Fala-se muito do novo aeroporto de Lisboa.
Reparem bem. O novo aeroporto vai ser uma infraestrutura 100% privada mas quem está a decidir a sua localização é o governo.
Isto não tem qualquer lógica económica pois deveriam ser os agentes económicos privados a decidir a localização. O governo responde a questões eleitorais (quer maximizar a probabilidade de ser reeleito) e isso não é compatível com uma economia em crescimento.
Claro que será preciso a intervenção pública nas expropriações e na construção dos acessos mas a eficiência económica decidida pelos privados deveria ser o guia para termos uma localização economicamente eficiente.
Para termos uma ideia dos números avançados pelo governo.
Nos últimos 10 anos, investiram-se 350 mil milhões €, é muito dinheiro, mas a depreciação do capital foi de 360 mil milhões €, pelo que houve um pequeno saldo negativo (de 2.5%).
Portugal está a perder capital desde 2002.
Existem pequenas crises económicas que alteram, não se sabe porquê (ou melhor dizendo, eu não sei porquê) que alteram o comportamento das economias no logo prazo.
Em 2002 houve uma crise económica que se denominou por "Crise sul-americana" que levou o então primeiro ministro Guterres a dizer "Demito-me porque isto está-se a tornar num pântano" e, logo a seguir, ser substituído pelo Durão Barroso que concluiu "Estamos de tanga".
Essa crise já aconteceu há mais de 20 anos mas, estranhamento, desde então, a nossa economia tem um crescimento muito fraco e a quantidade de capital começou a cair. Entre 2002 tínhamos 180% do PIB em capital e estamos hoje com pouco mais de 100% do PIB.
Também aconteceu entrarmos para o Euro em 1999 mas pode ser apenas mais uma coincidência.
Dividindo o capital total pelo número de trabalhadores, obtemos 50000€/trabalhador.
Estes 50000€ traduzem que, em média, cada posto de trabalho tem associado 50000€ de capital.
Quer isto dizer que o nível de sofisticação da nossa economia aponta para que os novos investimentos não devam implicar muito mais do que 100000€ por cada posto de trabalho criado.
É quase como o TGV.
Se em Lisboa e Porto autocarros viajam a 15km/h e os comboios a 50km/h, em vez de fazer investimentos para ter um comboio Porto Lisboa a circular a 300km/h, era melhor para o país como um todo aumentar a velocidade média dos autocarros no Porto e Liboa para 25km/h e dos comboios para 80km/h. É que milhões veriam a sua vida progredir enquanto que o TGV só vai aproveitar alguns.
Isso também se passa com os médicos de família.
Para quê exigir uma pessoa com 19 valores no secundário, que andou 6 anos na universidade mais outros tantos a tirar uma especialidade para, no final, cair num centro de saúde a fazer consultas de rotina?
Deveria ser criado um curso de "saúde familiar", 4 anos como enfermagem, para criar médicos de família como quem faz pão quente, sempre a andar.
Estes 50000€ traduzem que, em média, cada posto de trabalho tem associado 50000€ de capital.
Quer isto dizer que o nível de sofisticação da nossa economia aponta para que os novos investimentos não devam implicar muito mais do que 100000€ por cada posto de trabalho criado.
Vou acabar por falar do famoso datacenter de Sines.
O Augusto Santos Silva conhece-me, infelizmente, e odeia-me.
Do que ouvi da sua boca foi que o poder judicial mandou o governo ao charco. Mas isso não é verdade, foi o António Costa que se demitiu.
Vamos supor que, como agora querem fazer crer os socialistas, o poder judicial não tinha qualquer credibilidade junto do povo. Então, aquele parágrafo que diz que o António Costa está a ser investigado seria um motivo de orgulho, currículo político, como ter sido preso (ou detido) no tempo da "outra senhora".
Vamos então ao datacenter.
A parte do armazenamento é formada por discos rígidos, HDD, iguais aos dos nossos computadores mas centenas de milhar. Estes HDD nãos e produzem em Portugal, são comprados no estrangeiro, digamos que à Coreia do Sul, Japão, USA , Taiwan ou China.
Se a capacidade do datacenter for de 18 HexaByte, terá um milhão de HDD de 18TB que implicam um investimento de 250 milhões €. Um datacenter com 18HB já é muita coisa, mais do que o servidor do Google, o maior do mundo, tem 40HB.
Agora, para os anunciados 3600 milhões € ainda falta muito pelo que penso ser banhada!!!!!
Ainda tem os computadores que processam os pedidos de dados por parte dos clientes mas também não produzimos computadores, tudo importado da Coreia do Sul, Japão, USA, Taiwan ou China.
Alegadamente, o datacenter de Sines vai criar 1200 postos de trabalho. Isto dá 3 milhões € por cada posto de trabalho.
Estão a ver o problema?
Em média, cada posto de trabalho em Portugal tem associado 50 mil € de capital e o datacenter vai precisar de 3 milhões, 60 vezes mais.Pensando uma taxa de amortização de 20%/ano (o equipamento fica rapidamente obsoleto), cada posto de trabalho tem uma "despesa" em capital de 50000€/mês.
E este investimento é apenas depositar em Sines equipamentos estrangeiros e pagar 50000€/mês por cada posto de trabalho criado aos investidores.
Isto é como a TAP.
Compramos os aviões ao estrangeiro.
Compramos o combustível ao estrangeiro.
Vendemos bilhetes que os governantes chamam de exportações "esquecendo-se" que o valor dos bilhetes é maioritariamente usado para pagar os aviões e o combustível ao estrangeiro.
Fig. 2 - Para atravessar o caminho, não seria mais rápido pores os pesinhos no chão?