O Sócrates achava que Portugal ia ser líder mundial no uso dos automóveis eléctricos.
Dizia ele que a electricidade é muito mais barata que os combustíveis fósseis.
Vamos ver se isso é verdade.
Quanto custa um kwh produzido num motor a gasóleo?
O preço do gasóleo na bomba é cerca de 1,00€/litro (
ver) mas, neste valor, 2/3 são impostos, seja o ISP, 0,4424€/litro (
ver), ou o IVA, 23% sobre tudo, incluindo o ISP. Assim, actualmente, o preço sem impostos é de apenas 0,33€/litro.
Um motor a gasóleo gasta 0,205g/h para produzir 1KW de potência (ver,
Audi 2.5 litre TDI) o que, dada a densidade do gasóleo, 0,853kg/litro, tal traduz um consumo de 0,24 litros/h para produzir um kw de potência.
Como na transmissão entre o motor e as rodas e na caixa de velocidades há uma perda de potência na ordem dos 10%, na potencia na roda (diz-se "no cubo"), temos um custo de:
Custo do gasóleo por kwh no cubo = 0,24 litro/kwh x 0,33€/litro / (1-10%) = 0,088 €/kwh
Quanto custa um KWh produzido por um motor eléctrico?
O preço da electricidade na nossa factura é de 0,1644€/kwh ao qual temos que descontar o IVA de 23%. então, o custo é de 0,134€/kwh, maior que o preço do gasóleo.
Acresce que entre a tomada, a bateria e o motor existe uma perda de 30% pelo que "no cubo", temos um custo de:
Custo da electricidade por kwh no cubo = 0,134€/kwh / (1-30%) = 0,191 €/kwh
Fig. 1 - Este autocarro escolar detém o recorde de menor consumo, 5kg de broa aos 100km.
A electricidade fica 117% mais cara que o gasóleo.
Em termos de combustível, afinal o gasóleo fica bastante mais barato que a electricidade.
Acresce a este facto que o motor a gasóleo co-gera calor que, nos países e nos meses mais frios, é necessário para o aquecimento dos passageiros. Assim, um carro precisa de um mínimo de 5kw de potência para o aquecimento o que, num consumo de 5 l/h, 20kw, obriga a um incremento no consumo do carro eléctrico em 25%.
Custo da electricidade por kwh no cubo em dias frios = 0,191€/kwh x (1+25%) = 0,239€/kwh
Em dias frios, a energia do carro eléctrico custa quase o triplo do combustível do carro a gasóleo.
Não confundir preço com custo.
Claro que está a pensar "mas, como eu pago impostos, no meu bolso, a potência produzida com gasóleo custa 0,264€/kwh e eu consigo electricidade a metade do preço no período noturno pelo que a potência produzida com electricidade custa-me apenas 0,147€/kwh."
Isso é verdade mas o Costa precisa do imposto que cobra sobre os combustíveis rodoviários (2300*1,23 = 2800 milhões €,
ver). Se mais e mais pessoas deixarem de usar combustíveis líquidos, o Costa terá que ir buscar esse imposto a algum lado, acabando a electricidade que vai usar no automóvel por ter que pagar "ISP".
Por outro lado, a electricidade é mais barata de noite porque ninguém a usa. Para substituir os combustíveis líquidos seriam precisos cerca de 11000 kw de potência entre a 1h e as 7h da madrugada quando o consumo médio ao longo das 24 h de 2015 foi de 5100 kw (
ver), com apenas metade em baixa tensão (as nossas casas e pequenos negócios). Assim, o consumo de electricidade (e a conta) das nossas casas teria que quadriplicar para podermos meter electricidade nos nossos carros todos.
E há a bateria.
Eu tinha um colega meu do Judo, engenheiro de formação, que estava a trabalhar numa bicicleta electrica. Disse-me ele que "Para a bicicleta andar a 36km/h precisa de uma potência de 0,25kw, um terço de cavalo, o que fica muito barato, apenas 0,75€ por 100 km."
O tempo foi passando, ele desapareceu das aulas e, vim a saber pela D. Fernanda, que "teve problemas com a empresa, penso que faliu."
Pensei eu para com os meus botões, como pode ter falido se a bicicleta eléctrica fica tão barata?
Fui então investigar.
O problema está na bateria.
Uma bateria de 0,36 kwh, que daria para a bicicleta ter uma autonomia de 40km, custa 600€.
Depois, a bateria só aguenta 400 cargas!
Quer isto dizer que, se uma pessoa andar 20 km para o emprego e voltar, gasta um máximo de 0,10€/viagem em electricidade mas, em bateria, vai desgastar 1,50€ pelo que o custo total fica em 1,60€.
Assim, em vez de ficar barato, fica mais caro do que andar de autocarro a que acrescenta o custo da bicicleta (700€ sem bateria) com o risco de ser roubada.
Num carro coloca-se o mesmo problema. A bateria custa milhares de euros e, ao fim de apenas alguns milhares de quilómetros tem que ser substituída.
E se os combustíveis fósseis acabarem?
Isso já será outra conversa. Se o petróleo (e o gás natural, pois ainda é muito mais barato que usar electricidade) diminuir de forma a que o seu preço aumente para 200 dólares por barril, 6 vezes o preço actual, a electricidade já se tornará rentável.
Se houver uma inovação tecnológica (por exemplo, nas células solares e nas baterias) que leve a electricidade dos 0,16€/kwh para 0,03€/kwh também já será competitivo usar electricidade nos automóveis.
Até lá, serão sonhos de governantes loucos.
A solução é a bicicleta mas tem que ser melhorada.
No uso individual, a bicicleta é um veículo barato, podendo-se na Índia comprar uma bicicleta de 26'' nova por 65€ (Rs. 4521,
ver). Também é energeticamente muito eficiente, multiplicando pelo menos por 5 a distância que conseguimos percorrer e por 10 a carga que conseguimos transportar com as nossas pernas (em bom piso e plano).
Mas as bicicletas precisam melhoramentos ao nível do uso colectivo em que cada um possa pedalar na medida das suas possibilidades.
Fig. 2 - Nos países pobres como a Índia, a bicicleta é o principal veículo "auto"móvel.
Portugal pode passar a ser a Meca das "quadricletas".
Existem bicicletas para duas, três ou mais pessoas em que todos pedalam mas existem problemas na transmissão da energia das diferentes pessoas à roda. Como Portugal, tem tradução e é o terceiro maior produtor de bicicletas da Europa (
ver). O sector concentra-se na parte oriental do Distrito de Aveiro (no triângulo, Águeda, Sangalhos, Cantanhede).
Fig. 3 - Nesta bicicleta, o motorista tem que ter carta de pesado com serviço público de passageiros (por ter mais de 9 passageiros,
ver)
Criar a Volta a Portugal em quadricleta.
A melhor forma de "obrigar" a industria a inovar é criar uma prova onde haja concorrência entre os produtores.
Tal como existem corridas de barcos com vários remadores, cria-se uma prova para bicicletas com vários atletas, por exemplo, 4 atletas e 100 kg de carga que, por questões de segurança, terão que ser nas autoestradas, e temos tantas sem trânsito.
Estou a imaginar uma tirada a começar na fronteira em Valença e a acabar no mar em Albufeira, 650km, 10 horas a pedalar e, no dia seguinte, voltar tudo para cima. Penso que ia ter mais impacto que o Paris-Dakar.
Depois, o Ministério da Industria, dá à equipa vencedora um incentivozito de 100 mil €.
Fig. 4 - Não há nada melhor do que a bicicleta para fazer mulheres boas.
E como estamos de Ébola?
Cheguei a pensar que não nos íamos safar. Ver aqueles bairros de lata totalmente caóticos, as pessoas com muito pouca escolaridade, sem esgotos nem médicos e sem haver qualquer tratamento retiraram toda a esperança de que os africanos conseguissem controlar a epidemia.
Imaginei o Ébola a alastrar como fogo na gasolina, primeiro milhares, depois milhões e dezenas de milhões para, por fim, fazer-se a conta em centenas de milhões de mortes.
Extraordinário.
Desde o dia 25 de Novembro que não é registado nenhum caso novo!
Em 28542 casos registados, morreram 11299 pessoas, uma taxa de mortalidade de 40%.
28542 pessoas que fizeram face à doença de mãos nuasn sem qualquer esperança e sem qualquer ajuda médica mais que não fosse que uma cobertura em lona e água para beber.
Mas os africanos conseguiram, a epidemia acabou.
Enganei-me totalmente, os africanos conseguiram derrotar o vírus mas deixaram milhares de crianças orfãs.
Fig. 5 - Os esquerdistas não falam dos orfãos do Ébola (e da SIDA) talvez por não aparecerem nos noticiários (ou por serem pretos retintos?).
Pedro Cosme Vieira