canção de Natal” para iniciar, logo depois, uma série de contos natalinos com a história “Uma Árvore de Natal”, publicada primeiramente em revista, por ocasião do número correspondente à festa. O sucesso foi enorme, aquele número se converteu em verdadeira árvore de Natal, como dizem seus historiadores, porque outros contistas foram colocando adornos, enfeites luminosos e presentes nos ramos literários. Todos os contos de tal série de Dickens parecem ser a primeira chama natalina, que se fará presente na ficção do mundo cristão. A sugestão é o volume O manuscrito de um louco e outras histórias, que contém cinco destas histórias natalinas, também com tradução e seleção de José Paulo Paes para a Ediouro.
No leste, os mestres russos do realismo, refletem a festa cristã em condições adversas, aproveitando para espelhar a realidade dura da nação, seja na trajetória da criança desvalida, do conto “A Árvore de Natal de Cristo”, de Dostoiévski , seja através dos dois velhos abandonados pelo destino, personagens meigos e tímidos diante da vida, do conto “Sonho de uma Noite de Natal”, de Górki, ambas em Histórias de Natal (Boitempo Editorial, 1995).
Entre nós existe uma produção de contos fundados no ambiente natalino, seus sentimentos e expectativas. O conto de Machado de Assis, “Missa do Galo”, parece ser um marco, está em todas as antologias de contos do bruxo. O mestre do conto não descreve uma celebração de Natal, não há uma festa, mas há sentimentos evocados pela data, há um tempo suspenso, a espera pela hora da missa, insinuando uma probabilidade. Lygia Fagundes Telles não resistiu e escreveu “Missa do Galo (variações sobre o mesmo tema), que saiu pela Summus Editorial, 1977, enquanto Antonio Callado homenageou o Natal e a obra-prima de Machado com seu conto “Lembranças de Dona Inácia”. Ainda que fora da linha traçada por Machado, há contos natalinos inesquecíveis na literatura brasileira, como “O Peru de Natal”, presente em Os melhores contos de Mário de Andrade (Global Editora, 1988), ou “A Noite em Que os Hotéis Estavam Cheios”, de Moacyr Scliar, só para citar dois dentre tantos.
Mais exemplos ficam com a prosa dos baianos: João Ubaldo Ribeiro, com seu “Jingobel, Jingobel (Uma história de Natal)”; Hélio Pólvora, com seus “Conto de Natal”, do volume O rei dos surubins (Imago, 2000) e “Natal com Julieta”, que está em Os galos da aurora (Fundação Casa de Jorge Amado, 2002) e Aramis Ribeiro Costa, com “Era Véspera de Natal”, da reunião de contos O mar que a noite esconde (Iluminuras, 1999), que podem ilustrar a fortuna da literatura baiana tratando de tema tão caro. O volume Contos para um Natal brasileiro (Relume- Dumará, 1996) traz as narrativas citadas de Callado, João Ubaldo e Scliar. São sugestões de leitura que podem colocar mais luz no Natal do leitor, ou, no mínimo, podem garantir alguns momentos de prazer literário.

Coluna Olho Crítico da Página Aberta do jornal Tribuna da Bahia, 15/12/2007.

HISTÓRIA DOS MITOS GREGOS


Gerana:
Pygmy woman of great beauty who lived in Egypt, or perhaps India. According to the myth, she despised the gods, and had a special aversion to Artemis and Hera. Gerana married a pygmy man called Nicodemos, and the couple had a son: Mopsos. Hera then turned Gerana into a stork, as a punishment for the woman's hatred of her. From then on, Gerana's only concern was to get her baby back. When the pygmies saw that the bird was trying to abduct Mopsos, they drove it away. From then on the storks and the pygmies were at constant war. It is from this myth we get the vision of the stork carrying a baby.
www.in2greece.com/english/historymyth/mythology/names/gerana.htm