quarta-feira, 29 de julho de 2015

25 - O Anúncio

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (24 - A reunião)    




25 – O anúncio
Quando todos se preparavam para ir embora, o Sr. Dessilva pediu à Isabel se poderia ficar mais um pouco para falar um pouco da história da morte do Abel e do seu amigo Alberto havia muitos anos assassinados no monte. A razão da sua curiosidade, disse, tinha a ver com o Jonas, seu sócio na ourivesaria que tinha na América, lhe falar repetidamente nessas duas pessoas de quem era muito amigo.
– Sabe Sr. Dessilva, não lhe vou poder avançar com muita informação porque não a tenho, a minha irmã é que os procurou no monte e foi mesmo ela quem encontrou o Alberto, já morto e comido pelos lobos. Nesse tempo eu era praticamente uma criança pelo que pouco me lembro. Lá em casa falava-se que a Júlia iria casar com esse Abel mas o casamento não chegou a acontecer exactamente por o terem matado, disseram que foram pessoas que vieram do Vale com o intuito de lhe roubar as ovelhas.
– E a Isabel tem mesmo a certeza de que o Abel morreu?
– Eu tenho a certeza absoluta tal como todas as pessoas daqui menos a minha irmã que diz que, tendo procurado por todo esse monte, nunca encontrou nada que indicasse a sua morte. Nunca encontrou nada do Abel, nem os cães nem a roupa, o lhe dá esperanças de que nunca tenha morrido.
– A Isabel acha mesmo que pode estar vivo, perdido numa gruta qualquer?
– Nunca, é impossível uma pessoa sobreviver sozinha, lá encima, uma noite sequer quanto mais 40 anos e sem nunca ter dado notícias! Eu penso que os lobos enfiaram o corpo numa toca tendo assim enterrado a roupa, os lobos  são como os cães, têm o hábito de enterrar a comida para o Inverno. A Júlia nunca perdeu a esperança mas é uma maluqueira dela, não se cansa de repetir que “O Abel não morreu porque os cães não apareceram.”
– Mas então os cães não poderiam também ter sido comidos pelos lobos?
– A Júlia diz que não pode ser porque o Abel punha sempre a coleira de espetos nos cães e que nenhum lobo seria capaz de os comer assim protegidos. Mas o Sr. acha que decorridos 40 e tal anos pode lá esse Abel estar vivo? Os cães podem até ter escapado num primeiro momento mas alguém de outra aldeia viu-os, gostou deles elevou-os.
O Dessilva abanou a cabeça em sinal afirmativo. Depois, despediu-se e foi-se para casa ainda pensando durante o caminho um pouco no assunto “Sim, estou a ver que toda a gente pensa que o Abel está morto.”
Quando chegou a casa do Sr. Costa já estava a pensar na organização da viagem para América. No dia seguinte iria mandar afixar um aviso a informar as pessoas das condições da viagem e assim foi. No dia seguinte levantou-se cedo, preparou-se e foi falar com o Sr. Padre Augusto para que fosse afixado um folheto na porta da igreja a anunciar a abertura de candidaturas. Ficou acordado que os casais interessados teriam que escrever os nomes, as datas de nascimento e as notas de conclusão da escola de cada um e ainda o número de filhos e as suas idades, informação que teria que ser entregue em casa do Sr. Costa durante a semana seguinte.
O Padre Augusto achou bem que também fossem dadas algumas palavras às pessoas. Então, combinou com o Dessilva que o melhor que, no fim da missas, o Dessilva falasse com as pessoas que o quisessem.
– Meus irmãos, vou agora terminar esta Santa Missa trazendo-vos uma boa notícia. Como sabem tem estado entre nós um senhor americano, o Sr. Dessilva. Este senhor que está aqui a meu lado, que está na aldeia para organizar a viagem de 30 casais jovens rumo à América – criou-se um certo burburinho, tudo em voz baixa “O quê, o quê, não ouvi bem, quem é que vai para a América?”.
– Um nosso irmão, o Jonas, emigrou há muitos anos para a América e vai mandar carta de chamada para que 30 casais possam emigrar para a beira dele. É o Sr. Dessilva que está a tratar de tudo.
Nessa altura todos se esticaram para ver onde estava o Sr. Dessilva. Como o burburinho aumentou, o Padre Augusto teve que pôr ordem na multidão “Silêncio, silêncio que estamos na casa do Senhor. Como eu ia dizendo, claro que devem estar a pensar no problema da viagem, como tratar os papeis, onde arranjar dinheiro para pagar o navio e para sustentar as crianças que vão ficar aqui. Mas tenho a dizer que não precisam de se preocupar, que tanto podem ir pobres como ricos pois todas as despesas serão custeadas por pessoas das relações do Sr. Dessilva mediante contrapartidas, uma vez na América, terão que trabalhar durante 5 anos ganhando 150€/semana os homens e 120€/semana as mulheres e, depois, têm que entregar 10% do vosso salário aos financiadores. Quem estiver a pensar candidatar-se à viagem pode passar no fim da missa pela sacristia que estará lá o Sr. Dessilva para poderem conversar um pouco. Depois, podem ainda procurar o Sr. Dessilva em casa do Sr. Costa, onde está hospedado.
Dóminus vobíscum – a que o povo respondeu “Et cum spíritu tuo.”
Benedícat vos omnípotens Deus, Pater, et Fílius, et Spíritus Sanctus.
Amen.
Ite, missa est.
Deo grátias.
Comparando com a dimensão média das casas da aldeia, a igreja era grande, uns 25m de comprimento por 12 m de largura mas pequena de mais para as pessoas da aldeia. Assim, como era normal, estava completamente cheia, talvez mais de 1000 pessoas de pé. Terminada a missa, a grande maioria dos fieis tentou entrar na sacristia o que era fisicamente impossível porque lá não caberiam mais do que 30 pessoas mesmo que apertadas. Na Igreja talvez só algumas quisessem ir para a América mas outras tinham filhos, irmãos primos ou vizinhos que talvez estivessem interessados e queriam ser eles a transmitir a notícia. Como não cabiam, gerou-se uma guerra de empurrões e de chega-para-ai que precisou de uma intervenção musculada do Padre Augusto. Além do mais, o Sr. Dessilva que estava com ele junto ao altar nunca poderia entrar na sacristia para dizer fosse o que fosse. Disse então o Padre Augusto em voz alta:
– Meus filhos, meus filhos, vamos a ter calma, como não cabem na sacristia, vamos aguardar que o Sr. Dessilva está aqui mesmo a meu lado e vai-vos falar aqui mesmo dentro da casa do Senhor. Deus há-de compreender a situação.
O Sr. Dessilva olhou para o padre Augusto e encolheu os ombros como que a dizer “Assim terá que ser.” Então, o Padre Augusto voltou ao ataque na tentativa de por ordem na multidão “Irmãos, por amor de Deus, aguardem que não cabe mais ninguém na sacristia. O Sr. Dessilva vai-vos falar aqui mesmo no corpo da igreja, por favor voltem aos vossos lugares e façam silêncio que o Sr. Dessilva vai falar.”
– Boa tarde, eu falar mal, desculpar se não perceber good. Pessoas ir no América Dessilva tratar de tudo, viagem no comboio e no navio pagar eu. Deixar filhos no aldeia, fundo pagar 20€ por mês cada crianço. Depois, chegar no América ter casa, comida e trabalho 5 anos, homens ir ganhar 150€ no semana e mulheres 120€ no semana. Depois do 5 anos, se arranjar outro emprego no América vai pagar 10% aos investidores.
­ Eu quero ir, por favor, leve-me a mim, salve-me desta miséria, não me deixe morrer aqui nem aos menus filhos – gritaram as pessoas fazendo um grande burburinho.
– Silêncio, silêncio que estamos na casa do Senhor – disse o Padre Augusto – Vamos ouvir o Sr. Dessilva um pouco mais sobre quem poderá ir.
– Não precisar pressa, pessoa escrever informação e, depois, eu ir escolher pessoa certa. Pessoa escrever em casa uma folha no nome, idade, nota da escola, de homem e de mulher, quanto filha tem, escrever morada, entregar em casa de Sr. Costa e eu avaliar.
Mas as pessoas não paravam de levantar o braço e de gritar cada vez com mais força “Eu quero ir, por favor, leve-me a mim, salve-me desta miséria, não me deixe morrer aqui nem aos meus filhos”. Assim, as pessoas não perceberam bem o que o Sr. Dessilva tinha dito mas o Padre Augusto remeteu-as para a folheto que estava à porta da igreja e em quem ninguém tinha reparado. Também, antecipando isso, distribuiu 10 cópias do folheto que tinha o Mariazinha mandado fazer de urgência.
Cá fora, aquelas 10 folhas deram origem a 10 pequenas multidões que se acotovelavam para se poderem informar sobre os pormenores da viagem.
Na melhor das hipóteses, o Dessilva tinha antecipado que haveria uns 100 casais interessados em partir mas, logo naquele Domingo, recebeu mais de 200 candidaturas e, nos dias seguinte, mais e mais centenas. No final da semana tinha mais de 500 candidaturas.
– Nunca pensar que tanta gente querer ir embora, é que receber mais de 500 candidatura – disse o Sr. Dessilva ao Sr. Costa ao jantar – mais de 1000 pessoa querer partir.
– Sabe Dessilva, eu também nunca o imaginei mas, realmente, as pessoas aqui têm uma vida muito dura, trabalham muito e por pouco dinheiro, sofrem constantes ataques das pessoas do Vale e, por vezes, são mesmo assassinadas. Se der uma volta pela aldeia vai ver muitas pessoas com fome e muitas crianças que morrem exactamente porque não têm o que comer. Se nestes montes há alguma coisa com fartura é a fome e a miséria, as pessoas nem roupa têm para vestir. A vida aqui é uma autêntica miséria. E como é que o Dessilva vai agora escolher os 30 casais? 

Capítulo seguinte ( 26 - A selecção)

domingo, 26 de julho de 2015

24 - A reunião

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (23 - O passeio)    




24 – A reunião
Ás 20h em ponto todos os membros da comissão já estavam em casa do Sr. Costa, a Isabel, o Padre Augusto, o Dr. Acácio e o Sr. Costa. Também estava o Sr. Dessilva para apresentar a sua solução para o problema da falta de dinheiro.
– Boa noite Isabel e meus senhores, façam favor, antes de nos sentarmos apresento-vos aqui o Sr. Dessilva que veio da América para nos ajudar, pelo que já conversamos, vai ser uma pessoa fundamental nesta nossa missão impossíveis pois garante saber como arranjar o dinheiro para a viagem dos jovens.
Yes, sim, meu ser de América, de Nova York, ser no sócio de Jonas que enviou eu no ajudar. América ser colosso. América ser o terra prometida.
Apertos de mão para aqui e para ali.
– Vamo-nos agora sentar aqui na Sala. Sr.a Celeste traga um cafezinho para as pessoas, se faz favor. Vamos que temos muito que falar – disse o Sr. Costa, o dono da casa. Um cafezinho com biscoitos e lá começou a reunião.
– O grande problema que temos que resolver é o do financiamento, problema que enquanto não for resolvido não permite que avancemos. Como o Sr. Dessilva disse que ia ajudar a resolver este problema, vou-lhe dar a palavra, faça favor Sr. Dessilva de tomar a palavra – disse o sr. Costa.
– Sim, eu ir no ajudar. Este projecto ter que ser negócio e não caridade. Usa-se no América fazer um fundo de investimento, por isso, a meu ideia foi fazer um fundo para financiar todo o operação.
– Um fundo de investimento, mas o que é isso?
– Investidor entrega dinheiro no fundo que vai pagar despesas. No futuro, o fundo paga no investidor. Para 60 pessoa, eu ter fundo de 150000€.
– Ena pá, que isso é ainda mais do que nós tínhamos pensado – disse a Isabel quase saltando da cadeira – nós tínhamos pensado em 100000€ e, mesmo assim, achamos que é impossível de arranjar pelo o que nos está a dizer é que vai ser duplamente impossível.
– Não, não vai ser impossível porque eu já ter dinheiro no fundo. Eu já ter dinheiro no América, não preocupar.
– Mas isso é uma grande novidade ou será que percebi mal? Quer então dizer que, como nós não temos esse dinheiro, o Sr. Dessilva arranjou ou vai arranjar quem avance com os 150000€ necessários? Mas isso é uma enormidade de dinheiro! E metem assim o dinheiro sem mais nem menos? E depois onde é que esse fundo vai buscar o dinheiro para pagar a esses investidores? Quem é que paga isso?
– Ser jovens que chegar no América. Primeiro ir trabalhar 5 anos nos empresas de financiadores, homens ir ganhar 3,50€ por hora e mulheres 2,50€ por hora. Depois dos 5 anos, jovens poder ir trabalhar no que quiser mas pagar 10% no fundo para ajudar aldeia do Monte, se ganhar 800€, dar 80€ no fundo, se ganhar 1000€, dar 100€ no fundo.
– O que acham desta ideia?! – perguntou o Sr. Costa com cara de espanto às pessoas presentes – 3,50€ por hora é muito dinheiro, é pelo menos quatro vezes o que ganham aqui, isso é muito dinheiro, não estou a perceber onde os investidores poderão ter lucro suficiente para pagar o investimento feito na viagem! Mas haverá trabalho?
– Não preocupar – disse o Dessilva – haver muitas horas, todas as horas que pessoas querer trabalhar e o lucro dos financiadores, não se preocupar que ser problema deles.
– Bem, lá isso é verdade, o Sr. Dessilva está a dizer as condições do financiamento. Se não for preciso meter dinheiro, se os investidores americanos garantirem mesmo todo o dinheiro necessário para que os nossos jovens possam ir para a América, não vejo qualquer razão para não avançarmos com o projecto até porque 3,50€ por semana para os homens e 2,50€ por semana para as mulheres é muito dinheiro. As condições estão claras, ninguém irá ao engano, quem quiser ir, vai, sabendo que tem que cumprir com isso, quem não quiser cumprir, não vai – disse o Dr. Acácio.
– Sim, sim, acho aceitável mais ainda porque não precisamos de dar garantias aos investidores, também não as teríamos como dar. Os nossos jovens são de palavra pelo que, quem quiser ir, irá cumprir as condições. Pelo que conheço das sagradas escrituras, não vejo qualquer problema neste negócio, quem quiser vai, quem não quiser fica – disse o Padre Augusto a que todos responderam com um afirmativo abanar de cabeça.
– Vamos então fazer ordem na discussão – disse o Sr. Costa – quer então dizer que as pessoas saem daqui e vão até à América sem nada terem que pagar e, depois, trabalham 5 anos mais a contribuição dos 10%, é isto, percebi bem?
– Totalmente e 10% ser para ajudar crianças de aldeia. Eu ter dinheiro em América, ir pagar tudo.
– Então, sendo que o problema do dinheiro já está resolvido, vamos ver quem poderá ir.
A Isabel levantou logo a mão para poder falar – “Vejo aqui um grave problema pois as pessoas casadas têm filhos, como as crianças não podem ir, também não podem ficar pois não fica quem as possa sustentar!”
– Não ter no problema – Disse o Dessilva – me esquecer dizer que fundo vai pagar no crianço ficar no aldeia, fundo pagar 20€ cada mês a cada crianço que ficar.
– Sr. Dessilva, não estou a perceber – disse o Sr. Costa – como é isso?
– Fundo pagar 20€ por mês no cada criança. Fundo pagar dinheiro no criança que fica aqui.
– Ai que boa ideia – disse a Isabel – é que todos os casais jovens têm filhos pelo que, penso eu, seria uma dificuldade se os tivessem que deixar abandonados à sua sorte, seria destiná-los à morte. É muito boa ideia mas esse fundo terá dinheiro suficiente para as crianças?
– Não preocupar, ser problema do investidor – disse o Dessilva – Viagem no barco, papéis e chegada no América, Jonas pagar. Viagem e despesa aqui eu pagar, não preocupar.
– Sendo assim, posso concluir que todos os nossos problemas já estão resolvidos, já há dinheiro para a viagem e para as crianças cujos pais emigrem, sendo que o Sr. Dessilva avança com o dinheiro, todos os problemas já estão resolvidos – todos afirmaram que sim com a cabeça.
– Estar faltar problema – disse o Sr. Dessilva – ser preciso ensinar inglês nos jovens. Quando chegar no América jovens precisar falar pouco pouco de inglês, eu ensinar mas precisar de sala do escola.
As pessoas olharam umas para as outras e, disse o Sr. Padre Augusto que, realmente, seria bom se os jovens já fossem a saber um pouco de inglês.
– Eu estar pensar dividir jovens em dois viagem. Primeiro 30 jovens, aprender 6 meses e ir no América. Depois, outros 30 aprender e ir no América mas precisar sala, ter sala para 30 jovens aprender o inglês?
– Temos a escola das crianças que acaba às 18h. Se essa aula de inglês for depois das 18h, pode ser uma das salas da escola, mas as salas são pequenas, para meter lá 30 adultos vai ter que ser muito apertado. O que acha Sr. Dessilva, o que acha? Das 18h às 21h estará bem?
– Está bem – disse o sr. Dessilva – amanhã vou ver sala a ver se cabem os jovens.
– Pronto, já está tudo resolvido pelo que podemos dar esta reunião por terminada. Alguém tem mais alguma coisa a dizer?
– Sr. Costa, ainda falta saber quem vai poder ir, havendo muitos candidatos como penso que haverá, terá que ser pensado como vai ser feita a escolha – disse a Isabel, mulher muito vocacionada para as coisas práticas.
As pessoas olharam para o Sr. Dessilva.

– Não preocupar, eu pensar e resolver problema. Poder ir embora e amanhã eu começar a tratar dos coisas.

Capítulo seguinte (25 - O anúncio)

Carne assada na panela de pressão

Hoje vou falar de um cozinhado. 
Neste fim de semana, a minha irmã do meio, a Micose, fez anos e fiquei eu, como todos os Domingos, de fazer o almoço. Pensei, pensei e, como há uns meses comprei uma panela de pressão com 50% de desconto no Continente, nada melhor que esta oportunidade para fazer um assado.

Mas não precisará o assado de um forno?
Também pode ser mas na panela de pressão é mais rápido, gasta menos energia e não espalha cheiros pela casa.

Vamos então ver como eu fiz.
1. Meti um pouco de óleo na panela, mais umas folhas de louro, alecrim e três cravinhos da índia. 


2. Meti dois bocados de Pá de York que tinha comprado há uns meses de saldo no Intermarché. A carne estava na arca congeladora e, desde ontem à noite quando cheguei da praia de Miramar,  estava fora a descongelar.


3 . A carne ficou a fritar uns 15 minutos sem tampa, tendo-a virado várias vezes para não pegar ao fundo.


4. Fiz um preparado com cebola picada, massa de tomate, alho em pó, meio caldo de galinha, colorau e um pouco de vinho tinto da Meda (Douro) que a minha cunhada Sandra me traz à boliex de casa dos pais. O vinho já está todo cheio de flor mas serve.


5. Passei tudo pela varinha mágica e meti em cima da carne que já estava frita por fora.


6. Fechei a panela de pressão (sem acrescentar água ou qualquer outro líquido) e garanti que o botãozinho da pressão subiu. Meti no mínimo.
No entretanto, preparei uns vegetais para acrescentar. Diz o Ramsey que os vegetais dão muito sabor ao assado.


Tenho a cozinha muito desarrumada.
7. Como estava no mínimo, a panela nunca disparou a válvula da pressão, verifiquei que tinha pressão mas não a suficiente para disparar. Desta forma poupei energia e não enchi a casa de cheiro e de gordura. No entretanto, olhei para a cozinha e reparei que tenho a coisa totalmente desarrumada.


Pensei então que o que eu preciso é de uma mulher para tomar conta da cozinha. Fui no entretanto estudar umas matérias que tenho que preparar para o próximo ano lectivo.


E ainda tive que ver uns pormenores da matéria.


Mas, em vez das gajas, tenho o meu bonsai que tenho desde pequenino (começou como um raminho com duas folhas sem raiz que "roubei" quando fui para o meu actual emprego, já lá vão 24 anos).


8. Decorridos 30 minutos, desliguei o fogão e esperei que a panela perdesse a pressão. Já estava pronta a primeira fase do assado. Neste momento a carne já estava cozinhada mas ainda era preciso fazer mais umas coisitas.


Mas não é obrigatório meter água para a panela de pressão funcionar? poderão perguntar.
Não é preciso porque a carne tem muita água dentro de si.
Reparem como a panela tem molho que, para poderem ver melhor, retirei para uma malga.


9 . Retirei a carne e cozi os vegetais no molho. Se tivesse pressa, os vegetais poderiam ter sido cozido à parte.


10. Tapei a panela e deixei que ganhasse pressão e ficou a cozer 20 minutos no mínimo. Desliguei outra vez o fogão para perder pressão. Abri a panela, tirei o molho do qual, com uma colher, retirei a gordura que voltei a meter dentro da panela. Meti a carne nessa gordura, os vegetais por cima, e tornei a ligar o fogão.
A carne ficou a fritar na gordura (no mínimo) até que chegaram os comedores (uns 15 minutos) sem deixar ganhar pressão.
Ficou pronto. Tirei tudo da panela para uma travessa e mandei para a mesa.


11. Ficou bem mas o melhor foi a sobremesa. Salada de fruta e gelados dos supermercados, desses que se compram ao litro quando estão em promoção de 50%.


12 . Para não rebentar, tive que fugir para o café.


13. Ainda estou a pensar no cuzinhado. Mas seria um desperdício mete-la a arrumar a cozinha.


Tempo de preparação?
Para o almoço, uma horita é suficiente desde que se cozam os vegetais à parte. Para servir às 13h, ligar a panela às 12h. Para as gajas, não sei.
Bom apetite.

Pedro Cosme Vieira

quarta-feira, 22 de julho de 2015

23 - O passeio

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (22 - O estrangeiro)    





23 – O passeio
A conversa ao almoço foi animada com o Sr. Dessilva a dizer repetidamente “A América é um colosso.” Relatou como em Nova York as casas são altas, algumas com mais de 200 metros de altura, como os comboios andam por debaixo do chão e como as ruas são pavimentadas e estão continuamente cheias de pessoas e de carros a motor. Descreveu ainda as fabricas onde trabalham milhares de pessoas e os campos de trigo e de milho a perder de vista. Na conversa, o Sr. Costa propôs que, ao serão, houvesse uma reunião com a comissão que estava a tratar do problema da emigração para poderem discutir o assunto – “É que as pessoas não estão com muita fé na nossa capacidade em arranjar o dinheiro necessário para que as pessoas possam ir para a América.” E assim ficou combinado.
Depois do almoço, o Sr. Dessilva foi descansar um pouco. Já andava há várias semanas em viagem e, como já não era um jovem, precisava de refazer as energias. No entretanto chegaram os baús, traziam muita roupa nova e bonita, tudo de tons claros, que a Sr.a Celeste arejou e guardou nos armários do quarto e também traziam muitos livros, disse o Sr. Dessilva que eram “Para ajudar eu no ensinar do inglês e para jovens ver fotografias e mapas de cidade no América. Ver no sítio ir na viver.”
Depois de terminar a sua sesta, o Sr. Dessilva mostrou vontade de dar uma volta exploratória pela aldeia “Sr.a Celeste poder arranjar no eu um criança que acompanhar para explicar nas ruas e apresentar eu nas pessoas?”
Aquela figura altaneira, toda vestida impecavelmente e de branco, contrastava totalmente com as pessoas da aldeia que mantinham uma postura arqueada a mostrar submissão e que vestiam roupas escuras e velhas, todas remendadas e com buracos. As mulheres traziam um lenço a tapar as cabeças e os homens um chapéu de aba larga, pretos e longas barbas. Boa tarde para aqui, boa tarde para ali e o Sr. Dessilva foi calcorreando todos os becos da aldeia que, porque na sua génese tinha sido um amontoar desordenado de barracas, eram estreitos e cheios de curvas e cotovelos, sem qualquer ordem, alguns tão estreitos que, quando uma pessoa cruzava por outra, uma dela tinha que se encostar à parede de uma das casas. Depois de já terem percorrido todos os caminhos e vielas, o americano fez um pedido “Meu sócio Jonas me dizer que há uma pessoa chamada Júlia de Zenão, jovem conhecer ela? Me poder levar na casa dela?”
– Conheço, conheço, toda a gente conhece mas não é uma pessoa com quem as pessoas gostem de se dar por causa de uns boatos que correm por ai.
– E que boatos ser n’ai?
– Eu não sei bem pois ninguém quer falar disso, mas dizem que faz defumadouros, que é uma bruxa.
– Eu querer conhecer na ela, vamos em casa dela?
– Ela não tem casa, vive numa barraca, a mulher vive num galinheiro. Aquilo nem dá para uma pessoa estar de pé e não cabe lá mais do que uma cama e uma pequena fogueira para cozinhar. Vive retirada da aldeia uns 500m mas ainda dentro do muro. Mas Sr. Dessilva, eu tenho medo de ir lá, posso ir até lá perto e depois o Sr. Dessilva vai por sua conta e risco.
– Vamos então lá.
Lá foram os dois no seu vagar, viela para aqui, viela para acolá até que saíram da aldeia por um caminho de terra batida também cheio de curvas “Fica ali atrás daquelas macieiras.” Caminharam mais uns minutos e chegaram a uns 50 metros da porta da barraca, altura em que o rapaz parou. “Eu fico aqui que tenho medo, agora o Sr. está por sua conta e risco. Ela só está na barraca à noite pois não cabe lá dentro, deve estar a trabalhar no campo. Ó Ti Júlia, Ti Júlia, Onde é que está?” gritou o rapaz. “Estou aqui, estou aqui no meio do milho.”
– Sr. Dessilva, ela está lá mais à frente, “Venha então cá que está aqui um senhor que a quer ver, é um americano.”
O Dessilva foi caminhando para a barraca e, simultâneamente, os pés de milho foram abanando até que saiu de lá uma pessoa “Ti Júlia olhe ai essa pessoa – gritava o rapaz de longe – é um americano que chegou hoje à aldeia e que quer falar consigo.”
A Júlia chegou sempre com o olhar fixo no chão. “Sr.a ser Júlia Zenão? É senhora irmã de Isabel Zenão?” perguntou o Dessilva.
– Sim, sim, sou eu mesma, irmã da Isabel e de outros que andam por aí, já nem sei quantos irmãos tenho vivos, a minha memória está muito gasta.
– Eu chamar Newman Dessilva e venho do América. Eu ser sócio de Jonas, cunhado de Isabel, se lembrar de Jonas? Ele se lembra de senhora e me disse para ver senhora. Dizer ele que amava senhora.
– Ai meu Deus, o Jonas, era tão bom rapaz – e a velhota começou a chorar – quem me dera voltar a esses tempos, quando éramos jovens e inocentes, quando a miséria parecia não existir. Isso que ele disse não passou de uma brincadeira de crianças, um sonho que acabou da pior maneira. Ele sempre soube que o meu coração estava preso ao amigo dele, ao Abel, e que essa história acabou da pior maneira possível. Mas o Sr. não veio cá para ouvir toleiras de uma velha sobre os amores que sentiu na vida. Não veio dessas terras distantes para ver uma velha que apenas está à espera do dia em que há-de dar contas a Deus.
– Não, não, eu querer falar na senhora, ouvir na senhora e dizer no Jonas como estar. Senhora falar em Abel, Jonas também falar em Abel, quem ser Abel?
– O Abel era o amor da minha vida, estávamos talhados um para o outro mas a morte levou-o cedo. Quando ainda não tinha sequer feito os 18 anos, já lá vão bem mais de 40, os da aldeia do Vale atacaram os nossos pastores que estavam no monte e dizem que ele morreu.
– Atacaram-nos assim sem mais nem menos?
– Deve ter sido para roubar as ovelhas. Muitos conseguiram fugir mas outros foram apanhados. Depois do ataque as pessoas percorreram os montes à procura de sinais de vida. Apareceram vários feridos e quatro mortos. O Abel nunca apareceu, nem ferido nem morto. Percorri esses montes todos para cima e para baixo à procura de uma pista, com a esperança de que estivesse algures ferido e sem poder pedir socorro. Fui eu quem encontrou um dos mortos, o Alberto, mas nunca encontrei nada que se relacionasse com o Abel, nem roupa nem sequer os cães que lhe tinham uma lealdade cega. Passei anos a chorar, a imaginá-lo a morrer abandonado algures no monte, comido pelos lobos. O Jonas até podia amar-me mas sabia que Deus me tinha destinado para viver a vida com o Abel. Não sei o que fiz a Deus de tão mau pois fui castigada como nunca pensei ser possível.
– Me fale também desse Alberto, porque foi Júlia que encontrou Alberto?
– O Alberto era um amigo do Abel, muito amigo, o Jonas, o Abel e o Alberto andavam sempre juntos e ainda eram primos. Quando o Jonas partiu, os dois ficaram ainda mais próximos. Trabalhavam ambos como pastores e ambos desapareceram no dia do ataque. Fui eu que o encontrei porque o seu corpo estava muito afastado do local onde estavam os outros, talvez mais de 10km para a Norte, já depois do pico da montanha. Nunca compreendi o que se passou, nós sabemos que o ataque foi feito por pessoas do Vale porque foram avistados mas, quando retornaram, não traziam as 200 ovelhas que desapareceram. Talvez algum deles as tenha levado para Norte mas não compreendo o porquê, porque atravessar a montanha que é muito difícil quando poderiam ter trazido as ovelhas roubadas para baixo. E o Alberto estava nesse caminho, talvez o tenham obrigado a levar as ovelhas para Norte e, depois, o tenham matado, não sei, enquanto que os outros foram mortos à pancada, o Alberto só tinha uma facada no coração, não sei o que aconteceu.
O Dessilva como que ficou congelado a pensar naquela história mas, de repente, como que acordou.
– Foi uma tragédia. mas ir falar agora de boas notícias, quando Isabel deu notícias de Júlia, Jonas ficou muito comovido. Sabe que ele mandou dinheiro e que eu estar aqui por causa de Júlia? E mandou 1000€ para Isabel dar na Júlia.
– Eu nunca imaginei que o Jonas que mantivesse na sua memória, foi uma surpresa, sempre pensei que se tivesse esquecido de que nós existíamos ou até mesmo que já tivesse morrido, que não tivesse tido sorte na vida. O dinheiro fez-me muito jeito, em agradecimento tenho rezado todos os dias para que Deus o ajude ainda mais. Veja, veja aqui estas tábuas que estão aqui que são para aumentar a minha barraca, veja este remendo no telhado, veja esta janela nova que vou ter, veja os melhoramentos que fiz no curral das ovelhas e esta roupa. Foi tudo pago com esse dinheiro e ainda sobrou algum para os dias mais difíceis.

No entretanto o Sol começou-se a aproximar-se do horizonte pelo que estava na hora de partir. “Sr.a Júlia, gostei muito falar no senhora, compreender Jonas a ter amado, senhor ser encantadora, outro dia falar mais pois jantar ser nas 19h para ter reunião nas 20h.” 
– Não passo de uma velha corroída pelos anos.

Capítulo seguinte (24 - A reunião)

domingo, 19 de julho de 2015

22 - O estrangeiro

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (21 - O dinheiro)    


22 – O estrangeiro
A comissão dos homens bons reuniu-se para identificar e tentar resolver os problemas  que tinham que ser ultrapassados para que 30 casais pudessem rumar à América. Tendo a certeza de que haveria muito mais candidatos, um problema difícil seria seleccionar quem poderiam seguir viagem e quem continuaria condenado à miséria. Mas este problema nem chegou a ser discutido porque não haveria forma de arranjar o dinheiro necessário para pagar a viagem. O Sr. Dr. Acácio disse que, tendo feito uma pequena investigação, uma viagem para 60 pessoa da aldeia até à América não ficaria por menos de 100000€ e, disseram rapidamente todas as pessoas, não havia onde arranjar tal soma de dinheiro.
Disse o Sr. Costa “não é totalmente impossível conseguirmos os 10000€, se todos pagarem dá pouco mais de 150€ por família, é uma soma importante mas não é impossível mas têm que contribuir todos.”
– Sim, mas não há muita agente que não vai querer contribuir porque são contra a partida dos jovens. O melhor é irmos de casa em casa a ver quantas pessoas estão disponíveis para participar no projecto e no final, se não puderem ir 30 casais, vão menos, nem que sejam só 5 casais, é um princípio e esses podem vir a ajudar que outros possam ir, não nos podemos dar já como derrotados.
E foi-se toda a gente embora totalmente desanimada.
O dia nasceu e as pessoas, como todos os dias faziam, ficaram a trabalhar nas oficinas ou saíram da aldeia para trabalhar, umas no Vale para trabalhar à jorna, outras com os rebanhos pelo monte fora e ainda outras a recolher lenha e a tratar dos campos que ficavam fora de muros. As conversas foram todos em volta da questão da viagem e do dinheiro que seria necessário e o máximo que se conseguiria seria que os pais dos candidatos contribuíssem com algum dinheiros, uns 200€. Fazendo contas, o máximo que se conseguiria seriam 10mil€ o que não daria para nada.
A manhã foi avançando e, eram umas onze horas da manhã, os porteiros da aldeia observaram que uma pessoa subia pelo caminho que ligava a aldeia do Vale à aldeia do Monte. Coisa nunca vista pois, tirando o Dr. Acácio, os três polícias e, de longe a longe, o procurador do Arquiduque, nunca nenhum estranho tinha vindo visitar a aldeia do Monte. Mais estranho ainda era a pessoa estar toda vestida de branco quando no Monte todas as pessoas vestiam de preto. Foi-se aproximando e aqueles olhos todos dos porteiros mais das pessoas que foram avistando o forasteiro e outras que foram sendo chamadas à atenção foram-se focando naquela figura com uns 60 anos. Era mesmo uma coisa nunca vista, trazia chapéu, casaco, camisa, calças, meias e até sapatos, tudo branco. Quando chegou à porta dirigiu-se à pequena multidão que já lá se tinha juntado, mais de 20 pessoas, e disse com um sotaque muito pronunciado “Boas dias, meu nome ser Newman Dessilva e vir mandado do América por Sr. Jonas, conhecer senhor neste terra? Ele mandou eu tratar problemas de viagem.”
– Bom dia – disse um dos porteiros – nós observamos que o Sr. é da aldeia do Vale, o que é estranho, porque nunca tivemos uma visita vinda de lá e para mais à luz do dia. Mais estranho ainda é a sua pronuncia. É que não estamos a perceber bem o que pretende dizer.
– Não, não, não ser, eu não ser do aldeia do Vale, eu não ser, eu vir por causa de viagem, eu ser do América, eu vir do América para tratar de coisas do viagem de jovens para o América. Já ouviu falar do Sr. Jonas que foi no América e agora querer jovens no América?
– Ai é um Sr. da América, ai, não estávamos a perceber, pensávamos que era alguém do Vale que nos vinha cobrar um imposto qualquer, assim a coisa é outra, entre, entre, vamos já para casa do Sr. Costa que é quem está a tratar dessas coisas, vamos lá que vai ser uma surpresa agradável. O Sr. é muito bem vindo. Acompanhe-me Sr., Sr. como disse que era mesmo o seu nome?
– Newman de Silva
– Sr. ... Silva, acompanhe-me que a casa do Sr. Costa fica ali no meio da aldeia.
– Não, não, ser Dessilva, meu nome ser Dessilva e não ser Silva.
– Sim , sim, Sr. Dessilva, desculpe o engano que pensei que fosse Silva. É que nunca tinha ouvido tal nome. Nós temos aqui parecido mas é Silva.
– Não, não, eu ser Dessilva, tudo junto, é nome do América, nome de meu pai, Dessilva.
Aqueles dois homens atravessaram os campos que rodeavam a aldeia, uns 750 m, e entraram na aldeia. Mais uns metros e já estavam à porta do Sr. Costa. Bateram e foi a Sr.a Celeste, empregada ocasional da casa, que abriu a porta. Bom dia Sr.s, o que pretendem?
– Bom dia Sr.a Celeste, trago aqui este Sr. que diz vir da América mandado pelo Sr. Jonas para tratar da viagem dos jovens para lá. Como o Sr. Costa é o presidente da confraria, pensei que o melhor seria traze-lo cá. O Sr. Costa está por aí para poder falar com este senhor?
– Mas Sr. Porteiro, se o Sr. veio da América, o Sr. Costa não vai conseguir falar com ele porque não sabe falar americano.
– Inglês senhorita, inglês, em América falar inglês mas eu saber falar língua de Sr. Costa, está a perceber eu? Eu saber falar, mal mas saber falar – disse o americano.
– Aiiiih, sabe falar a nossa língua, mas como raio percebe o que a gente diz? Será que também falamos esse tal inglês sem o sabermos? – e, reclinando a cabeça para trás, soltou uma gargalhada.
– Não, não, meus bisavós ser destas terras, eles falar língua daqui. Eu aprender mal mas aprender qualquer coisinho no eles. Pode chamar no Sr. Costa que eu perceber na tudo.
– Mas eram daqui de onde? Se calhar daqui mesmo, se calhar eram dos nossos – disse a Sr. Celeste a tentar descobrir alguma coisa da história daquele homem não fosse apenas um farsante que vinha para roubar o Sr. Costa.
– Não saber, eu não conhecer meus bisavós, meus pais não saber terra de bisavós. Mas saber língua, mal, pouco, mas saber coisinho pouco eu o aprender pequenino.
– Bem, daqui da aldeia não deveriam ser senão a gente sabia. O Sr. entre e sente-se aqui que vou chamar o Sr. Costa. E o Sr. Porteiro também se sente e aguarde um pouquinho porque este homem pode ser um farsante que veio cá apenas para roubar o Sr. Costa. Por favor, aguarde um bocadinho para tomar conta dele, quem diria que por esse mundo fora haveria homens que se vestissem de branco, isto é roupa para os anjinhos. Valha-nos Deus que o homem ainda é de Sodoma.
A Sr.a Celeste foi lá dentro à oficina procurar o Sr. Costa que estava entretido nos seus afazeres de industrial. “Sr. Costa, está ali um Sr. todo vestido de branco que diz vir da América enviado pelo Sr. Jonas, o homem já tem uma idadesita mas pode ser um farçante”.
– Vamos lá então ver quem é esse homem.
Lá foram, uma coisa de um ou dois minutos, e já estavam na presença do homem de branco “Bom dia, então o Sr. veio da América mandado pelo Sr. Jonas. Mas o Sr. Jonas escreveu uma carta e não referiu que o ia enviar!”
– Meu nome ser Newman Dessilva, como vai confundir, digo já Dessilva, tudo junto. Realmente não, Jonas não escrever porque decidir de vir ser depois de carta partir. Eu ser sócio de Jonas em trabalho, Jonas trabalhar em oficina, em produção, eu trabalhar em loja, em vender, em gerir. Jonas mandar carta e dinheiro e depois pensar e me mandar ajudar gerir viagem.
– Mas como é que o Sr. nos vai poder ajudar? Como deve saber o principal problema vai ser arranjar dinheiro para pagar a viagem, vão ser precisos pelo menos 100000€, e não estou a ver como nos pode ajudar nisto.
– Exactamente. Eu vir no resolver dinheiro na viagem, eu resolver, eu saber resolver, ter investidores em América que resolve problema.
– Se é assim, realmente resolve os nossos problemas mas para isso teria que trazer malas cheias de notas e não o estou a ver acompanhado por essas malas – disse o Sr. Costa em tom jocoso pois não acreditava ser possível aquele homem arranjar o dinheiro.
– Não preocupar, eu resolver tudo, e ter outra solução além do eu? Ter outro pessoa que resolver problema do dinheiro?
– Bem, realmente não, entre o Sr. que diz resolver o problema e outro qualquer que diz não ser capaz de o resolver, realmente, tenho que lhe dar o benefício da dúvida. Mas como vai resolver esse problema?
– Já estar a começar a resolver mas primeiro ser preciso resolver problema de Dessilva, eu precisar casa no viver no aldeia. Eu precisar um sítio para viver aqui no aldeia que eu não querer viver no Vale.
– Mas eu não sei se é possível um americano passar aqui a noite. É que o nosso foral não fala na vinda de pessoas de fora.
– Eu já falar ontem com procurador de Arquiduque, eu já pagar ontem os 10 g de ouro, dizer eu poder ficar um ano aqui. Disse coisa que não perceber, disse “Não contar na medida do muro” mas dizer que eu poder ficar. Agora é preciso casa para eu estar e ir buscar baús na estação de transportes. Estar lá 10 baús coisas meu. Precisar homens e carro ir buscar coisas meu.
– Um ano, vai planeia ficar um ano aqui em cima? Estou a ver que o Sr. Dessilva vem com boa intenção, é uma pessoa séria que vem mesmo para nos ajudar pelo que vai ficar hospedado em minha casa. Tenho um quarto vazio que lhe serve às mil maravilhas.
Virando-se o Sr. Costa para a Sr.a Celeste.
– A Sr.a veja quem há-de ir ao Vale buscar os pertences do Sr. Dessilva. Chame ai uma carroça que possa ir imediatamente lá baixo buscar os pertences deste senhor e, depois, trate do quarto das visitas para o nosso hóspede.
Dirigindo-se depois ao americano

– Nós ainda não tínhamos dado o problema da viagem para a América como impossível mas estamos muito desanimados principalmente porque não temos onde ir buscar o dinheiro. Além do mais, nem fazemos ideia como se pode fazer tal viagem, o caminho a tomar, a papelada a tratar. Se o Sr. Dessilva tiver mesmo vindo para resolver os problemas da viagem, só pode ter sido um anjo enviado do Céu, está-me a perceber? É que estamos completamente desanimados e sem saber o que fazer.

Capítulo seguinte (23 - O passeio)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

21 - O dinheiro

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (20 - A carta)    



21 – O dinheiro
A notícia de que o Jonas pretendia chamar pessoas para a América tinha que ser rapidamente tornada pública. Então, pensou a Isabel, “O melhor será ir falar ao Sr. Costa pois é o presidente da confraria”. Pegou na carta e lá foi ela por aquelas ruelas estreitas. Chegada lá, bateu-lhe à porta e foi a menina Dulcinha que veio atender, como sempre, com um grande sorriso.
– Boa tarde Sra. Isabel, o paizinho disse-me que o seu cunhado Jonas lhe enviou uma pipa de dinheiro, graças a Deus pois, se não fosse isso, a sua filha Maria Zé iria sofrer um mau bocado. Agora, a Sr. Isabel vem cá, penso seu, porque precisa de dinheiro? Eu vou chamar o paizinho que está na oficina.
– Não Menina Dulcinha, não, não, eu não venho cá por causa do dinheiro mas por causa de algo relacionado com isso, venho cá por causa da carta que o meu cunhado mandou juntamente com o dinheiro e que estive a ler com a minha filha. Mas vou na mesma precisar de falar com o paizinho por ser presidente da confraria. É que o meu cunhado Jonas diz que, juntamente com amigos dele, quer mandar carta de chamada para que 30 casais da nossa aldeia possam ir trabalhar para a América. Diz ele que, na América, uma pessoa trabalhadora pode ganhar muito mais dinheiro do que ganha aqui. Diz ele que um homem pode ganhar 150€ por semana.
– Isso são muito boas notícias, isso é muito dinheiro, é uma boa notícia para os nossos jovens pois aqui só há miséria.
– Exactamente, mas não penso que seja fácil as pessoas irem por causa da falta de dinheiro para a viagem.
– Tudo tem os seus problemas, a Sr.a Isabel entre e sente-se que eu vou chamá-lo.
Veio o Sr. Costa que já estava informado pela Dulcinha das notícias da carta. “Sr.a Isabel, realmente, ir para a América era bom, temos que tornar pública essa informação, vou marcar uma reunião da confraria já para amanhã à noite e também vou chamar o Padre Augusto que sempre pode dar alguma ideia sobre como vamos arranjar o dinheiro necessário. A Sr.a Isabel quer beber um bocadinho de licor? Dulcinha traz um licorzinho aqui para a Sr.a Isabel que agora é uma capitalista.”
– Ai Sr. Costa que não é bem assim porque o dinheiro que recebi é na maioria para os outros. Na carta que está aqui, o meu cunhado diz que para mim são 250€, para a minha irmã Júlia são 1000€ e o restante é para a minha filha Maria Zé. Como vê, fiquei logo outra vez pobre.
– Pois, pois, mas para mim, o dinheiro foi-me entregue em seu nome pelo que é seu.
– Obrigado Sr. Costa, agora que já tratei de lhe dar as notícias da carta vou até casa para contar as novidades ao meu marido que ainda não sabe de nada do que o irmão Jonas me escreveu.
A reunião dos confrades foi logo no dia seguinte onde a Isabel, por ser a detentora da carta, teria que ser a figura principal. Estavam todos os homens de honra da aldeia, uns 50, vestidos com a capa vermelha, todos com curiosidade para ouvir, palavra por palavra, o que a carta do Jonas dizia sobre a emigração para a América.
– Boa noite a todos, eu pedi ao Sr. Costa para marcar esta reunião porque o meu cunhado Jonas que alguns de vocês ainda conheceram em criança, me escreveu da América. Pelo que percebi, ele está muito bem na vida a ponto de me ter mandado 3250€ e pagar a estadia do meu neto Rúben em Amesterdão para que possa aprender a arte de ourives. É que ele tem uma oficina de ourivesaria em Nova York. Mas mais importante é que a confraria de lá quer receber 30 casais jovens da nossa aldeia.
“Extraordinário, extraordinário” disseram aqueles homens todos em uníssono abanando a cabeça para cima e para baixo em sinal de aprovação “Extraordinário como uma criança que saiu daqui com apenas a roupa do corpo teve forças suficientes para vencer nesse mundo desconhecido, só pode ter sido com a ajuda de Deus.”
– Agora, penso que devemos aproveitar a oportunidade de enviar os 30 casais jovens para lá mas isso tem vários problemas. Primeiro será preciso seleccionar as pessoas que devem ir. Depois, há o problema do dinheiro para a viagem que não será menos que 2500€ por casal. Finalmente, será preciso que as pessoas saiam daqui já a saber um rudimento de inglês mas não temos professor.
Nesse momento um senhor com alguma idade pediu a palavra “Eu sou contra isso de mandarmos os nossos jovens para a América. Se os jovens se vão embora quem é que nos vai apoiar na velhice? Quem é que nos vai defender dos ataques dos do Vale? Quem é que vai pastorear o gado no monte? Quem é que vai cultivar os campos? Andamos nós a fazer sacrifícios a criar os nossos filhos e agora eles vão-se embora sem mais nada? Se esses da América queriam jovens que os tivessem feito, que tivessem filhos e que os tivessem criado como nós o fizemos.”
Fez-se uns segundos de silêncio para outra pessoa dizer “Pereira, não te preocupes com esse problema porque ninguém vai conseguir arranjar o dinheiro para as viagens.” E voltou-se a fazer silencio na sala que o Sr. Costa aproveitou para tomar a palavra.
– Amigo Pereira, tem toda a razão, nós não somos nada sem os jovens, sem a sua alegria de viver, sem a sua força, sem a sua energia. Mas aqui estarão condenados a um beco sem saída. Será vida trabalhar como jornaleiro nos campos do vale a ganhar 0,50€ por hora, pastar gado no monte por menos de 100€ por mês, é cavar os nossos campos magros por umas verduras? Se, pelo contrário, forem para a América, podem ganhar mais numa hora do que ganham aqui num dia e, desta forma, até podem ajudar mais os pais do que ficando aqui. Não vês como o Jonas enviou dinheiro para ajudar a filha da Isabel?
Depois, o Padre Augusto também pediu a palavra “Faça favor Sr. Padre, faça favor” disse o Sr. Costa.
– Meus irmãos, realmente, podem pensar que quando eu vos digo que têm que cumprir o mandamento de Deus “Crescei e multiplicai-vos” os filhos estarão sempre à vossa disposição. Mas o mandamento não acaba aqui, o mandamento de Deus é “Crescei, multiplicai-vos e povoai o Mundo”. Assim, apesar de poder parecer que não podemos viver sem esses 30 casais de jovens, agora que existe esta possibilidade, é nossa obrigação enviar os melhor de entre nós para cumprirmos o mandamento de Deus. Deus vê razão onde nós nada vemos e, por isso, o melhor para todos nós, para os que vão e para os que ficam, é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que esses jovens 60 jovens possam ir para a América começar uma nova comunidade.
O sr. Costa pediu outra vez a palavra “E há outra questão, temos talvez 600 jovens com idade entre os 18 e os 25 anos e, todos os anos, mais jovens se lhes juntam. Assim, esses 30 casais de jovens não vão reduzir significativamente o número de jovens que temos na aldeia. Mesmo que, a partir de agora, acontecesse o milagre de partirem 30 casais por ano, ainda sobrariam jovens suficientes para nos defendermos e para continuarmos a amanhar os campos. E já estou como o Sr. Padre, temos também que acreditar na rectidão das palavras ditas pelo próprio Deus, se recebemos o mandamento “povoai o Mundo”, nós só temos que obedecer.
Voltou o Sr. Padre Augusto “Imaginem que há 150 anos atrás os nossos antepassados não tinham fugido das perseguições do Vale. O que teria acontecido ao nosso povo?” fez-se um silêncio “Seria o silêncio pois teria desaparecido e hoje não estaríamos aqui. Agora imaginem que, daqui a 10 ou 20 anos, existe um outro cataclismo aqui na aldeia. Ao termos esses jovens na América, quem sabe se não serão eles que vão ser a continuação do nosso povo? Não será Deus, pela mão do Sr. Jonas, a dizer ao nosso povo que está na hora de avançar? Não será o Sr. Jonas um novo Moisés?” fez-se silêncio.
“Vamos então votar”, disse o Sr. Costa “Levante o braço quem é contra mandarmos os jovens para a América.” As pessoas começaram a olhar umas para as outras e a levantar os braços, “Um, dois, três, quatro, cinco, ... doze, doze, doze votos contra. Quem vota a favor que levante agora o braço” o Sr. Costa deu uns segundo e recomeçou a contar “um, dois, três, ..., doze, treze, temos maioria a favor, catorze, ...” o Sr. Costa ia apontando com o dedo enquanto contava os braços “Trinta e dois, trinta e três, trinta e três. Temos doze votos contra, trinta e três votos a favor e ainda algumas abstenções. A ideia de mandar os jovens foi aprovada.” Toda a gente bateu palmas, mesmo os que votaram contra. “Agora temos que começar a trabalhar no projecto de enviar os jovens para a América, ver como vamos arranjar o dinheiro, vamos fazer uma comissão que trate desses pormenores. Penso que a Sr.a Isabel terá que fazer parte porque foi a pessoa que conseguiu convencer o Jonas a mandar as cartas de chamada, o Sr. Padre Augusto porque conhece bem as pessoas e mais alguém que vocês pensem.” Alguém disse no meio da multidão “o Dr. Acácio, é uma pessoa que conhece o mundo e muito séria” e toda a gente disse que sim. “Então fica o Dr. Acácio e eu também fico como representante da confraria, para vos poder transmitir os desenvolvimentos. Há alguém que vote contra esta comissão?” ninguém levantou o braço. “Então fica mesmo assim”. Toda a gente bateu palmas. “Se não há mais perguntas, vamos então embora que já se faz tarde. Muito obrigado por terem vindo e boa noite.”

Mas a questão do dinheiro ficou por responder. Onde é que poderiam arranjar dinheiro suficiente para a viagem de 60 pessoas? E nem faziam ideia de como essa viagem poderia ser feita em termos de documentação e logística.

Capítulo seguinte (22 - O estrangeiro)

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