Mostrar mensagens com a etiqueta mercado de trabalho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta mercado de trabalho. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Porque será contraproducente aumentar o Salário Mínimo?

O Costa prometeu aumentar por decreto o SMN de 505€/mês para 600€/mês.
O argumento é que, desta forma, vai aumenta o rendimento dos trabalhadores o que vai fazer aumentar a procura interna, a produção das empresas para responder a essa procura acrescida e, finalmente, o emprego. Mas, de facto, nada disto vai acontecer o que se torna obvio fazendo uma simples redução ao absurdo.
Se o aumento por decreto do SMN aumentasse o nível de vida das pessoas e reduzisse o desemprego, todos os países aumentariam o SMN para 10000€ por dia deixando de haver desemprego.
Se isto não parece viável, tenho que explicar o que existe na Economia que evita que funcione este argumento do sábio do PS que agora é Ministro da Economia.

Primeira verdade.
Quando éramos pequeninos, quando nos púnhamos a jogar futebol no recreio da escola, era evidente que uns de nós tínhamos mais jeito para a bola que outros.
Também em termos de capacidade de criar valor numa hora de trabalho, uns de nós geram mais valor e outras geram menos valor.
Se aceitamos que uns têm mais jeito para a bola e outros menos sem isso nos diminuir, também temos que aceitar a verdade económica de que uns geram mais valor e outros menos sem nos sentirmos diminuídos.
Em termos estilizados existe uma distribuição do valor que criamos numa hora de trabalho. 
Sem perda de arranjarem melhores valores, olhando para os dados do INE da produtividade, avanço com uma produtividade média do trabalho de 1000€/mês e um desvio padrão de 500€/mês.

Segunda verdade.
As empresas têm por fim o lucro e, por isso, só empregam uma pessoa se o incremento no lucro for positivo. Então, apenas se uma pessoas tiver uma produtividade superior ao salário corrente na empresa é que irá conseguir emprego.
Se o salário que o FC Porto paga por um avançado é de 50 000€/mês, como a grande maioria de nós não consegue, com uma bola nos pés, gerar este valor, nenhum de nós tem hipóteses de vir a ser empregado do FCP como pontas de lança.
Se uma pessoa gera menos valor que o SMN, então, nunca irá conseguir arranjar emprego, excepto como funcionário público!
 
Terceira verdade.
O SMN não tem qualquer impacto nas pessoas que têm produtividade elevada.

Fig. 1 - Há pessoas com maior e outras com menor produtividade

E quantas pessoas vão perder o seu emprego?
Assumindo uma produtividade com valor médio de 1000€/mês e um desvio padrão de 500€/mês e que a inflação vai ser de 1,6%/ano, então, o aumento do SMN para 600€/mês em 4 anos vai reduzir o nível de emprego em 160 mil postos de trabalho.

Fig. 2 - Será que vou perder o meu empregosinho?

Como fiz a conta.
Passando os 600€/mês a preços de hoje dá 563€/mês
Percentagem de trabalhadores cuja produtividade entá entre 505€/mês e 563€/mês => 3%
População activa (5,3 milhões) vezes 3% dá 156 mil

Pedro Cosme Vieira

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O salário minimo deveria desaparecer, ponto.

Não existe qualquer justificação para a existência de salário mínimo.
Durante muitos anos acreditou-se que fazer uma sangria, um defumadouro ou prometer ir a Fátima a pé curava qualquer doença. E se falarmos com as pessoas mais atrasadas, estas crenças ainda existem.
Da mesma forma, há muita gente que acredita que subir o salário mínimo acaba com a pobreza. 
No entanto, não existe nenhuma razão lógica que ligue umas coisas às outras. Nem as sangrias fazem bem à saúde nem o salário mínimo acaba com a pobreza, muito antes pelo contrário.


Imaginemos o Cristiano Ronaldo.
Vamos supor um mundo em que existe o Cristiano, o Messi, o Bale, o Rooney e o Ibraibrovic mas em que só existe um clube, o Real Duarte, que os queira contratar.
Se o clube contratar os 5 jogadores terá um ganho total de 140 milhões € pelo que poderá pagar até 28 milhões € por jogador. No entanto, como na equipa não podem jogar só atacantes, o ganho de contratar mais um jogador decresce com o número de jogadores previamente contratados.
.. Jogadores contratados --- Ganho total ---- Ganho no jogador 
............ 1 ---------------------- 100M€ ----------- 100M€
............ 2 ---------------------- 127M€ ------------ 27M€
............ 3 ---------------------- 136M€ ------------- 9M€
............ 4 ---------------------- 139M€ ------------- 3M€
............ 5 ---------------------- 140M€ ------------- 1M€
O salário pago não vai depender do total que o clube vai ganhar com as contratações mas apenas com o que ganha com o último jogador e com o que os jogadores vão perder se não forem contratados.
Como não existem mais clubes que possam contratar o jogadores (o clube é "monopolista") então o melhor que o clube tem a fazer é contratar os 5 jogadores (mesmo sabendo que apenas 2 ou 3 vão jogar) pagando um salário de 1M€ por jogador. Desta forma o clube fica com um lucro de 135M€.
Se um dos jogadores se recusar a assinar, terá um prejuízo de 1M€ (pois mais ninguém o contrata) e o clube fica na mesma.

Fig. 1 - Com uma sangriazita e uma benzedela, o joelho vai ao sítio num já está.

E se houvesse mais clubes?
Vamos agora supor que existem 10 clubes a disputar os jogadores com o Real Duarte, RD. Agora, o jogador que se recusar a assinar com o RD por 1M€ pode ser contratado por outro clube induzindo nele um ganho de 100M€.
Então, a concorrência vai fazer com que exista apenas um destes jogadores em cada clube e com um salário próximo dos 100M€. 


Esta é a justificação para haver Salário Mínimo.
Sob o pressuposto de que existe apenas um empregador e muitos trabalhadores então, o salário de todos vais ser igual ao ganho da contratação do último trabalhador (a produtividade marginal do trabalho). Nesta situação o "monopolista" vai ter um lucro muito grande "à custa do trabalhador".
Apesar de a economia produzirá na sua máxima capacidade (estará em pleno emprego) esse ganho não vai para os trabalhadores porque a distribuição da riqueza é favorável ao empresário.


Exemplo numérico.
=> Número de trabalhadores na economia = 100
=> n é o número de trabalhadores empregados
=> Produtividade marginal do último trabalhador contratado = 101 - n 
Resulta daqui
=> Nível de desemprego = 0%
=> Produção de pleno emprego = 5050€
=> Salário de pleno emprego = 1€/trabalhador
=> Total de salários de pleno emprego = 100€
=> Rendimento médio dos trabalhadores (contando com os desempregados) = 1€/trabalhador
=> Lucro de pleno emprego do empresário = 4950€


O impacto do salário mínimo.
A imposição de um salário mínimo fará com que o empregador pague um salário mais elevado a cada trabalhador mas também fará com que algumas pessoas fiquem no desemprego. Desta forma, apesar de o total dos salários ficar maior, por haver desemprego, em termos globais na economia haverá menos bens disponíveis. A questão é que esses bens deixarão de estar disponíveis para o "monopolista" e não para os trabalhadores que, globalmente, ficam a viver melhor. 


Exemplo numérico.
Vou agora considerar um salário mínimo de 50€/trabalhador
Resulta daqui
=> Nível de desemprego  = 50% (das 100 pessoas só 50 arranjam trabalho)
=> Produção total = 3775€
=> Total de salários pagos = 50 x 50 = 2500€
=> Rendimento médio dos trabalhadores (contando com os desempregados) = 25€/trabalhador
=> Lucro do empresário = 1275€


Mas existe outra possibilidade: um imposto.
Vamos supor que, em vez do salário mínimo, o governo cria um imposto de 70% sobre os lucros e que esse imposto vai ser distribuído pelos trabalhadores. 
Agora, o "monopolista" continua a pagar 1€/trabalhador e a contratar toda a gente pelo que continuaremos a ter uma situação de pleno emprego. 


Exemplo numérico.
Com o imposto de 70% sobre os rendimento teremos:
=> Nível de desemprego = 0%
=> Produção de pleno emprego = 5050€
=> Salário de pleno emprego = 1€/trabalhador
=> Total de salários de pleno emprego = 100€
=> Lucro de pleno emprego antes de imposto = 4950€

Agora vêm os impostos distributivos
=> Imposto (a distribuir pelos trabalhadores) = 3465€
=> Rendimento médio dos trabalhadores (contando com os desempregados) = 44,65€/trabalhador
=> Lucro livre de impostos = 1485€

O imposto regulariza os rendimentos (o rendimento dos trabalhadores fica maior que com o salário mínimo) e o lucro do empresário também fica maior.

Existem alternativa ao Salário Mínimo => IRS progressivo.
Se o problema é a existência de apenas um empregador, o salário mínimo consegue diminuir a "exploração do trabalhador" mas à custa de desemprego e de perda de riqueza.
Pelo contrário, a existência de impostos progressivos (politicas redistributivas) aumenta o rendimento dos trabalhadores (pobres) sem afectar o emprego nem a produção de riqueza.
Então, a existência de um IRS progressivo é mais eficaz na promoção da justiça social que a imposição de um salário mínimo.
Combater a pobreza passa mais por politicas de apoio ao rendimento (rendimento social para os trabalhadores pobres) do que pelo introdução de estrangulamentos no mercado de trabalho.
Esta conclusão aplica-se a todos os preços: não se combate a pobreza proibindo os preços dos bens issenciais de subir (porque deixarão de existir à venda) mas com politicas de apoio ao rendimento dos pobres. 


Mas a Alemanha acabou de introduzir o Salário Mínimo.
É um erro terrível. Recordo que os alemães não são infalíveis tendo mesmo sido os originários das maiores atrocidades vividas no Séc XX.
O SM alemão vai ser de 8,5€/h o que traduz um encargo para o empregador de 19000€/ano (1864h/ano e TSU de 20%). Este valor corresponde a 57,3% do PIB per capita alemão, maior que o nosso SMN de 485€/mês que corresponde a 53,5% do PIBpc.
Por comparação, nos USA o salário mínimo federal é de 5,35€/h, mais baixo que o alemão quando têm um nível e riqueza que é quase 60% maior.
Em termos relativos o SM dos USA é 26% do PIBpc, menos de metade do nosso e do alemão. 
Para a alemanha ter um salário mínimo do nível dos USA teria que ficar pelos 3,40€/h e nós nos 1,40€/h.

Fig. 2 - Agora, o mínimo são 8,50€ à hora.

Depois chamem o Tarzan.
Depois venham com a lengalenga de que o mercado de trabalho americano ajusta muito mais rapidamente que o europeu e com uma taxa de desemprego mais baixa. Digam que é das intervenções do FED e que o nosso BCE tem que fazer o mesmo. 
Para o nosso salário mínimo ficar ao nível do americano, 26% do PIB pc, terá que descer para 292€/mês.


Além do mais, existem muito empregadores.
A teoria e a evidência económica mostra que, havendo 3 empresas, já não existe poder de monopólio. Por isso é que existem em Portugal 3 operadores de telemóvel e 3 canais de televisão.
E é um facto que, para cada trabalhador, existem mais de 3 potenciais empregadores pelo que não existe "monopólio" no mercado de trabalho.
Então, não existe qualquer justificação para a existencia de um salário mínimo e, mesmo que existisse, um imposto progressivo resolveria o problema de forma muito mais eficiente.


Porque surge agora a questão do aumento do SMN?
Porque temos, por um lado, um Passos Coelho que sabe que a subida do SM é negativo para as pessoas e um Portas que tenta praticar demagogia política ao mais alto nível. Compatibilizar as duas coisas é como caminhar na corda bamba mas a alternativa é entregar o cordeiro aos lobos (i.e., entregar o poder aos esquerdistas).
É o dilema retratado na Lista de Schindler. 1) trato mal as pessoas e exploro-as até à exaustão ou 2) faço de bonzinho com as pessoas e os carrascos matam-nas sem pestanejar.
O salário mínimo deveria acabar de vez mas não existem condições políticas para que isso aconteça. O povinho não está preparado para isso.

Em política
As medidas não são absolutamente certas nem erradas pois dependem do impacto que têm na alternância do poder.
Se o Salário Mínimo aumentar 3,1% para para 500€/mês, é mau mas poderá haver medidas na Concertação Social que anulem o efeito deste aumento. Por exemplo,
=> aumentar o número máximo de horas do Banco de Horas;
=> os contratos a termo certo poderem ser renovados até 8 anos;
=> Introdução de flexibilidade em baixa no salário por acordo individual até o limite máximo de 15% do contrato colectivo de trabalho.
É preferivel o dano dos 3,1% corrigido parcialmente com algumas medidas de flexibilização a voltar aos desvarios socialistas.

Pedro Cosme da Costa Vieira

sábado, 9 de novembro de 2013

O Salário Mínimo tem que descer e não subir

Estão sempre a sair notícias interessantes.
A primeira é que os tiranosauros rex não se extinguiram mas evoluiram até se trasformarem nas nossas galinhas. Esta tem lógica.
A segunda é que a OIT - Organização Internacional do Trabalho defende que a solução para acabar com o nosso desemprego é subir o SMN. Esta já me parece totalmente alucinada.

Fig. 1 - Os dentes confirmam que a galinha é um micro-tiranosauros rex

Para que serve o SMN?
Todos sabemos que uma empresa monopolista cobra um preço mais elevado, produz menos e tem lucros mais elevados que uma empresa sujeita à concorrência.
Sendo a procura de mercado decrescente com o preço (e.g., D = 100-P) e o custo de produção crescente com a quantidade (e.g., C = Q^2),
=> O monopolista cobra o preço de 75€/u., produz 25u. e tem 1250€ de lucro.
=> Em concorrência o preço é 67€/u., no total são produzidas 33u. e o lucro é 1111€ (a dividir por todos os produtores).
Então, se todas as empresas combinarem entre si a adopção do preço de monopólio (pasando de 67€/u. para 75€/u.), os  lucros das empresas aumentam 11.4%.

Mas há prejudicados.
Exactamente. Os prejudicados pelo monopólio são os consumidores (pagarão um preço mais elevado e consumirão menor quatidade) e o nível de emprego (menor produção implica menos trabalhadores).
É por haver prejudicados que a Lei proibe não só a existencia de monopólios como também a concertação de preços (cartelização).
Se, pelo contrário, os consumidores se reunissem num clube de compras passando-se a comportar como um monopolista (monopsónio), os produtores seriam prejudicados (e o nível de emprego também).
A situação em que ambas as partes ficam justamente satisfeitas é quando o mercado é concorrencial.

A lógica do SMN é a mesma da cartelização de produtores .
Como existem muito trabalhadores e várias empresas, o mercado de trabalho é, por natureza, uma mercado concorrencial. Mas se houver cartelização dos trabalhadores, o salário será maior mas lucro das empresas (a remuneração do capital) será menor e também o nível de emprego será menor.
Em democracia, como há milhões de trabalhadores e apenas milhares de empresas, os trabalhadores têm mais poder eleitoral que os empresários ilegendo os politicos que prometem regular o mercado de trabalho de forma a puxar esse mercado para o lado dos trabalhadores (aumentar os salários À custa da redução do emprego e da remuneração do capital).
É por isso que, mesmo sabendo-se que o SMN prejudica mais do que beneficia, a generalidade dos países democráticos tem salário minimo.

O Salário Mínimo aumenta o desemprego.
Não existe qualquer dúvida que o objectivo do SMN é aumentar o salário médio dos trabalhadores à custa da diminuição do nível de emprego e da remuneração do capital. É exactamente o mesmo fenómeno económico do monopolista que tem que diminuir a produção para cobrar um preço mais elevado.
A cartelização de um mercado tem obrigatoriamente que se traduzir pela redução das quantidades transaccionadas no mercado. Obrigatoriamente.
Fig. 2 - Eu era gorda mas segui a recomendação da OIT de comer mais para emagrecer.
Argumentam que, como comer gasta calorias a mastigar e a digerir a comida, comer mais faz emagrecer.

Mas o aumento dos salários não aumentará o consumo?
Esta afirmação está totalmente errada porque o aumento do rendimento dos trabalhadores (salários) vai acontecer à custa dos que ficam desempregados (menor nível de emprego) e dos que recebem rendimentos do capital.
Vamos ver as diversas fases da transmissão do aumento dos salários à economia.

Momento zero.
O salário é 100€/dia e existem 100 trabalhadores (total de salários de 10000€/dia).
Os lucros são 5000€/dia.
Então, o total do rendimento na economia é de 15000€/dia que é distribuido por consumo e por investimento.
Por simetria, a produção total é de 15000€/dia (o rendimento é sempre igual à produção).

Passo um.
O salário aumenta 20% para 120€/dia.
Há quem diga que aumentando o salário´, os trabalhadores produzem mais porque ficam mais motivados. Vou considerar essa hipótese mas, naturalmente, esse aumento tem que ser menos que proporcional ao aumento dos salários porque, por redução ao absurdo, se fosse mais que proporcional então, o lucro máximo do produtor seria com  salários de valor infinito, o que não se verifica.
Vamos supor que a produção aumenta 10% por trabalhador.
Agora, pensando que é proibido despedir, mantêm-se os 100 trabalhadores que passam a receber 12000€/dia. Apesar de os trabalhadores produzirem mais 10% (produção total de 16500€/dia), os lucros vão diminuir para 4000€/dia.
Apesar da produção ter aumentado, não há aumento de emprego porque essa produção resulta de cada  trabalhador produzir mais (esforçam-se mais).
Os trabalhadores ficam a viver melhor (+20% de rendimento) mas os detentores de capital ficam a viver pior (-20% de rendimento).

Passo dois.
Como os lucros diminuiram (a remuneração do capital), a quantidade de capital na economia vai também diminuir.
Agora, apesar dos trabalhadores estarem mais motivados, havendo menos capital, a produtividade dos trabalhadores vai diminuir (por hipotese, os 10%) voltando a produção aos 15000€/dia iniciais.
Como os salário são 12000€/dia, os lucros reduzem-se ainda mais (para 3000€/dia) o que reduz ainda mais o nível de capital da economia.

No final
Esta "espiral recessiva" que resulta desta dinâmica de redução da intensidade em capital leva leva ao desemprego pelo desaparecimento das empresas.
Apenas as empresas dos sectores mais rentáveis vão resitir (potencialmente, as monopolistas) pelo que no equilibrio final vamos conseguir ter salários de 120€/dia à custa de apenas 50 pessoas terem emprego. Apesar de estas pessoas terem melhorado o seu nível de vida, o global da sociedade ficou pior (o nível total de rendimento diminui para 9000€/dia).

  
Fig. 3 - Mas, na final, lá está ele (mas como espectador).


Então os salários têm que descer até zero?
Não porque 1) as empresas tiram benefícios em ter trabalhadores, 2) existe concorrência pelos trabalhadores mais produtivos e 3) o trabalho é um bem escasso.
Se o salário for muito elevado as empresas vão à falencia mas se for zero, as empresas não conseguem contratar nenhum trabalhador pelo que o seu lucro será zero. Então, o equilíbrio será um salário próximo da produtividade do trabalho.
Será tanto mais próximo da produtividade do trabalho quanto mais concorrencial for o mercado de trabalho.

Como vão evoluir os salários com o tempo?
Se o salários estiver abaixo da produtividade do trabalho, as empresas aumentarão os seus lucros se contratarem mais trabalhadores. Então, num mercado concorrencial o que vai determinar a dinâmica do salários é a taxa de desemprego (que é inversa da taxa de empregos vagos).
Se a taxa de desemprego for elevada (acima dos 5%) a diminuição dos salários motiva as empresas a contratar mais trabalhadores o que faz reduzir a taxa de desemprego e aumentar a produção e o rendimento.
Se a taxa de desemprego for baixa (menos de 5%) o aumento dos salários motiva mais pessos a trabalhar o que aumenta a proução e o rendimento.

E porquê 5% de desemprego?
Em teoria o mercado de trabalho está equilíbrio quando todas as pessoas que querem trabalhar têm um emrpego e as vagas estão todas preenchidas. Mas porque o mercado de trabalho é muito heterogénio, a medição prática do equilíbrio de mercado (a taxa de desemprego) não consegue medir este "ponto zero".
Na prática existem sempre pessoas desempregadas e empresas com lugares que não conseguem arranjar trabalhadores. O que se observa é que quando a taxa de desemprego está abaixo de 5% (este limite varia de país para país e chama-se NAIRU) existe uma tendencia para o aumento dos salários e, no caso contrário, há uma tendencia para a redução dos salários.

Fig. 4 - O burro dá prejuizo não só quando come demais como também quando come de menos.

Vamos agora olhar para o SMN.
O SMN não afecta (muito) o salário médio da economia pelo que, na tradicional visão do  trabalho como um bem homogénio, não tem qualquer efeito no mercado.
Mas, da mesma forma que existem pessoas pequenas e outras grandres, umas pessoas  produzem numa hora de trabalho mais riqueza e outras produzem menos riqueza.
Se o mercado de trabalho for concorrencial, os trabalhadores terão um salário semelhante à sua capacidade de criar riqueza, uns terão salários mais elevados e outros um salário mais reduzido.
Havendo a imposição legal de pagar, no minimo, um determinado salário, as pessoas que produzem menos que esse valor não conseguirão arranjar emprego.

O SMN parece defender os menos produtivos.
Todos os anos eu pergunto aos meus alunos qual a razão de exitir o SMN.
Quase ninguém consegue arranjar uma justificação mas há semrpe alguém que diz
- Para garantir um rendimento minimo às pessoas menos produtivas.
O problema é que isso apenas aconteceria se o emprego estivesse garantido (como em Cuba).
De facto, o SMN faz com que as pessoas menos produtivas fiquem com rendimento zero.

O nosso SMN está muito elevado.
O que diz se o SMN está alto não é a comparação com outros países (ou região) mas apenas a comparação com a produtividade dos trabalhadores de cada país (ou região).
Então, o SMN tem que ser comparado com o PIB per capita do país (ou região).

Fig. 5 -  Evolução do SMN relativamente ao PIB per capita (dados: PorData, cálculos e grafismo do autor)

Bem sei que é impossivel viver com 485€/mês.
E muito mais dificil é viver em MArrocos com 75€/mês.
O problema é que se o SMN for maior que 35% do PIBpc (44% com a TSU do empregador), muitas pessoas serão atiradas para o desemprego de longa duração e torna dificil as pessoas sem experiencia (os jovens e quem precisa mudar de sector de actividade), arranjar emprego. Como actualmente o SMN com TSU está nos 55% do PIBpc, é preciso descer este custo.
O FMI tem martelado muito neste ponto e, como vamos precisar da sua ajuda por mais uns anos, a menos que a taxa de desemprego diminua rapidamente para valores próximos dos 10%, não vamos poder fugir desta questão.
O SMN pode diminuir por duas vias:

1) Diminuição do SMN para 403€/mês (valor de 2006).
(O SMN deveria acabar mas obriga a uma revisão do Art. 59.º- 2 /a da Constituição)
Como provavelmente o tribunal constitucional vai dizer que é impossível descer o SMN abaixo de 420€/mês (IAS), terá que haver uma alteração na TSU para respeitar este limite.
 485€/mês representam 431.65€/mês para o trabalhador e 600,19€/mês para o empregador.
403€/mês representariam um custo de 498.71€/mês para o empregador.
Então, reduzindo o SMN para 420€/mês, a TSU do empregador teria que descer 5pp (para 18.75%).
Para financiar esta medida, a TSU dos trabalhadores tem que subir 0.25 pp.

2) Aumentar o horário de trabalho máximo para 45h/semana.
Esta medida será totalmente voluntária.
Apesar das mentes simples (leia-se, esquerdistas) afirmarem que se a Lei aumentar o horário máximo de trabalho os patrões vão obrigar toda a gente a trabalhar mais tempo,  isso não corresponde minimamente à verdade.
Da mesma forma que a maioria das pessoas tem um salário mais elevado que o SMN, também muitas pessoas trabalham menos que o horário máximo de trabalho.
Aumentando o horario de trabalho em mais 1h/dia, os trabalhadores menos produtivos em termos horários podem compensar essa falha com mais tempo de trabalho.

O melhor é aumentar o horário máximo de trabalho para 45h/s.
Esta é a minha opinião porque é mais silenciosa (só trabalha mais quem quizer), não prejudica ninguém (com o aumento da TSU de quem ganah mais) e é socialmente mais justa porque faz com que as pessoas menos produtivas façam um esforço para se integrarem na sociedade.
Obriga apenas a uma pequena alteração no Art. 203.º-1 do Código do Trabalho.

O horário máximo de trabalho deve acabar.
Há muita regulação do horário máximo de trabalho sem utilidade para ninguém.
Muitas vezes as pessoas querem trabalhar (por exemplo, nas actividades sazonais agricolas ou do turismo) e não podem porque a Lei proibe extender o horário de trabalho.
Também há profissões em que o dia a dia de trabalho é pouco exigente. Se pensarmos os empregos em que o trabalhador apenas responde a crises (por exemplo, bombeiros ou seguranças noturnos) podendo estar a maior parte do tempo a dormir (e, por vezes, em casa), é aceitável imaginar que o trabalhador possa estar 24h/dia ao serviço.
Por todas estas razões, a Lei deveria deixar de se preocupar com isto pois nenhuma empresa quer trabalhadores horas e horas a fio porque isso diminui a produtividade horária.

fig. 6 - É preciso descomplexar o Código do Trabalho

Pedro Cosme Costa Vieira.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O emprego, o desemprego, o capital e a produtividade

Qual será o desemprego no Bangladesh?
Num comentário o ii-v-i-aflat afirma que a taxa de desemprego no Bangladesh é na ordem dos 25% (referido num site), ainda maior que os nossos 16.7%. Assim, aparentemente, um crescimento robusto e um mercado de trabalho flexível não parecem suficientes para acabar com o desemprego. 
Contrariamente a essas estatísticas, o Banco Mundial indica taxas de desemprego nos países emergentes na ordem dos 5%. De que lado estará a verdade?

Os mercados de trabalho são muito diferentes.
Quando ouvimos falar de outro país qualquer, pensamos que a realidade de lá é parecida com a nossa. Em particular, pensamos o mercado de trabalho dos países pobres é idêntico ao nosso em que a maior parte do rendimento das família resulta dos empregos por conta de outrem.

Mas estamos enganados.
Nos países desenvolvidos cerca de 85% dos empregos são por conta de outrem enquanto que nos países subdesenvolvidos essa percentagem desce para apenas 20%. Nos países pobres mais de 80% têm auto-emprego (ver, Fig. 1).

Fig. 1 - Percentagem de trabalhadores por conta própria vs PIBpc.ppc, USD (dados: Banco Mundial)
 
Como funciona o mercado de trabalho?
A agricultura começou há cerca de 10000 anos (a revolução do Neolítico) e, ainda hoje, é a base de todas as economia.
Porque a produção agrícola está muito dependente do solo, todos os países têm uma produção agrícola per capita idêntico, cerca de 400€/ano com um desvio padrão de 125€/ano, não tendo qualquer relação com o PIB pc do país (ver, Fig. 2). Isto traduz que, apesar de todos os alimentos nascerem da agricultura, o desenvolvimento económico é um processo de "destruição" dos empregos na agricultura (mas mantendo a produção) e a sua transferencia para a industria e, posteriormente, para os serviços (o êxodo rural).

Fig. 2 - Relação entre a produção agrícola (em €/ano e em % do PIB) e o PIB pc, ppc, preços de 2005, média 2007-11, 1USD=0.72€ (dados: Banco Mundial)

É demagógico apontar a agricultura como o futuro o motor da nossa economia.
Portugal tem uma produção agrícola per capita anual de 380€ (2.4% do PIB) que compara com a Alemanha 214€ (0.9%), a Espanha 540€ (2.7%), a Índia 368€ (17.9%) e  o Bangladesh 192€ (18.9%).
O peso da agricultura nos países com um PIBpc.ppc inferior a 2500€ é cerca de 30% enquanto que nos outros é cerca de 7%.

Como funciona a produtividade.
Para se produzir é preciso, por um lado, capital, K, (máquinas e ferramentas, vias de comunicação, portos, canais de irrigação etc.) e, por outro lado, trabalho, H, (horas de trabalho). O que mistura do trabalho com o capital é a tecnologia, A, cujo nível é (ligeiramente) diferente de país para país.
Além dos factores de produção, o Estado da Natureza, E, também influencia a produção.

O Gasparzinho invocou "o mau tempo" porque a Teoria Económica denomina a parte que não se consegue explicar por "Estado da Natureza".
Como se faltar um dos factores não se pode produzir,  modelizar a ligação entre os diversos factores é normal usar uma função multiplicativa sendo a mais utilizada a isoelástica (denominada de Cobb-Douglas):

     Y = A x T^0.33 x H^0.67 x E

O auto-emprego.
H1) Vou imaginar uma economia em que existem 1000 unidades de capital, 1000 habitantes que trabalham H horas por semana e que o nível tecnológico é 20.5.
H2) Vou imaginar que todas as pessoas são iguais e que o capital, que também é homogéneo, é dividido equitativamente pelas pessoas, 1 u/pessoa.
H3) Como trabalhar é um sacrifício vou imaginar que a pessoa só trabalha se numa hora produzir pelo menos um certo quantitativo, 2.00€.
H4) A produção é a unidade de valor (o preço dos bens produzidos é 1€/unid).

Uma pessoa trabalhando H horas por semana produzirá 

     Y = 20.5 x 1^0.33 x H^0.67 x E

A pessoa vai trabalhar enquanto a produção for maior que 2€ o que acontece quando a produtividade marginal for 2.

    {H: Y'H = 2€/h}  =>  H = 40h/semana

Havendo 1u de capital por pessoa, a produção será de 242.74€/semana e a produtividade média será cerca de 6.00€/h.
Como a produtividade está dependente não só do trabalho como também do capital podemos dividir a produtividade média em 4.00€/h para o trabalho e 2.00€/h para o capital (e por unidade de capital).

Na economia do "auto-emprego" não existe desemprego.
Quando todas as pessoas trabalham no seu negócio, podem trabalhar mais ou menos horas mas nunca estão sem emprego. Quando há um choque exógeno da natureza (o E altera-se), o rendimento da pessoa ajusta instantaneamente. Por exemplo, se a seca fizer E diminuir de 1 para 0.8, o rendimento do trabalhador com 1u de capital passa de 6.00€/h para 4.80€/h.

Será bom haver politicas macroeconómicas de estabilização?
Vamos supor que os ciclos económicos oscilam entre anos maus (em que E = 0.8) e anos bons (em que E = 1.2) e que a pessoa pretende trabalhar em média 40h/s.

Se houver regularização do rendimento a pessoa vai trabalhar mais nos anos maus. Trabalha 51.7h/s nos anos maus e 28.3h/s nos anos bons o que lhe permite um rendimento constante de 230.75€/s.

Se houver regularização do horário de trabalho a pessoa trabalha 40h/sem o que lhe permite ter um rendimento médio de 242.54€/s (194.19€/s nos anos maus e 291.28€/sem nos anos bons). A pessoa poupa 97.09€ nos anos bons para gastar nos maus.

Se a pessoa adoptar a estratégia óptima (poupando nos anos bons para os maus) vai trabalhar mais nos anos bons. Trabalha 18.1h/sem nos anos maus e 61.9h/sem nos anos bons o que lhe permite um rendimento médio de 252.21€/sem (114.20€/s nos anos maus e 390.22€/sem nos anos bons). A pessoa trabalha mais 21.9h/sem e poupa 276.02€ nos anos bons  para gastar e descansar nos maus.
É interessante observar que a oscilação da produtividade permite um rendimento médio superior ao caso em que não acontecem choques da natureza (242.74€/sem)

Podemos ver que a regularização macroeconómica vai diminuir o rendimento médio da pessoa.

Porque é que nos países pobres as pessoas produzem pouco?
Nos países pobres trabalham-se mais horas que nos países ricos pelo que a diferença na produtividade não vem do trabalho.
Fica o capital e o nível tecnológico.
O nível de capital no Bangladesh é de cerca de 450€ por pessoa e 67.5% da população é activa.
O nível de capital em Portugal é de cerca de 30000€ por pessoa e 56.0% da população é activa.
Isto traduz que em Portugal existe 53600€ de capital por posto de trabalho e no Bangladesh apenas existe 667€ por posto de trabalho.
O nível de capital associado a um emprego em Portugal é 80 vezes o nível no Bangladesh. Tal traduz que cada trabalhador português ter 1 unidade de capital enquanto que um bangladesheano ter apenas 0.0125 unidades.
Atendendo à diferença de capital, o bangladesheano produziria apenas 1.43€/h, 23% da nossa produtividade.
E o nível tecnológico no Bangladesh é inferior ao nosso (e.g., por causa da baixa escolaridade) pelo que a produtividade vem ainda mais reduzida (para 6.6% da nossa produtividade).

É por não terem capital. 
Não é, como dizem os esquerdistas, por os salários serem baixos nem por o grande capital explorar os desgraçadinhos.
Não é, como dizem os direitistas, por serem malandros, pretos, azuis ou amarelos nem por serem governados por pessoas corruptas.
Não é nada disso.
A produtividade em Portugal é 15 vezes a do Bangladesh  porque temos 80 vezes mais capital por trabalhador que o Bangladesh.
No Bangladesh é normal um empresário começar o seu negócio com um microcrédito de 200€ (para comprar um fogão, uma panela e um toldo para arrancar com um restaurante de rua). Em Portugal o mesmo tipo de negócio precisa de 16000€ (uma rulote).

Fig. 3 - A vida deste bangladesheano é repetir, como há milhares anos, os movimentos de uma bomba de água manual.

Como se aumenta o capital?
A falta de capital apenas pode ser resolvida (lentamente) com muito trabalho e pouco consumo (pois a poupança interna é o motor do investimento).
Apesar de capital estrangeiro (o investimento directo estrangeiro) poder ser muito positivo por levar não só capital como também difundir tecnologia, a evidência empírica indica que apenas os países que investiram principalmente com base na poupança interna é que conseguiram abandonar a pobreza (por, a prazo, o pagamento de juros, lucros e amortizações ao exterior drenar os recursos gerados).
Além disso, os estrangeiros têm um percepção do risco diferente dos nacionais (cobram juros maiores).

Finalmente as estatísticas do desemprego.
Uma taxa de desemprego de 5% da população activa traduz que o Bangladesh tem 5.0 milhões de desempregados (a população activa é de cerca de 100 milhões de pessoas). A questão é que a população empregada por conta de outrem é menos que 20 milhões de pessoas. Então, retirando da equação as pessoas auto-empregadas, temos 5 milhões de desempregados num universo de 20 milhões de pessoas. Assim medido, o desemprego será de 25% dos empregados por conta de outrem (e não dos activos).

E porque existem estes 5 milhões de desempregados?
Porque o progresso implica (ou é causado) a passagem de trabalhador por conta própria para trabalhadores por conta de outrem. Revendo a Fig. 1, o aumento de 1% do PIB pc implica que 0.25% da população deixa o emprego por conta própria e procura um emprego por conta de outrem.
Estando o Bangladesh a crescer mais de 5%/ano, todos os anos, além das pessoas que vão nascendo (2%/ano), cerca de 1.2 milhões de trabalhadores transita do auto-emprego para o mercado dos empregos por conta de outrem (6%/ano dos empregos existentes).
Naturalmente que custa a digerir a massa de pessoas que entra continuamente no mercado de empregos por conta de outrem.


Fig. 4 - Como isto está a murchar vou ter que deixar o auto-emprego e arranjar uma coisa mais fixa.

Concluindo com o exemplo do Brasil.
O primeiro passo do desenvolvimento é a agricultura libertar pessoas que passam para pequenas actividades em auto-emprego.
Depois, as pessoas em auto-emprego começam a entrar no mercado de trabalho por conta de outrem onde os salários (e a produtividade) são maiores.
O processo dinâmico de transição, apesar de ter associadas taxas de crescimento elevadas, não pode ser acompanhado pelo aumento dos salários dos diversos sectores porque o melhorar da qualidade de vida dá-se pela passagem do auto-emprego (com rendimentos muito baixos) para os empregos por conta de outrem (com salários apenas baixos).
Um país, como o Brasil, que tenha uma lei que incorpora no Salário Mínimo o crescimento do PIB está condenado a que o processo de desenvolvimento económico estagne.

Fig. 5 - Os presidentes brasileiros querem-se apresentar como chefes de estado de uma grande potência mundial esquecendo-se da pobreza que existe por toda a parte. 

Eu tenho atrasada a resposta a alguns comentários.

Pedro Cosme da Costa Vieira

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O padrão ouro e os cambios fixos

O Vidal Ferreira colocou-me uma questão muito importante, como funciona o ajustamento de uma pequena economia no padrão-ouro porque, em termos económicos, o padrão-ouro é igual aos câmbios fixos que vivemos em relação aos nossos parceiros da Zona Euro com a diferença que, na Zona Euro, é possível manter a inflação em 2%/ano.

Fig. 1 - A meditação é a fonte da felicidade (Buda)

O padrão-ouro é igual a câmbios fixos.
No padrão ouro existe umas toneladas de ouro nos cofres do banco central (as reservas) e a quantidade de notas em circulação tem o mesmo valor nominal que o ouro das reservas.
Por exemplo, o Euro tem uma relação de 35€ : 1 g de ouro pelo que o BCE teria que ter 26000 toneladas de ouro para dar cobertura aos 920MM€ que existem em circulação, 15% do total que existe a nível mundial. Já os USA tem uma relação 50$ : 1 g de ouro pelo que, para cobrir os 1150 mil milhões USD em circulação, o FED teria que ter 23000 toneladas de ouro (13.5% do total).
Se a relação de cada moeda com o ouro for fixa então, resulta um cambio fixo entre as moedas. Como 50 USD dá para comprar 1g de ouro que, vendido, dá 35€, o cambio fixo seria de 0.70€ por cada USD.

O ajustamento da economia face ao exterior no padrão-ouro.
Já sabemos que, existe uma relação entre a quantidade de moeda em circulação e o nível geral de preços (a teoria quantitativa da moeda). Em termos de taxas de variação, esta relação indica que se a taxa de aumento da quantidade de moeda em circulação aumentar, a taxa de inflação também aumenta (e vice-versa) pela seguinte relação (com ^P a indicar a taxa de variação de P):

             ^P =  ^M - ^PIB + ^V
P = preços, M = moeda em circulação, V = velocidade de circulação da moeda.

Se a economia tiver as suas contas face ao exterior equilibradas, o total pago ao exterior é igual ao total recebido do exterior pelo que a quantidade de moeda, euro, mantém-se constante (haverá estabilidade de preços).
Vamos supor que o cambio é 0.7 Euros / 1.0 USD e que Portugal importa bens e serviços no valor de 1000 USD (20 g de ouro) e exporta bens e serviços no valor de 700 Euros (20 g de ouro) por unidade de tempo (a cada 10 minutos).

Mas acontece um choque exógeno adverso.
Vamos imaginar que Portugal sofreu um choque adverso assimétrico que desequilibrou as suas contas face ao exterior. Por exemplo, a temperatura ficou mais baixa o que reduziu a entrada de turistas estrangeiros e aumentou a saída de turistas portugueses.
Então, o choque fez com que o total adquirido ao exterior, em ouro, tenha passado a ser maior que o total vendido ao exterior (incluindo o turismo).
Vamos supor que as importações aumentam para 1050USD (21 g de ouro) e as exportações diminuíram para 965 Euros (19 g de ouro) por unidade de tempo.
Vamos ver o que vai acontecer.

Hipótese 1 - O banco central português troca euros por ouro.
Para se garantir que, de facto, existe a relação das moedas ao ouro e que a taxa de câmbio fica fixa, os bancos centrais têm que trocar, sem limite, euros e dólares por ouro.
Os agentes económicos nacionais usam euros para pagar as importações mas os estrangeiros vão trocar, junto do banco central português, os euros por ouro. Então, a quantidade de ouro em Portugal diminui e no exterior aumenta 2 g por unidade de tempo.
Se há menos ouro em Portugal então, o banco central português não pode por em circulação os euros que adquiriu aos estrangeiros porque entregou-lhes o ouro correspondente reduzindo-se assim a quantidade de euros em circulação o que leva à redução do nível geral de preços portugueses.
Se há mais ouro no exterior então, o banco central exterior vai aumentar a quantidade de USD em circulação o que leva ao aumento do nível geral de preços do exterior.
A redução dos preços em Portugal e o aumento no exterior (muito ligeiramente porque o exterior é muito grande) faz aumentar as exportações e reduzir as importação, corrigindo-se o desequilíbrio face ao exterior.

Hipótese 2 - O banco central português endivida-se.
Supondo o governador do banco central português que o desequilíbrio face ao exterior é passageiro, vai-se endividar para não permitir a redução dos preços.
O problema desta politica é que vai dificultar o ajustamento da economia.
Todos os 10 minutos, o banco central português vai-se endividar em 2 g de ouro o que,ao fim de um ano, já soma 100 t. Então, como a economia não equilibra, a prazo o banco central português vai ter que pagar cada vez uma taxa de juro mais elevada para captar ouro a crédito.
Foi isto que nos aconteceu no socratismo mas, em vez de ouro, pedimos euros emprestados.

Qual é o problema do padrão-ouro?
É que há dificuldade em diminuir os preços e os salários nominais.
Havendo rigidez no ajustamento nominal em baixa, a desvalorização vai ter impacto recessivo na economia e desemprego.

1 - Quando a quantidade de notas em circulação diminui, a apetência das pessoas pela compra de bens diminui. Como os vendedores não podem reduzir os preços porque os seus custos (salários e juros) são os mesmo, começam a vender menos.

2 - Com menos vendas, as empresas começam a ter prejuízo. Apesar de apelarem para que haja uma redução dos custos de produção, como os salários têm dificuldade em diminuir, as empresas começam a despedir trabalhadores e a falir. O desemprego cresce.

3 - Com uma taxa de desemprego elevada, há uma pequena tendência para que os salários diminuam. Essa velocidade de ajustamento dos salários varia de país para país sendo muito elevada nos USA e baixa na Europa, principalmente no Sul.
No caso português existe uma dificuldade acrescida que é o Contracto Colectivo de Trabalho, o Salário Mínimo e o Tribunal Constitucional (os direitos adquiridos) que não permitem que os salários reduzam em termos nominais.
Mas os salários acabam por reduzir o que diminui os custos de produção que leva à redução dos preços que, finalmente, equilibra a economia face ao exterior.

Fig. 2 - Os custos nominais do trabalho em Portugal estão ao nível pré-crise (1997) o que traduz uma lenta descida (de 1.8%/ano) relativamente aos custos da Zona Euro ( dados, EUROSTAT).

Fig. 3 - Os preços em Portugal, desde 2007, desceram 1.6%  relativamente aos da Zona Euro ( dados, EUROSTAT).

Quanto mais dificil for o ajustamento.
Quanto mais os trabalhadores resistirem à descida dos salários, mais dificil será descer os preços e maior vai ser a recessão e o desemprego.

Será mau haver deflação?
Ao determos moeda na nossa carteira, se houver inflação, o seu poder de compra diminui com o tempo. Então, a quantidade de notas que vamos ter na carteira resulta de comparar, por um lado, o custo de ir à caixa multibanco repetidamente com, por outro lado, o custo da desvalorização. Se cada ida ao multibanco implicar um custo em tempo e massada de c e a taxa de juro for i (ambos, por unidade de tempo) então, a quantidade óptima de moeda vai minimizar a soma desses dois custos.
A quantidade de moeda vai ser crescente com o custo e decrescente com a taxa de juro:

          m = k. p / i 

O problema deste modelo é que, se i se aproximar de zero, a quantidade de moeda vai para infinito: é a denominada armadilha da liquidez
Então, com este modelo simples, quando a taxa de juro é negativa, o nível geral de preços deixa de poder ser controlável pela quantidade de moeda em circulação. Neste caso, o nivel geral de preços vai oscilar violentamente, havendo uns tempos de deflação seguidos de outros de inflação elevada.

Mas tal nunca se verificou.
Na história da humanidade já houve séculos de deflação e nunca se verificou a "incontrolabilidade" do nível geral de preços. É verdade que na antiguidade em qu havia deflação o ouro (a moeda) era intensamente entesourado mas o sistema de preços nunca esteve em perigo.
Isto acontece porque o deter moeda tem outros custos que não apenas a taxa de inflação (a depreciação). Afirmo mesmo que o principal custo que nos faz não deter moeda é o risco de sermos roubados e mesmo mortos.
Se todas as pessoas detivessem grande parte da sua fortuna em moeda (que é "ao portador"), os assaltos seriam o pão nosso de cada dia. Na antiguidade, um dos grandes motivos para a destruição das cidades era constar que tinham muito ouro e prata.
Se incluirmos o custo da segurança, o ponto de "custo negativo de deter moeda" apenas se observe para taxas de deflação muito grandes nunca se tendo verificado na realidade.
Por isso, a deflação não tem problema nenhum.

O ajustamento dos salários.
O único problema é psicológico e tem a ver com o ajustamento nominal dos salários "em baixa".
Como já referi acima, a quebra dos preços obriga à diminuição dos salários nominais para que o salário real fique pelo menos na mesma. Como os trabalhadores lutam contra a descida dos salários nominais, preferindo ser despedidos a descer o seu rendimento nominal.
Foi este o problema que transformou uma pequena crise de 1939 na grande depressão 1939-1942: os preços começaram a cair (porque a velocidade de circulação da moeda diminuiu) e os salários nominais não desceram. Desta forma, a economia foi-se desequilibrando ao ponto de em 1940 as pessoas terem um salário com um poder de compra 40% superior ao valor de compra que tinham antes de comessar a crise. 
Repito: um ano depois de começar a crise de 1939-42, os salários reais tinham subido 40%.
A grande depressão não resultou das lengalengas que o Keynes veio dizer em 1936 mas na dificuldade de os salários ajustarem em baixa. Esta dificuldade existe hoje mesmo pelo que, com o pensamento das pessoas que temos, a deflação não é boa.   

A desvalorização para corrigir a economia.
Se houver possibilidade de desvalorização, os preços e os salários ajustam instantaneamente face ao exterior, seja para cima ou para baixo pois não existem apenas países em crise.
Os defesores de que nós temos que continuar na Zona Euro dizem que a desvalorização tem efeitos de curto-prazo porque, a seguir a uma desvalorização, a inflação degrada outra vez os termos de troca face ao exterior.

De facto, isso não é verdade.
As pessoas não querem que o salário nominal diminua mas, quando a taxa de desemrpego é elevada, não se importem que fiquem constantes. Então, num país como o nosso em que a taxa de desemrpego é de quase 20%, a desvalorização que levaria a nossa economia a equilibrar, entre 10% a 15%, não faria a nossa inflação aumentar significativamente acima dos 2%/ano.
A inflação apenas come a desvalorização se a taxa de desemprego estiver abaixo dos 6% (a NAIRU) mas a variação cambial é apenas um mecanismo de ajustamento das economias e não uma tendência de longo prazo. Assim, quando o desemprego é baixo e a balança corrente é superavitária, a moeda valoriza (para não haver subida dos salários nominais e inflação).  Pelo contrário, quando o desemprego é elevado e a balança corrente é deficitária, a moeda desvaloriza (para não haver descida dos salários nominais e deflação).

Disse o Vítor Bento.
Que sair da Zona Euro é mau por implica perdermos 30% do nosso rendimento disponível. Dizer que é mau indica que, se ficarmos na Zona Euro, o nosso rendimento disponível não vai diminuir.
Ilusões como esta é que nos vão obrigar a sair da Zona Euro.
Para ficarmos na Zona Euro o nosso rendimento disponível, leia-se salãrios, também vão diminuir. Quanto mais dificil for o ajustamento em baixa dos salários, menos seremos capazes de fazer parte de uma zona monetária extensa.
Somando a esta ilusão o facto do nosso Tribunal Constitucional dizer que os subsídios dos funcionários não podem ser cortados, a nossa Constituição obrigar aos contractos colectivos de trabalho, o Portas não permitir os cortes das pensões, não resulta outra conclusão que não seja que a nossa permanencia na Zona Euro tem os dias contados.

Fig. 4 - Tem estado tanto frio que são precisas quatro para fazer a mota arrancar

FCP, parabéns.
Eu já tinha perdido a esperança mas a coisa acabou bem.
Isto da bola também tem a ver com a sorte e o azar. Houve vários jogos em que o Benfica ganho com sorte o que lhe permitiu chegar a ter 4 pontos de vantágem. Mas depois veio o azar.
Somando e subtraindo todas as parcelas, esteve tudo muito igual pelo que o jsuto seria Porto e Benfica acabarem com o mesmo número de pontos. Mas o Porto merece a vitória porque empatou a 2 na Luz e, sem sorte, empatava a 1 no dragão.

Finalmente, a morte da Andrea Rebello.
Para nós parece estranho que a policia entre aos tiros numa residencia universitária apenas porque consta que está lá um assaltante armado.
Mas não nos podemos esquecer que nos USA, volta e meia, alunos e outros malucos matam dezenas de colegas de uma assentada.
Custa muito, passado uns dias, chegar à conclusão que a arma era de plastico ou que a afirmação de que tinha uma bomba na panela não passava de um guisado com muito piripiri (não sei se tal aconteceu) mas o problema é que, muitas vezes, a arma é mesmo verdadeira e a panela explode mesmo.

Pedro Cosme Costa Vieira

segunda-feira, 25 de março de 2013

Poderá a Economia dizer alguma coisa sobre o comportamento humano?

Eu gosto muito de ler os comentários
porque me informam como as mensagens estão a ser interpretadas pelo leitores. Em particular, houve uma dúvida muito interessante (colocada pelo Vegaspar) e que persiste desde que foram criadas as ciências da natureza. Mas é uma "pergunta de algibeira" porque não pode ser respondida pela própria Ciência. Prova de que esta pergunta é apenas destrutiva é o facto de o meu colega e arqui-inimigo Pimenta  a ter colocado nas minhas Provas de Agregação.
E também gosto de ver as fotografias dos meus seguidores. Mas o que me causa mais alegria é ir a um sitio qualquer e pessoas com quem nunca tive contacto físico virem falar comigo porque me conhecem do blog.  
Fig. 1 - Agradeço a todos os meus seguidores e leitores

A pergunta epistemológica.
Será que o comportamento humano, mesmo sendo o resultado de múltiplas contingências, tem Leis da Natureza que possam ser compreendidas pela humanidade?
Se a resposta for negativa então, não haverá lugar para a Economia enquanto ciência que estuda as decisões dos seres humanos quanto à afectação dos recursos escassos e termos que confiar no vazio.

O Vegaspar acha que a resposta é negativa.
Como "as pessoas ... são muitos menos previsíveis do que as máquinas" então, a Economia não pode conter conhecimento sobre o comportamento humano quanto à afectação dos recursos escassos.
De facto, o Vegaspar tem dúvidas que a resposta seja negativa porque utiliza "muito menos previsível" e não "totalmente imprevisível".

A questão epistemológica da existência da Ciência.
A Ciência existe porque são assumidos axiomas que apenas podem ser discutidos pela filosofia e pela religião. 
     A1 -  a Natureza existe.
     A2 -  a Natureza tem Leis.
     A3 - a Humanidade pertence à Natureza. 
     A4 - a inteligência humana é capaz de compreender as leis da Natureza.
A Ciência não pode questionar estas questões porque a sua não verificação faria com que a Ciência deixasse de existir e, não existindo, a sua conclusão de que as condições não se verificam ficaria sem efeito.

Seria como cada um de nós tentar julgar se existe.
S. Tomás de Aquino pensou ter provado a sua existência com "Peco, logo existo" e Descartes com "Penso, logo existo" mas estavam errados pois isto é uma tautologia que parte do pressuposto de que só o que existe é que peca (STA) e que pensa (D).
Mas vamos supor que eu não existo. Então, como penso, fica provado que o que não existe também pensa.
Então, pensar (ou pecar) não é prova suficiente da minha existência.
Claro que o estimado leitor vai dizer que a minha conclusão (não existo e, no entanto, penso) não faz qualquer sentido lógico, mas a lógica parte de premissas e nunca pode a conclusão lógica dizer que as premissas estão erradas.
Fica então claro que nós não podemos, com ciência, provar que existimos.

A previsibilidade da Natureza, a compreensão humana e o conhecimento.
Se a Natureza não tivesse leis, seria totalmente imprevisível.
Se a nossa inteligência fosse incapaz, a Natureza seria previsível mas nós não a conseguiríamos compreender.
Então, a nossa falta de conhecimento resulta de somar a imprevisibilidade da Natureza com a nossa incapacidade. Como não é possível separar estas duas parcelas, a Ciência assume que a Natureza é perfeitamente previsível e que toda a falta de conhecimento resulta da nossa pouca inteligência.
  
Fig. 3 - Primeira Lei da Natureza: quem pousar aqui a mãozinha, leva estalo.

A Estatística.
Mesmo assumindo que a Natureza tem leis perfeitas, a limitação da inteligência humana implica que o grau de detalhe do conhecimento será sempre limitado.
Havendo Leis da Natureza, até que detalhe poderá ir o conhecimento destas leis?
A humanidade desenvolveu a Estatística para compreender, em termos de valores médios, as Leis da Natureza mais complexas.
  
Temos que distinguir o comportamento do individuo do comportamento das grandezas agregadas.
Uma coisa é eu prever se o meu vizinho se vai suicidar nos próximos 12 meses e outra coisa é eu prever quantas pessoas, entre as 10.6 milhões, se vão suicidar em Portugal nos próximos 12 meses.
Apesar de a decisão individual ser altamente difícil de prever, se compararmos as pessoas que se suicidaram em 2003 com as que se suicidaram em 2006, apesar de não terem sido as mesmas pessoas (é evidente) e as tomadas de decisão terem sido completamente diferentes, existem regularidade à escala agregada.
Por mais incrível que pareça, em ambos os anos a taxa de suicídio é crescente com a idade, cerca de 4%/ano (ver, Fig. 2).
Apesar de eu não fazer a mais pequena ideia de qual será a propensão do meu vizinho para se suicidar, eu sei que, em média, a probabilidade de ele se suicidar aumentará com o envelhecimento, cerca de 4% por cada ano.

Fig. 4 - Suicídios em Portugal por cada 100000 homens (Dados: NES)
   
Vamos ver o que acham desta pergunta.
Existem duas padarias a menos de 50 m de minha casa.
Vamos supor que cada padaria vende 5000 pães por dia a 0.10€/pão e que o custo de produção é de 0.08€/pão. Conclui-se facilmente que o lucro de cada padaria é de 100€/dia.
Vamos agora supor que, como estamos a lidar com pessoas, se for como diz o Vegaspar, o seu comportamento é totalmente imprevisível.
Então, se uma das padarias aumentar o preço para 1.00€/pão, será totalmente imprevisível o que as pessoas vão fazer. Se calhar, ainda vai vender mais pães vindo o seu lucro exponencialmente maior.

Alguém acredita nisto?
Apesar de os estimados leitores serem seres humanos imprevisíveis, prevejo com confiança que não acreditam que  padaria que fixar o preço para 1.00€/pão vá vender mais. Acreditam, penso eu, que essa padaria vai ficar sem clientes e a outra vai ficar com os clientes todos.
Mas não estamos a tratar com pessoas que são, em termos individuais, imprevisíveis?
Estamos e por isso é que não posso garantir que não haja uma única pessoa que não compre um pão por 1.00€ mas a maioria não vai comprar.

Vejamos como funciona a Estatística.
Vou comparar o comportamento humano a um jogo de sorte e azar.
Uma pessoa atira um dado de que pode resultar o número 1, 2, 3, 4, 5 ou 6.
Depois, tira esse número de cartas de um baralho com reposição e soma os pontos (as figuras valem 10 pontos).
A pessoa escreve num papel os pontos que obteve. 

Olhando para uma pessoa.
O conhecimento que eu tenho sobre o número que a pessoa tem escrito no papel é muito pequeno. Sei que será um número qualquer entre 1 e 60 e posso determinar a função distribuição.
Se fosse pedido que avançasse um intervalo com uma amplitude de 2 como previsão, a probabilidade de errar seria muito grande (a melhor previsão seria entre 22 e 24).
(A probabilidade de eu errar seria de 93%).

Vou agora pegar em 100 pessoas e calcular a média.
Agora, em vez de uma pessoa, tenho a média de 100 pessoas.
Eu ainda não sei em concreto quanto vai dar a média mas, se eu repetir várias a experiência, em 95% das vezes, a média dos pontos das cartas vai estar entre 19.29 e 26.53.
A probabilidade de eu acertar a minha previsão (cair no intervalo ]22; 24])  ainda é pequena, 40%.

Vou agora calcular a média de 10000 pessoas.
Em média, em 95% das vezes, soma dos pontos das cartas vai estar entre 22.52 e 23.25.
Agora, a probabilidade de acertar (cair no intervalo ]22; 24]) na minha previsão já é de 99.9999%.

E estamos a falar de sorte e azar.
Mesmo que o comportamento humano fosse totalmente aleatório (como o exemplo do lançamento do dado e o sorteio das cartas do baralho) e, por tanto, com pouca capacidade de eu prever uma valor para a variável que estou a estudar, havendo regularidade estatística (cada pessoa extrai as suas cartas do mesmo baralho) então, eu sou capaz de prever o comportamento médio das pessoas.
Sou capaz de prever como as pessoas vão reagir ao aumento do preço (a quantidade de pães vendidos vai diminuir).

Estimado Vegaspar, penso que agora vai acabar de ler o poste.
Quando estamos incapazes de destruir a argumentação lógica dos nossos adversários, uma escapatória que está entranhada nos nossos genes é utilizar a resposta religiosa do "não acredito".
Recordo que o conhecimento religioso se baseia apenas na crença.
Antigamente, se alguém dizia, Deus escreveu nas Pedras da Lei que não se pode cobiçar a mulher alheia, nós podíamos dizer, com propriedade, Não acredito. Mas naquele tempo não existia conhecimento científico.
Mas o conhecimento científico baseia-se na prova. Agora, quando alguém nos prova que estamos errados, temos que contra argumentar ou aprender.

No outro dia estive a aturar um aluno muito chato.
Dizia que ia ser como o pai (na parte em que é um empresário de sucesso) mas que, ao mesmo tempo, nunca seria como o pai (que se levanta às 5 da manhã para ir trabalhar e só volta às 23h horas do trabalho).
É o tal sonha das mulher magrinhas com mamas grandes.
O que interessa é que, mesmo tendo fraca média e já andar há 5 anos para fazer um curso de 3, queria ir para uma escola de topo mundial porque assim se tornaria num profissional muito mais capaz. O pai paga o que for.
O que lhe disse foi apenas que não existe nenhum estudo que garanta que quem frequenta uma escola de elite se vai tornar um profissional de elite. O que dizem os estudos (estatísticos) é que essas escolas apenas fazem selecção dos mais capazes.
Controlando a capacidade intelectual, por exemplo, com um teste de QI, não existem diferenças significativas entre as melhores escolas do mundo e as escolas médias.
A Ciência é assim: não basta afirmar ou contra-dizer mas é preciso provar com evidencia empírica e dedução matemática. Acabou o lugar da crença.
Fig. 5 - Tive que escolher e preferi ser magra.

É a estatística.
Não quer dizer que não haja uma pessoa que não fique melhor profissional por frequentar uma escola de elite, mas também haverá outra que ficaria melhores profissional se não a tivesse frequentado.

Garanto que, se os salários descerem, o desemprego diminui.
Não garanto que o Sr. Alberto ou a Dona Micas vá arranjar emprego mas, em termos médios, muito mais desempregados encontrarão emprego e muito menos trabalhadores perderão o seu actual emprego.
Garanto que, se o nivel médio de salário descer 15%, a taxa de desemprego vai descer para próximo dos 10%-
E garanto que isso não terá qualquer efeito na procura interna e que será uma política expansionista (por haver mais pessoas a trabalhar).
Pedro Cosme Costa Vieira.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A covardia do António Borges

Na Grécia ganhou um qualquer que diz ser a favor da permanência na Zona Euro e logo vieram pessoas dizer que estávamos safos.
Mas não.
Continuamos condenados a sair do Euro porque os gregos e os nossos governantes não sabem governar um país com câmbios fixos.
Quando se tem moeda própria, a balança corrente deficitária ajusta pela desvalorização da moeda enquanto que em câmbios fixos, como é o caso dos países da Zona Euro, a BC deficitária ajusta pela descida dos salários (e vice versa). 
Isto não tem nada de ideológico nem político. É a forma como funciona a economia.


Fig. 1 - Eu explicava-vos porque os salários têm que descer, se vocês não fossem tão burros. O que me interessa é o tacho. Haaaa, tomai lá.

O câmbio altera-se muito rapidamente.
É normal haver, de um ano para o outro, uma alteração da cotação de uma moeda na ordem dos 20%. Então, estando a economia desequilibrada, a alteração da taxa de cambio muda rapidamente os preços relativos entre os bens produzidos no país e no exterior o que equilibra rapidamente a economia.

Qual é a diferença entre uma desvalorização e uma descida dos salários?
Ao haver uma desvalorização, o poder de compra dos salários reduz-se.
Assim, a prazo uma desvalorização é exactamente igual a uma descida dos salários mas existem diferenças no curto prazo por causa dos mecanismos de transmissão entre os preços e os salários.

Se a moeda desvaloriza 20%, como os bens importados são 30% da economia então, no imediato os preços internos vão aumentar 6%. Desta forma, vistos do exterior, os preços descem instantaneamente 14% e o  poder de compra dos salários diminui instantaneamente 6%.

Se os salários descem 20%, no imediato o poder de compra dos trabalhadores vai diminuir 20% porque os preços mantêm-se. Está aqui a grande diferença. A prazo os preços internos vão descer 14% pelo que o poder de compra dos salários só vai diminuir 6%, tal qual como na desvalorização da moeda, mas demora uns meses a acontecer um ajustamento dos preços.

Desta forma, desvalorizar a moeda 20% ou descer os salários 20% é igual e leva à diminuição do salário real em apenas 6% mas, nos meses iniciais, a descida dos salários tem mais impacto negativo na vida das pessoas e menos impacto no equilíbrio da economia.

Mas os nosso governantes e o novo povo são muito burros.
E não aceitam esta equivalência.
Também metem o Miguel Sousa Tavares como grande comentador de economia. Outro é o "professor". Que é que aquele homem percebe de economia?
São fulanos que de economia percebem tanto como eu percebo de mulheres, menos que nada.
Nada, é zero, mas eu sei coisas erradas. É como os ditos cujo. Percebem muito de economia, da errada.
Mas ganham uma boa maquia como comentadores.
Afinal eu é que sou o burro que não ganho nada (como comentador).
Se os governantes não conseguem convencer o povo desta equivalência, Portugal não pode continuar na Zona Euro.

Será a nossa situação e dos demais PIIGS desesperada?
Os anunciadores da desgraça dizem que se alguém sair da Zona Euro, a sua nova moeda vai desvalorizar 50%.
Isso é completamente falso não tendo qualquer fundamento.
Eu sei que aqueles que me ganharam lá naquele prémio defendem isso mas são uns ignorantes totais. Afirmo-o sem reserva.
Desde a fundação do Euro, a Alemanha manteve a evolução dos custos nominais horários do trabalho nos 2.2%/ano, muito próximo da taxa de inflação.
Nesse período os PIIGS, com a Grécia à cabeça, aumentamos os custos do trabalho o que aumentou os preços e levou à perda de competitividade das empresas.

Fig. 1 - Evolução dos custos horários do trabalho relativamente à Alemanha (Dados: Eurostat)

Agora, Portugal tem que descer os custos do trabalho em 15%.
Não é nada do outro mundo.
Já diminuiu 5% mas ainda é preciso cortar os subsídios de férias e de Natal como aplicado à função pública a toda a gente e aumentar o horário de trabalho em 0.5h/dia.
Não é nada que não se aguente. É muito melhor que ter uma taxa de desemprego de 15.2% e explosiva.
Mas a perda do rendimento vai ser muito menor que 15% porque os preços vão diminuir 10%.

A Grécia, a Irlanda e a Itália têm que descer 20%.
A Irlanda e a Grécia já reduziram os custos do trabalho em 10% relativamente a 2008 mas ainda têm que descer mais 20%. Como a descida na Irlanda foi facilitada pelo governo, o impacto social foi muito menor que na Grécia.

A Espanha tem que descer 30%.
É um trabalho muito mais difícil porque o governo espanhol tem assobiado para o ar e teimado em não fazer nada que facilite o ajustamento do mercado de trabalho.
Está preso à convicção que os salários não podem descer.

A treta do "crescer e criar emprego".
É como estar a afogar e, em vez de gritar para que lhe atirem uma bóia, teimar em dizer que está tudo bem e que tem que aprender a nadar.

Porque será bom o governo facilitar as descidas dos salários?
Os salários vão descer na mesma mas o trabalhador vai passar por um período de desemprego.
Ganha hoje 1000, vai para o desemprego e depois fica a ganhar 700.
Se a empresa não pode ajustar o salário, vai despedir o trabalhador ou falir porque não consegue gerar receita que permita pagar o salário.
Para uma descida de 5% temos uma taxa de desemprego de 15.2%.
Esperar que o mercado de trabalho ajuste por si, vai levar a taxa de desemprego para os 20% durante uns anos.

Dizem que os nossos empresários são maus.
É verdade porque as pessoas inteligentes, como o Louçã e eu, são funcionários públicos.
Há milhares de empresários que não tiram 1€/h de trabalho. E vivem cheios de preocupações. É melhor ser funcionário público.
Temos maus empresários, maus políticos, maus funcionário públicos, maus alunos, maus professores, maus de tudo.
Mas em Marrocos ou na Guiné-Bissau ainda há piores.

Quando a empresa abre falência, perde-se capital.
O trabalhador perde competências, as máquinas ficam sem uso, a carteira de clientes perde-se, há uma grande perda económica. Por isso é que a Irlanda está a ajustar a sua economia sem sobressaltos de maior. 

O António Borges deveria explicar porque os salários têm que descer.Mas é um covarde que pensa que o povo português é tão burro que não vale a pena o aborrecimento de explicar que tem que ser.
"Ai não, eu não disse isso, eu disse é que tenho um tacho qualquer no qual ganho umas pequenas maquias que dão para a despesa do golf e falou-se em cortar-me essa maquia".
"Eu quere continuar a mamar e por isso desdigo o que disse. Força, aumentem os salários a começar pelo meu."
"E façam eólicas e essas merdas que o povo burro gosta"
"Ai não, eu não disser isso."
"Disse que são essa inovações tecnológicas que nos vão colocar na vanguarda do Mundo como os navegadores que deram a conhecer novos mundos ao Mundo".

Será que vamos ficar com salários ao nível dos chineses?Não. Em média, um português ganha o triplo de um chinês e, descendo 15%, ainda ficamos muito acima.
Não é descer 50%, é apenas 15%.
É alguém capaz de me dizer de onde esses iluminados tiram esse número de 50%?
De que cartola?

Na emergência actual o governo tem que actuar para induzir uma descida rápida dos custos do trabalho.1 - Cobra como TSU excepcional aos trabalhadores sobre os subsídios de férias e de Natal como o corte aplicado aos funcionários públicos;
2- Com esse dinheiro, desce a TSU do empregador dos salários inferiores a 1200€, mais nos salários mais baixos, de forma a descer os salários em 15%.

A prazo, o código do trabalho tem que incluir mecanismos para o ajustamento dos salários.

O Borges, o Catroga, o Mexia e toda a cambada só querem um tachinho.

Pedro Cosme Costa Vieira

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Best Hostgator Coupon Code