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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Descriminação II

A verdade é, o que fui, o que passei, não influência o meu presente.
Alias, o que fui nunca me prendeu em casa, o que fui não me fez parar de estudar, o que fui não me impediu de conviver.
Posso até dizer que o que fui acabou por fazer de mim uma pessoa melhor.
Não julgar os outros pela aparência, tornou-me mais sensível e a ver os outros e a vida com outros olhos.
Não sinto mágoa, não sinto râncor, não sinto pena de mim, nem sequer penso nisso.
Melhor ainda, ontem acabei por perceber que, sem ter consciência disso, apaguei certos momentos da minha vida. Relembrei-os depois de ter lido o post da Docinho de Morango.
Como referi noutros posts, tenho uma vida maravilhosa.
Sinto-me uma privilegiada por ter uma família linda cheia de saúde, por ter amigos espectaculares que me adoram, por ter um emprego que me realiza a todos os níveis, por ter uma casa que foi desenhada ao pormenor por nós, por ter poder de compra (neste País onde a crise veio para ficar) e poder fazer o que quiser, quando quiser e por poder dar tudo à minha filha.
E se às vezes acho que a minha vida é cor-de-rosa demais, e que a qualquer momento pode acontecer uma tragédia, por outro penso que a vida está a compensar-me pelos momentos menos bons por que passei.

Obrigada pelas vossas palavras de carinho, obrigada pelos elogios. Não sou mais nem menos que ninguém. Sou apenas mais uma que decidiu por um ponto à doença que é a obesidade.
Ao anónimo, muito, muito obrigada pelo carinho! :)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Descriminação aos Gordos

Depois de ler o post da Docinho, decidi partilhar convosco a descriminação de que já fui alvo por ser gorda.

A minha descriminação começou em casa, ainda eu era bem novinha, e o meu pai, sim o meu próprio pai, tinha vergonha de andar comigo na rua.
O meu próprio pai insultava-me. Insultava-me por ser gorda e por me vestir como uma velha (eu devia de ter uns 14 anos).

A discriminação continuou em casa, desta vez por parte do meu avô materno, sim o meu próprio avô, que me dizia que era um monstro, um nojo, uma vergonha de mulher. Todas as refeições que eram feitas com ele à mesa, eu acabava por me ir embora a chorar.

A descriminação continuou quando arranjei um namorado que tinha vergonha de andar comigo na rua, portanto eu andava dum lado do passeio e ele do outro. Não havia qualquer gesto de carinho em público, alias, não havia qualquer tipo de contacto em público. Isto durou 8 meses até que ele me trocou por outra, também ela gorda.

Estava eu no secundário quando fiz amizade com uma moça, que por sinal não era nada magra nem bonita. Um dia convidou-me para ir a casa dela, e eu lá fui. Assim que a mãe me viu ficou repugnada a olhar para mim. Eu ignorei, já estava habituada a estes olhares. Mais tarde a minha amiga contou-me que a mãe não queria que ela andasse comigo porque eu era um monstro e parecia mal ela andar com alguém como eu.

Nessa altura fiz outra amiga, uma grande amiga, que felizmente não tinha qualquer problema de andar comigo. Mas há um dia que me chega aos ouvidos que as pessoas lhe perguntavam se ela não tinha vergonha de andar comigo na rua, porque eu era imensa, um horror. Confrontei-a com a situação e ela disse-me que não, não tinha qualquer problema de andar comigo, era minha amiga, gostava de mim.

A descriminação continuou na Universidade. Era o primeiro dia de aulas e eu estava a atravessar o pátio de entrada quando ouço, em alto e bom som, um grupo de caloiros: “Olha aquela! Tu querias era aquela para tu namorada! AH AH AH AH”.
Na Universidade voltou a acontecer uma situação idêntica, estava eu no refeitório quando um puto se vira para o grupo e diz: “Olha a tua mulher, linda! AH AH AH AH”.

A descriminação continuou nessa altura, quando conheci um grupo de amigos, através de uma amiga, e fomos beber café a uma esplanada. No dia seguinte, já sabia que, entre eles, me tinham gozado, insultado, humilhado, pelo facto de eu quase não caber na cadeira.

Isto são as situações que mais me marcaram, que me deixaram mesmo no fundo do poço.

Actualmente a relação que tenho com o meu pai e avô é excelente, com a minha perda de peso, tudo mudou.

E é por isto, e é por experiência própria que digo:

Nós gordos não somos vistos com os mesmo olhos com que são vistos os magros.
Nós gordos não somos vistos como pessoas mas sim como coisas sem sentimentos.
Nós gordos somos vistos como uns incapazes, como parasitas da sociedade, que só sabem é comer.


Eu gorda, já fiz ver a muita gente que não sou menos que ninguém.
Eu gorda um dia hei-de ser magra, não para agradar aos outros, mas para ser mais feliz.