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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Como lidar com os génios da lâmpada iranianos?

Com a recusa do Reza Khan em adoptar um estatuto de país "neutral" colaborante para com os Aliados durante a II Guerra Mundial, britânicos e soviéticos invadiram o Irão em Agosto de 1941. A ideia era tomar o controlo do que ficou conhecido como o "Corredor Persa", servido pela linha de caminho-de-ferro trans-iraniana, ligando o Golfo Pérsico ao Mar Cáspio. O xá foi obrigado a abdicar em favor do seu filho Mohammad Reza Pahlavi cuja atitude foi bem mais colaborante (declararia guerra à Alemanha em Setembro de 1943). Ficava assim assegurada uma rota para o fornecimento de petróleo à Grã-Bretanha e para o abastecimento, especialmente de armas, à União Soviética. A interferência estrangeira no país, incessante pelo menos desde o início do século XX, ajudou a propagar os sentimentos nacionalistas, em particular, a percepção de uma grande injustiça na partilha dos lucros da exploração do seu principal recurso natural - o petróleo - dominada por interesses britânicos na então designada Companhia Anglo-Iraniana do Petróleo. Os britânicos recusaram ceder uma partilha a 50%-50% (como então acontecia no reino saudita) e, em Março de 1951, as duas câmaras do congresso iraniano decretaram a nacionalização do sector. No mês seguinte, o muito popular Mohammad Mossadegh, que tinha tido um importante papel naquela decisão no parlamento, foi eleito primeiro-ministro e empossado pelo xá. Os britânicos, entretanto, vendo os seus interesses afectados viriam a pedir ajuda aos "primos", que não se fizeram rogados. As autoridades americanas, onde então pontificavam os dois irmãos Dulles (John Foster, secretário de Estado e Allen, director da CIA) sob Eisenhower, meteram mãos à obra (após um primeiro sucesso na Guatemala) e, em seguida a uma primeira tentativa falhada, à segunda dar-se-ia o sucesso da "Operação AJAX", como a própria CIA iria reconhecer em documentos desclassificados em 2013. Pela sua "intermediação", os EUA reservaram para as suas petrolíferas 40% da "nova" Companhia Nacional Iraniana dos Petróleos, restando 40% para as britânicas (a BP nasceria nesta altura) e 20% para outras companhias europeias. Mossadegh tinha sido por sua vez sido deposto num golpe (Agosto de 1953) e detido em prisão domiciilária até ao fim dos seus dias. Os britânicos aperceberam-se tarde demais que teriam feito melhor em ter aceitado o que lhes tinha sido proposto inicialmente. Seguiram-se 26 anos tirânicos de "modernização dirigida" (com a segurança possibilitada pela selvática SAVAK) segundo, assim  se alegava, os padrões ocidentais. Quando, na sequência da Revolução Islâmica de 1979, o xá foge do país, ninguém o quer receber de bom grado, nem sequer os EUA. Em paralelo, decorria a crise dos reféns americanos (que, provavelmente, ditou o desfecho da disputa ente Jimmy Carter e Ronald Reagan negando ao primeiro o segundo mandato). Em 1980, o Iraque invade o Irão assim se iniciando uma longa carnificina que duraria oito anos. Os americanos intervieram abertamente ao lado de Saddam Hussein ao longo de toda a guerra. Esta terminaria em Agosto de 1988, inconclusiva. Em Julho desse mesmo ano, o navio americano Vincennes derrubou (acidentalmente, crê-se) com um míssil um avião civil iraniano tendo daí resultado a morte dos seus 290 ocupantes. George H. Bush declararia na altura: "Eu nunca pedirei desculpa pelos Estados Unidos. Nunca. Não quero saber dos factos para nada."

Já vai longa a introdução, mas pareceu-me relevante dar algum contexto histórico prévio, porventura menos conhecido por alguns leitores, ao artigo de Eric Margolis cuja leitura vos proponho hoje. Um artigo cujo conteúdo se afasta em muito da narrativa incessantemente "martelada" pelos media convencionais.
11 de Abril de 2015
Por Eric Margolis


O acordo alcançado em Lausanne, na Suíça, pelo Irão e cinco potências lideradas pelos EUA, aparenta dizer respeito à capacidade nuclear.

Eric Margolis
Na verdade, o tema real em questão não foi o das armas nucleares, que o Irão não possui, mas antes o potencial poder geopolítico do Irão.

O Irão, um país de 80,8 milhões de habitantes, foi, como o génio da história, fechado numa lâmpada pelas sanções impostas por uma coligação liderada pelos EUA desde a revolução islâmica de 1979, que depôs o corrupto regime monárquico de Reza Pahlavi. O Xá tinha sido devidamente instruído para ser o guardião dos EUA no Golfo.

Mais de uma dúzia de tentativas americanas para derrubar o governo islâmico em Teerão redundaram num fracasso. Washington recorreu à sabotagem e à guerra económica, tentou estrangular as principais exportações do Irão, petróleo e gás, desestabilizar o seu sistema bancário, e impedir as importações do que quer que fosse, de máquinas a vitaminas.

terça-feira, 17 de março de 2015

Quem de facto combate o Estado Islâmico no terreno

Foram as constantes interferências de ordem externa que transformaram grande parte do Médio Oriente no atoleiro letal que hoje conhecemos. Primeiro, pelo retalhar da história e geografia milenar através da criação de fronteiras totalmente arbitrárias após o fim do império Otomano. Depois, porque o controlo da incrível riqueza em petróleo da zona tudo justificava. Um dos marcos desse intervencionismo foi o golpe que em 1953 depôs o democraticamente eleito Mohammed Mossadegh no Irão e instalou no trono Reza Pahlavi (uma "teoria da conspiração" finalmente reconhecida pela CIA, 60 anos depois). Em 1979, com a fuga do Xá e a instalação de um regime para-teocrático, o Irão passou a ser demonizado, guerreado, ostracizado, e sujeito a pesadas sanções económicas. Com o apoio explícito dos EUA - logístico, militar e de informações - Saddam Hussein atacou o Irão (também com armas químicas que, como a CIA igualmente confirmaria, eram do perfeito conhecimento americano), daí resultando uma guerra que durou oito anos (1980-1988) e causou 400 mil mortos. Com George W. Bush, o Irão foi catalogado como pertencente a um "eixo do mal" que tem persistido até hoje, reforçado com novos membros. Como os neocons nunca esconderam, o Irão é o "grande prémio".

Não deixa portanto de ser irónico que da 2ª guerra do Iraque tenha resultado um fortalecimento de facto da posição estratégica do Irão, ou, talvez melhor, do Islão xiita. Como não deixa de ser do domínio do factual que são os xiitas, e em particular Assad (aqui, numa entrevista recente à RTP), quem de facto tem combatido no terreno essa entidade difusa que dá pelo nome de Estado Islâmico bem como as diversas declinações da Al-Qaeda na região como é o caso da Frente al Nusra. É esta a leitura, lúcida e serena como é habitual, que Pat Buchanan faz da situação actual ao deflectir a retórica tonitruante dos neocons e de Netanyahu, também preocupado com a sua própria sobrevivência no poder em Israel, que tudo estão a fazer para torpedear as negociações em curso com o Irão relativas ao seu programa nuclear.

10 de Março de 2015
Por Patrick J. Buchanan


Patrick J. Buchanan
América, temos um problema.

No sangrento e caótico Médio Oriente, salvo raras excepções como a dos curdos, os nossos amigos ou não conseguem ou não querem combater.

O Exército Livre da Síria claudicou. As forças do movimento Hazm na Síria, armadas pelos Estados Unidos, desmoronaram-se depois de serem alvo da perseguição pela Frente al Nusra. O exército iraquiano, treinado e equipado por nós, fugiu de Mosul em grande debandada até Bagdad. Os turcos poderiam aniquilar o ISIS na Síria, mas não irão combater. A Arábia Saudita e os países árabes do Golfo enviaram zero militares para combater o ISIS. Ficaram-se por um punhado de ataques aéreos.

Consideremos agora o que os nossos velhos inimigos já fizeram e estão a fazer.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Pat Buchanan: Depois de 58 mil mortos, saímos do Vietname. Quantos americanos mataram os vietnamitas desde que partimos?

É com esta simples pergunta, que roubei para título do post, que termina mais um lúcido artigo de Patrick J. Buchanan - To Stop al-Qaeda, Stop Bombing & Occupying Muslim Lands. A tradução é minha.

ACTUALIZAÇÃO: afinal, parece que a ameaça global terrorista se circunscreve ao Iémen.
Aparentemente, a ameaça é séria e específica.

Os Estados Unidos ordenaram o fecho de 22 missões diplomáticas e emitiram um alerta mundial para os cidadãos norte-americanos em viagem.

A ameaça vem da Al-Qaeda na Península Arábica (a AQPA), o ramo mais letal da organização terrorista.

"Depois de Benghazi", disse o senador Lindsey Graham (Republicano, da Carolina do Sul), "esses elementos da Al-Qaeda estão realmente 'sob esteróides' e pensam que nós estamos mais fracos e que eles estão mais fortes. (...)

"Eles querem expulsar o Ocidente do Médio Oriente e tomar o poder nesses países muçulmanos e criar uma entidade religiosa à imagem da Al-Qaeda (...) e, se nós alguma vez mordermos o isco e tentarmos voltar para casa e transformar a América numa fortaleza, haverá outros 11 de Setembro."

Na momento em que esta coluna for publicada, a América poderá já ter sido atingida. E no entanto, não será já tempo de colocar a Al-Qaeda em perspectiva e examinar se a nossa política no Médio Oriente está a criar mais terroristas do que aqueles que estamos a matar?

Em 2010, a América perdeu 15 cidadãos devido ao terrorismo. Treze deles morreram no Afeganistão. O pior ataque resultou no assassinato de seis americanos numa missão médica cristã na província de Badakhshan.

E no entanto, em 2010, nem uma morte aqui na América resultou de terrorismo.

Naquele ano, porém, 780 mil americanos morreram de doenças cardíacas, 575 mil de cancro, 138 mil de doenças respiratórias, 120 mil em acidentes (35 mil em acidentes de automóvel), 69 mil de diabetes, 40 mil induzidas por drogas, 38 mil por suicídio, 32 mil por doenças do fígado, 25 mil por mortes induzidas pelo álcool, 16 mil por homicídio e 8 mil pelo HIV/SIDA.

Será o terrorismo o assassino que mais devemos temer, nele investindo a parte de leão dos nossos recursos de combate?

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Depois da Líbia, o Iémen?

U.S. Is Intensifying a Secret Campaign of Yemen Airstrikes, no New York Times:
«The Obama administration has intensified the American covert war in Yemen, exploiting a growing power vacuum in the country to strike at militant suspects with armed drones and fighter jets, according to American officials»
«“We’ve seen the regime move its assets away from counterterrorism and toward its own survival,” said Christopher Boucek, a Yemen expert at the Carnegie Endowment for International Peace. “But as things get more and more chaotic in Yemen, the space for the Americans to operate in gets bigger”.
But Mr. Boucek and others warned of a backlash from the American airstrikes, which over the past two years have killed civilians and Yemeni government officials. The benefits of killing one or two Qaeda-linked militants, he said, could be entirely eroded if airstrikes kill civilians and lead dozens of others to jihad.»

sábado, 19 de março de 2011

Mais uma guerra, agora na Líbia

Dizem que é para proteger a população civil. Mas então cabe perguntar: e no Iémen e no Bahrein não são necessárias no-fly zones?