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terça-feira, 5 de julho de 2011

O discurso infértil do apocalipse

Um filme famoso. Afinal é também o filme do discurso que diariamente ouvimos


O discurso mainstream é agora e cada vez mais de carácter apocalíptico. Vamos sair da Zona Euro. Os 78 mil milhões de euros de ajuda externa a Portugal são insuficientes. A austeridade veio para ficar durante muito tempo. Não somos muito diferentes dos gregos. Não adianta pagar mais impostos, porque o dinheiro arrecadado é sempre mal gerido. Somos incapazes de criar riqueza. Bem-vindo ao país do triste fado.

Os quatro cavaleiros do apocalipse. Todos nós podemos atribui-lhes uma identidade
 de algum comentador apocalíptico da actualidade. Silva Lopes, João Ferreira do Amaral, etc.
 Ah, Medina Carreira é também uma boa escolha!

A literatura apocalíptica tem uma importância considerável na história da tradição judaico-cristã-islâmica, ao veicular crenças como a ressurreição dos mortos, o dia do Juízo Final, o céu, o inferno e outras que são ali referidas de forma mais ou menos explícita. No actual quadro político-económico da Europa, todos nós temos opiniões sobre o que significará a ressurreição dos mortos, quando chegará o Dia do Juízo Final, o que é exactamente estar no céu ou no inferno, etc.

A actual equipa ministerial tem um duplo desafio: primar pela competência na gestão da coisa pública e elevar a moral dos portugueses. Impossível? Não era isso mesmo que se dizia sobre o orgulho dos portugueses relativamente à selecção de futebol, até aparecer um brasileiro que conseguiu criar uma bandeirite aguda? E não ficamos todos orgulhosos quando ouvimos os nomes de Cristiano Ronaldo, Mourinho ou até de Carlos Tavares, número 2 da Renault/Nissan mundial, entre muitos outros exemplos?

Scolari e C. Ronaldo. A pergunta "burro sou eu?"  tornou o primeiro famoso
num sketch dos  Gato Fedorento.

Se lermos João Ferreira do Amaral, que adivinha a saída de Portugal da Zona Euro, ou Silva Lopes, que nos compara aos gregos e antevê a queda do Carmo e da Trindade, mais vale comprarmos ansiolíticos (baratinhos), metermo-nos na cama o dia todo e o mundo que se dane. O discurso negativista, destruidor, antipoder vende bem. É uma verdade bem conhecida, mas que normalmente não leva a lado nenhum.

Portugal e a Europa em geral precisam de um novo ritmo

Mais vale olharmos para os proponentes de um New Deal europeu: vamos lá a investir em vez de simplesmente poupar e dar um empurrão à entrevada economia da Zona Euro. Gastar mais do que se tem é uma lógica que tem de ser anulada, em Portugal e não só. Mas limitarmo-nos a dizer que diminuir salários, pensões, subsídios e aumentar indefinidamente os impostos é a única solução não cabe na cabeça de ninguém!

Pedro Palha Araújo

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