Como já ouviram falar, há uma APP para smartphone para seguir o Covid-19.
Essa aplicação é simples.
O emissor de bluetooth, tem um número único (de 48 bits), o bt-address, que emite sempre que detecta outro aparelho bluetooth. Um exemplo desse número, em hexadecimal, será 00:11:22:33:FF:EE
Em particular, os smartphones têm um emissor bluetooth e quando dois smartphones passam perto um do outro, trocam entre si a sua identificação.
O bt-address pode ser usado no marketing.
Imaginem uma pessoa que se aproxima de uma montra.
A loja capta o bt-Address guardando a hora e o tempo que a pessoa esteve em frente à montra.
No supermercado, com a ajuda das câmaras, pode ser registado por onde a pessoa passou e para onde olhou.
Um dia a pessoa entra na loja (com o seu smartphone) e é imediatamente emitido um "alarme" a dizer que a pessoa observou a montra sendo-lhe oferecido um "cupão de desconto" para as coisas que a pessoa observou.
Quando a pessoa chegar à caixa, é lido o bt-Address e, se a pessoa pagar com cartão multibanco, fica registado o seu nome.
Pode ser usado para coisas muito variadas.
Imaginem um cego que quer atravessar a rua.
Os semáforo emitem bip repetitivo que é incomodativo para quem vive perto. Como raramente p cego quert atravessar a rua, seria óptimo se o semáforo detectasse o bt-address do cego para ligar o bip.
Também uma pessoa de muletas pode ter mais tempo para atravessar a rua.
Mas vamos à aplicação.
1 = É gerado um número aleatório.
Quando a pessoa instala a aplicação no smartphone, é gerado um número
aleatório, por exemplo 453.729.312.045.263.381, que mais ninguém sabe
que é o nosso identificador.
Como este número é grande, fica garantido que mais nenhum smartphone criará um número igual.
2 = Quando dois telemóveis se aproximam.
Os
smartphones trocam os números aleatórios. O telemóvel A fica com o
número do telemóvel B e vice-versa e ainda é registado o tempo que
estivemos próximos.
Na memória do nosso smartphone fica uma lista com todos os números aleatórios com quem cruzamos, com a hora/data.
3 = A comunicação de um caso positivo.
Se alguém ficar doente, insere o seu número aleatório numa base de dados.
Teoricamente, fica registado a nosso número aleatória mas nada mais sobre a nossa identificação.
4 = Verificação de casos positivos.
Regularmente, digamos
que uma vez por hora, o nosso smartphone pergunta ao "dono" da App por
todos os números positivos que foram registados nos últimos 14 dias.
Depois, vamos procurar na lista dos números aleatórios que guardamos se
algum deles está lá e se o contacto foi maior do que 15 minutos.
Se estiver, somos avisados de que estivemos junto de uma pessoa contaminada.
A primeira falha é a não garantia de confidencialidade
Em teoria, a APP é totalmente anónima mas ninguém o verificou.
No software sensível como, por exemplo, de encriptação, a empresa disponibiliza o código fonte para que possa ser verificado por qualquer pessoa.
Ao não estar totalmente garantida a confidencialidade, as pessoas acabam por ter medo de instalar a app e, pior ainda, de introduzir o código quando estão positivos.
As pessoas positivas não precisam de ficar em confinamento.
Se a pessoa usar máscara, não tossir, falar ou espirrar, e guardar uma distância de alguns metros das outras pessoas, não existe qualquer problema em a pessoa com teste positivo fazer a sua vida normal.
Para "dominarmos" a covid-19 é preciso que todo e cada um de nós pense a cada momento que está contaminado e comportar-se de forma a não transmitir o vírus que está dentro de nós.
a pessoa, ao inserir o código de positivo, fica com medo de ser proibido de sair de casa.
Um dia o meu termómetro deu 37,7.ºC.
Também me doía qualquer coisa do lado direito, tipo o pulmão, e tinha tosse.
O problema é que no dia seguinte tinha que ir trabalhar.
Tomei 1g de Paracetamol, um Fluimucil e um omeprazol (poderia ser refluxo) e fui dormir.
No dia seguinte, levantei-me, medi a temperatura que deu 36,3.ºC e lá fui, com o cuidado de não me aproximar de ninguém.
Até poderia estar contaminado, não faço ideia, mas por causa do efeito psicológico de ficarmos doentes assim que pensamos que estamos doentes, não podemos parar assim que a aplicação nos diz que estivemos perto de alguém positivo.
Eu já estive relativamente perto de uma pessoa contaminada mas não fiquei em quarentena, fechado em casa. Tomei cuidado extra para não contaminar ninguém.
A segunda falha é a app dar pouca informação.
Dizer "Esteve, nos últimos 14 dias, a menos de 2 metros e por um período superior a 15 minutos de uma pessoa que testou positivo" é muito pouco.
Essa pessoa positiva com com nos cruzamos estava de máscara?
Terá sido num local fechado ou ao ar livre?
Havia alguma coisa entre nós, por exemplo, uma divisão de acrílico?
A app deveria ter um contaminometro!
Esse contaminometro é uma escala de 0 a 100 onde o zero traduz risco muito baixo e o 100 risco muito elevado de termos sido contaminados.
Ao longo do dia, vamos metendo informação no nosso smartphone, com maior ou menor regularidade. Por exemplo, dizer "metemos a máscara" / "tiramos a máscara", "entramos num espaço fechado", "estamos em espaço aberto".
Agora, quando nos aproximamos de outro smartphone, fica registado se temos máscara, se a outra pessoa tem máscara, se estamos num espaço fechado ou aberto.
Também deveria estar registada a idade e se pertencemos a um grupo de risco.
A terceira falha é ser assumido que os portugueses são trafulhas.
Para dizer que está positivo, tem que haver um processo borucrático com a intervenção de um médico.
Acontece que, porque as pessoas instalam a app para seu benefício próprio, não se dão ao trabalho de inserir no sistema que estão positivas.
O problema deste cientístas do INESC é não saberem que é mais grave não haver dados do que haver dados com erro.
Putura e simplesmente, a pessoa deveria ter toda a liberdade para inserir "Estou doente" e mais algum detalhe relativamente a esta informação como "Tenho teste positivo" // "Não fiz teste".
No caso de "Não fiz teste" acrescentar "Tenho febre de 39,4.C", "Tenho tosse", "Tenho falta de ar", etc.
Também, quem não fez teste, poderia dizer "Disse há 3 dias que poderia estar contaminado mas já me sinto bem" ou "Disse que estava doente há 3 dias, fiz hoje teste e deu positivo".
O cálculo do contaminómetro usará inteligência artificial.
Com toda a informação, é possível usar "aprendizagem supervisionada".
Assim, a "supervisão" acontece quando uma pessoa insere no sistema "Estou contaminado com teste positivo".
Em função do dados de todos os utilizadores, será calculada uma "probabilidade" para nós em função dos nossos dados e de todas os contactos que temos registados.
O contaminómetro vai ainda dizer o que devemos fazer.
Se podemos sair de casa, ir trabalhar, fazer compras ou se devemos ir ao hospital.
Nos casos que o contaminómetro considere complicados, o nosso smartphone contacta um call-center para falar connosco.
E a informação falsa?
Isso faz parte de todo o sistema de previsão. Má informação é melhor que ausência de informação porque os sistemas de análise conseguem separar o erro da verdade.
Havendo milhões de dados continuamente a entrar, a inteligência artificial vai conseguir fazer melhor do que com meia dúzia de "bons dados".
Além disso, continua a haver "erro" que é os positivos não inserirem essa informação.
Se a stayaway covid fosse assim...
Muitas mais pessoas instalariam e colocariam informação pois, ao inserir dados, estavam a receber um serviço personalizado.
No entretanto, ultrapassamos a China em número de casos positivos.
Existe dúvida sobre o número real de contaminadas na China não por darem dados falsos mas por as pessoas serem obrigadas a ficar 14 dias em confinamento sem serem testadas.
Isso acontece em toda a parte pelo que Organização Mundial de Saúde afirmou que já deve haver 800 milhões de contaminados apesar de só terem sido detectados 35 milhões (
ver).
Comparando os positivos identificados, já temos mais do que a China e sempre a subir.
Número de casos positivos em Portugal (pontos azuis), dias desde o primeiro caso (2 de Março 2020).
Linha de tendência a vermelho (dados da DGS, grafismo do autor).