Este exemplo de vida é importante porque tem ligação a conceitos fundamentais da Ciência Económica:
Conceito 1 : Equilíbrio de Nash
O indivíduo até pode estar numa posição que não acha agradável mas conjectura que, se mudar, vai ainda piorar a sua situação.
Por exemplo, uma pessoa está casada e não se sente feliz mas aguenta porque, simulando-se divorciado, vê-se muito mais infeliz "Queixo-me de quê? Já estamos habituados, cozinha bem, é razoável na cama, tenho dois filhos bonitos e, se a deixasse, imagino que ia encontrar uma cabra ainda pior."
O Equilíbrio de Nash, porque nenhum individuo tem incentivos para mudar, traduz uma situação de estabilidade.
Conceito 2: Óptimo de Pareto
O indivíduo não está num equilíbrio de Nash no sentido de que tem a vontade de mudar mas sabe que, mudando, vai prejudicar outra pessoa.
O exemplo mais simples é a partilha de um prato de comida quando todos estão esfomeados: se um come mais, algum dos outros tem que comer menos.
O Óptimo de Pareto traduz uma situação de instabilidade e conflito principalmente se o "jogo de partilha" estiver incluído num Equilíbrio de Nash.
Por exemplo, um prato de comida grande (tamanho 10) custa 10€ e um prato de comida pequeno (tamanho 1) custa 5€. Encontrando-se 10 amigos cheios de fome em que cada um tem apenas 1,50€, o equilíbrio de Nash é comprarem e dividirem o prato grande. Dentro desta situação, cada um vai querer comer o máximo possível, prejudicando os outros(qualquer situação é um Óptimo de Pareto).
Conceito 3: Preço / trade-off
O preço vai permitir transformar um Óptimo de Pareto num Equilíbrio de Nash compensa quem perde e penalizando quem melhora.
No exemplo do prato grande, alguém que queira comer mais 25%, vai pagar 0,50€ a alguém que passe a estar disponível para comer menos 25% porque, mais tarde, em vez de ir a pé para casa, vai usar esses 0,50€ para o bilhete do autocarro.
Todos nós nos levantamos de manhã cedo e vamos trabalhar para, no fim do mês, termos o nosso salário (para comprarmos coisas) e o patrão para ter quem faça coisas (que vendo com lucro).Existe então um balanceamento entre o sacrifício e a recompensa.
A mulher com tendência para ser gorda faz dieta e ginásio (sacrifício) para gostarem dela (benefício).
O problema?
"Não vou gastar 1000€ quando não sou eu que faço o barulho, isso seria deixar de acreditar no estado de direito e dar parte de fraca. Tenho que exigir os meus direitos, lutar pelo cumprimento da Constituição."
Imaginem que A encontra B e que, em conjunto, se sentem mais felizes do que em separado.
Esta situação será, em termos globais, um Equilíbrio de Nash e aqui é que está o problema.
É que A pode melhorar ainda mais se "empurrar" o B um bocadinho.
Se o B for à praia quando o A quiser, se o B cozinhar o que o A quiser, se o B fizer o que o A quiser será melhor para o A e, naturalmente, pior para o B.
Claro que o A vai dizer "Se o B me amar vai ficar contente por responder afirmativamente aos meus pedidos, vai gostar de me ver feliz." Mas, com esta afirmação está a confessar "eu não amo o B, tenho é interesse em que ele me faça as vontades."
Quando estas situações são um Equilíbrio de Nash, nem A nem B querem sair da relação, tem um ambiente de constante violência verbal que, muitas vezes, evolui para violência física.
Vamos aos direitos.
Quando A conhece B, o A passa a pensar que adquiriu direitos sobre B.
Mas esses direitos vêm de onde?
Qual é a origem dos direitos?
Onde está o contrato em que esses direitos são instituídos?
De facto, os direitos não existem e são apenas um justificação sem justificação que A usa para "empurrar" o B.
Há duas questões filosóficas relacionadas com a sexualidade.
Imaginem que B não é uma menina de coro, que previamente já trancou com 10 pessoas diferentes.
Será que A, começando uma relação com B, tem o direito de "exigir" relações sexuais a B?
Vamos ainda supor que o B nunca teve relações sexuais com ninguém (que não com ele próprio).
Será que B tem o direito a proibir A de ter relações sexuais com terceiros até um quantitativo de 10?
Isto trás à discussão a Teoria da Relatividade!
O tempo é mais uma dimensão da realidade espacio-temporal.
Sendo assim, em que é que o Passado é diferente do Futuro?
Para a relação actual, em que distingue A ter trancado com 10 no passado com B vir a trancar com 10 no futuro?
Porque impõe A a B que o Futuro é diferente do Passado?
De onde lhe vem este poder?
O problema é que pensa ter o direito a uma casa num dos sítios mais caros da cidade, a ter a filha num colégio caríssimo, a ter um homem bonito e inteligente (mas que deu à sola).
A minha empregada foi-se hoje embora.
Vejam só.
Contratei uma empregada que veio para Portugal nessas vagas de refugiados da Ex-URSS, veio do Uzbequistão, com pena dela.
Dei-lhe a chave de minha casa.
Tem a minha casa numa desarrumação total.
Nunca a mandei trabalhar nem lhe disse alguma vez "tem que arrumar melhor".
Pedi à minha irmã para a contratar que, depois de lá estar uns meses, me disse "não a quero nem de graça."
É feia como um sapo, gorda e velha.
Teve a lata de dizer mal das camisolas de lã da Pull & Bear que comprei ao cigano (paguei 6€ por 5 camisolas, para o ajudar). Quando lhe fui mostrar as camisolas em horas remuneradas, disse "isso não presta, eu não dava nem 1€ pelas 5".
Hoje disse-me "Se não me pagar mais, vou-me embora."
Deixou a chave em cima da mesa e foi-se embora.
Não se pode ter pena de ninguém.
Eu fiquei na mesma pois já estava farto dela mas, pensando ela que eu estava precisado por ter que tratar da minha mãe acamada, decidir "empurrar" um bocadinho.
Com a máquina de lavar roupa, a máquina de lavar louça, a varinha mágica e a comer sandes, I will survive.
Finalmente, o Teorema de Coase.
Numa economia de mercado (com custos de transacção reduzidos), todos os problemas de relacionamento entre as pessoas podem ser resolvido individualmente, alterando nós o nosso comportamento ou pagando para que o outro altere o seu.
Assim, se as pessoas não se concentrassem em defender direitos que o Estado não consegue fazer cumprir (como o Direito a Constituir Família), todos seríamos mais felizes.
Isto não é mais do que o pensamento de Sidarta Gautama, Buda: A nossa felicidade está dentro de cada um de nós.