É a hipótese que Simon Black coloca, escrevendo ontem de Hong-Kong ("It’s official. America’s Suez moment has arrived [video]"), recorda a crise do Suez que viria a oficializar a perda de estatuto de superpotência do Reino Unido (na realidade já um facto antes de acabar a II Grande Guerra e fazer parte do grupo dos vencedores) e a "entrega" do ceptro aos Estados Unidos da América que não o deterá eternamente. A tradução é minha.
No Verão de 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, com isso fazendo desencadear uma crise mundial.
O Suez liga o Mediterrâneo ao resto do mundo, e é uma das mais importantes vias marítimas do comércio internacional. Portanto, isto foi um grande acontecimento.
A Grã-Bretanha era um dos principais interessados no canal, e, quase imediatamente, o governo britânico reuniu uma pequena coligação constituída pelo Reino Unido, pela França e por Israel para retomar o controlo ocidental.
A sua acção militar subsequente, no entanto, em muito desagradou o governo dos EUA. E o tio Sam rapidamente afirmou o seu novo papel de superpotência do mundo.
É verdade que a Grã-Bretanha fora outrora a potência dominante no mundo. Mas anos de finanças públicas insustentáveis e de declínio económico fizeram mudar tudo isso.
No final da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha estava praticamente falida. Mas a realidade não se tinha ainda instalado. Eles ainda se consideravam a si próprios como uma superpotência.
Os políticos britânicos continuavam à mesa das negociações de paz. Eles ajudaram a criar a ONU, a dividir na Alemanha, e até mesmo a influenciar o novo sistema financeiro global em Bretton Woods.
A realidade finalmente chegou com violência durante a Crise do Suez.
Tornou-se claro que o Reino Unido já não tinha a força económica ou o prestígio internacional para fazer o que quisesse. E com os EUA a oporem-se à invasão do Egipto, o governo britânico não tinha outra escolha senão a de retirar suas tropas.
Ao fazê-lo, a Grã-Bretanha entregou as rédeas do domínio do mundo aos Estados Unidos. E a América manteve esta posição por décadas.
Mas para quem esteja prestando atenção, este estatuto tem vindo a diminuir.
A Ásia está a levantar-se. Grandes centros de riqueza e poder têm crescido por todo o mundo. As finanças americanas estão desoladas. E a sua moeda é agora amplamente criticada por governos estrangeiros.
Mas os políticos americanos têm ignoraram completamente esta tendência ao longo da última década. Eles gastam e agem como se o domínio global dos EUA fosse um rio inesgotável.
Com a Síria, no entanto, os EUA podem ter finalmente chegado ao seu "momento Suez".
A Rússia agora, praticamente sozinha, tem impedido o governo dos EUA de levar a cabo um ataque na Síria.
E o presidente da Rússia levou mesmo o seu caso até ao povo americano em que eloquentemente criticou tanto a política dos EUA, bem como a noção do excepcionalismo americano.
Vladimir Putin é um bárbaro. Mas ele comanda uma nação que tem todo o poder e a força de que necessita para enfrentar os Estados Unidos e o resto do Ocidente.
Apenas há alguns meses atrás, foram os russos que apontaram o dedo aos governos europeus pelo confisco das contas bancárias no Chipre, comparando tais tácticas às da União Soviética.
Foram também os russos que enfrentaram o Ocidente e deram abrigo a Edward Snowden.
Tudo isso teria sido impensável há dez anos atrás. E isso pode muito bem ser o evento que os historiadores do futuro ao olharem para trás venham a escolher como o dia em que a América perdeu a sua posição dominante global.
Não será nada caso para chorar. O mundo não está a chegar ao fim, está apenas a mudar. E isso vem ocorrendo há milhares de anos.
Os italianos foram a superpotência mundial, pelo menos duas vezes na história - uma durante o tempo da Roma antiga, outra durante o Renascimento. Os chineses, os espanhóis e os persas todos tiveram o seu tempo no topo do trono.
O poder e a riqueza mudam ao longo do tempo. E esta é uma tendência importante a abraçar.