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sábado, 28 de abril de 2018

Vislumbre do Mal

"Então para si, só conta o lado moral da questão?"

Esta pequena pérola mostra em segundos o que, durante décadas, muitos evitam ver e outros tentam esconder. Evitar reconhecer as ramificações, as derivações e as esferas por onde se projectam o poder dos estados e de interesses especiais no seio dele (neste caso, claro, através dos meios de comunicação convencional) torna-se mais difícil. Deveria ser suficiente para promover uma "reacção popular" (notem-se as aspas) semelhante às que vamos assistindo globalmente acerca de questões de natureza e origem mais duvidosa.
Este vídeo é uma revelação da natureza de todo o sistema de poder. Em particular nos países que asseguram para si o estatuto de excepção no exercício do poder global, exibindo-se como paradigma de sociedades livres e justas.
Não reconhecer a extensão deste Mal é, só por si, participar dele.

Sem mais demoras, convidamos os leitores a ver o vídeo.


terça-feira, 19 de abril de 2016

Novos indisciplinados?


Muita tinta se tem dedicado à condução da realidade económica global. Isso é particularmente evidente na contenção e reorientação dos movimentos do preço do petróleo. 
Como em outros tempos, o número de intervenientes no jogo global a este respeito aumentou com o recente descongelamento do Irão. Se a isso juntarmos uma encruzilhada muito congestionada na Ásia emergente, então o desenrolar da peça fica mais congestionado. De mais difícil antecipação.
E o Irão a reorganizar as dinâmicas das alianças dos seus inimigos, juntando do outro lado da mesa um estranho grupo - Venezuela, EUA e Arábia Saudita (só para citar alguns). 
Delicioso. E pedagógico.

terça-feira, 17 de março de 2015

Quem de facto combate o Estado Islâmico no terreno

Foram as constantes interferências de ordem externa que transformaram grande parte do Médio Oriente no atoleiro letal que hoje conhecemos. Primeiro, pelo retalhar da história e geografia milenar através da criação de fronteiras totalmente arbitrárias após o fim do império Otomano. Depois, porque o controlo da incrível riqueza em petróleo da zona tudo justificava. Um dos marcos desse intervencionismo foi o golpe que em 1953 depôs o democraticamente eleito Mohammed Mossadegh no Irão e instalou no trono Reza Pahlavi (uma "teoria da conspiração" finalmente reconhecida pela CIA, 60 anos depois). Em 1979, com a fuga do Xá e a instalação de um regime para-teocrático, o Irão passou a ser demonizado, guerreado, ostracizado, e sujeito a pesadas sanções económicas. Com o apoio explícito dos EUA - logístico, militar e de informações - Saddam Hussein atacou o Irão (também com armas químicas que, como a CIA igualmente confirmaria, eram do perfeito conhecimento americano), daí resultando uma guerra que durou oito anos (1980-1988) e causou 400 mil mortos. Com George W. Bush, o Irão foi catalogado como pertencente a um "eixo do mal" que tem persistido até hoje, reforçado com novos membros. Como os neocons nunca esconderam, o Irão é o "grande prémio".

Não deixa portanto de ser irónico que da 2ª guerra do Iraque tenha resultado um fortalecimento de facto da posição estratégica do Irão, ou, talvez melhor, do Islão xiita. Como não deixa de ser do domínio do factual que são os xiitas, e em particular Assad (aqui, numa entrevista recente à RTP), quem de facto tem combatido no terreno essa entidade difusa que dá pelo nome de Estado Islâmico bem como as diversas declinações da Al-Qaeda na região como é o caso da Frente al Nusra. É esta a leitura, lúcida e serena como é habitual, que Pat Buchanan faz da situação actual ao deflectir a retórica tonitruante dos neocons e de Netanyahu, também preocupado com a sua própria sobrevivência no poder em Israel, que tudo estão a fazer para torpedear as negociações em curso com o Irão relativas ao seu programa nuclear.

10 de Março de 2015
Por Patrick J. Buchanan


Patrick J. Buchanan
América, temos um problema.

No sangrento e caótico Médio Oriente, salvo raras excepções como a dos curdos, os nossos amigos ou não conseguem ou não querem combater.

O Exército Livre da Síria claudicou. As forças do movimento Hazm na Síria, armadas pelos Estados Unidos, desmoronaram-se depois de serem alvo da perseguição pela Frente al Nusra. O exército iraquiano, treinado e equipado por nós, fugiu de Mosul em grande debandada até Bagdad. Os turcos poderiam aniquilar o ISIS na Síria, mas não irão combater. A Arábia Saudita e os países árabes do Golfo enviaram zero militares para combater o ISIS. Ficaram-se por um punhado de ataques aéreos.

Consideremos agora o que os nossos velhos inimigos já fizeram e estão a fazer.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

As conexões sauditas no 11 de Setembro

Praticamente logo após os atentados de 11 de Setembro, circularam intensos rumores quanto a uma alegada (e estreita) ligação de membros da elite saudita que, através de apoio logístico, e sobretudo financeiro, teriam apoiado (tornado possível?) aquela operação terrorista. Este era um elo que começava por surgir como natural já que 15 dos 19 piratas do ar eram nacionais do país governado pela Casa de Saud. Desde muito cedo (antes mesmo da formação da oficial Comissão de Inquérito aos acontecimentos - 2002) que familiares das vítimas fizeram sentir as suas suspeições nessa direcção. E a caminho dos quinze anos passados sobre o sucedido, o certo é que continuam classificadas como secretas 28 páginas do relatório oficial as quais, precisamente, se crê evidenciarem essa conexão. A isto acrescem as acusações da semana passada provenientes de Zacarias Moussaoui que até mesmo o New York Times entendeu destacar. Emprestando todo o seu envolvimento jornalístico de longa data, no terreno, no mundo islâmico, Eric Margolis elabora sobre a verosimilhança das acusações de Moussaoui recuando para isso ao tempo em que conheceu pessoalmente um dos fundadores da Al-Qaeda. É um artigo informativo, pleno de pormenores relevantes para um maior entendimento sobre o reino saudita ou, melhor, sobre a razão de ser dos comportamento da dinastia de Saud.

Votos de uma excelente semana!

7 de Fevereiro de 2015
Por Eric Margolis


Desde 2001 que circulam alegações do envolvimento da Arábia Saudita nos ataques à América do 11 de Setembro. Os sauditas têm negado qualquer envolvimento muito embora 15 dos 19 piratas do ar fossem cidadãos sauditas.

Eric Margolis
Esta semana, as alegações de envolvimento saudita reacenderam-se quando um dos homens condenados pelos ataques de 11 de Setembro, Zacarias Moussaoui, reafirmou aquelas acusações. Moussaoui, que está numa prisão de segurança máxima nos EUA, acusa príncipes e altos funcionários sauditas de terem financiado os ataques do 11 de Setembro e outras operações da Al-Qaeda. Ele talvez tenha sido torturado e tem problemas mentais.

Entre os sauditas que Moussaoui nomeou estão o príncipe Turki Faisal e o príncipe Bandar bin Sultan, dois dos homens mais poderosos e influentes do reino. Turki foi chefe da inteligência saudita; Bandar foi embaixador em Washington durante a administração Bush.

Estas acusações surgem num momento em que decorre em Washington uma luta furiosa pela (não) divu, lgação das páginas secretas do relatório da Comissão de Inquérito aos ataques do 11 de Setembro que supostamente implicam a Arábia Saudita. A Casa Branca alega que a divulgação do relatório seria embaraçante e prejudicaria as relações entre os EUA e a Arábia Saudita.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Energia - um prémio histórico

Nos meios de comunicação convencionais, os conflitos de que vamos tendo conhecimento são compreendidos, grosso modo, através do sublinhado dos aspectos culturais ou religiosos (ou ambos) neles presentes. No entanto, importa ter presente que as sublevações e conflitos da Ucrânia ao Iraque e à Síria, passando pelo Egipto e a Líbia, não podem ser completamente compreendidos sem ter em conta as suas raízes na tentativa de garantir acesso à energia, garantindo a sua produção, valorização e transporte. Julgo que ganharíamos muito na análise do tempo presente incluindo as variáveis correctas, neste caso a energia, especialmente, o petróleo (mesmo se outras fontes, presentemente, são variáveis relevantes do GNL ao atómico). Com realismo e enquadramento histórico estabelecido.
A série produzida pela PBS que aqui se recomenda conta com a presença de muitos dos grandes agentes que escreveram a história e a diplomacia energética do século XX e estão, também, a escrever a de hoje. São oito os episódios desta série que se baseia no livro de Daniel Yergin "The Prize". Seleccionaram-se os episódios três e cinco, mas toda a série é muito rica em informação acerca da história mundial do petróleo e da energia. Bem como das consequências - igualmente mundiais - da diplomacia levada a cabo em seu nome.
Do conhecimento da história pessoal de Gulbenkian, de Teagle, das suas diligências no mundo do petróleo, da criação de uma "ponte aérea" (Aramco) para o transporte de ouro em pagamento do petróleo exportado da Arábia Saudita, o papel da URSS, os irmãos Nobel.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O inimigo do meu inimigo tornou-se inimigo do meu amigo

A incapacidade de reconhecer os erros cometidos e assumir as respectivas responsabilidades é uma característica excessivamente comum nos políticos para reduzir estas declarações de Tony Blair a um mero caso do foro psiquiátrico. A mentira das "armas de destruição maciça" não foi no essencial diferente - à excepção, talvez, da sua escala - dos "incidentes" do Golfo de Tonkin, da explosão a bordo do USS Maine no porto de Havana ou do bombardeamento do Fort Sumter entre inúmeros outros exemplos. Mas a História ensina-nos que os Impérios não são eternos e, a meu ver, os acontecimentos recentes no Iraque são já extremamente parecidos com a última fase da guerra do Vietname (que começou com os franceses, recorde-se). Por muitas "linhas vermelhas" que se tracem (em caso de conveniência, já se vê). E não é que não tenha havido avisos prévios do que aí viria (um bom exemplo de avivar de memória pode ser lido aqui).

Com tradução de minha responsabilidade (tal como as imagem e os links introduzidos), o texto abaixo de Eric Margolis fornece uma narrativa que, infelizmente sem surpresa, não encontro eco nem nos media nem na blogosfera portuguesa. Também aqui as pistas para o que está a suceder no Médio Oriente remontam aos tempos da I Guerra Mundial e às maquinações imperiais das "Grandes Potências".
14 de Junho de 2014
Por Eric Margolis

Iraque: o caos todo-poderoso

Eric Margolis
O falecido Saddam Hussein tinha realmente razão quando previu que a invasão americana do Iraque se iria tornar na "mãe de todas as batalhas". Onze anos depois, a batalha continua.

Nesta semana, assistimos ao colapso de duas divisões do exército governamental do Iraque, 30 mil homens correndo como galinhas diante do avanço implacável dos combatentes do ISIS - Estado islâmico do Iraque e do Levante (Síria). O mesmo exército fantoche que foi treinado e equipado durante uma década pelos EUA pela soma de 14 mil milhões de dólares. Um mau augúrio para aquilo que aguarda o exército e a polícia do Afeganistão, também eles criados pelos EUA.

Recordam-se de quando o presidente George W. Bush se vangloriava da "missão cumprida"? Não foi o malévolo Saddam Hussein linchado pelos aliados xiitas dos EUA? Não foi a temida Al-Qaeda derrotada e o seu líder, Osama bin Laden, assassinado? Recordam-se de todo aquele palrar proveniente de Washington para "drenar o pântano" no Iraque?

Logo que os EUA derrubam um desafiante ao seu domínio no Médio Oriente - aquilo que chamo de American Raj - há outro que se ergue. O mais recente: o ISIS, uma feroz força jihadista que agora controla grandes parcelas da Síria e do Iraque.

domingo, 8 de setembro de 2013

A intervenção militar americana na Síria: Cui bono?

Num esforço continuado, revelador de uma energia aparentemente inesgotável, o Ron Paul Institute for Peace and Prosperity, fundado há uns meses atrás e dedicado à análise das matérias de política externa, tornou-se rapidamente numa referência para a concentração de esforços, numa lógica não partidária, para todos aqueles que acham que é imperioso pôr fim ao aventureirismo bélico americano pelos quatro cantos do mundo e, muito em particular, no Médio Oriente. Foi lá que ontem encontrei uma peça, a que atribuo grande credibilidade pela lista dos subscritores do "Memorando", e que me levou a fazer o esforço de o traduzir numa matéria que não me é suficientemente familiar. Porquê conferir credibilidade a ex-espiões, ou pelo menos a ex-insiders (link), perguntarão. Bem, entre outras razões socorro-me do relato de Daniel Ellsberg, na sua Memória sobre o Vietname e sobre os Papéis do Pentágono (livro ainda na vitrina), onde ele pôde constatar, a começar por si próprio, que os analistas profissionais do seu tempo, que trabalhavam para as sucessivas administrações americanas, convergiam praticamente todos na conclusão pela futilidade da intervenção americana no Vietname e, em particular, da escalada da guerra por Lyndon Johnson e Richard Nixon (como antes por JFK). Os políticos, esses, tinham porém planos próprios, impermeáveis à análise e à informação proveniente dos serviços de intelligence. Vejo muitos paralelos com a situação presente relativamente à Síria.

Os Profissionais de Intelligence Veteranos para a Sanidade [VIPS na sigla em inglês] emitiram um memorando dirigido ao presidente Obama desafiando directamente as alegações da sua administração sobre a utilização pela Síria de armas químicas:

MEMORANDO PARA: O Presidente

DE: Profissionais de Intelligence Veteranos pela Sanidade (VIPS)

ASSUNTO: Será a Síria uma armadilha?

Prioridade: IMEDIATA

Lamentamos informá-lo que alguns dos nossos antigos colegas de trabalho nos estão a dizer, de forma categórica, que contrariamente às afirmações da sua administração, as informações mais credíveis mostram que Bashar al-Assad não foi responsável pelo incidente químico que matou e feriu civis sírios em 21 de Agosto, e que os funcionários dos serviços secretos britânicos também sabem que assim foi. Ao escrever este breve relatório, optámos por assumir que V. não tenha sido plenamente informado porque os seus conselheiros decidiram dar-lhe a oportunidade daquilo que é comummente conhecido como "desmentido plausível".

Nós já enveredámos por este caminho noutra ocasião - com o presidente George W. Bush, a quem dirigimos os nossos primeiros memorandos VIPS, imediatamente após Colin Powell, no discurso que proferiu na ONU, a 5 de Fevereiro de 2003, em que impingiu "intelligence" fraudulenta para sustentar o ataque ao Iraque. Na altura, optámos também por dar ao presidente Bush o benefício da dúvida, pensando que ele estava a ser enganado - ou, no mínimo, muito mal assessorado.

A detecção da natureza fraudulenta do discurso de Powell não exigia particular inteligência. E assim, naquela mesma tarde, instámos veementemente o V. antecessor que "ampliar a discussão para além... do círculo daqueles conselheiros que se inclinam de forma evidente para uma guerra para a qual não vemos nenhuma razão convincente e da qual acreditamos que as consequências não intencionais poderão vir a ser catastróficas". Nós oferecemos-lhe o mesmo conselho hoje.

As nossas fontes confirmam que um incidente químico de algum tipo causou de facto mortos e feridos no dia 21 de Agosto, num subúrbio de Damasco. Elas insistem, no entanto, que o incidente não foi o resultado de um ataque do Exército [regular] Sírio utilizando armas químicas do seu arsenal. Esse é o facto mais saliente, de acordo com agentes da CIA que trabalham no tema da Síria. Dizem-nos que o director da CIA, John Brennan, está a perpetrar uma fraude do tipo pré-guerra-do-Iraque junto dos membros do Congresso, dos media, e do público - e talvez até mesmo junto de si.

sábado, 7 de setembro de 2013

Mas afinal de quem é esta guerra?

É a pergunta que Patrick J. Buchanan formula em mais um artigo em que defende vigorosamente a auto-exclusão dos EUA de um envolvimento na guerra civil Síria que grassa há mais de dois anos - "Just Whose War Is This?". Neste artigo, Buchanan foca importante aspectos internos dos EUA que raramente são focados. A tradução, como habitualmente, é da minha responsabilidade.
"Na Quarta-feira [dia 4 de Setembro], John Kerry disse ao Senado para não se preocupar com o custo de uma guerra americana na Síria.

Os sauditas e os árabes do Golfo, confortados com um rotundo barril de petróleo, vendido aos consumidores americanos a 110 dólares, irão pagar a conta dos mísseis Tomahawk.

Será que chegámos a isto - soldados, marinheiros, fuzileiros e aviadores norte-americanos, agindo como mercenários de sheiks, sultões e emires, quais Hessianos [mercenários de Hessen, Alemanha] da Nova Ordem Mundial, contratados para levar a cabo a matança pelos sauditas e pela realeza sunita?

Ontem [5ª feira], também, surgiu um relatório espantoso no Washington Post.

A Conferência dos Presidentes das Principais Organizações Judaicas Americanas [link] juntou-se com o lobby israelita AIPAC [link] numa campanha pública a todo o gás em favor de uma guerra dos EUA contra a Síria.

Marvin Hier do Centro Simon Wiesenthal e Abe Foxman da Liga Anti-Difamação invocaram o Holocausto, tendo Hier acusado os EUA e a Grã-Bretanha de não terem conseguido salvar os judeus em 1942.

No entanto, se a memória for útil, em 1942 os britânicos estavam a combater Rommel no deserto e os americanos recolhiam ainda os seus mortos em Pearl Harbor e morriam em Bataan e Corregidor.

A Coligação Judaica-Republicana, também financiada por Sheldon Adelson, o magnata do casino de Macau, cuja preocupação pelas crianças que sofrem na Síria é uma espécie de lenda, está também a apoiar a guerra de Obama.

Adelson, que desembolsou 70 milhões de dólares para derrubar Barack, quer a sua recompensa - a guerra à Síria. E ele está a consegui-la. O Presidente da Câmara dos Representantes, John Boehner, e o líder da maioria, Eric Cantor, já a saudaram e nela se alistaram. Sheldon, o mais rico de todos os ricos financiadores políticos, está a comprar uma guerra para si próprio.

E todavia, será realmente inteligente que organizações judaicas coloquem um selo judeu numa campanha para arrastar a América para uma guerra que a maioria de seus compatriotas não quer travar?

sábado, 31 de agosto de 2013

A mentira, a plasticidade da "prova" e a política do bombardeamento

Ontem, a Casa Branca fez divulgar um documento de 4 páginas onde foram apresentadas "provas" de que foi o regime de Assad quem levou a cabo a autoria do ataque químico no passado dia 21 de Agosto na Síria,nos arredores de Damasco. Este é o excerto relevante (tradução minha):
"Identificámos cem vídeos relativos ao ataque, muitos dos quais mostram um grande número de corpos que apresentam sinais físicos consistentes, ainda que não exclusivamente, com a exposição a agente de gás de nervos. Segundo o relato de vítimas, os sintomas incluíam perda de consciência, emissão de espuma pelo nariz e pela boca, pupilas contraídas, taquicardia e dificuldade em respirar. Vários dos vídeos mostram o que parecem ser numerosas vítimas mortais sem ferimentos visíveis, o que é consistente com a morte provocada por armas químicas, e inconsistente com a morte provocada por armas ligeiras, por munições de alto poder explosivo ou por agentes vesicantes. Há pelo menos 12 localizações distintas nos vídeos publicamente disponíveis, e uma amostragem desses vídeos confirmou que alguns deles foram filmados nas horas e locais descritos nas imagens. Consideramos que a oposição síria não tem a capacidade para forjar todos estes vídeos, bem como os sintomas físicos verificados por pessoal médico, ONGs e outras informações associadas a este ataque químico."
Temos assim que, nas palavras da própria administração americana, os EUA e a França (antiga potência colonial na zona, uma coincidência curiosa com o Vietname) do petit homme, outorgando-se a si próprios o direito de representação de uma "comunidade internacional" ainda mais exígua com a saída forçada de Cameron do elenco, estão prestes a bombardear a Síria e, com isso, a escalar um conflito para dimensões impossíveis de prever. Para isso, julgam suficientes 100 vídeos do YouTube ("publicamente disponíveis") pois, segundo a administração americana, os rebeldes (quais deles?) não teriam condições (técnicas? logísticas) para os forjar!! Nestas circunstâncias, não é de admirar que Vladimir Putin esteja a surgir como um improvável paladino da promoção da liberdade!!

Portanto, o futuro do Médio Oriente e, não é de excluir, mesmo o de todo o mundo, joga-se no YouTube e na (in)capacidade de produção e realização de vídeos. Extraordinário! Mas, se assim é, e já sem falar daquele onde se pode observar o esquartejamento de cadáveres dos oponentes para lhes comer as vísceras, por que não considerar estes outros que sugerem exactamente o envolvimento dos rebeldes e aliados dos EUA nesta história das armas químicas (para além dos democratíssimos sauditas e qataris)? Aliás, não seria a primeira vez que tal aconteceria este ano...

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A escalada da tragédia síria

Obama Escalates Syria’s Civil War é o título de mais um dos lúcidos artigos de Patrick J. Buchanan contra a tentação (e a prática) imperial dos EUA que resultou da instalação dos neocons nos corredores do poder. Não há - e de há muito que sabe ser assim - qualquer diferença na política externa (e interna) de Obama face à de George W. Bush. Só palas partidárias e uma cegueira e surdez incuráveis podem impedir esse reconhecimento (veja-se, por exemplo, esta notícia de ontem, esta outra de há uns dias ou ainda esta, em versão "animal feroz" na ausência de teleponto).

A "guerra ao terror" de Bush (na realidade, começada ainda por Clinton no Afeganistão) deu nisto: US drops demand Taliban renounce al-Qaeda to allow talks to progress e Afeganistão rompe negociações com os Estados Unidos. Não admira que Obama não se preocupe com a presença em força de terroristas entre os rebeldes que decidiu agora (como antes na Líbia) ajudar directamente com armas. Em nome de quê? Em nome de quê? Ou será que alguém acredita nisto? Se há, que reflicta nesta asserção famposa de Benjamin Franklin: "Those who would give up essential liberty to purchase a little temporary safety deserve neither liberty nor safety."

A tradução, algo livre, do artigo de Pat Buchanan é da minha responsabilidade.
Barack Obama acaba de dar os seus primeiros passos numa guerra na Síria que podem definir e destruir a sua presidência.

Na quinta-feira, enquanto festejava com os foliões LGBT o Mês do Orgulho Gay, um funcionário, Ben Rhodes, informou a imprensa na Casa Branca que irão ser fornecidas aos rebeldes sírios armas americanas.

Durante dois anos, Obama manteve-se fora desta guerra sectária/civil que já consumiu 90 mil vidas. Por que está entrando nela agora?

A Casa Branca alega ter agora provas que Bashar Assad usou gás sarin para matar 100-150 pessoas, desta forma ultrapassando uma "linha vermelha" que Obama tinha estabelecido como factor de "mudança de jogo". Desafiado, com a credibilidade contestada, ele tinha que fazer alguma.

No entanto, a alegada utilização por Assad de gás sarin para justificar a intervenção dos EUA, mais parece constituir um pretexto para entrar na guerra que uma racionalização para nela participar.

Porque a Casa Branca decidira intervir semanas atrás, antes da utilização do gás sarin ter sido confirmada. E por que razão teria Assad usado apenas minúsculos vestígios? Onde está a evidência fotográfica dos mortos desfigurados?

Que provas temos de que não foram os rebeldes que forjaram a utilização de gás sarin ou que o usaram eles próprios para conseguir que os crédulos americanos entrassem na sua guerra?

E todavia, por que razão o Presidente Obama, cuja orgulhosa jactância assenta na promessa de que ele nos irá desemaranhar das guerras do Afeganistão e do Iraque, tal como Dwight Eisenhower com a Guerra da Coreia, iria mergulhar-nos numa nova guerra?

Ele tem estado sob severa pressão política e internacional para fazer algo depois de Assad e o Hezbollah terem recapturado a cidade estratégica de Qusair e começado a preparar-se para recapturar Aleppo, a maior cidade.

Caso Assad tenha sucesso, isso significaria uma derrota decisiva para os rebeldes e seus apoiantes: os turcos, os sauditas e qataris. E isso significaria uma vitória geoestratégica para o Irão, o Hezbollah e a Rússia, que provaram constituir aliados confiáveis.

Para evitar essa derrota e humilhação, vamos agora enviar armas e munições para manter o controlo dos rebeldes sobre território suficiente para negociar uma paz que venha a remover Assad.

sábado, 15 de outubro de 2011

Teerão vs Ryad

Tehran v. Riyadh:

[T]o shed some new light on the scorn currently being heaped on Iran’s odious regime, let us remember that it is America’s strategic ally—the Kingdom of Saudi Arabia—that remains one of the most oppressive regimes in the Middle East. And as much as folks are fulminating over Tehran’s support for terrorism, in reality it is donors in Saudi Arabia who constitute the most significant source of funding to terrorist groups worldwide.