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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Virá a Síria a ser o "momento Suez" para os EUA?

É a hipótese que Simon Black coloca, escrevendo ontem de Hong-Kong ("It’s official. America’s Suez moment has arrived [video]"), recorda a crise do Suez que viria a oficializar a perda de estatuto de superpotência do Reino Unido (na realidade já um facto antes de acabar a II Grande Guerra e fazer parte do grupo dos vencedores) e a "entrega" do ceptro aos Estados Unidos da América que não o deterá eternamente. A tradução é minha.
No Verão de 1956, o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, com isso fazendo desencadear uma crise mundial.

O Suez liga o Mediterrâneo ao resto do mundo, e é uma das mais importantes vias marítimas do comércio internacional. Portanto, isto foi um grande acontecimento.

A Grã-Bretanha era um dos principais interessados no canal, e, quase imediatamente, o governo britânico reuniu uma pequena coligação constituída pelo Reino Unido, pela França e por Israel para retomar o controlo ocidental.

A sua acção militar subsequente, no entanto, em muito desagradou o governo dos EUA. E o tio Sam rapidamente afirmou o seu novo papel de superpotência do mundo.

É verdade que a Grã-Bretanha fora outrora a potência dominante no mundo. Mas anos de finanças públicas insustentáveis e de declínio económico fizeram mudar tudo isso.

No final da Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha estava praticamente falida. Mas a realidade não se tinha ainda instalado. Eles ainda se consideravam a si próprios como uma superpotência.

Os políticos britânicos continuavam à mesa das negociações de paz. Eles ajudaram a criar a ONU, a dividir na Alemanha, e até mesmo a influenciar o novo sistema financeiro global em Bretton Woods.

A realidade finalmente chegou com violência durante a Crise do Suez.

Tornou-se claro que o Reino Unido já não tinha a força económica ou o prestígio internacional para fazer o que quisesse. E com os EUA a oporem-se à invasão do Egipto, o governo britânico não tinha outra escolha senão a de retirar suas tropas.

Ao fazê-lo, a Grã-Bretanha entregou as rédeas do domínio do mundo aos Estados Unidos. E a América manteve esta posição por décadas.

Mas para quem esteja prestando atenção, este estatuto tem vindo a diminuir.
A Ásia está a levantar-se. Grandes centros de riqueza e poder têm crescido por todo o mundo. As finanças americanas estão desoladas. E a sua moeda é agora amplamente criticada por governos estrangeiros.

Mas os políticos americanos têm ignoraram completamente esta tendência ao longo da última década. Eles gastam e agem como se o domínio global dos EUA fosse um rio inesgotável.

Com a Síria, no entanto, os EUA podem ter finalmente chegado ao seu "momento Suez".

A Rússia agora, praticamente sozinha, tem impedido o governo dos EUA de levar a cabo um ataque na Síria.

E o presidente da Rússia levou mesmo o seu caso até ao povo americano em que eloquentemente criticou tanto a política dos EUA, bem como a noção do excepcionalismo americano.

Vladimir Putin é um bárbaro. Mas ele comanda uma nação que tem todo o poder e a força de que necessita para enfrentar os Estados Unidos e o resto do Ocidente.

Apenas há alguns meses atrás, foram os russos que apontaram o dedo aos governos europeus pelo confisco das contas bancárias no Chipre, comparando tais tácticas às da União Soviética.

Foram também os russos que enfrentaram o Ocidente e deram abrigo a Edward Snowden.

Tudo isso teria sido impensável há dez anos atrás. E isso pode muito bem ser o evento que os historiadores do futuro ao olharem para trás venham a escolher como o dia em que a América perdeu a sua posição dominante global.

Não será nada caso para chorar. O mundo não está a chegar ao fim, está apenas a mudar. E isso vem ocorrendo há milhares de anos.

Os italianos foram a superpotência mundial, pelo menos duas vezes na história - uma durante o tempo da Roma antiga, outra durante o Renascimento. Os chineses, os espanhóis e os persas todos tiveram o seu tempo no topo do trono.

O poder e a riqueza mudam ao longo do tempo. E esta é uma tendência importante a abraçar.

domingo, 18 de agosto de 2013

A situação no Egipto: da Primavera ao Inverno Árabe

Eric Margolis, jornalista, comentador e também autor de vários livros sobre o Islão, o Médio Oriente ou o conflito Indo-Paquistanês sobre Caxemira,  assina o artigo Storm on the Nile ("Tempestade no Nilo") que, a meu ver, enquadra e explica de forma sucinta mas correcta (bem diferente da "narrativa" que os media de "referência" proporcionam) os trágicos acontecimentos que estão a ocorrer no Egipto, a responsabilidade das sucessivas administrações norte-americanas e, em particular, da actual e das suas tergiversações. Profetiza também o que me parece ser muito provável: o regresso ao mubarakismo onde o principal intérprete será agora o general al-Sissi.

A tradução do artigo de Eric Margolis é da minha responsabilidade. O título do post também foi roubado ao autor.

ACTUALIZAÇÃO: Advogado diz que Mubarak deve ser libertado esta semana
As Forças Armadas do Egipto, financiadas pelos EUA, entraram em guerra contra o povo do Egipto. A Primavera Árabe transformou-se no Inverno Árabe.

Até ao momento, o exército e a polícia de segurança conseguiram brilhantes vitórias no campo de batalha contra homens desarmados, mulheres e crianças, matando e ferindo milhares que exigiam um retorno ao governo democrático.

Os mais recentes protestos, levados a cabo no Cairo por apoiantes do governo eleito de Morsi, foram dispersados por tiros e enormes buldózeres blindados semelhantes aos veículos gigantes usados por Israel para esmagar as barricadas e os manifestantes palestinianos. Todos os egípcios que se opõem à ditadura de Sissi são agora, oficialmente, "terroristas".

Os generais do Egipto e os apoiantes da direita dura mubarakista já abandonaram qualquer pretensão de que existe um governo civil e dependem agora das baionetas e dos tanques. Os homens que detêm as armas fazem as regras.

Este é o terceiro governo árabe, resultante de eleições razoavelmente justas, a ser derrubado ou sitiado, como em Gaza, por regimes militares apoiados pelo Ocidente. Ao contrário do que sucedeu na Argélia, onde o primeiro governo eleito foi esmagado, os islamistas do Egipto não têm armas e é improvável que sejam capazes de organizar uma resistência interna séria para além de algumas alfinetadas no Alto Egipto e no Sinai.

A sangrenta contra-revolução mubarakista, financiada pela Arábia Saudita e por outras monarquias do Golfo, colocou os Estados Unidos, o patrono do Egipto, numa séria embrulhada. Washington foi forçada a denunciar o golpe e a repressão estatal em curso como "deplorável", nas palavras do Secretário de Estado dos EUA, John Kerry.

No entanto, semanas antes, o evidentemente confuso Kerry tinha elogiado o golpe que derrubou o primeiro governo democraticamente eleito do Egipto falando da "restauração da democracia". Ele recusou-se a classificar o putsch militar como um golpe de estado, pois isso significaria cortar os 1,3 mil milhões de dólares anuais em pagamentos dos Estados Unidos às forças armadas do Egipto, um importante aliado dos EUA. O presidente Obama limitou-se a evitar toda esta questão.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Interesses vitais vs ideais democráticos

Para os que elevam o regime democrático como a descoberta do Santo Graal e, portanto, do "Fim da História", os recentes acontecimentos no Egipto (como antes com a Autoridade Palestina ou ainda com a catástrofe da Argélia de 1991, para já não falar dos resultados "incorrectos" de vários referendos no processo de "construção europeia") são perturbadores.Neste texto Patrick J. Buchanan proporciona uma viagem ao devir histórico dos EUA para concluir que não cabe aos EUA a defesa e a promoção universal do "democratismo". Pelo contrário, finda que foi a Guerra Fria (há 20 anos) e não havendo interesse vital dos EUA a preservar, defende caber aos países Árabes a resolução dos seus próprios problemas - no Egipto como na Síria, no Iraque como no Líbano.

No seu texto, Buchanan evoca a "Boa Guerra" de 1941-1945 como exemplo de uma intervenção americana implícita e moralmente justificável fora do seu território. Todavia não escrutina as consequências não-intencionais do voluntarismo wilsoniano, entre as quais, nomeadamente, a ascensão dos comunistas ao poder na Rússia, ou a "ferida aberta" pelo Tratado de Versalhes A tradução do texto é minha.
"Compreensivelmente, a Irmandade Muçulmana está enfurecida.

Depois de ter ganho a presidência do Egipto em eleições livres e justas após o derrube de Hosni Mubarak, o presidente Mohammed Morsi foi deposto por um golpe militar e colocado sob prisão domiciliária.

Os líderes da Irmandade, sem que tenham sido condenados por quaisquer crimes, estão a ser circunscritos em redis.

Eles jogaram pelas regras da América. Agora, com a bênção da América, estão a ser presos pelos amigos da América nas forças armadas egípcias.

Não que esta seja a primeira traição percebida. Quando o Hamas venceu as eleições livres exigidas por George W. Bush, a América recusou-se a reconhecer a sua legitimidade e conspirou para a queda violenta do Hamas em Gaza.

Quando os islamitas ganharam a primeira volta das eleições argelinas em 1991, o regime, com a bênção de Bush I, cancelou a segunda volta, o que levou a uma guerra de guerrilha que custou entre 100 e 200 mil mortos.

Se os muçulmanos passaram entretanto a crer que os americanos pregadores pela democracia não passam de charlatães e hipócritas, não terão eles alguma razão?

A política externa dos EUA pareceu em tempos fazer sentido. Nós púnhamos os interesses vitais à frente da ideologia "democratista". Éramos por aqueles que eram por nós. Nós não gastávamos tempo a inspeccionar as credenciais morais daqueles que ficavam do lado da América. Nós jogávamos com as cartas que nos calhavam em sorte neste mundo.

O general Washington dançou quando soube que Luís XVI, um descendente do Rei Sol, apoiaria a causa da América contra a nossa mãe pátria [o Reino Unido].

Em 1917, Woodrow Wilson conduziu-nos à guerra "para tornar o mundo seguro para a democracia" enquanto potência associada de cinco impérios - o britânico, o francês, o italiano, o russo e o japonês. No fim da guerra, Wilson assinou tratados que levaram à pilhagem das terras e colónias dos três impérios derrotados, em benefício dos impérios vitoriosos.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A escalada da tragédia síria

Obama Escalates Syria’s Civil War é o título de mais um dos lúcidos artigos de Patrick J. Buchanan contra a tentação (e a prática) imperial dos EUA que resultou da instalação dos neocons nos corredores do poder. Não há - e de há muito que sabe ser assim - qualquer diferença na política externa (e interna) de Obama face à de George W. Bush. Só palas partidárias e uma cegueira e surdez incuráveis podem impedir esse reconhecimento (veja-se, por exemplo, esta notícia de ontem, esta outra de há uns dias ou ainda esta, em versão "animal feroz" na ausência de teleponto).

A "guerra ao terror" de Bush (na realidade, começada ainda por Clinton no Afeganistão) deu nisto: US drops demand Taliban renounce al-Qaeda to allow talks to progress e Afeganistão rompe negociações com os Estados Unidos. Não admira que Obama não se preocupe com a presença em força de terroristas entre os rebeldes que decidiu agora (como antes na Líbia) ajudar directamente com armas. Em nome de quê? Em nome de quê? Ou será que alguém acredita nisto? Se há, que reflicta nesta asserção famposa de Benjamin Franklin: "Those who would give up essential liberty to purchase a little temporary safety deserve neither liberty nor safety."

A tradução, algo livre, do artigo de Pat Buchanan é da minha responsabilidade.
Barack Obama acaba de dar os seus primeiros passos numa guerra na Síria que podem definir e destruir a sua presidência.

Na quinta-feira, enquanto festejava com os foliões LGBT o Mês do Orgulho Gay, um funcionário, Ben Rhodes, informou a imprensa na Casa Branca que irão ser fornecidas aos rebeldes sírios armas americanas.

Durante dois anos, Obama manteve-se fora desta guerra sectária/civil que já consumiu 90 mil vidas. Por que está entrando nela agora?

A Casa Branca alega ter agora provas que Bashar Assad usou gás sarin para matar 100-150 pessoas, desta forma ultrapassando uma "linha vermelha" que Obama tinha estabelecido como factor de "mudança de jogo". Desafiado, com a credibilidade contestada, ele tinha que fazer alguma.

No entanto, a alegada utilização por Assad de gás sarin para justificar a intervenção dos EUA, mais parece constituir um pretexto para entrar na guerra que uma racionalização para nela participar.

Porque a Casa Branca decidira intervir semanas atrás, antes da utilização do gás sarin ter sido confirmada. E por que razão teria Assad usado apenas minúsculos vestígios? Onde está a evidência fotográfica dos mortos desfigurados?

Que provas temos de que não foram os rebeldes que forjaram a utilização de gás sarin ou que o usaram eles próprios para conseguir que os crédulos americanos entrassem na sua guerra?

E todavia, por que razão o Presidente Obama, cuja orgulhosa jactância assenta na promessa de que ele nos irá desemaranhar das guerras do Afeganistão e do Iraque, tal como Dwight Eisenhower com a Guerra da Coreia, iria mergulhar-nos numa nova guerra?

Ele tem estado sob severa pressão política e internacional para fazer algo depois de Assad e o Hezbollah terem recapturado a cidade estratégica de Qusair e começado a preparar-se para recapturar Aleppo, a maior cidade.

Caso Assad tenha sucesso, isso significaria uma derrota decisiva para os rebeldes e seus apoiantes: os turcos, os sauditas e qataris. E isso significaria uma vitória geoestratégica para o Irão, o Hezbollah e a Rússia, que provaram constituir aliados confiáveis.

Para evitar essa derrota e humilhação, vamos agora enviar armas e munições para manter o controlo dos rebeldes sobre território suficiente para negociar uma paz que venha a remover Assad.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Uma surpresa anunciada

Uns meses após a substituição da Esfinge

Cartoon de Dave Brown
o resultado é o que qualquer ser pensante, deste planeta, e que não andasse distraído, anteciparia: a Irmandade Muçulmana terá obtido cerca de 40% da votação para a eleição do primeiro parlamento pós-Mubarak. Suponho que Washington, a generalidade das capitais europeias e, nomeadamente, Telaviv, estejam satisfeitas. 
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ACTUALIZAÇÃO: aos 40% da Irmandade, somem-se ainda os 20% dos Salafistas.