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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Uma vitória da verdade e da liberdade

Citizenfour, pseudónimo que Edward Snowden escolheu para contactar a realizadora Laura Poitras e o jornalista Glenn Greenwald (ao centro na foto) quando fugiu para Hong-Kong, foi o vencedor do Óscar para o melhor documentário em 2015. Pelo seu simbolismo, uma importante vitória na perseguição da verdade e, consequentemente, da Liberdade. O filme estreará em Portugal a 13 de Março próximo (trailer).

"Quando as decisões mais importantes são tomadas em segredo, perdemos a capacidade de fiscalizar os poderes que detêm o controlo." - Laura Poitras

Foto: daqui

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Como ensinar História sem recorrer a manuais

Entre 10 e 12 de Fevereiro do corrente mês, morreram três conhecidos jornalistas americanos que estavam envolvidos numa investigação aos acontecimentos de 11 de Setembro: Bob Simon (CBS), 73 anos, num acidente de automóvel; Ned Colt (NBC), 56 anos, de ataque cardíaco; e David Carr (NYT), 58 anos, que sofreu um colapso súbito na redacção do New York Times (a autópsia viria a atribuir a causa de morte a cancro de pulmão e insuficiência cardíaca). Este último, horas antes, havia moderado um painel em que participaram, entre outros, Glenn Greenwald, Laura Poitras e Edward Snowden (por vídeo-conferência), a propósito do CitizenFour, um documentário nomeado para os Óscares de 2015, onde a realizadora Poitras conta a história do whistleblower Snowden. Meras coincidências semelhantes a estas 103? Talvez. Em todo o caso, foram estas circunstâncias que me motivaram a traduzir um recente artigo de Gary North onde se aborda o tema do revisionismo histórico e a estratégia para estimular os alunos a aguçar a sua curiosidade relativamente à História e, em particular, às histórias que se contam sobre ela (bem como as que não se contam...).
17 de Fevereiro de 2015
Por Gary North


O cerne da história revisionista reside nisto: a versão do manual escolar está errada.

Gary North
Ela poderá estar errada por razões meramente técnicas pois é possível que determinados documentos tenham sido suprimidos, perdidos, ignorados. Poderá suceder que um dado acontecimento seja bem mais complexo do que os manuais escolares indicam. Mas, em algumas matérias, nomeadamente as relativas à banca, à guerra e à despesa pública, a história narrada no manual foi deliberadamente escrita por historiadores da corte. Os historiadores da corte suprimiram deliberadamente informação quando esta apontava para origens conspiratórias do acontecimento. É crucial para os historiadores do establishment poder ignorar investigações desse tipo catalogando-as de história conspirativa, como se as conspirações não existissem na história, e como se elas não controlassem os acontecimentos do passado.

Deste modo, o historiador revisionista deve começar com esta pergunta: quais são os aspectos de um acontecimento particular que jamais poderiam ter tido lugar? O que leva à pergunta seguinte: quais foram as perguntas que a guilda dos historiadores se recusou deliberadamente a colocar? Porquê?

Quase todas as guerras na história dos Estados Unidos são elegíveis para uma história revisionista. Já anteriormente afirmei que o que precisamos é de um estudo, em múltiplos volumes, das guerras em que a América interveio. Cada volume deveria analisar uma guerra e responder a três perguntas.
  1. Como é que os Estados Unidos entraram na guerra?
  2. Como é que a guerra foi paga?
  3. Quais foram os resultados sociais e económicos da guerra?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

As conexões sauditas no 11 de Setembro

Praticamente logo após os atentados de 11 de Setembro, circularam intensos rumores quanto a uma alegada (e estreita) ligação de membros da elite saudita que, através de apoio logístico, e sobretudo financeiro, teriam apoiado (tornado possível?) aquela operação terrorista. Este era um elo que começava por surgir como natural já que 15 dos 19 piratas do ar eram nacionais do país governado pela Casa de Saud. Desde muito cedo (antes mesmo da formação da oficial Comissão de Inquérito aos acontecimentos - 2002) que familiares das vítimas fizeram sentir as suas suspeições nessa direcção. E a caminho dos quinze anos passados sobre o sucedido, o certo é que continuam classificadas como secretas 28 páginas do relatório oficial as quais, precisamente, se crê evidenciarem essa conexão. A isto acrescem as acusações da semana passada provenientes de Zacarias Moussaoui que até mesmo o New York Times entendeu destacar. Emprestando todo o seu envolvimento jornalístico de longa data, no terreno, no mundo islâmico, Eric Margolis elabora sobre a verosimilhança das acusações de Moussaoui recuando para isso ao tempo em que conheceu pessoalmente um dos fundadores da Al-Qaeda. É um artigo informativo, pleno de pormenores relevantes para um maior entendimento sobre o reino saudita ou, melhor, sobre a razão de ser dos comportamento da dinastia de Saud.

Votos de uma excelente semana!

7 de Fevereiro de 2015
Por Eric Margolis


Desde 2001 que circulam alegações do envolvimento da Arábia Saudita nos ataques à América do 11 de Setembro. Os sauditas têm negado qualquer envolvimento muito embora 15 dos 19 piratas do ar fossem cidadãos sauditas.

Eric Margolis
Esta semana, as alegações de envolvimento saudita reacenderam-se quando um dos homens condenados pelos ataques de 11 de Setembro, Zacarias Moussaoui, reafirmou aquelas acusações. Moussaoui, que está numa prisão de segurança máxima nos EUA, acusa príncipes e altos funcionários sauditas de terem financiado os ataques do 11 de Setembro e outras operações da Al-Qaeda. Ele talvez tenha sido torturado e tem problemas mentais.

Entre os sauditas que Moussaoui nomeou estão o príncipe Turki Faisal e o príncipe Bandar bin Sultan, dois dos homens mais poderosos e influentes do reino. Turki foi chefe da inteligência saudita; Bandar foi embaixador em Washington durante a administração Bush.

Estas acusações surgem num momento em que decorre em Washington uma luta furiosa pela (não) divu, lgação das páginas secretas do relatório da Comissão de Inquérito aos ataques do 11 de Setembro que supostamente implicam a Arábia Saudita. A Casa Branca alega que a divulgação do relatório seria embaraçante e prejudicaria as relações entre os EUA e a Arábia Saudita.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A generosidade de roubar a Pedro para dar a Paulo

O título que escolhi para o post talvez não permita uma associação directa às actividades (incluindo as "filantrópicas") de um certo Bernie Madoff. Mas tem. Porque são muitas as semelhanças entre as actividades redistributivas do estado social e o modus operandi daquele. É o que mostra o artigo, de Brandon Dutcher, que me propus traduzir (no qual introduzi alguns links).
7 de Outubro de 2014
Por Brandon Dutcher

O que o governo central e Bernie Madoff têm em comum
(What the Feds and Bernie Madoff Have in Common)

Bernard Madoff
Ao longo dos anos, o condenado Bernard Madoff, responsável pelo esquema ponzi que defraudou os seus investidores, doou "generosamente" milhões de dólares a instituições de beneficência - investigação do cancro, hospitais, teatros, escolas, etc. Pelo menos uma dessas organizações de caridade fez investimentos junto de Madoff, onde os fundos se evaporaram.

Mas Madoff não é o único que dá dinheiro às pessoas após ele lhes ter sido subtraído em primeiro lugar. Os dirigentes políticos de hoje angariam votos e aplausos dando presentinhos ao Zezinho, mas não se dão ao incómodo de dizer que a totalidade da conta vai direitinha para o cartão de crédito do Zezinho.

O ano escolar recomeçou, e "milhares de estudantes mais poderiam estar a usufruir do almoço escolar completamente grátis", noticia Jake Grovum na Stateline, "graças a um programa federal que se iniciou há quatro anos que finalmente se está a expandir a todos os 50 estados". (Finalmente!)

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Não, a América não é comunista. Só é 70% comunista

Há uns meses atrás cheguei a esboçar um post cujo título seria "A vitória do marxismo é praticamente total". A ideia era ilustrar a tremenda proximidade, quando não mesmo decalque, entre a realidade que hoje vivemos e aquela que Marx e Engels, em 1848, pretendiam então conseguir a curto prazo como um primeiro passo em direcção à construção do paraíso na Terra.

A minha intenção acabou por não se concretizar mas Simon Black escreveu agora algo de parecido (obviamente muito melhor do que eu o faria) com o que eu pretendi.  É provável que muitos tomem o título que roubei ao artigo de Black como denotando um exagero a roçar a tontice. É esse texto, escorreito, despretensioso e to the point, que me propus traduzir e ao qual acrescentei algumas imagens, notas e links, todos da minha inteira responsabilidade. Quem continuar a sorrir com prazenteira bonomia após ter concluído a leitura do texto, ou quem já desistiu nesta altura de o ler de todo, vá até aqui e reflicta sobre algumas das razões por que a grande máquina de produção de riqueza, de liberdade e  de felicidade que é o capitalismo praticamente deixou de funcionar nos países ocidentais. 
29 de Setembro de 2014
Por Simon Black

Não, a América não é comunista. Só é 70% comunista.
(No, America isn’t Communist. It’s only 70% Communist.)

"Os proletários não têm outra coisa a perder que não as suas correntes. Têm um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!"

A maioria das pessoas recorda-se das ideias e frases mais enérgicas de Karl Marx, como da montanha de cadáveres que os seus discípulos deixaram para trás, especialmente no século XX.

No entanto, a maior parte esqueceu-se ou nem sequer conhece as políticas específicas que Marx advogava.

No seu Manifesto Comunista[1] de 1848, Marx elencou uma lista[2] de dez exigências de curto prazo. Estas - pensou - seriam precursoras do ideal do fim do estado, a sociedade comunista sem classes.

Ironicamente, as medidas de Marx assemelham-se muito aos pontos de vista convencionais no mundo de hoje. Isso é assim porque praticamente cada um dos itens dessa lista já foi posto em prática, em diferentes graus, nos Estados Unidos.

Crê o leitor que tal não poderia acontecer na Terra dos Livres? Ora atente no que se segue.

No topo da lista de Marx está a abolição da propriedade privada.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A Grande Guerra 1914-1918 - O Lusitania (um bom pretexto e um alvo fácil)

Não tencionava incluir o caso Lusitania na série de posts que vimos publicando sobre a I Guerra Mundial. Todavia, é-me difícil não dar conta que a campanha de bombardeamentos aéreos agora em curso contra o “Estado Islâmico” tenha ocorrido após a divulgação sucessiva, em quatro vídeos distintos, de outras tantas decapitações. Primeiro, de dois cidadãos americanos; posteriormente, de um súbdito britânico seguido de, há dias apenas, de um cidadão francês. Creio impossível não notar a coincidência do envolvimento das três nacionalidades notáveis na geopolítica da região após a queda do império Otomano. Em conclusão: o que Obama e Cameron não conseguiram há um ano, tornou-se agora possível devido à divulgação de uns vídeos no YouTube. A "linha vermelha" estava, afinal, no efeito de choque causado pelo visionamento de decapitações. A encenação revela-se, mais uma vez, fundamental para fazer vingar um pretexto adequado.

Após o início da I Guerra Mundial, talvez não tenha havido acontecimento singular mais relevante para o que viria a ser o seu desfecho do que o torpedeamento por um submarino alemão do paquete transatlântico Lusitania, ocorrido em 7 de Maio de 1915, de que resultaram 1153 mortos (128 dos quais de nacionalidade norte-americana). E muito embora só a 6 de Abril de 1917 os Estados Unidos tenham declarado guerra às Potências Centrais, é inegável a importância daquele evento no processo de decisão que levaria a essa decisão e, com ela, a sorte da guerra[1]. Sublinhe-se, não obstante, que o presidente Woodrow Wilson, que procurava a sua reeleição em 1916, fez essa campanha eleitoral sob o slogan "He kept us out of war" (“Ele manteve-nos fora da guerra” – N.T.) o que indubitavelmente traduz o sentimento, de facto largamente maioritário na opinião pública americana à época, contra o envolvimento dos EUA na terrível guerra que decorria no teatro europeu.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Em defesa da internet e da liberdade

Uma entrevista (legendada em português do Brasil) centrada na substância das revelações da espionagem maciça e ilegal por parte de agências de informações governamentais, entre as quais a NSA, que as acções de Edward Snowden já permitiram documentar (e irá haver ainda mais segundo o próprio). Que, após Manning (condenado a 35 anos de cadeia num processo de que se não conhecem vítimas), e Assange (há quase dois anos confinado à embaixada do Equador em Londres), só em Moscovo Snowden tenha encontrado um lugar de fuga ao braço policial americano é algo, a meu ver, terrivelmente revelador. (Filmado em Março passado talvez já antevendo o merecido Pulitzer)


Transcrição da entrevista: aqui

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A agenda verde regulatória e o talentoso John Beale

N’O Insurgente, Ricardo Campelo Magalhães já tinha chamado a atenção para a estória do Sr. John Beale, um alto e venerável funcionário da EPA - a poderosíssima “Agência (federal) de Protecção Ambiental” (criada por Nixon durante o seu primeiro mandato, em 1970) – durante 24 anos (após 2 anos como “consultor” externo da mesma) até à sua saída em 30 de Abril de 2013. Acusado, reconheceu um conjunto de crimes praticados pelos quais foi sentenciado em 32 meses de pena de prisão sendo ainda obrigado a restituir uma verba de perto de 1,4 milhões de dólares. As burlas foram múltiplas, assentes em mentiras de vária ordem. Entre outras, desde o incumprimento do dever de assiduidade pelo facto de, simultaneamente, estar “ao serviço da CIA” (uma mentira apenas verbalizada, que durou anos!) até ao petty theft dum lugar de estacionamento para deficientes no parque da EPA por, supostamente, ter contraído malária (de que nunca sofreu) quando “prestou” serviço militar no Vietname (onde nunca esteve nessa qualidade). Um perfeito burlão, pois. Dirá o leitor, bem, e o que tem esta estória de especial? Afinal, tal como os chapéus, burlões há muitos. (Atenção porém, caro leitor, a um sinal importante: este caso, "estranhamente", não foi alvo dos nossos media sempre tão atentos a escândalos.)

Imagem retirada daqui
É certo que sim mas não são propriamente aqueles os “feitos” que me levaram a escrever sobre este assunto. Considere-se agora o facto de o Sr. John Beale ter sido um dos mais proeminentes membros da EPA, um Senior Leader, tendo o seu nome associado, e nele reconhecido como respeitado perito, ao Clean Air Act, de 1990, e suas alterações subsequentes e, como decerto já terão adivinhado, às matérias das “alterações climáticas”, competências e afazeres que o levaram às quatro partidas do mundo e a frequentes visitas ao Capitólio e à Casa Branca, de forma ininterrupta desde a administração de George H. Bush até à de Barack Obama. O Sr. Beale, jurista de formação, sempre demonstrou uma especial aptidão para trabalhar “por projectos”, forma, segundo ele, de vencer as inércias motivadas pelos silos organizacionais da EPA e pelo afadigamento que sempre recaiu sobre a Agência e os seus extenuados funcionários. Daí que, a certa altura (2005), o Sr. John Beale tenha tido uma ideia que expôs aos seus sucessivos superiores hierárquicos e que recolheu sempre apoio e entusiasmo da sua parte (incluindo-se aqui também Gina McCarthy a qual, entretanto, ascendeu a presidente da Agência). Foi durante este tempo – 5 anos! – que ele “trabalhou (também) para a CIA”.

Federal Register - imagem daqui
Este foi um projecto particularmente interessante pelo facto de sempre ter sido apócrifo (!), para além de conduzido individual e exclusivamente pelo Sr. Beale ainda que com o beneplácito e, certamente, digo eu, sob a orientação das suas chefias que se foram sucedendo. Chegados aqui, nada como dar a palavra ao Sr. Beale para que ele, nas suas próprias palavras, durante o depoimento (entretanto tornado público como dei conta aqui) que prestou a um comité especial da Câmara dos Representantes (em 19 de Dezembro de 2013, logo após a leitura da sua sentença judicial), nos possa devidamente elucidar. Trata-se de uma peça absolutamente extraordinária que ilustra, como muito poucas o terão alguma vez feito, de que modo funciona, para que serve e que fins visa um organismo “regulador” em roda livre. Se alguma vez se perguntou qual a razão deste gigantesco absurdo (anteriormente abordado no blogue como, por exemplo, aqui e aqui e miniaturizado na imagem ao lado, de que vale a pena conhecer a fonte original lendo as letras miudinhas...) talvez esteja prestes a satisfazer a sua curiosidade perante a insaciedade deste monstro gargantuesco.

À pergunta de um membro do referido comité sobre se aquele projecto alguma vez produziu um resultado tangível, foi a seguinte a resposta do Sr. Beale (minha tradução do depoimento, na sua página 21), realce meu:
“Havia várias fases nesse projecto tal como o esboçámos. Há um enorme corpo bibliográfico sobre o tema. Por vezes referido de literatura da sustentabilidade, por vezes como economia verde. E, assim, a fase 1 do projecto consistia na minha profunda familiarização, de um modo transversal, com essa literatura. A fase 2 teria consistido na entrevista com especialistas, académicos e do mundo empresarial, com pessoas noutros países que estão a fazer coisas.
E depois chegaria a vez da fase 3 com a elaboração de propostas específicas que poderiam ser - que poderiam ter sido propostas em sede legislativa ou coisas que poderiam ter sido realizadas administrativamente com o propósito de, digamos, modificar o DNA do sistema capitalista..."
Capisce, caro leitor? E se por acaso pensar que apenas estamos perante mais uma manifestação das idiossincrasias norte-americanas, leia este texto de Pinho Cardão sobre algumas das coisas que por cá se passam...

domingo, 22 de dezembro de 2013

JFK: probabilidades aplicadas à teoria da coincidências

Terminei de ler o livro que tem estado na vitrina nos últimos dias - The Man Who Killed - The Case Against LBJ. Informativo e metódico e, assim mo pareceu, suficientemente desapaixonado para conseguir ser objectivo. Não revela nenhuma tese revolucionária quando ao assassinato de John Fitzgerald Kennedy, mas creio que consegue confirmar o poderoso libelo acusatório que já existia contra Lyndon B. Johnson. O seu autor, Roger Stone, seguindo à risca um conselho recebido, cumpriu um período de nojo após o assassinato de JFK - 50 anos (não obstante o meio século decorrido, persistem ainda muitas portas por abrir). No último capítulo, menciona um outro livro, igualmente publicado este ano, da autoria de Richard Belzer (o actor que interpreta o sargento John Munch na série "Law & Order") e de David Wayner. É desta última publicação, significativamente intitulada Hit List, que retiro os dados que de seguida refiro (disponíveis para consulta na funcionalidade "look inside") ilustradores da minha anterior elucubração:
  • Um ano após o assassinato de John F. Kennedy [e de Lee Harvey Oswald], 15 das testemunhas materiais, num total de cerca de 1400, tinham falecido. A probabilidade de um tal  acontecimento "composto" se verificar foi calculada como sendo de
1 hipótese em 167.145.910.421.722. Arredondando, uma hipótese em 167 milhões de milhões (167 seguido de 12 zeros).
  • Nos 14 anos subsequentes ao assassinato de John F. Kennedy, pelo menos 70 pessoas, de entre as 1400 testemunhas materiais, faleceram de causas não naturais. A probabilidade de uma tal ocorrência foi calculada como correspondendo a cerca de
1 hipótese em 714 milhões de milhões de milhões de milhões de milhões (714 seguido de 30 zeros).
São desta ordem de grandeza as probabilidades de ocorrência de meras (e consecutivas) coincidências no caso JFK, única explicação possível para excluir a existência de uma conspiração - no assassinato e no subsequente encobrimento (coverup).
_________________________________
Nota: a título de mera referência, observe-se que a probabilidade de, com uma única aposta, se acertar no euromilhões é, rigorosamente, de uma hipótese em 116.531.800 combinações possíveis.]

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Da intemporalidade da mistificação e frequente conivência dos media

No Figaro: A l'écran, le leader du parti de gauche semblait entouré d'une foule compacte de manifestants. La réalité est tout autre. (Tradução: "No écran, o líder do partido de esquerda [Jean-Luc Mélenchon] parecia envolto por uma multidão compacta de manifestantes. A realidade é [era] bem diferente"). Agradeçamos ao jornalista holandês Stefan de Vries a evidência fotográfica que proporcionou e que permitiu, por esta vez, recusar a "verdade a que temos direito".

Fotografia retirada daqui

sábado, 30 de novembro de 2013

O salário mínimo é um exterminador de empregos; um crime, portanto

Ao longo destes últimos dias, o tema do salário mínimo voltou em força à ribalta pelos diferentes quadrantes políticos, incluindo do próprio governo (ou pelo menos parte dele, não fosse a troika...). Celeste Cardona, por exemplo, numa "comovente" crónica no DN, diz que "seria inteligente proceder, de imediato, ao seu aumento"; Patrick Monteiro de Barros, numa tirada à Warren Buffet à lusa escala, diz ter "vergonha" do seu valor ser tão baixo; para o PS (à boleia da "vitória" do SPD sobre Merkel) e a UGT, idem aspas e por aí adiante. Entretanto, quem ousa dizer a verdade em voz alta é alvo de um chorrilho inacreditável de insultos. Foi o que aconteceu ao prof. César das Neves quando afirmou, de resto correctissimamente, que aumentar o salário mínimo significaria a "estragar a vida dos [mais] pobres". Noutros tempos, talvez não escapasse à fogueira (literal) devido à "insensibilidade social" que as suas declarações veicularam.

Tinha prometido voltar a este assunto ainda que há pouco tenha aqui postado o artigo Salário mínimo, disparate máximo. Mas a indignação demonstrada pela generalidade dos media e das personalidades sobre este tema é tão despropositada (para usar um acentuado eufemismo) que tenho que voltar ao tema. De permeio, uma referência ao chavão, também largamente utilizado por quase toda a gente (incluindo Cavaco Silva), da rejeição de uma "estratégia de baixos salários" e da promoção de "políticas de crescimento". Mas acaso viveremos sob um regime estalinista em que a economia marcha ao ritmo dos planos quinquenais? Ou preferiremos emular Kirchner ou Maduro? Ou viveremos sob a nostalgia dos planos de fomento de Salazar?

Volto assim a socorrer-me de mais um excelente artigo de Dominick T. Armentano, Minimum Wages and Unemployment: Case Closed que arrasa a "argumentação" dos defensores do aumento do salário mínimo.
A única questão relevante no debate sobre um salário mínimo imposto pelo governo é: será que ele reduz as oportunidades de emprego? O debate não está em saber se alguns trabalhadores ficarão melhor depois dos mínimos legais aumentarem; tal acontecerá com alguns trabalhadores. O debate não está em saber se o "consumo" pode vir a aumentar quando forem pagos salários mais altos a alguns trabalhadores; isso poderá suceder, apesar de os trabalhadores desempregados passarem a consumir menos. E o debate não está em saber se os empregadores "ricos" têm condições para pagar salários mais altos; alguns certamente que têm, mas se eles devem ser obrigados a fazê-lo por força legal é uma outra questão completamente distinta.

Os defensores da lei do salário mínimo fazem duas afirmações gerais. A primeira é a de que o aumento do salário mínimo não aumenta o desemprego entre os jovens e os menos qualificados, o único segmento laboral relevante; e a segunda, é a de que existem estudos empíricos que suportam a conclusão de que aumentar o salário mínimo não prejudica o [nível de] emprego.

O senso comum, a lógica, e a lei da procura refutam facilmente a primeira alegação. Aumentar o preço de qualquer coisa, mantendo as outras variáveis ​​constantes, reduz sempre em alguma quantidade o consumo. Com rendimento fixo e substitutos disponíveis, os empregadores privados utilizarão marginalmente menos trabalhadores quando os seus salários são aumentados por via legal. Bastará exagerar o aumento salarial para tornar o ponto óbvio: se se dobrasse o salário mínimo e a produtividade permanecesse inalterada, haverá alguém no planeta que acredite que o emprego não iria diminuir drasticamente? Bem, pela mesma lógica, um aumento marginal no salário mínimo, digamos, de 8 para 10 dólares, como a Califórnia acaba de legislar, terá um efeito marginal negativo sobre o emprego dos jovens e dos pouco qualificados. Caso encerrado.

Mais devagar, dizem os defensores do salário mínimo. E quanto aos estudos (presumivelmente realizados por economistas de renome) que não identificaram perdas de emprego quando se aumentaram os mínimos legais? Bem, o problema aqui, claro, é que "testar" uma proposição em economia não é como testar uma teoria em física ou química.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Rallo: "Pensões estatais: roubo, pobreza e fraude"

Juan Rámon Rallo aborda o problema da (in)sustentabilidade da Segurança Social em Espanha, sucessivamente agravada pela sistemática recusa, de décadas, em adoptar uma componente de capitalização no sistema, e dos consequentes reflexos na inevitável degradação das pensões nas próximas décadas. Não está com paninhos quentes, como o título do seu artigo publicado no el Economista da passada 4ª feira logo evidencia: Pensiones estatales: robo, pobreza y fraude. Sendo a situação em Portugal neste domínio praticamente coincidente à espanhola (inclusive no profundo iliberalismo dos governos de "direita" em exercício), achei interessante publicar uma tradução daquele artigo. 
Há mensagens que poucos ousam verbalizar mas isso não as torna menos certas nem menos prementes para o futuro das nossas sociedades. Um desses tabus, desastrosos no caso de Espanha, é o que respeita à matéria das pensões. São poucas as pessoas que desejam granjear a inimizade das massas repetindo algo tão directo e incontestável como isto: o nosso actual sistema de pensões é insustentável. Mas é preciso dizê-lo: o sistema é insustentável.

E não é porque ele seja extremamente generoso, apesar de ser grotescamente mesquinho; não porque as contribuições para a Segurança Social sejam baixas, apesar de estarem entre as mais elevadas da Europa; e não porque iremos continuar por várias décadas numa profunda crise económica, mas mesmo se dela pudéssemos sair em breve.

A razão para o colapso do fraudulento sistema de Segurança Social é que, como já aconteceu com o Fórum Filatélico [link], a Afinsa [link] ou com Bernie Madoff [link], a sua base piramidal de receitas está a estreitar-se.

Afinal de contas, o Fórum, a Afinsa e Madoff desmoronaram-se quando não conseguiram continuar a enganar novos clientes para angariar o novo capital necessário para pagar os prometidos rendimentos extraordinários aos antigos investidores; analogamente, a Segurança Social está a desmoronar-se quando deixa de se poder alimentar do espólio de quase 40% do salário dos novos trabalhadores que nem sequer existem e que, por conseguinte, não podem cobrir as pensões daqueles outros trabalhadores que foram previamente espoliados e que hoje atingiram a idade de reforma.

Bernie Madoff
A situação, como digo, pode ter sido agravada e acelerada pela crise económica, mas a questão de fundo é outra. Na semana passada, o Instituto Nacional de Estatística reviu as suas projecções demográficas para Espanha entre 2013 e 2023, avançando números altamente preocupantes: segundo o INE, no prazo de uma década a Espanha perderá 2,6 milhões de habitantes, tanto pelo efeito da emigração como da exígua natalidade; de facto, a expectativa é que em 2017 - daqui a apenas quatro anos - o crescimento vegetativo [ou natural] entre em território negativo, ou seja, o número de mortes supere o de nascimentos. A longo prazo, a perspectiva é ainda mais sinistra: em 2050, teremos apenas um trabalhador por cada pensionista, e isto sob a generosa suposição de que nos encontraremos em pleno emprego.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Conspiracões versus coincidências

Sempre descartei com rapidez, fora das salas de cinema ou dos romances, as designadas teorias da conspiração, inclusive aquelas que me pareciam ultrapassar um limiar mínimo de credibilidade. Recentemente, várias leituras levaram-me por fim a aceitar perceber que, em certos casos (e não são tão poucos assim), a única alternativa a uma determinada "teoria da conspiração" é uma correspondente "teoria da coincidência".

Ontem, durante uma ida ao cinema para ver o último filme de Ridley Scott, “O Conselheiro” (fraquinho, fraquinho...), um dos personagens refere-se a um alguém (colectivo, creio) que não acreditava em coincidências pois nunca se tinha deparado com uma. Não chego tão longe, mas, sabendo-se que a probabilidade da ocorrência conjunta de muitos acontecimentos independentes entre si (só assim poderão ser considerados coincidências) é dada pelo produto das probabilidades de cada um deles, daí resulta necessariamente que o valor dessa probabilidade conjunta tende para algo próximo do infinitamente pequeno.

Deste modo, pelo menos em alguns casos, por baixa verosimilhança que se atribua a uma certa “teoria da conspiração” ela terá de ceder perante uma alternativa cuja probabilidade de ocorrência é infinitesimal (a correspondente “teoria da coincidência”). Assim, e pela aplicação cumulativa do princípio do terceiro excluído, só me resta adoptar o que antes descartava.

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Nota: a objecção mais eficaz contra a plausibilidade de uma qualquer vasta teoria da conspiração, talvez possa ser resumida numa pergunta: “Se ela fosse verdade, não surgiria necessariamente alguém que a denunciasse?”. No entanto, se nos lembrarmos, por exemplo, do Projecto Manhattan, iniciado em 1939, e onde estiveram envolvidas 130 mil pessoas, a resposta é: não necessariamente. Um outro exemplo que ocorre, que envolveu igualmente larguíssimas centenas de pessoas, foi o da decifração do principal código diplomático do Japão e de outros códigos militares navais ocorrida até ao final de 1940, e portanto disponíveis aquando do ataque a Pearl Harbor (7 de Dezembro de 1941), situação que se manteve até ao final da guerra no caso do código diplomático.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Contra-exegese do "ajustamento"

Envoltos num manto cada vez mais espesso de pensamento mágico/místico, enquanto constatamos a fragorosa queda daquele que se esperaria ser um dos seus mais fiéis Intérpretes na “Europa”, vimos assistindo, pelo Rectângulo e Adjacentes, à arregimentação nas hostes Crescimentistas de um conjunto de personalidades de “direita” mas indisputavelmente também do regime. Um grupo pequeno mas convenientemente mediatizado, que se insurge contra a “língua de pau” adoptada pelo poder vigente. A tarefa de proceder à sua exegese tem estado entregue a Pacheco Pereira (creio que por sua própria escolha). No essencial, ela consiste na “desmontagem” do eufemístico/“Gaspárico” vocábulo “ajustamento” para, de seguida, negar a inexistência de alternativas para o alcançar.

Quem por aqui passa com alguma regularidade, sabe bem que estou muito, muito longe de apoiar o governo em exercício, apesar do labéu neoliberal com que o carimbaram com tinta indelével, objectivo a que os media, sem uma única excepção assinalável, se têm dedicado com particular afinco. Não admirarei ninguém ao afirmar que não tenho nenhum tipo de reserva mental quanto à crítica ao formidável understatement contido no termo “ajustamento” (ou no binómio transitório/definitivo). Como não tenho nenhum problema em aceitar que existem de facto alternativas ao caminho adoptado por este governo (de resto com a prestimosa ajuda do Tribunal Constitucional, claro está).

A questão está em que a “alternativa” dos Crescimentistas não passa de mais uma perigosa ilusão que quanto mais tempo persistisse, mais agravaria a dor quando ela chegasse. Que acomodar o estilo de vida àquilo que se é capaz de produzir não é empobrecer mas sim, mais cedo ou mais tarde, percepcionar a realidade sem filtros ou palas. É acordar de um longo sonho entorpecedor para uma realidade que se pode tornar (tornou) um pesadelo. A alternativa, que a há, não passa por negar uma tão elementar mas crucial verdade.

De nada serve exorcizar a realidade. E se certamente seria útil identificar e culpar os principais responsáveis políticos que para aqui nos conduziram, creio não haver quaisquer ilusões que alguma vez tal se venha a verificar. A maioria dos portugueses continua convencida ser possível obter "algo a troco de nada". Não é. 

P.S. - Para aqueles que ficaram muito contentes com a "constitucional devolução" do subsídio de férias e 13º mês, atente-se que a receita do IRS está a crescer 30% face a 2012 pelo que cumprido foi o anunciado aumento "brutal" de impostos. E não obstante, vamos chegar ao final de 2013 com um défice orçamental a bordejar os 6% do PIB. Não há, mesmo, almoços grátis.

sábado, 16 de novembro de 2013

Dos autoproclamados e extenuantes sacrifícios dos governantes

Dei-me conta1 que um dos textos tipificados como "argumentativos" que, supostamente, ajudaria a preparar os alunos do 11º Ano para o estudo do intemporal Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira, é um discurso de Barack Obama, proferido em 12 de Setembro de 2009, na abertura do ano escolar. Desse discurso, extraí o seguinte excerto, nitidamente inspirado numa indígena criatura, também ela tecnologicamente parola, cujo-nome-não-estou-interessado-em-repetir, que creio merecer devida reflexão (meus realces):
"Estou a trabalhar duramente para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês."
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1No livro "Plural 11", da Raíz Editora, 1ª edição, 3ª reimpressão

sábado, 26 de outubro de 2013

Robert Murphy recebeu uma carta da sua seguradora

relativa ao seu seguro de saúde. Esta:


que lhe suscita a seguinte observação (minha tradução):
«Eu pensava que estava contente com o meu seguro de saúde, mas de certeza que estava enganado. É a única explicação. Em qualquer caso, mal posso esperar para conhecer todas as poupanças que vou conseguir ter com o meu novo seguro e com a maior cobertura [de riscos] que me vai proporcionar!»
Se o leitor acaso pensar que lhe estou a apresentar (mais) uma prova irrefutável da perversidade própria de toda e qualquer companhia de seguros, em particular se for norte-americana, convido-o a ver o seguinte vídeo e, de seguida, a eventualmente reponderar a sua primeira impressão:


(Adaptação do post de Robert P. Murphy)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Da inexistência de credibilidade das administrações americanas

Ontem, Peter Klein, escrevia a propósito da (falta de) credibilidade das alegações humanitárias (!?) da administração americana para justificar o bombardeamento, unilateral, na Síria (minha tradução):
"Os EUA têm que bombardear a Síria, dizem-nos, para manter a sua "credibilidade" no palco mundial. Eu não consigo entender isso. O governo dos EUA invadiu, ocupou e desestabilizou o Afeganistão e o Iraque. O Exército dos EUA usa bombas de fragmentação, de fósforo branco, e munições de urânio empobrecido, todos elas proibidas ou desencorajadas através de tratado ou convenção internacional. O Presidente apoia a execução extrajudicial, as extradições não judiciais e a tortura, todas elas proibidas pelas Convenções de Genebra. A NSA espia os seus próprios cidadãos, em violação da lei dos EUA, e nega esse facto até ser apanhada em flagrante. Que credibilidade é possível atribuir ao governo dos EUA?"
James Bovard, por seu lado, em "We can't trust White House Syria claims", e a propósito do celebérrimo massacre de oficiais polacos, perpetrado pelo exército vermelho, ocorrido durante a II GG na floresta de Katyn, em 1940, que só o ano passado, mais de 70 anos depois(!) e mais de 20 após o fim da Guerra Fria (!!), se soube oficialmente que os EUA tinham "abafado" a verdade, faz observar que, a nada acontecer que modifique o secretismo, aliás crescente, das administrações americanas, só em 2082 os EUA admitirão a verdade sobre o caso sírio.

Vejamos, então, recorrendo à história recente, e sem invocar inúmeros exemplos de operações de false flag, que viriam a "justificar" as pré-desejadas intervenções guerreiras pela administração imperial em exercício, "Dez ataques com armas químicas que Washington não que falemos". Segue-se uma tradução minha, parcial e adaptada, deste artigo de Wesley Messamore. As  imagens têm a mesma proveniência.

1 - As forças armadas dos EUA lançaram 75 milhões de litros de produtos químicos sobre o Vietname de 1962 a 1971


Durante a Guerra do Vietname, as forças armadas dos EUA pulverizaram as florestas e terras agrícolas do Vietname e países vizinhos com 75 milhões de litros de produtos químicos, incluindo o muito tóxico Agente Laranja, para deliberadamente destruir o abastecimento alimentar, arrasar a ecologia da floresta e devastar a vida de centenas de milhares de pessoas inocentes. O Vietname estima que em resultado de uma década de ataques químicos, 400 mil pessoas tenham sido mortas ou mutiladas, 500 mil bebés tenham nascido com problemas congénitos e 2 milhões tenham sido vítimas de cancro ou outras doenças. Em 2012, a Cruz Vermelha estimou que um milhão de pessoas no Vietname são deficientes ou têm problemas de saúde relacionados com o Agente Laranja. [E, todavia, como Patrick J. Buchanan, assinalava "Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?".]

2 - Israel atacou civis palestinianos com fósforo branco em 2008-2009


O fósforo branco é uma horrível arma química incendiária que faz derreter a carne humana até aos ossos.

Em 2009, múltiplos grupos de direitos humanos, incluindo o Observatório dos Direitos Humanos, a Amnistia Internacional e a Cruz Vermelha Internacional informaram que o governo israelita estava a atacar civis no seu próprio país com armas químicas. Uma equipa da Amnistia Internacional afirmou ter encontrado "provas irrefutáveis de utilização generalizada de fósforo branco" enquanto arma em áreas civis densamente povoadas. O Exército israelita negou as acusações no início, mas acabaria por vir a admitir que elas eram verdadeiras.

Após a série de acusações destas ONG, os militares israelitas chegaram mesmo a atingir o quartel-general da ONU (!), em Gaza, com um ataque químico. Que havemos de pensar de todas estas provas quando as comparamos com as do caso contra a Síria? Por que não tentou Obama bombardear Israel?

3 - Washington atacou civis iraquianos com fósforo branco em 2004


Em 2004, jornalistas "embebidos" nas forças armadas dos EUA no Iraque começaram a relatar a utilização de fósforo branco em Fallujah contra insurgentes iraquianos. Inicialmente, os militares mentiram e disseram que só estavam a usar fósforo branco para criar cortinas de fumo ou para iluminar alvos. Depois, admitiram ter usado o volátil produto químico como arma incendiária. À época, a emissora de televisão italiana RAI exibiu um documentário intitulado "Fallujah, o massacre escondido", que incluiu imagens sombrias de vídeo e fotografias, bem como entrevistas a testemunhas oculares residentes em Fallujah e a militares dos EUA que revelavam como o governo dos EUA fez indiscriminadamente chover fogo químico branco sobre a cidade iraquiana derretendo mulheres e crianças até à morte.

4 - A CIA ajudou Saddam Hussein a massacrar iranianos e curdos com armas químicas em 1988


Os registos da CIA provam agora que Washington sabia que Saddam Hussein estava a usar armas químicas (incluindo gás de nervos sarin e gás mostarda) na Guerra Irão-Iraque, no entanto, continuou a fornecer informações secretas ao exército iraquiano, informando Hussein dos movimentos das tropas iranianas sabendo que ele usaria essas informações para lançar ataques químicos. Em certo ponto no início de 1988, Washington advertiu Hussein para um movimento de tropas iranianas, que teria terminado a guerra com uma derrota decisiva para o governo iraquiano. Em Março um encorajado Hussein com novos amigos em Washington atingiu uma aldeia curda ocupada por tropas iranianas com múltiplos agentes químicos, matando cerca de 5 mil pessoas e ferindo pelo menos 10 mil mais, a maioria deles civis. Milhares de pessoas morreram nos anos seguintes de complicações, doenças e malformações congénitas.

(...)
7 - O FBI atacou homens, mulheres e crianças com gás lacrimogéneo em Waco, em 1993



No infame cerco em Waco de uma pacífica comunidade de Adventistas do Sétimo Dia, o FBI bombeou gás lacrimogéneo para dentro de edifícios sabendo que mulheres, crianças e bebés os ocupavam. O gás lacrimogéneo era altamente inflamável e acabou por dar origem a um incêndio que envolveu os edifícios em chamas levando à morte de 49 homens e mulheres e 27 crianças, incluindo bebés e crianças. De lembrar, que atacar um soldado inimigo armado num campo de batalha com bombas de gás lacrimogéneo é um crime de guerra. Que tipo de crime constitui um ataque contra um bebé com gás lacrimogéneo?

Ler o resto do artigo aqui.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Coincidências, mistificações e um pouco de história

Foi notícia, no dia de ontem, a declaração de John Kerry, Secretário de Estado de Obama, quando afirmou que "Assad has now joined Hitler and [Saddam] Hussein" pelo facto de, alegadamente, Bashar al-Assad ser o responsável pelo incidente com armas químicas (provavelmente gás sarin) que levou à morte de centenas de pessoas no passado dia 21 de Agosto.

Embora não haja notícia de que Hitler, nem outro qualquer beligerante, tenha usado armas químicas durante os combates na II Grande Guerra, no plano estratégico ou táctico, todos sabemos que quer o lado "bom" quer o "mau" não fez outra coisa na I GG. Mas o que talvez poucos saibam é que em 1920, e exactamente a propósito do Iraque, um dos que veio a ganhar o epíteto de "grande homem" propusesse coisas como esta: 
"I am strongly in favor of using poisoned gas against uncivilized tribes"

Tendo ontem decorrido o 74º aniversário do início da II Grande Guerra, com a invasão da Polónia por parte dos exércitos nazis, é talvez oportuno que nos perguntemos por que razão a utilização de armas químicas (ausentes, repito, da II GG) é moralmente mais repugnante que aquelas outras de fósforo branco ou de napalm que nela foram extensa e intensivamente utilizadas, na Europa e no Japão (já não falando das duas bombas atómicas detonadas), para arrasar cidades inteiras e exterminar, às dezenas de milhar, os seus habitantes civis (Hamburgo, Dresden, Tóquio, etc.). É aliás muito curioso que o morticínio sistemático, a uma escala anteriormente desconhecida de populações civis através de bombardeamentos, não tenha sido considerado crime de guerra durante os julgamentos em Nuremberga.

Certas indignações selectivas que por aí se ouvem, particularmente as que ocorrem nos meios tidos por "progressistas", deveriam ser contrastadas com o que os EUA, com presidentes democratas e republicanos, fizeram na Indochina durante a guerra do Vietname com o "agente laranja", com os efeitos conhecidos em número de vítimas mortais, incontáveis estropiados e centenas de monstruosidades geneticamente induzidas pelos químicos. Ou na aplicação intensiva e extensiva de uma das inovações dos finais da II Grande Guerra que ficou imortalizada na famosa fala de Robert Duvall no filme de Francis Ford Coppola, Apolypse Now: "I love the smell of napalm inthe morning".