No dia 31 de janeiro de 2010 morreu o escritor argentino Tomás Eloy Martínez, nascido em 1934. Sua obra está traduzida para mais de trinta idiomas. Pode ser lembrado principalmente por livros como Santa Evita e O cantor de tango.
Sua característica maior foi combinar ficção e realidade. Recebeu importantes prêmios, tais como o internacional Alfaguara de Romance, em 2002, por O voo da rainha, e o prêmio Ortega y Gasset de Jornalismo, em 2009.
A homenagem que uma leitora de Martínez pode fazer é lembrar momentos prazerosos que sua literatura proporcionou. Lemos, a escritora Ângela Vilma e eu, A mão do amo (Companhia das Letras, 2008), romance diferente, fora da sua linha supracitada. Cheguei a escrever uma pequena resenha aqui no Leitora. Como eu vinha "dizendo", Ângela e eu lemos o romance e trocamos impressões sobre o personagem Carmona. Ela me disse que viajou com ele durante a narração de uma insólita viagem de trem. Para mim, inesquecível foi a imagem daquela casa que, após a morte da mãe de Carmona, ficou suja e cheia de gatos, emblemática da transformação na vida do personagem, então solitário, esquisito e totalmente perdido com a falta do poder exercido pela mãe.
Purgatório (Companhia das Letras, 2009) é um romance de amor, mas traz a marca de Martínez, que não deixava a crítica política. Um casal foi separado no auge da ditadura argentina. O pai de Emilia, pessoa importante junto aos grandes das Forças Armadas, tratou de fazer sumir o genro. Emilia jamais acreditou que Simón morreu e começou a seguir pistas falsas, indo morar no Rio, depois em Caracas e, por fim, em Nova Jersey, quando o reencontrou. Só que, trinta anos se passaram, ela ficou velha e Simón permaneceu com a mesma aparência como na época em que desapareceu. Eles se reencontraram com muito amor. Emilia podia, enfim, viver tudo o que guardou para ele. O desfecho? Não conto, mas asseguro que vale a pena, não se trata de um Dorian Gray, a razão do não envelhecimento de Simón é outra.
Deixo um pequeno trecho retirado de uma daquelas páginas com pontinhas dobradas do meu volume de Purgatório.
Aquilo que não chega a ser nunca sabe que poderia ter sido. Os romances são escritos para isso: para compensar no mundo real a ausência perpétua daquilo que nunca existiu.
Foto by Gonzalo Martinez