sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A sondagem de todas as sondagens presidenciais

Temos 3 sondagens. 
Procurei no Google informação sobre as sondagens presidenciais de ontem mas não encontrei anda. Então, meti a minha TV para ontem e revi os telejornais.


- - - - - - - - - - -Cat / RTP - - Eur /SIC - - Inter/TVI - - - Sondagem das sondagens
Marcelo - - - - - - - -52% - - - - - 55% - - - - 51,8%- - - - - - - 53,1%
Nóvoa - - - - - - - - -22% - - - - - 19% - - - -16,9%- - - - - - - 19,9%
Maria de Belém - - - 8% - - - - -13,3% - - - 10,1%- - - - - - - 10,4%
Respostas - - - - - -3340 - - - - - 2015 - - - - 1043 - - - - - - - 5298
Indecisos - - - - - - 18% - - - - - 16,1% - - - - 14,5% - - - - - -16,6%
Taxa de resposta -  68% - - - - - ????? - - - - -60,9% - - - -  - 65,7%


Com estes dados posso fazer uma meta-análise.
Primeiro, juntei as 3 amostras numa amostra (a população a usar na meta-análise) maior refazendo os resultados da melhor forma possível dada a informação disponibilizada.



Catolica EuroSond   InterCamp         Total
Marcelo 955 930 462 2347
Novoa 404 321 151 876
Belém 147 225 90 462
Abst 403 324 151 879
Telefonemas 3294 3065 1713 8072
Respostas 2240 2015 1043 5298


#Programa em R usado no cálculo da probabilidade de haver segunda volta
#Marcelo, Novoa, Belem, Outros, Não Respondeu
  Respostas <- c(2347, 876, 462, 734, 3653)/8072 # Respostas relativas nas 3 sondagens
  Marcelo<-0; Novoa<-0; Belem<-0 #Inicializo as variáveis que guarda os resultados de cada candidato
#Faço 100000 "sondagens" por bootstraping
  for (i in 1:100000)
    {sondagem <- sample(c("1M", "2N", "3B", "4O", "5NR"), 8072, prob = Respostas, replace=TRUE)
    s <- table(sondagem) #Conta quantos votos tem cada um
    Marcelo[i] <- s[1]/(8072-s[5]) #Calcula a percentagem dos votos expressos
    Novoa[i] <- s[2]/(8072-s[5])
    Belem[i] <- s[3]/(8072-s[5])
    }
#Resultado do Marcelo correspondente ao percentil 0,01%, 10/100000
sort(Marcelo)[10]
[1] 0.503132

Agrupando as 3 sondagens numa-meta análise, posso concluir que
1 => A probabilidade de haver uma segunda volta é menor que 0,01%
2 => Com um grau de confiança 99%
         Marcelo vai ter entre 51,2% e 55,1%
         Nóvoa vai ter entre 18,3% e 21,4%
         Maria de Belém vai ter entre 9,3% e 11,7%

A probabilidade de o Marcelo ter na primeira volta menos que 50% é remota, inferior a 0,01%

As pessoas gostam de saber o erro a 95%.
Marcelo +-2,1 pp
Nóvoa +-1,7 pp
Belém +- 1,3 pp

#codigo do R
(sort(Marcelo)[100000-250] -sort(Marcelo)[250])/2
(sort(Novoa)[100000-250] -sort(Novoa)[250])/2
(sort(Belem)[100000-250] -sort(Belem)[250])/2

p.s. - Os resultados finais.
As eleições realizaram-se e os resultados foram
Segunda Volta --> Não houve (dentro da previsão)
Marcelo --> 52,00% (dentro da previsão)
Nóvoa --> 22,89% (ligeiramente acima da previsão)
Belém --> 4,24 (muito longe da previsão)


segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Serão os veículos eléctricos o futuro dos transportes?

O Sócrates achava que Portugal ia ser líder mundial no uso dos automóveis eléctricos. 
Dizia ele que a electricidade é muito mais barata que os combustíveis fósseis.
Vamos ver se isso é verdade.

Quanto custa um kwh produzido num motor a gasóleo?
O preço do gasóleo na bomba é cerca de 1,00€/litro (ver) mas, neste valor, 2/3 são impostos, seja o ISP, 0,4424€/litro (ver), ou o IVA, 23% sobre tudo, incluindo o ISP. Assim, actualmente, o preço sem impostos é de apenas 0,33€/litro.
Um motor a gasóleo gasta 0,205g/h para produzir 1KW de potência (ver, Audi 2.5 litre TDI) o que, dada a densidade do gasóleo, 0,853kg/litro, tal traduz um consumo de 0,24 litros/h para produzir um kw de potência.
Como na transmissão entre o motor e as rodas e na caixa de velocidades há uma perda de potência na ordem dos 10%, na potencia na roda (diz-se "no cubo"), temos um custo de:
      Custo do gasóleo por kwh no cubo = 0,24 litro/kwh x 0,33€/litro / (1-10%) = 0,088 €/kwh

Quanto custa um KWh produzido por um motor eléctrico?
O preço da electricidade na nossa factura é de 0,1644€/kwh ao qual temos que descontar o IVA de 23%. então, o custo é de 0,134€/kwh, maior que o preço do gasóleo.
Acresce que entre a tomada, a bateria e o motor existe uma perda de 30% pelo que "no cubo", temos um custo de:
      Custo da electricidade por kwh no cubo = 0,134€/kwh / (1-30%) = 0,191 €/kwh

Fig. 1 - Este autocarro escolar detém o recorde de menor consumo, 5kg de broa aos 100km.

A electricidade fica 117% mais cara que o gasóleo.
Em termos de combustível, afinal o gasóleo fica bastante mais barato que a electricidade.
Acresce a este facto que o motor a gasóleo co-gera calor que, nos países e nos meses mais frios, é necessário para o aquecimento dos passageiros. Assim, um carro precisa de um mínimo de 5kw de potência para o aquecimento o que, num consumo de 5 l/h, 20kw, obriga a um incremento no consumo do carro eléctrico em 25%.
      Custo da electricidade por kwh no cubo em dias frios = 0,191€/kwh x (1+25%) =  0,239€/kwh
Em dias frios, a energia do carro eléctrico custa quase o triplo do combustível do carro a gasóleo.

Não confundir preço com custo.
Claro que está a pensar "mas, como eu pago impostos, no meu bolso, a potência produzida com gasóleo custa 0,264€/kwh e eu consigo electricidade a metade do preço no período noturno pelo que a potência produzida com electricidade custa-me apenas 0,147€/kwh."
Isso é verdade mas o Costa precisa do imposto que cobra sobre os combustíveis rodoviários (2300*1,23 = 2800 milhões €, ver). Se mais e mais pessoas deixarem de usar combustíveis líquidos, o Costa terá que ir buscar esse imposto a algum lado, acabando a electricidade que vai usar no automóvel por ter que pagar "ISP".
Por outro lado, a electricidade é mais barata de noite porque ninguém a usa. Para substituir os combustíveis líquidos seriam precisos cerca de 11000 kw de potência entre a 1h e as 7h da madrugada quando o consumo médio ao longo das 24 h de 2015 foi de 5100 kw (ver), com apenas metade em baixa tensão (as nossas casas e pequenos negócios). Assim, o consumo de electricidade (e a conta) das nossas casas teria que quadriplicar para podermos meter electricidade nos nossos carros todos.

E há a bateria.
Eu tinha um colega meu do Judo, engenheiro de formação, que estava a trabalhar numa bicicleta electrica. Disse-me ele que "Para a bicicleta andar a 36km/h precisa de uma potência de 0,25kw, um terço de cavalo, o que fica muito barato, apenas 0,75€ por 100 km."
O tempo foi passando, ele desapareceu das aulas e, vim a saber pela D. Fernanda, que "teve problemas com a empresa, penso que faliu."
Pensei eu para com os meus botões, como pode ter falido se a bicicleta eléctrica fica tão barata?
Fui então investigar.

O problema está na bateria.
Uma bateria de 0,36 kwh, que daria para a bicicleta ter uma autonomia de 40km, custa 600€.
Depois, a bateria só aguenta 400 cargas!
Quer isto dizer que, se uma pessoa andar 20 km para o emprego e voltar, gasta um máximo de 0,10€/viagem em electricidade mas, em bateria, vai desgastar 1,50€ pelo que o custo total fica em 1,60€.
Assim, em vez de ficar barato, fica mais caro do que andar de autocarro a que acrescenta o custo da bicicleta (700€ sem bateria) com o risco de ser roubada.
Num carro coloca-se o mesmo problema. A bateria custa milhares de euros e, ao fim de apenas alguns milhares de quilómetros tem que ser substituída.

E se os combustíveis fósseis acabarem?
Isso já será outra conversa. Se o petróleo (e o gás natural, pois ainda é muito mais barato que usar electricidade) diminuir de forma a que o seu preço aumente para 200 dólares por barril, 6 vezes o preço actual, a electricidade já se tornará rentável.
Se houver uma inovação tecnológica (por exemplo, nas células solares e nas baterias) que leve a electricidade dos 0,16€/kwh para 0,03€/kwh também já será competitivo usar electricidade nos automóveis.
Até lá, serão sonhos de governantes loucos.

A solução é a bicicleta mas tem que ser melhorada.
No uso individual, a bicicleta é um veículo barato, podendo-se na Índia comprar uma bicicleta de 26'' nova por 65€ (Rs. 4521, ver). Também é energeticamente muito eficiente, multiplicando pelo menos por 5 a distância que conseguimos percorrer e por 10 a carga que conseguimos transportar com as nossas pernas (em bom piso e plano).
 Mas as bicicletas precisam melhoramentos ao nível do uso colectivo em que cada um possa pedalar na medida das suas possibilidades.

Fig. 2 - Nos países pobres como a Índia, a bicicleta é o principal veículo "auto"móvel.

Portugal pode passar a ser a Meca das "quadricletas".
Existem bicicletas para duas, três ou mais pessoas em que todos pedalam mas existem problemas na  transmissão da energia das diferentes pessoas à roda. Como Portugal, tem tradução e é o terceiro maior produtor de bicicletas da Europa (ver). O sector concentra-se na parte oriental do Distrito de Aveiro (no triângulo, Águeda, Sangalhos, Cantanhede).

Fig. 3 - Nesta bicicleta, o motorista tem que ter carta de pesado com serviço público de passageiros (por ter mais de 9 passageiros, ver)

Criar a Volta a Portugal em quadricleta.
A melhor forma de "obrigar" a industria a inovar é criar uma prova onde haja concorrência entre os produtores.
Tal como existem corridas de barcos com vários remadores, cria-se uma prova para bicicletas com vários atletas, por exemplo, 4 atletas e 100 kg de carga que, por questões de segurança, terão que ser nas autoestradas, e temos tantas sem trânsito.
Estou a imaginar uma tirada a começar na fronteira em Valença e a acabar no mar em Albufeira, 650km, 10 horas a pedalar e, no dia seguinte, voltar tudo para cima. Penso que ia ter mais impacto que o Paris-Dakar.
Depois, o Ministério da Industria, dá  à equipa vencedora um incentivozito de 100 mil €.


Fig. 4 - Não há nada melhor do que a bicicleta para fazer mulheres boas.

E como estamos de Ébola?
Cheguei a pensar que não nos íamos safar. Ver aqueles bairros de lata totalmente caóticos, as pessoas com muito pouca escolaridade, sem esgotos nem médicos e sem haver qualquer tratamento retiraram toda a esperança de que os africanos conseguissem controlar a epidemia.
Imaginei o Ébola a alastrar como fogo na gasolina, primeiro milhares, depois milhões e dezenas de milhões  para, por fim, fazer-se a conta em centenas de milhões de mortes.

Extraordinário.
Desde o dia 25 de Novembro que não é registado nenhum caso novo!
Em 28542 casos registados, morreram 11299 pessoas, uma taxa de mortalidade de 40%.
28542 pessoas que fizeram face à doença de mãos nuasn sem qualquer esperança e sem qualquer ajuda médica mais que não fosse que uma cobertura em lona e água para beber.
Mas os africanos conseguiram, a epidemia acabou.
Enganei-me totalmente, os africanos conseguiram derrotar o vírus mas deixaram milhares de crianças orfãs.

Fig. 5 - Os esquerdistas não falam dos orfãos do Ébola (e da SIDA) talvez por não aparecerem nos noticiários (ou por serem pretos retintos?).

Pedro Cosme Vieira

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