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13 outubro 2017

Honestidade e honra denominacional - William G.T. Shedd

A honestidade é tão importante na teologia como nos negócios e no comércio, numa denominação religiosa como em um partido político. A honestidade confessional consiste, em primeiro lugar, em uma clara e inequívoca declaração de uma Igreja acerca de sua crença doutrinária; e, segundo, numa adoção inequívoca e sincera por parte de seus membros. Ambas as coisas são necessárias. Se uma denominação particular faz uma declaração ampla de sua crença, que é possível de ser interpretada em mais de um sentido, ela é desonesta. Se o credo da denominação é bem estruturado e elaborado, mas os membros que subscrevem com reserva mental e falta de sinceridade, a denominação é desonesta.[1]

A honestidade e a sinceridade são fundamentadas numa clara convicção e uma clara convicção é firmada no conhecimento e no reconhecimento da verdade. A heresia é um pecado e é classificada por são Paulo entre as “obras da carne”, juntamente com “adultério, idolatria, assassinato, inveja e ódio”, que excluem do reino de Deus (Gl 5:19-21). Mas a heresia não é um pecado tão grande quanto a desonestidade. Pode existir uma heresia honesta, mas não uma honesta desonestidade. Alguém que reconhece ser um herege, é um homem melhor do que aquele que finge ser ortodoxo enquanto subscreve um credo que despreza, e que ele finge sob pretexto de melhorá-lo e adaptá-lo ao tempo presente. O herege honesto deixa a igreja com a qual ele não concorda, mas o subscritor insincero permanece dentro dela para realizar o seu plano de desmoralização.

As discussões recentes na Igreja Presbiteriana revelaram uma diferença de sentimento em relação ao valor da honestidade denominacional. Alguns dos jornais seculares atribuem intolerância e perseguição aos presbiterianos, quando os desvios do credo da igreja são objeto de inquérito judicial e quando indivíduos são exigidos a conformar o seu ensino do púlpito ou da cátedra com os padrões denominacionais. Desta forma, uma parte da imprensa pública está em consonância com a desonestidade confessional. Isso permitiria aos oficiais da igreja subscreverem um credo e obter as vantagens da subscrição sob a forma de reputação ou benefícios, enquanto trabalham contra ele.

O credo de uma igreja é um contrato solene entre os membros da igreja, muito mais do que a ideologia de um partido político é entre políticos. Parte da imprensa parece não perceber a imoralidade de violar um contrato quando se trata de uma denominação religiosa, mas quando um partido político é o grupo a ser afetado pela violação de uma promessa, ninguém é mais preciso do que ela em discernir e nenhum deles é mais veemente em denunciar a dupla negociação.

Deveria surgir um grupo dentro do Partido Republicano, por exemplo, e se esforçar para alterar a plataforma, mantendo os escritórios e os salários garantidos por professar fidelidade ao partido e prometendo adotar os princípios fundamentais sobre os quais foi fundado, e pelos quais difere do Partido Democrático e demais partidos políticos, a acusação de desonestidade política poderia prejudicar a posição social e histórica do Republicanismo. Quando esses divergentes se desviam do cargo, sendo disciplinados pelo partido, e talvez, sejam expulsos da organização política, se a queixa de heresia política e a perseguição fossem oferecida, a única resposta concedida pela imprensa republicana seria a do desprezo. Quando alguns políticos desonestos reivindicam a tolerância, sob a desculpa de políticas mais “liberais” do que as aceitas pelo partido, preservando-se o pagamento do partido, enquanto defende diferentes sentimentos da maioria do partido, o fato é que ninguém é obrigado a unir-se ao Partido Republicano, ou permanecer nele, mas se uma pessoa se juntar a ele ou ficar nele, deve adotar estritamente o credo do partido e não fazer tentativas, seguras ou abertas, de alterá-lo. Que um credo republicano pertence aos republicanos e a nenhum outro, parece ser a concordância por todos. Mas que um credo calvinista é para calvinistas e de nenhum outro, parece suscitar dúvidas de alguns.

Há defensores de uma visão de igreja confessional e de uma subscrição confessional que argumentam que é apropriado introduzir melhorias num credo denominacional. Que o progresso na física e no espírito da nossa época exigem novas declarações de ética e religião. E isso justifica o surgimento dentro de uma denominação de um grupo para fazê-los, e exige que a denominação atente e analise com calma. Isto significa, por exemplo, que uma igreja que adota a escatologia histórica é obrigada a permitir que os seus membros pensem que o restauracionismo[2] é uma melhoria, e que poderiam introduzi-lo nos artigos de fé. Ou que uma igreja que adota o arminianismo wesleyano é obrigada a permitir que seus membros pensem que a eleição incondicional seja preferível a eleição condicional, esforçando para torná-la calvinista, introduzindo esse princípio doutrinário.

Mas se uma liberdade correspondente fosse exigida na esfera política, não haveria nenhuma aceitação. Se dentro do Partido Democrata surgisse um grupo que reivindicasse o direito, enquanto membros no partido, para converter o corpo em princípios e medidas republicanas, se diria que o lugar apropriado para tal projeto está fora do Partido Democrata, e não nele. O direito do grupo divergente às suas próprias opiniões não seria contestado, mas seria negado o direito de mantê-las e espalhá-las com os recursos financeiros e a influência do Partido Democrata. Os democratas poderiam usar a ilustração de Lutero num exemplo semelhante: “Não podemos evitar que as aves voem sobre nossas cabeças, mas podemos impedir que elas façam seus ninhos nos nossos cabelos”. Eles diriam aos mal-intencionados: “Não podemos impedir que vocês tenham suas próprias visões peculiares e indesejáveis, mas vocês não têm o direito de ventilá-las em nossa organização”. Se os executivos da Alfândega de New York ou dos Correios insistissem em usar os salários dessas grandes instituições na transformação da política do partido que os colocou lá, nenhuma acusação de “perseguição” impediria o partido de cobrar imediatamente a sua coerência. No entanto, alguns da imprensa secular, bem como alguns religiosos, afirmam que é apropriado para os subscritores da Confissão de Westminster fazerem uma alteração radical na teologia denominacional dentro da denominação, e que estão reprimindo o livre pensamento e o direito de juízo privado, quando o sete-oitavos de representantes da Igreja Presbiteriana vetou sobre tal tentativa em seu tribunal da Assembleia Geral.

Nesta ação eclesiástica não há negação do direito de juízo privado e de livre pensamento sobre qualquer sistema de doutrina. Apenas afirma que aqueles que discordam do credo aceito pela denominação, se forem minoritários, devem sair dela, se desejarem construir um novo esquema doutrinário. A maioria satisfeita tem o direito de exercer o livre pensamento e o juízo privado, bem como a minoria insatisfeita, mas na sua prática permanece o credo como está. Consequentemente, se o descontentamento com o padrão denominacional surgir na mente de alguns, o lugar apropriado para seus novos experimentos em teologia, está dentro de uma nova organização e não na antiga que não concorda com as suas especulações. Por esta razão, desde tempos imemoriais, uma denominação religiosa sempre reivindicou o direito de expulsar pessoas que são hereges, conforme julgados pelo credo denominacional. Só assim pode uma denominação viver e prosperar. Não seria útil para a sociedade ou a religião derrubar os limites doutrinários da denominação e convertê-la numa “terra de ninguém” para que todas as variedades de crenças divaguem.

Aqui surge a questão: quem deve interpretar o credo da igreja e dizer se um esquema proposto de doutrina concorda com ele, ou o contradiz? Quem poderia dizer o que é heresia do ponto de vista do sistema denominacional? Certamente a denominação, e não o indivíduo ou o grupo que é acusado de heresia. Este é um ponto de grande importância. Para aqueles que são acusados de heterodoxia, comumente definem a ortodoxia a seu modo e afirmam não se afastarem do que eles consideram como os elementos essenciais do sistema denominacional. O partido arminiano na controvérsia do Sínodo de Dort alegou que as suas modificações na doutrina eram moderadas e não antagônicas aos credos reformados. Os semiarianos na Igreja Inglesa afirmaram que a sua concepção da Trindade não diferia essencialmente da dos pais nicenos. Em cada uma dessas instâncias, o acusado queixou-se de que suas declarações foram erroneamente interpretadas por seus oponentes, afirmando que a Igreja estava equivocada ao supor que sua heterodoxia não poderia ser harmonizada com a fé herdada. A mesma afirmação de ser mal interpretada e a mesma reivindicação de ser ortodoxa, marca o julgamento existente na Igreja Presbiteriana.

Ao determinar qual é o verdadeiro significado da fraseologia em uma proposta de alteração do credo denominacional, e qual será a influência natural dela se for permitido ensiná-la, é óbvio de que é a denominação quem decide. No caso de uma diferença na compreensão e interpretação de um documento escrito contendo mudanças propostas no credo da igreja, a regra da lei comum aplica-se, que o acusado não pode ser o juiz final do significado e disposição do seu próprio documento, mas sim o tribunal. A denominação é o tribunal. Não há dificuldades ou injustiças nisso. Um julgamento denominacional é correto para ser equitativo, ocorra ele na Igreja ou no Estado. A história da política mostra que as decisões dos grandes partidos políticos respeitando o verdadeiro significado de suas ideologias e a conformidade dos indivíduos a elas, geralmente, foram corretas. A história da religião também mostra que os julgamentos dos grandes grupos eclesiásticos agiram corretamente em relação aos ensinos de seus padrões, e o acordo ou desacordo das escolas particulares de teologia com eles. Os indivíduos e os partidos foram declarados heterodoxos, política ou teologicamente, pelo voto deliberado do corpo ao qual pertenciam. É raro que a maioria estivesse errada e correta minoria.

A honestidade confessional é intimamente relacionada com a honra denominacional. As igrejas que foram as mais francas em anunciar o seu credo, bem como as mais rigorosas em insistir numa interpretação honesta e a sua adoção por parte de seus membros, caracterizaram-se por uma escrupulosa consideração pelos direitos de outras igrejas. Estando satisfeitos com sua própria posição doutrinária e confiantes da verdade de seus artigos de fé, eles não invadiram outras denominações para alterar seu credo ou obter seu prestígio. A este respeito, os calvinistas da cristandade se comparam favoravelmente com alguns de seus oponentes que os acusam de obscurantismo e intolerância. É verdade que, nos tempos em que a união da Igreja e do Estado era universal, e a propagação de qualquer outra religião, exceto a do Estado, era considerada ameaçadora para o bem político, os calvinistas como todos os outros partidos religiosos tentaram suprimir todos os credos senão o estabelecido.

Mas os calvinistas estavam na vanguarda a favor da separação da Igreja e do Estado e pela tolerância religiosa que resultaria naturalmente. Desde que a tolerância religiosa se tornou o princípio da cristandade e tornou-se dominante o direito protestante do juízo privado, o calvinismo não foi intolerante ou disposto a interferir nos credos, instituições e benefícios de outros grupos. A este respeito temos um bom exemplo. Não há exemplos registrados, que nos lembremos, de que calvinistas secretamente adulteraram o credo de outro corpo eclesiástico e tentaram seduzir os seus membros de sua lealdade aos artigos de crença por eles adotados publicamente. De sua própria posição calvinista aberta e declarada, eles, naturalmente, criticaram e se opuseram a outros credos, porque acreditavam que eles eram mais ou menos errôneos, mas nunca adotaram a estratégia de se infiltrar noutra denominação, subscrevendo os seus artigos e, em seguida, a partir dessa posição, revolucionar o grupo que professou sinceramente se juntar. Nenhuma parte da cristandade foi mais livre de hipocrisia e dissimulação do que as igrejas calvinistas.


NOTAS:
[1] Os parágrafos foram subdivididos para facilitar a compreensão dos argumentos. Nota do tradutor.
[2] O termo em seu uso teológico pode referir-se a premissa histórico-teológica de que o cristianismo se apostatou em pontos essenciais de sua identidade doutrinária, sendo necessário restaurá-lo. Steven L. Ware, de modo confuso, define “restauracionismo é um complexo de ideias que, implícito e comum a todo o protestantismo (...) é essencialmente sinônimo de primitivismo”. Veja “Restorationism in Classical Pentecostalism” em New Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (Grand Rapids, Zondervan, 2002). Neste sentido, em parte, a reforma protestante foi restauracionista, mas a sua reivindicação é de um retorno ao ensino da Escritura Sagrada e não ao modelo da igreja primitiva. A igreja no primeiro século passou pela transição da aliança, dentro dum processo que culminou na cessação dos agentes e modalidades revelacionais, bem como da transmissão de novas revelações. A igreja primitiva não foi o modelo final, tanto pelos diferentes problemas e imperfeições Sitz im Leben que evidenciava, como também ela não poderia ser considerada madura até que se consumasse a transição. O fechamento do cânon do Novo Testamento, o fim do apostolado e a consumação da estrutura da nova aliança, somente ocorreram no fim do primeiro século. Por isso, o modelo de igreja é determinado por princípios bíblicos e não por um exemplarismo histórico. Shedd usa o termo restauracionismo, em seu sentido negativo, para se referir a grupos heréticos que surgiram em sua época como o adventismo, o mormonismo e as testemunhas de Jeová. O pentecostalismo surge no início do século XX como uma proposta restauracionista. Nota do tradutor.

William G.T. Shedd, Calvinism: Pure and Mixed – A Defense of the Westminster Standards (Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1986), pp. 152-158.
Tradução e notas por Ewerton B. Tokashiki

19 setembro 2017

Declaração de Nashville - sobre sexualidade

Declaração publicada pelo Conselho sobre a Masculinidade e Feminilidade Bíblica no dia 29 de agosto de 2017 na cidade de Nashville, EUA.


Preâmbulo


“Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto…“ – Salmos 100:3

Cristãos Evangélicos, na aurora do século XXI, encontram-se em um momento de transição histórica. Como a cultura ocidental tem se tornado cada vez mais pós-Cristã, ela tem embarcado em uma revisão massiva do significado do que é ser humano. De um modo geral, o espírito de nossa época, não percebe ou se deleita mais com a beleza do projeto de Deus para a vida humana. Muitos negam que Deus criou o ser humano para a sua glória, e que os seus bons propósitos para conosco incluem o nosso modelo físico e pessoal como masculino e feminino. É comum pensar que a identidade humana como masculina e feminina não seja uma parte do maravilhoso plano de Deus, mas é, e é mais do que um expressão individual de suas preferências autônomas. O caminho para a alegria completa e duradoura através do bom projeto de Deus para suas criaturas é então substituído pelo caminho de alternativas míopes que, mais cedo ou mais tarde, arruinam com a vida humana e desonram a Deus.

Este espírito secular de nossa época apresenta um grande desafio para a igreja Cristã. A igreja do Senhor Jesus Cristo perderá sua convicção, clareza e coragem bíblica, e se misturará ao espírito da época? Ou ela se manterá firme à palavra da vida, suscitará coragem através de Jesus, e despudoradamente proclamará o seu modo como o caminho da vida? Ela preservará o seu testemunho transparente, contracultural para um mundo que parece caído em ruína?

Estamos convencidos de que a fidelidade em nossa geração significa declarar mais uma vez, a verdadeira história do mundo e de nosso lugar nele – particularmente como masculino e feminino. As Escrituras Cristãs ensinam que existe apenas um Deus, e que é o Criador e Senhor de tudo. Somente a ele, uma pessoa deve agradecimento alegre, adoração sincera e total lealdade. Este é o caminho não só para glorificar a Deus, mas também para conhecer a si mesmo. Esquecer do nosso Criador é esquecermo-nos de nós mesmos, pois ele nos fez para ele mesmo. E nós não podemos nos conhecer verdadeiramente sem conhecemo-Lo verdadeiramente. Nós não nos fizemos. Nós não somos de nós mesmos. Nossa verdadeira identidade, como pessoas masculinas e femininas, é dada por Deus. Não é apenas tolo, como também inútil, tentarmos fazer de nós mesmos o que Deus não nos criou para ser.

Nós acreditamos que o projeto de Deus para a criação e o seu caminho de salvação servem para levar a ele a glória maior e trazer a nós o bem maior. O plano bom de Deus nos fornece a liberdade maior. Jesus disse que ele veio para que nós possamos ter uma vida abundante. Ele é por nós e não contra nós. Portanto, na esperança de servir à igreja de Cristo e testemunhar publicamente para os propósitos bons de Deus para a sexualidade humana revelada nas Escrituras Cristãs, nós oferecemos as seguintes afirmações e negações.

Artigo I

NÓS AFIRMAMOS que Deus designou o casamento para ser uma união pactual, sexual, procriativa, vitalícia entre um homem e uma mulher.

NÓS NEGAMOS que Deus designou o casamento para ser uma relação homossexual, poligámica ou poliamorosa. Nós também negamos que o casamento seja uma mero contrato humano, e não um pacto feito diante de Deus.

Artigo II

NÓS AFIRMAMOS que a vontade de Deus revelada para todas as pessoas é a castidade fora do casamento e a fidelidade dentro do casamento.

NÓS NEGAMOS que qualquer afeição, desejo ou compromisso justifiquem o ato sexual, seja antes ou fora do casamento; ou que justifiquem qualquer forma de imoralidade sexual.

Artigo III

NÓS AFIRMAMOS que Deus criou Adão e Eva, os primeiros seres humanos, à sua imagem, iguais, perante Deus, como pessoas, e distintos como masculino e feminino.

NÓS NEGAMOS que as diferenças ordenadas divinamente entre homem e mulher façam com que os mesmos sejam desiguais em dignidade e valor.

Artigo IV
NÓS AFIRMAMOS que as diferenças ordenadas divinamente entre homem e mulher refletem o projeto de criação original de Deus e foram feitas para o bem e para a prosperidade do homem.

NÓS NEGAMOS que essas diferenças são resultado da Queda ou que devem ser superadas.

Artigo V

NÓS AFIRMAMOS que as diferenças entre as estruturas reprodutivas do homem e da mulher são integrantes do projeto de Deus para a auto concepção como masculino ou feminino.

NÓS NEGAMOS que anomalias físicas ou condições psicológicas anulam a ligação designada por Deus entre o sexo biológico e a auto concepção como masculino ou feminino.

Artigo VI

NÓS AFIRMAMOS que aqueles nascidos com desordem física de desenvolvimento sexual são criados à imagem de Deus e têm dignidade e valor assim como todos os outros portadores da imagem. Eles são reconhecidos pelo Nosso Senhor Jesus em suas próprias palavras sobre “eunucos que assim nasceram do ventre da mãe”. Juntamente com outros, eles são bem-vindos como seguidores da fé de Jesus Cristo e deveriam abraçar seu sexo biológico até o ponto que o mesmo seja conhecido.

NÓS NEGAMOS que ambiguidades relacionadas ao sexo biológico de uma pessoa a torne incapaz de viver uma vida fértil em obediência alegre a Cristo.

Artigo VII
NÓS AFIRMAMOS que a auto concepção de masculino e feminino deve ser definida pelos propósitos sagrados de Deus na criação e redenção, como revelado pelas Escrituras.

NÓS NEGAMOS que adotar uma auto concepção homossexual ou transgênero consista dos propósitos sagrados de Deus na criação e redenção.

Artigo VIII

NÓS AFIRMAMOS que as pessoas que possuem atração sexual pelo mesmo sexo podem viver uma vida rica e próspera, agradando a Deus através da fé em Jesus Cristo, enquanto eles, assim como todo Cristão, caminham na pureza da vida.

NÓS NEGAMOS que a atração pelo mesmo sexo seja parte da bondade natural da criação original de Deus, ou que isso ponha alguém fora da esperança do Evangelho.

Artigo IX

NÓS AFIRMAMOS que o pecado distorce os desejos sexuais por direcioná-los para longe do pacto matrimonial e por aproximá-los da imoralidade sexual – uma distorção que inclui tanto a imoralidade heterossexual como a homossexual.

NÓS NEGAMOS que um padrão persistente de imoralidade sexual justique o comportamento sexualmente imoral.

Artigo X

NÓS AFIRMAMOS que é pecaminoso aprovar a imoralidade homossexual ou o transgênerismo e que tal aprovação constitui um desvio essencial da fé e do testemunho de Jesus Cristo.

NÓS NEGAMOS que a aprovação de imoralidade homossexual ou de transgênerismo seja questão de indiferença moral sobre a qual Cristãos fiéis deveriam concondar para descordar.

Artigo XI
NÓS AFIRMAMOS a nossa obrigação de sempre falar a verdade em amor, incluindo quando falamos com ou sobre outra pessoa como masculino ou feminino.

NÓS NEGAMOS qualquer obrigação de falar em desonra ao projeto de Deus de seus portadores da imagem como masculino e feminino.

Artigo XII

NÓS AFIRMAMOS que a graça de Deus em Cristo fornece tanto perdão misericordioso como poder transformador, e que este perdão e poder permitem ao seguidor de Jesus aniquilar desejos pecaminosos e caminhar de uma forma louvável ao Senhor.

NÓS NEGAMOS que a graça de Deus em Cristo seja insuficiente para perdoar qualquer pecado sexual e para dar poder de santidade para qualquer crente que se sinta afogado no pecado sexual.

Artigo XIII
NÓS AFIRMAMOS que a graça de Deus em Cristo permite pecadores a abandonar auto concepções de transgeneridade e através de paciência divina, de aceitar a ligação designada por Deus entre o sexo biológico e a auto concepção de alguém como masculino ou feminino.

NÓS NEGAMOS que a graça de Deus em Cristo sancione auto concepções que são estranhas à vontade de Deus revelada.

Artigo XIV

NÓS AFIRMAMOS que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores e que através da morte e ressurreição de Cristo, o perdão e a vida eterna estão disponíveis para qualquer pessoa que se arrependa de seus pecados e confie em Cristo como seu único Salvador, Senhor e tesouro supremo.

NÓS NEGAMOS que o braço do Senhor seja curto demais para salvar ou que qualquer pecador esteja além do seu alcance.

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Signatários Iniciais
Denny Burk John Piper James Dobson
Russell Moore J. I. Packer Wayne Grudem
R. Albert Mohler, Jr. Tony Perkins D. A. Carson
John MacArthur Sam Allberry R. C. Sproul
Rosaria Butterfield Francis Chan Marvin Olasky
Ligon Dunca Steve Gaines Andrew T. Walker
H.B. Charles, Jr. Christopher Yuan Dennis Rainey
Frank Page Nancy DeMoss Wolgemuth Daniel L. Akin
Kevin DeYoung Alistair Begg Heath Lambert
Jerry A. Johnson Mark Dever Randy Alcorn
Karen Swallow Prior Matt Chandler Fred Luter
James MacDonald James Merritt Jack Graham
J. D. Greear Darryl Delhousaye Thomas White
Bryant Wright Don Sweeting Jeff Purswell
Johnny Hunt Jason K. Allen Erick-Woods Erickson
Mark L. Bailey K. Erik Thoennes Vaughan Roberts
David French Paige Patterson R. Kent Hughes
Jeff Iorg Sam Storms Richard Land
Robert A. J. Gagnon Samuel W. “Dub” Oliver Ronnie Floyd
C. J. Mahaney Jason G. Duesing Matt Carter
Chuck Kelley Burk Parsons Eric Teetsel
Alastair Roberts Kevin Ezell Ray Ortlund
O. S. Hawkins Thom S. Rainer Michael Reeves
Todd Wagner John M. Frame Randy Stinson
Mac Brunson Paul Nyquist Thomas Schreiner
H. Wayne House J. P. Moreland Bruce Ware
Michael Goeke Joel Belz Michael Horton
Jackie Hill Perry Dick Lucas Afshin Ziafat
Stephen Strang Christiana Holcomb Jimmy Draper
Owen Strachan Anthony Kidd James M. Hamilton, Jr.
Bryan Carter Chris Larson Bruce Riley Ashford
Candi Finch Curtis Woods Nathan Finn
James Robison C. Ben Mitchell Darrell Bock
William Philip David Mathis Ken Magnuson
Daniel Heimbach Hershael W. York Mary Mohler
Hunter Baker Dorothy Kelley Patterson Jim Shaddix
John N. Oswalt Jack Deere Juan R. Sanchez
Malcolm B. Yarnell, III Jonathan Leeman Mary A. Kassian

Fonte: site PALAVRA PRUDENTE

07 abril 2016

Uma declaração da cosmovisão reformada - revisada

Apresento de modo sistemático uma declaração da cosmovisão reformada. Este é um resumo de como interpretamos o mundo a partir de uma perspectiva calvinista, os acontecimentos e como a vida está sob o governo e relacionada com o soberano Deus, e como todos os valores se organizam a partir dele.

1. Cremos que Deus é um Ser em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O nosso Deus é infinito, eterno, perfeito, autossuficiente e imutável em seu Ser. Ele em tudo manifesta a sua bondade, conhecimento, sabedoria, poder, e a justiça segundo o seu soberano propósito eterno. Ele é o criador de tudo o que existe, pela Palavra do seu poder. Ele realiza, em tudo e todos, a sua sábia providência, de modo que, não existe acaso, nem fatalismo nos acontecimentos que vivenciamos, mas o absoluto controle em cada situação é a realização da sua perfeita vontade. Tudo o que ele realiza é reflexo daquilo que ele é. As nossas vidas e nossas famílias estão seguras em suas misericordiosas mãos.

2. Cremos que o nosso Deus é pessoal. Ele se revelou através de homens escolhidos, de eventos em diversos momentos e finalmente em seu Filho, e tudo o que é proveitoso para desvendar o seu Ser e a sua vontade, ele inspirou de modo escrito, para evitar a corrupção e o engano. Ele fez que se registrasse a sua Palavra progressivamente, para que se tornasse o livro de mediação e revelação das suas obras e do seu propósito conosco. Hoje, Deus fala verbalmente conosco somente na sua inspirada Palavra, pois, cessaram os agentes revelacionais [apóstolos e profetas], as modalidades revelacionais e a entrega de novas revelações. Por isso, submetemo-nos somente à autoridade da Escritura Sagrada como sendo a única fonte e regra de fé e prática. Somente ela é a inerrante, clara e suficiente Palavra de Deus. Em sua Palavra, Deus o padrão absoluto da verdade, bem como explica a origem do universo, da vida e das espécies, quem somos, qual o propósito da nossa vida, indicando a finalidade de toda a existência que é glorificá-lo e desfrutar dos benefícios da sua comunhão.

3. Cremos que o ser humano é criado à imagem de Deus. Deus criou a humanidade: homem e mulher, e ambos de igual modo refletem com dignidade espiritual os atributos que Deus lhes comunicou e, também representam o Senhor como administradores responsáveis de preservar e usufruir da criação. Tanto o homem como a mulher, são iguais em capacidade e responsabilidades; mas o homem deve exercer a sua autoridade como cabeça sobre a mulher, e esta liderança masculina deve ser sem opressão, nem omissão, pois, embora tendo diferentes papéis, exercem funções complementares. O casamento faz parte do projeto pactual de Deus conosco, por isso, a união entre Cristo e a Igreja é o paradigma do casamento. O casamento, entre um homem e uma mulher adultos, é um valor ético que devemos nutrir e defender contra toda ideologia de gênero e os intentos pós-modernos de reconfigurar a família.

4. Cremos que Deus fez uma aliança de vida com Adão. Como o nosso primeiro pai, ele foi o nosso representante nesta aliança. Todavia, sendo Adão tentado por Satanás, ele violou este pacto ao desobedecer um claro comando de Deus, perdendo a comunhão espiritual e todos os seus benefícios prometidos. Toda criação que era “muito boa” tornou-se corrompida em seu sistema ecológico. Sobre toda a humanidade foi creditada esta maldição, o pecado é a herança natural que todos recebem de Adão. Por causa deste mal moral todos perderam a santidade, a justiça e o conhecimento perfeito de Deus. O pecado produz inimizade, perda de significado, e por fim, a vergonhosa morte. Embora corrompidos, ainda somos portadores da imagem de Deus.

5. Cremos que Satanás e seus demônios, agentes do mal, conspiram contra tudo o que procede de Deus. Ele tentou os nossos primeiros pais, e os induziu a rebelião contra Deus, e nos confronta tentando seduzir-nos, despertando a nossa cobiça e aguçando o nosso orgulho. Ele é soberbo, assassino, acusador, e inimigo de Deus. Satanás não é co-igual a Deus, pelo contrário, ele é uma criatura submissa ao controle soberano do Senhor. O nosso acusador está condenado, e haverá de ser banido ao sofrimento eterno sob a justa ira no juízo de Deus.

6. Cremos que o mal é tão real quanto indesejável o sofrimento por ele produzido em toda a criação. Entretanto, o mal físico é parte da consequente maldição do pecado herdado dos nossos primeiros pais. O pecado gera desordem e destruição no indivíduo e sociedade. Todavia, não acreditamos que Deus seja mero espectador da presença do pecado na história da humanidade, mas de modo misterioso participante de tudo o que acontece, sem ser o culpado do pecado, e sem anular a responsabilidade do pecador. Cremos que todas as coisas, em especial aquelas que parecem escombros depois da destruição do pecado, são matéria-prima que Deus está usando para transformar a nossa vida, conforme à imagem de Cristo, em seu louvor e glória.

7. Cremos que o nascimento de Jesus Cristo teve o propósito de reconciliar pecadores escolhidos com o santo Deus. Sendo o Filho de Deus uma Pessoa que subsiste em duas naturezas, divina e humana, é o completo e final revelador entre Deus e os homens. O sofrimento, obediência, morte e ressurreição de Cristo obtiveram a justiça necessária para merecer-nos a aceitação de Deus, bem como a suficiente satisfação da sua ira, realizando a anulação da condenação pelos nossos pecados. Somos perdoados pela justiça e amor de Cristo Jesus, o nosso mediador. Ele eficazmente intercederá por nós até a Sua segunda vinda. A obra de Cristo é o fundamento para a renovação de toda a criação pela presença espiritual e transformadora do Seu reino, que foi inaugurado.

8. Cremos que o Espírito Santo inicia a obra da salvação em nós, regenerando e concedendo-nos entendimento espiritual para crermos em Cristo como o nosso salvador. Recebemos no poder do Espírito, e pela aplicação da Palavra de Deus em nós, o dom da fé salvadora e arrependimento necessário para a nossa conversão. Em Cristo a justificação é declarada e creditada a nós. Através da adoção somos feitos participantes da família de Deus. A santificação estimulada pelo Espírito e, exercida em nossos pensamentos, emoções e ações confirmam a nossa eleição e filiação divina. Somos preservados em graça, pelo poder de Deus, para sermos continuamente salvos até o fim. Deus tem uma graciosa Aliança da graça conosco e os nossos filhos, tendo o Senhor Jesus como o nosso único mediador.

9. Cremos que o Espírito Santo está presente em nós num relacionamento pactual conosco, habitados por ele, somos batizados no Corpo de Cristo. Ele continua a pairar acima do caos causado pelo pecado, todavia, sem estar alienado ao mal que há no mundo, mas convence-nos da justiça e do juízo, e concede forma à nova criação e fazendo-nos novas criaturas pela regeneração. O Espírito nos une como Igreja, capacitando-nos com dons para o serviço e edificação pela prática da comunhão mútua. Ele testemunha internamente, pela iluminação da Palavra de Deus, e somos continuamente santificados sob a sua poderosa influência. Toda a sua obra tem a finalidade de glorificar a Cristo.

10. Cremos que a Igreja é responsável de ser testemunha da verdade e do amor de Deus neste mundo afetado pelo pecado. Somos o povo escolhido para proclamarmos a mensagem de reconciliação e perdão, convidando pecadores ao arrependimento, para confiarem na suficiência de Cristo para a sua salvação. Temos o compromisso de ouvir, viver e ensinar a Palavra de Deus. A salvação não é somente da nossa alma, mas da nossa mente, cultura e sociedade, apresentando o evangelho integral para o homem em todas as suas necessidades. Cuidamos uns dos outros no amor de Deus, vivendo uma comunhão de reciprocidade e compromisso, proporcionando um ambiente de fraternidade e santidade. A Igreja visível é a comunhão daqueles que professam Cristo como o Senhor, reunidos para a celebração, a adoração, a comunhão, edificação e serviço. Buscamos intimidade com Deus através da Palavra, oração e dos sacramentos e, confirmamos a nova aliança com Deus simbolizada pelo do batismo e ceia do Senhor. A imagem de Deus é vivida na mutualidade dos relacionamentos.

11. Cremos que o objetivo histórico da obra de Cristo foi a inauguração do seu reino sobre a terra. Isto inclui a salvação de indivíduos, bem como uma nova ordem na sociedade. Todavia, cremos que somente com os valores do reino de Deus, num discipulado integral, em que os cristãos se envolvem produtivamente em todas as áreas da vida, podendo participar pelo processo de restauração, transformação e desenvolvimento, reconhecendo Cristo como o Senhor em todas as esferas da nossa existência.

12. Cremos que este mundo experimenta a deterioração dos valores que Deus estabeleceu para preservá-lo. A falta de sentido e propósito também produz a desesperança. A sociedade busca a sua redenção na tecnologia, cultura, política, economia e no sexo, todavia, estes meios são ineficazes de transformá-la construtivamente. Reconhecemos que várias formas de idolatria são fabricadas pela cultura pós-moderna. Mas, infelizmente, a sociedade inclina-se a não reconhecer a verdade como absoluta, ridicularizando a concepção e a ação de Deus no mundo. Estamos chegando ao fim da história humana não em direção ao desespero e caos, mas à consumação do propósito eterno de Deus. Cristo Jesus julgará toda a humanidade de todas as épocas e culturas, a uns dará a salvação segundo a sua misericórdia, e a outros segundo a sua justiça concederá a merecida condenação dos seus pecados.

13. Cremos que o nosso mundo pertence a Deus. Apesar de toda miséria e dor, todas as coisas estão sob o seu absoluto controle. A nossa esperança de uma nova terra não está presa ao que os homens podem fazer, porque cremos que após o dia do Juízo, todo desafio ao governo de Deus, e toda resistência a sua vontade será anulada, o seu reino, que é inaugurado entre nós, se manifestará em sua plenitude, e o nosso Senhor Jesus governará para sempre com o seu povo. Assim “Deus enxugará dos olhos toda lágrima”, Ele abolirá as nossas enfermidades, findará os nossos conflitos, e implantará a Sua perfeita justiça sobre a terra.

A cosmovisão cristã deve ser implantada pela influência da Igreja em todas as esferas da sociedade. O verdadeiro cristianismo propõe que crer e também pensar. Em tudo dependemos de Deus, para ele vivemos e a ele pertencemos, e isso só é possível se a nossa mente for dominada com a verdade (Rm 11:33). A mentira de que a fé não precisa da razão deve ser desprezada, e afirmado que a razão sem a fé se torna em loucura (Rm 1:22-23). James Orr acertadamente disse que “uma religião divorciada do pensamento rigoroso e elevado pode ser vista no curso inteiro da história da Igreja, e por isso, ela sempre tendeu a ser débil, árida e pouco saudável; bem como o intelecto privado de seus direitos dentro da religião, buscou a sua satisfação fora dela, e se transformou num racionalismo secular”. Este é um erro que não podemos repetir. Cada membro de nossa igreja precisa se convencer de que uma fé vigorosa somente glorifica a Deus se ela estiver comprometida com toda a verdade. A finalidade da nossa vida é glorificar a Deus, e a nossa mente não pode ser desprezada no desemprenho deste dever, porque como disse: crer é também pensar!

03 dezembro 2015

Como começaram os rumores?

Breve história contra a má impressão sobre João Calvino

Ryan Glomsrud


Os mitos acerca de Calvino persistem nos textos didáticos das escolas, aulas da universidade e ainda nos institutos bíblicos. Apesar da muita informação crítica que hoje temos sobre Calvino, muitos desconhecem a sua verdadeira história. Com ironia Marilynne Robinson expressa o que muitos creem: “nós sabemos que o Calvinismo é uma importante tradição entre nós. Mas a única coisa que sabemos de João Calvino é que era um escocês do século XVIII, de perspectiva excessivamente estrita, como uma fivela em seu chapéu e, possivelmente queimou bruxas ...”. Assim, continuamos no mesmo ano de 500 anos do aniversário do seu nascimento. Para os que não saibam, Calvino foi um francês do século XVI, viveu no exílio de Genebra, Suíça. Os que usavam fivelas eram os puritanos e os de perspectiva excessivamente estrita eram os vitorianos.

Alguns pontuam a Calvino como o sicário da Reforma Protestante, o verdugo dos hereges, ou um pervertido sexual. Com maior frequência lhe atribuem o título de maior herege, alguém que talvez negava a doutrina da Trindade, e quem inventou a sua terrível doutrina da predestinação e reprovação.

Os eruditos recentes sobre Calvino têm mostrado que a grande maioria destes rumores maliciosos procedem de uma única fonte, um indivíduo particular. O seu nome era Jerônimo Bolsec, um refugiado leigo que passou um tempo em Genebra. Ao falhar em seu exame de ordenação nas Igrejas Reformadas em Paris, voltou para a Igreja Católica Romana, e chegou a ser o primeiro biógrafo católico de Calvino. Publicou a sua obra em 1577 e, as histórias que Bolsec narra têm uma larga trajetória na história.

A vida de Bolsec foi intrigante, e nos provê um excelente exemplo de como o gênero de biografias era usado para as polêmicas violentas do século XVI na Europa, utilizando toda forma possível, desde panfletos de papel até tábuas de madeira esculpidas. De acordo com um autor, Bolsec “queria destruir a imagem de Genebra (e Calvino) tão rápido e efetivamente quanto possível.” Então, incluía em sua biografia temas como os seguintes:

1. A influência destrutiva de Calvino sobre a França e seu papel na destruição da paz na Europa.
2. Calvino como “a encarnação de todas as heresias” antes conhecidas na Igreja.
3. Calvino como o sodomita (homossexual) acusado e julgado, quem deveria ser queimado, mas no último momento mudaram a sua sentença ao receber uma marca com um ferro quente no ombro.
4. Calvino como um tirano promíscuo que “se deitado com a maioria das mulheres em Genebra sob o pretexto de dar conselhos pastorais”.
5. Calvino como o único responsável pela execução de Serveto (um mito que tem longa duração). Bolsec não foi o único que “adornou” relatos sobre o caráter de pessoas importantes. Os protestantes encontravam ampla oportunidade para fazer o mesmo com os papas corruptos de sua época, e sem dúvida, nem tudo o que diziam era verdade. Mas parece que algumas das histórias absurdas sobre Calvino perduram mais tempo do que os mitos mitos protestantes sobre a corrupção católica, apesar de que há muitos intérpretes católicos, utilizando métodos críticos de investigação, em que questionam radicalmente A vida de Calvino escrito por Bolsec. Depois de investigar os relatos sobre Calvino, estes autores católicos rejeitam a maioria, senão todos, os mitos a respeito de Calvino, chegando à conclusão que Bolsec inventou suas fontes, e que estava pessoalmente cego por seu profundo ódio contra Calvino.

No caso de Calvino, é proveitoso conhecer a origem da grande maioria dos mitos sobre ele. Com tantas falsas lendas sobre Calvino, quase seria melhor pedir uma moratória das opiniões populares caso não se baseiem na verdade histórica.

Originalmente publicado em Modern Reformation, Jun/Jul, 2009.
Extraído de Nicolás G. Lammé, ed., Reforma Siglo 21 – Boletín teológico de la Confraternidad Latinoamericano de Iglesias Reformadas (Guadalupe, CLIR, Outubro de 2009), pp. 64-66.
Traduzido por Ewerton B. Tokashiki em 3 de Dezembro de 2015.

30 maio 2015

O calvinismo e a cultura - H. Henry Meeter

O dicionário define a palavra cultura como “o ato de cultivar, ou o resultado desta cultivação.” A continuação explica o que se entende por esta cultivação: implica educação, qualquer disciplina ou desenvolvimento que se traduza num melhoramento – seja nas plantas, nos animais ou nos seres humanos -. Dai que se pode falar da “cultura das plantas, das flores, das abelhas”, etc. Todavia, num sentido estrito o termo cultura se aplica à cultura humana, e em referência a “qualquer cultivo dentro da raça humana que resulte no melhoramento, esclarecimento e disciplina, e que se adquire pela educação moral e mental, pela civilização, por uma superação dos usos e costumes, etc.”

A palavra é de uma significação muito ampla. Nós a usarmos, na maioria dos casos, em sua significação restrita e referida somente aos seres humanos. Mas, ainda aqui a palavra é susceptível de diferentes significações. Para alguns a palavra não vem a significar mais do que um mero refinamento. Assim quando alguém começa a trabalhar num escritório, pelo contato com a sociedade que o rodeia, adquire certo grau de refinamento, aprende algumas expressões seletas, desenvolve modos agradáveis e se veste segundo a última moda. Esta pessoa será catalogada como culta.

LEIA O TEXTO COMPLETO [ AQUI ]


Extraído de H. Henry Meeter, La Iglesia y el Estado (Grand Rapids, TELL, 1963), pp. 75-91. Este livro originalmente foi publicado sob o título de THE BASIC IDEAS OF CALVINISM.

Traduzido por Rev. Ewerton B. Tokashiki
30 de Maio de 2015.

10 fevereiro 2015

A desobediência civil

Trata-se de uma forma de protesto político, caracterizado pelo ato de transgredir abertamente a lei por motivos de consciência. As campanhas de desobediência civil se organizam por diversas causas, por exemplo, para lutar contra a guerra, a segregação racial, diversos impostos e o aborto. Normalmente estas campanhas transgridem leis relevantes ou desafiam a determinadas instituições. Os métodos de protesto podem consistir em sentar em lugares públicos, marchas, ou protestos ilegais, boicotes a algum imposto ou ataque de manifestantes, por exemplo, a bases militares ou clínicas onde se prática abortos.

A desobediência civil aos poucos difere em geral de outros atos de índole semelhante, ou seja, a objeção de consciência que implica violência, e de outras formas legítimas de protesto. A objeção de consciência nem sempre é ilegal, dado que em certos países se faz provisão legal para este caso. Inclusive quando é ilegal, não se pode ter uma intenção diretamente política; seu interesse primário é a rejeição de envolver-se ativamente na prática do serviço militar. As campanhas violentas não têm gozado de apoio público, nem se submetem ao governo da lei como um todo global. Consequentemente, as campanhas violentas como as que levam a cabo certos ativistas que defendem os direitos dos animais e alguns grupos anti-aborto, se parecem mais com campanhas de insurgência, como as que lançam, em diversas medidas, os movimentos nacionalistas. Por outro lado, o protesto legal, como por exemplo, as manifestações e marchas pacíficas, que não transgridem a lei, formam ocasionalmente parte da vida política e, não suscitam nenhuma questão moral especial. A desobediência civil transgride abertamente a lei para chamar a atenção sobre a injustiça política, ou para mudar uma lei, ou uma política pública. Inclusive quando descumpre a lei, continua submissa ao governo da lei como um todo, e seus praticantes estão dispostos a sofrer a pena legal correspondente como castigo.

As teorias modernas sobre a desobediência civil podem afirmar a sua autoridade baseando-se na tradição cristã. Pedro e os apóstolos quando recusaram não deixar de ensinar no nome de Jesus, argumentaram que “é necessário obedecer a Deus antes que aos homens” (At 5:29). Muito depois, Tomás de Aquino arguiu que a justiça formava parte tão essencial da lei que uma lei injusta não era uma lei, da qual se deduza que não incite à obediência. Todavia, mais frequentemente a igreja ensina com grande cautela o dever dos cidadãos de obedecer a um regime político, inclusive quando é injusto. Ao fazê-lo segue uma clara tendência do pensamento do Novo Testamento (cf. Rm 13:1-7; 1 Pe 2:13-14). Mas há uma série de pontos em que o pensamento cristão alcançou o consenso geral sobre o dever de desobedecer ao Estado e as suas leis, que são as seguintes: 1) quando exige aos crentes que neguem a sua fé em Cristo, ou rejeitem explicitamente ao seu Senhor; 2) quando o Estado exige aos cristãos que participem em ações que são claramente contrárias a sua consciência conformada pelo Cristianismo.

No final dos anos 60 os filósofos políticos dedicaram muita atenção a esta questão e, hoje em dia continuam debatendo-a. Naquela época surgiram dois movimentos que deram relevância a este tema: o movimento dos direitos civis, dirigido por Martin Luther King, e dos protestos contra a guerra do Vietnam. Isto suscita pontos de grande interesse para a teoria política. A sua qualidade paradoxal tem um interesse evidente, mas, mais fundamentalmente, levanta perguntas básicas sobre a natureza da lei e a obediência civil. Naturalmente os diversos filósofos respondem a estas questões de distintas maneiras. Mas, é certo que todos estariam de acordo de que, ainda que a desobediência civil não possa descartar absolutamente em todas as ocasiões, deve estar plenamente justificada. Deve estar baseada numa série de critérios relativamente poderosos. Estes critérios constituiriam um bom ponto de partida para todo o paradigma cristão sobre o tema.

Os critérios que apresentaremos em seguida são deduzidos da natureza da desobediência civil como a expressamos antes: 1) Devem se esgotar, primeiro e completamente, todos os meios constitucionais e democráticos. É muito melhor convencer às pessoas com um argumento democrático. Alguns argumentam que na prática nunca se pode esgotar as possibilidades dos métodos democráticos genuínos e, concluir que praticamente todos os casos da desobediência civil prejudicam a energia e os recursos dos canais democráticos mais corretos [1]. 2) A desobediência civil deveria ser aberta e pública. Deveria submeter-se à prisão e ao castigo, e estar disposta à responsabilizar-se por seus atos ilegais. 3) Deveria optar por métodos não violentos; alguns diriam que deve insistir na não violência. 4) Os atos de desobediência civil devem manifestar um bom conhecimento da lei e em pleno respeito por ela. 5) As ações devem ser proporcionais a sua causa. 6) A desobediência deveria ter um objetivo específico e realista. Não deveria designar, nem abordar-se de modos que resultem politicamente contraproducentes. Sobretudo, continua sendo uma mera forma extrema de protesto e persuasão, e não um modo de aplicar a coerção.

NOTA:
[1] Este contra-argumento deve ser seriamente considerado recordando o fato histórico da Alemanha durante o período antecedente à Segunda Guerra. Os judeus e alemães de oposição nazista foram presos, enquanto que majoritariamente a Alemanha sofria um golpe através de falsas e perigosas promessas, e iludida pela mídia que divulgava a ideologia do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Nota do tradutor.


D.J.E. Attwood, "Desobediencia civil" in: David Atkinson & David H. Field, orgs., Diccionario de Ética y Teología Pastoral (Barcelona, Editorial CLIE, 2004), p. 382.

Deontologia

A deontologia (do grego deon, aquilo que é obrigatório) é, em geral, o estudo da obrigação moral, e em concreto de um tipo específico de teoria da obrigação. Em contraste com as teorias consequencialistas da obrigação, as deontológicas sustentam que os atosnão são bons ou maus devido simplesmente a suas consequências boas ou más. Entretanto, os atos são, ou não, cumprimento do dever e o dever não é determinado plenamente em termos de suas consequências.

As teorias deontológicas diferem no que se refere a qual é o fundamento do dever: para alguns é a vontade de Deus; para outros a racionalidade como tal; para outros os deveres carecem de fundamento, sendo realizados arbitrariamente. As teorias também discrepam sobre até que ponto a obrigação é independente das consequências. Para Kant as consequências eram irrelevantes para a obrigação ("cumpre com o teu dever ainda que o mundo se acabe!"), enquanto que W.D. Ross (1877-1940) defendia que as consequências eram somente um fator entre muitos dos relevantes para a obrigação. As teorias deontológicas foram elaboradas pela congruência com as intuições morais das pessoas normais, incluindo aquela de que "o fim nem sempre justifica os meios". Elas são criticadas para dar a impressão de que a obrigação moral é arbitrária ou inexplicável, e por viciar os incentivos para agir de uma forma moral.


M.T. Nelson, "Deontología" in: David Atkinson & David H. Field, orgs., Diccionario de Ética y Teología Pastoral (Barcelona, Editorial CLIE, 2004), p. 426.

19 dezembro 2014

Eu creio nos 5 solas da Reforma

Somos uma igreja herdeira da Reforma protestante do século XVI. Os 5 pilares da nossa herança são:
Sola Scriptura: somente a Escritura Sagrada
Solus Christus: somente em Cristo
Sola gratia: somente a graça
Sola fide: somente a fé
Soli Deo gloria: somente a Deus toda glória

1. Somente a Escritura Sagrada: é a nossa única fonte e regra de fé e prática
O calvinismo possui o seu sistema doutrinário centrado na Escritura Sagrada. Desde a Reforma do século XVI foi ensinada a doutrina da sola Scriptura – ou seja, que a Escritura é a única fonte e regra de autoridade. Entretanto, a autoridade da Escritura resultado do fato dela ser a Palavra de Deus. John H. Armstrong corretamente observa que “a autoridade é encontrada no próprio Deus soberano. O Deus que ‘soprou’ as palavras por meio dos escritores humanos está por trás de toda afirmação, toda doutrina, toda promessa e toda ordem contidas na Escritura”.[1] Se rejeitarmos a Escritura Sagrada estamos desprezando a vontade preceptiva de Deus.

A Bíblia tem autoridade porque ela é revelação da vontade de Deus. Por isso, “as inspiradas Escrituras, revelando a vontade transcendente de Deus em forma escrita e objetiva, são a regra de fé e conduta através da qual Jesus exerce sua autoridade divina na vida do crente.”[2] Em outras palavras, esta doutrina significa que a base da nossa doutrina, forma de governo de igreja, culto e todas as esferas da vida, não se fundamentam no tradicionalismo, no subjetivismo, no relativismo, no pragmatismo, ou no pluralismo, mas é extraída somente na Escritura Sagrada. Cremos que suficientemente ela é a verdade absoluta, porque somente a Escritura é a Palavra de Deus (2 Tm 3:16-17; 2 Pe 1:19-20).

2. Somente Cristo: o único mediador da nossa salvação
O nosso Senhor Jesus se fez um de nós para ser o nosso substituto. Ele é o nosso único representante diante de Deus. O Pai firmou o pacto da redenção que estipulava que o Filho viesse ao mundo para cumprir a sua vontade (Jo 4:34; 6:38-40; 10:10). A Confissão de Fé de Westminster declara que
aprouve a Deus em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do Mundo; e deu-lhe desde toda a eternidade um povo para ser sua semente e para, no tempo devido, ser por ele remido, chamado, justificado, santificado e glorificado.[3]

Não temos outro mediador pelo qual possamos ser reconciliados com Deus, a não ser Jesus Cristo (At 4:11-12; 1 Tm 2:5). A sua obra lhe confere autoridade para declarar justo todos quantos o Pai lhe deu (Jo 6:37,39,65). Toda a obra expiatória de Jesus é suficiente para a nossa salvação (Rm 8:1). Somente através da perfeita obra de Cristo seremos salvos. A nossa culpa e merecida condenação caiu sobre ele (Hb 2:10). A sua obediência ativa cumpriu todas as exigências da Lei, bem como submetendo passivamente à condenação, fez com que pela sua humilhação, obtivesse plena satisfação da justiça de Deus. O Pai retirou o seu consolo e derramou sobre Cristo a sua ira divina, punindo nele o nosso pecado. As nossas iniquidades estavam sobre o Filho, e a justa ira de Deus veio sobre o nosso pecado na cruz (Hb 2:10). Jesus tornou-se amaldiçoado em nosso lugar sobre o madeiro (2 Co 5:21). O Filho de Deus sofreu os tormentos do inferno intensivamente na cruz, o que sofreríamos extensivamente na eternidade. Cremos que a sua morte expiatória na cruz satisfez a justiça de Deus e, eliminou completamente a nossa condenação futura (Rm 3:24-25), redimindo-nos de todos os nossos pecados (Ef 1:7).

3. Somente a graça: a única causa da nossa aceitação
Cremos que a salvação do homem não é resultado de algum mérito pessoal (Rm 3:20, 24, 28; Ef 2:1-10). Todo ser humano possui uma disposição moral totalmente corrompida, de modo que, ele é incapaz de satisfazer perfeitamente a Lei de Deus (Tg 2:8-10). O empenho de merecer a salvação pelas boas obras somente resulta em condenação. Sem a graça a nossa predisposição natural é somente para o pecado (Rm 7:13-25).

A Escritura nos revela que todo ser humano em seu estado natural é inimigo de Deus (Rm 3:23; 5:10). O teólogo puritano Stephen Charnock observou que “todo pecado é uma espécie de amaldiçoar a Deus no coração. O homem tenta destruir e banir Deus do coração, não realmente, mas virtualmente; não na intenção consciente de cada iniquidade, mas na natureza de cada pecado.”[4] A dureza de coração lhe é normal, porque ele está rígido como uma pedra (Ez 36:26-27).

O livre arbítrio perdeu-se com a Queda.[5] Esta capacidade de agir contrário à própria natureza foi perdida com a escravidão do pecado. No início, Adão criado em santidade, foi capaz de escolher contrário à sua inclinação natural de perfeita santidade e, decidiu pecar. O primeiro homem livremente passou a agir de acordo com a escravidão dos desejos mais fortes da sua alma corrompida pela iniquidade. Ele é livre, mas a sua liberdade é usada tendenciosamente para pecar conforme os impulsos de sua inclinação para o pecado. Se ele for deixado para si mesmo, ele sempre agirá de acordo com a sua disposição interna, ou seja, naturalmente escolherá pecar (Rm 1: 24-32; 3:9-18; 7:7-25; Gl 5:16-21; Ef 2:1-3).

A nossa salvação é resultado da ação da livre e soberana graça do nosso Deus. A Confissão de Fé de Westminster declara que
todos aqueles que Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido, no tempo por ele determinado e aceito, chamar eficazmente pela sua palavra e pelo seu Espírito, tirando-os por Jesus Cristo daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza, e transpondo-os para a graça e salvação. Isto ele o faz, iluminando os seus entendimentos espiritualmente a fim de compreenderem as coisas de Deus para a salvação, tirando-lhes os seus corações de pedra e dando lhes corações de carne, renovando as suas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom e atraindo-os eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que eles vêm mui livremente, sendo para isso, dispostos pela sua graça.[6]

Somente a ação soberana e eficaz do Espírito Santo é capaz de regenerar corações implantando uma nova disposição santa. O resultado é a libertação da escravidão do pecado. Esta obra Deus a realiza pela graça somente.

4. Somente a fé: é o único instrumento de posse da nossa salvação
A fé é o meio normal pelo qual o Espírito Santo aplica o processo da salvação nos eleitos. Entretanto, devemos lembrar que a fé é dom de Deus e não uma virtude humana (Rm 4:5; 10:17; Ef 2:8-9; Fp 1:9). O Breve Catecismo de Westminster define este dom: “fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho.”O Catecismo de Heidelberg esclarece que
a verdadeira fé é a convicção com que aceito como verdade tudo aquilo que Deus nos revelou em sua Palavra. É também a firme certeza de que Deus garantiu – não só aos outros como também a mim – perdão de pecados, justiça eterna, e salvação por pura graça e somente pelos méritos de Cristo. O Espírito Santo realiza essa fé em meu coração por meio do evangelho.[7]

Por isso, a teologia reformada entende que a verdadeira fé é o resultado de um iluminado conhecimento, da plena concordância verdade e da firme confiança na Palavra de Deus.

A justificação vem pela fé somente na obra de Cristo. Nenhum homem pode ser salvo, a não ser que creia na expiação realizada por Cristo, confiando exclusivamente nele (Rm 1:17; Tt 3:4-7; 1 Jo 5:1). A justiça de Cristo que é imputada sobre nós concede, garante e mantém-nos aceitos na comunhão eterna de Deus.

A verdadeira fé conduz as boas obras que evidenciam a salvação e glorificam a Deus. A salvação é pela fé somente, mas a fé salvadora nunca está sozinha. A fé salvadora produz amor prático ao próximo, santidade pessoal em obediência à Palavra de Deus. A Escritura Sagrada declara que “pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2:10).

5. Somente a Deus toda glória: o único objetivo da nossa salvação
Cremos no único Deus, que é Senhor da história e do universo, “que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade” (Ef 1:11). É nossa convicção que a finalidade principal da vida não é necessariamente o bem-estar, a saúde física, a prosperidade, a felicidade, ou mesmo a salvação do homem, mas, a glória de Deus e na manifestação de todos os seus atributos. Johannes G. Vos comentando o Catecismo Maior de Westminster observa que “quem pensa em gozar a Deus sem o glorificar corre o risco de supor que Deus existe para o homem, e não o homem para Deus. Enfatizar o gozar a Deus mais do que o glorificar a Deus resultará num tipo de religião falsamente mística ou emocional.”[8] Deus não existe para satisfazer as necessidades do homem, embora ele o faça por amor de si mesmo (Ez 20:14). O homem foi criado para o louvor da glória de Deus (Rm 11:36; Ef 1:6-14).[9]

É verdade que a glória de Deus transcende ao nosso entendimento, mas ela pode ser percebida pela sua manifestação na criação e pela revelada Palavra da Deus. João Calvino no início de suas Institutas escreve que
a soma total da nossa sabedoria, a que merece o nome de sabedoria verdadeira e certa, abrange estas duas partes: o conhecimento que se pode ter de Deus, e o de nós mesmos. Quanto ao primeiro, deve-se mostrar não somente que há um só Deus, a quem é necessário que todos prestem honra e adorem, mas também que Ele é a fonte de toda verdade, sabedoria, bondade, justiça, juízo, misericórdia, poder e santidade, para que dele aprendamos a ouvir e a esperar todas as coisas. Deve-se, pois, reconhecer, com louvor e ação de graças, que tudo dele procede.[10]

Mas, por que a nossa felicidade depende da glória de Deus? Simplesmente porque a nossa dignidade e satisfação dependem de vivermos sem a insensatez, vícios e destruição causados pelo pecado. Somente quando obedecemos à vontade de Deus, segundo as Escrituras, podemos andar aceitáveis em sua presença e desfrutar dos benefícios das suas promessas. Aurélio Agostinho em sua obra Confissões declarou que “Tu o incitas para que sinta prazer em louvar-te; fizeste-nos para ti, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti.”[11] Assim, quanto maior for a nossa satisfação em Deus, ele será mais glorificado em nós!

O soberano Senhor não compartilha a sua glória com ninguém! O nosso orgulho é uma ofensa gravíssima ao nosso Deus. Não é em vão que ele denúncia a sua rejeição aos soberbos (Tg 4:6-10). Somente ele é o Altíssimo, enquanto o pecador consegue em suas fúteis pretensões ser apenas uma ilusória altivez. Não podemos esquecer de que somos chamados para ser servos do seu reino, e de que toda a abrangência de nossa vida está ao seu serviço (Rm 11:36).

O profeta Jeremias disse que "assim diz o SENHOR: não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em entender, e em me conhecer, que eu sou o SENHOR, que faço benevolência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me agrado, diz o SENHOR." (Jr 9:23-24). Assim, em compromisso, confessamos que “porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.” (Rm 11:36).

NOTAS:
[1] John H. Armstrong, “A autoridade da Escritura” in: Bruce Bickel, ed., Sola Scriptura numa época sem fundamentos, o resgate do alicerce bíblico (São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2000), p. 90.
[2] Carl F.H. Henry, “A autoridade da Escritura” in: Philip W. Comfort, ed., A origem da Bíblia (Rio de Janeiro, CPAD, 1998), p. 28.
[3] Confissão de Fé de Westminster VIII.1.
[4] Stephen Charnock, The Existence and the Attributes of God (Grand Rapids, Baker Books, 2000), vol. 1, p. 93.
[5] A tradição agostiniana/calvinista interpreta a doutrina do livre arbítrio da seguinte forme: “o livre arbítrio é dividido em quatro modos, por causa dos quatro estados do homem. No primeiro estado a vontade do homem era livre para o bem e para o mal. No estado caído o homem é livre somente para o mal. O homem nascido de novo, ou o homem em estado de graça, é livre do mal e para o bem, pela graça de Deus somente, mas imperfeitamente. No estado de glória ele será perfeitamente livre do mal para o bem. No estado de inocência o homem era capaz de não pecar [posse non peccare]. No estado de miséria ele é incapaz de não pecar. No estado de graça, o pecado não pode governar o homem. No estado de glória ele se tornará incapaz de pecar.” Johannes Wollebius, Compendium Theologicae Christianae in: John W. Beardslee III, ed., Reformed Dogmatics (Grand Rapids, Baker Books, 1977), p. 65. Este manual de teologia de Wollebius [1586-1629] influenciou os teólogos que elaboraram os Padrões de Westminster.
[6] Confissão de Fé de Westminster, X.1.
[7] Catecismo de Heidelberg, Domingo 7, perg./resp. 21.
[8] Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado (Editora Os Puritanos), pág. 32.
[9] Breve Catecismo de Westminster, perg./resp. 1.
[10] João Calvino, Institutas, (edição estudo de 1541), vol. I, p. 55.
[11] Santo Agostinho, Confissões(Editora Paulus), vol. 10, p. 19.

02 outubro 2014

Pressionando as antíteses - Greg L. Bahnsen

O texto que segue é um extrato de “O grande debate: Deus existe?”, um debate formal entre o Dr Greg L. Bahnsen e o Dr Gordon S. Stein promovido na Universidade da Califórnia (Irvine) em 2 de Fevereiro de 1985. O Dr Bahnsen inicia o interrogatório:

Dr Bahnsen: “Todas as perguntas se respondem da mesma maneira sobre os fatos concretos?”

Dr Stein: “Não, se respondem usando certos métodos, ainda que sejam os mesmos – raciocínio, lógica, apresentação de evidência e fatos.”

Dr Bahnsen: “Muito bem. Escutei você mencionar uniões lógicas e contradições lógicas em seu discurso. Você realmente disse isso?”

Dr Stein: “Sim, eu o disse. Eu utilizei essa frase sim.”

Dr Bahnsen: “Então, você crê que existem as leis da lógica?”

Dr Stein: “Absolutamente.”

Dr Bahnsen: “São universais?”

Dr Stein: “Estas são acordadas por seres humanos. Não são leis que existam na natureza. São consensuais.”

Dr Bahnsen: “Então, são simplesmente convencionalismos?”

Dr Stein: “São convencionalismos, mas são convencionalismos que são auto verificáveis.”

Dr Bahnsen: “São leis sociológicas ou leis de pensamento?”

Dr Stein: “São leis de pensamento, as quais são interpretadas por homens e promulgadas por homens.”

Dr Bahnsen: “São material na natureza?”

Dr Stein: “Como poderia uma lei ser material na natureza?”

Dr Bahnsen: “Esta é uma pergunta que eu lhe faço.”

Dr Stein: “Eu diria que não.”


Moderador: “Dr Stein, agora você tem oportunidade para interrogar ao Dr Bahnsen.”

Dr Stein: “Dr Bahnsen, você chamaria a Deus de material ou imaterial?”

Dr Bahnsen: “Imaterial.”

Dr Stein: “O que é algo imaterial?”

Dr Bahnsen: “Algo que não se estende no espaço.”

Dr Stein: Poderia me dar um exemplo de outra coisa que não seja Deus, e que seja imaterial?”

Dr Bahnsen: “As leis da lógica.”

Moderador: “Peço que a audiência tranquilize-se, por favor. Por favor. Refreiem as risadas e aplausos. Podem tranquilizar-se, por favor.”



Greg L. Bahnsen, Preparate para la buena batalla (Powder Springs, American Vision, Inc., 2013), pp. xix-xx.
Traduzido em 2 de Outubro de 2014.
Rev. Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-JiParaná – RO.

09 junho 2014

Discipulado intelectual? Pensamento fiel para uma vida fiel

Por Albert Mohler


A narrativa bíblica serve como referência para os princípios cognitivos que permitem a formação de uma cosmovisão autenticamente cristã. Muitos cristãos se apressam em desenvolver o que eles chamam uma "cosmovisão cristã" pela organização das verdades, doutrinas e convicções cristãs separadas com a finalidade de criar fórmulas para o pensamento cristão. Sem dúvida, esta é uma melhor ênfase que se encontra entre tantos crentes que têm pouco interesse pelo pensamento cristão, mas não é suficiente.

Um modelo sólido e rico do pensamento cristão — a qualidade do pensamento que culmina numa cosmovisão centrada em Deus — requer que vejamos toda a verdade como interconectada. Consequentemente, a totalidade sistemática da verdade pode-se remontar ao fato de que o próprio Deus é o autor de toda a verdade. O Cristianismo não é apenas um conjunto de doutrinas, no sentido de que um mecânico opera com um conjunto de ferramentas. Pelo contrário, o Cristianismo é uma cosmovisão completa e o modo de vida que nasce da reflexão cristã a partir da Bíblia e do plano planejado por Deus, conforme revelado na unidade das Escrituras.

Uma cosmovisão centrada em Deus atrai todos os temas, perguntas e preocupações culturais, para uma submissão a tudo o que a Bíblia revela, e caracteriza todo entendimento dentro do objetivo final de permitir a maior glória de Deus. Esta tarefa de levar cativo todo o pensamento a Cristo requer mais do que o pensamento cristão circunstancial e deve-se entender como a tarefa da igreja, e não somente a preocupação dos crentes individuais. A recuperação da mente cristã e o desenvolvimento de uma cosmovisão cristã integral requerem a reflexão teológica mais profunda, a aplicação mais consagrada da erudição, o compromisso mais sensível para compaixão e o valor de enfrentar todas as perguntas sem temor.

O Cristianismo trás ao mundo um entendimento distintivo do tempo, história e o significado da vida. A cosmovisão cristã abrange uma compreensão do universo e tudo o que nele contém, e nisto percebemos muito além do mero Materialismo e nos liberta da prisão intelectual do Naturalismo. Os cristãos entendem que o mundo — inclusive o mundo material, se dignifica com o mesmo fato de que Deus o criou. Ao mesmo tempo, entendemos que devemos ser administradores desta criação, e não devemos adorar as coisas que Deus fez. Entendemos que cada ser humano é feito à imagem de Deus e que Deus é o Senhor da vida em todas as etapas do desenvolvimento humano. Honramos a santidade da vida humana, porque adoramos ao Criador. Da Bíblia, extraímos a informação fundamental de que Deus se deleita na diversidade étnica e racial de suas criaturas humanas, e assim devemos fazê-lo.

A cosmovisão cristã envolve um entendimento distintivo da beleza, a verdade e a bondade, entendendo-se por tais os transcendentais que, na análise final, são uma e a mesma. Portanto, a cosmovisão cristã não permite a fragmentação que elimina o belo do verdadeiro, ou do bom. Os cristãos consideram a administração dos dons culturais — que vão da música e a arte visual até o drama e à arquitetura — como uma questão da responsabilidade espiritual.

A cosmovisão cristã proporciona os recursos autorizados para a compreensão de nossa necessidade da lei e nosso respeito pela ordem. Informados pela Bíblia, os cristãos entendem que Deus inverteu o governo com a responsabilidade urgente e importante. Ao mesmo tempo, os cristãos chegam a compreender que a idolatria e o auto-engrandecimento são tentações que vêm a cada esfera. A partir dos ensinos abundantes da Bíblia referentes ao dinheiro, à cobiça, à dignidade do trabalho, e a importância do trabalho, os cristãos têm muito que abranger a uma compreensão adequada da economia. Aqueles que atuam a partir de uma cosmovisão intencionalmente bíblica não podem reduzir os seres humanos a simples unidades econômicas, senão há de se entender que nossa vida econômica reflete o fato de que estamos feitos à imagem de Deus e, portanto, estão investidos da responsabilidade de serem mordomos de tudo o que o Criador nos concedeu.

A fidelidade cristã requer um profundo compromisso com a séria reflexão moral sobre assuntos da guerra e da paz, a justiça e a equidade e o bem funcionamento de um sistema de leis. Nosso esforço intencional por desenvolver uma cosmovisão cristã nos obriga a voltarmos aos primeiros princípios uma e outra vez, num esforço constante e vigilante para assegurar-se de que os padrões de nossos pensamentos são consistentes com a Bíblia e sua narrativa.

No contexto do conflito cultural, o desenvolvimento de uma autêntica cosmovisão cristã deve permitir à Igreja do Senhor Jesus Cristo manter um equilíbrio responsável e valente em qualquer cultura, em qualquer período de tempo. A administração desta responsabilidade não é somente um desafio intelectual, senão que determina em grande medida, se os cristãos vivem e atuam ou não, ante o mundo de uma maneira que glorifique a Deus e promova a credibilidade do evangelho de Jesus Cristo. O fracasso nesta tarefa representa um abandono da responsabilidade cristã que desonra a Cristo, debilita a Igreja, e compromete o testemunho cristão.

Uma falha no pensamento cristão é um fracasso do discipulado, porque somos chamados a amar a Deus com nossas mentes. Não podemos seguir fielmente a Cristo sem antes pensar como cristãos. Por outra parte, os crentes não devem ser pensadores alienados que isolados levam esta responsabilidade. Somos chamados para sermos fiéis juntos à medida que aprendemos o discipulado intelectual dentro da comunidade de crentes, a Igreja.

Pela graça de Deus, nos permite amar a Deus com nossas mentes para que lhe sirvamos com nossas vidas. A fidelidade cristã requer o desenvolvimento consciente duma cosmovisão que começa e termina com Deus em seu centro. Somente somos capazes de pensar como cristãos porque pertencemos a Cristo, e a cosmovisão cristã é, enfim, nada mais do que tratar de pensar como Cristo requer que pensemos, com a finalidade de ser o que Cristo nos chama para ser.


Para a leitura de contexto, consulte:
R. Albert Mohler, Jr., “The Glory of God and the Life of the Mind,” Quinta-feira, 12 de Novembro, 2010.
R. Albert Mohler, Jr., “The Knowledge of the Self-Revealing God: Starting Point for the Christian Worldview,” Quinta-feira, 3 de Dezembro, 2010.
R. Albert Mohler, Jr., “The Christian Worldview as Master Narrative: Creation,” Quarta-feira, 15 de Dezembro, 2010.
R. Albert Mohler, Jr., “The Christian Worldview as Master Narrative: Sin and its Consequences,” Quinta-feira, 7 de Janeiro, 2011.
R. Albert Mohler, Jr., “The Christian Worldview as Master Narrative: Redemption Accomplished,” Segunda-feira, 10 de Janeiro, 2011.
R. Albert Mohler, Jr., “The Christian Worldview as Master Narrative: The End that Is a Beginning,” Quarta-feira, 12 de Janeiro, 2011.


Traduzido por Ewerton B. Tokashiki
Porto Velho, 9 de Junho de 2014.

Extraído de http://elevangeliosegunjesucristo.blogspot.com.br/2014/01/discipulado-intelectual-pensamiento.html acessado em 29 de Janeiro de 2014.

17 abril 2014

Karl Marx contra a moralidade

Escrito por Allen Wood

1. Introdução

Os marxistas expressam frequentemente uma atitude depreciativa para com a moralidade, que (segundo dizem) não é mais do que uma forma de ilusão, uma falsa consciência ou ideologia. Mas, outros (tanto os que se consideram marxistas, como quem não) frequentemente consideram difícil de compreender esta atitude. Os marxistas condenam o capitalismo por explorar a classe trabalhadora e condenar à maioria das pessoas a levar uma vida alienada e insatisfeita. Quais razões podem oferecer para isto, e como podem esperar que outros façam o mesmo, se abandonam todo apelo à moralidade? Todavia, a rejeição marxista da moralidade começa com o próprio Marx. E esta é – segundo vou argumentar – uma concepção defensável, uma consequência natural, como a respeito dela disse Marx, da concepção materialista da história. Ainda que não aceitemos as ideias restantes de Marx, o seu ataque à moralidade estabelece questões importantes relativas à maneira em que devemos concebê-la.


2. O antimoralismo de Marx

Marx geralmente permanece em silêncio acerca do tipo de questões que interessam aos moralistas e aos filósofos éticos. Mas deve-se observar que claramente este silêncio não se deve a um complacente descuido. A sua atitude é de hostilidade aberta à teorização moral, aos valores morais e inclusive contra a própria moralidade. Contra Pierre Proudhon, Karl Heinzen e os “socialistas autênticos” alemães, Marx utiliza regularmente os termos “moralidade” e “crítica moralizante” como epítetos insultuosos. Condena amargamente a exigência de “salários justos” e “distribuição justa” do Programa de Gotha, afirmando que estas expressões “confundem a perspectiva realista da classe trabalhadora” com a “verborragia desatualizada” e o “lixo ideológico” que seu enfoque científico se torna obsoleto (MEW 19:22, SW 325). Quando outros persuadem a Marx a que inclua uma retórica moral suave nas regras para a Primeira Internacional, ele sente que deve desculpar-se com Engels por isto: “vi-me obrigado a introduzir duas expressões sobre “dever” e “o correto” ... ou seja, sobre “a verdade, a moralidade e a justiça”, mas, estão situadas de tal forma que não podem causar nenhum dano” (CW 42, p. 18).

Normalmente Marx descreve a moralidade, junto à religião e ao direito, como formas de ideologia taxando-a como “outros tantos preconceitos burgueses pelos quais se escondem outros tantos interesses ideológicos” (MEW 4, p. 472; CW 6, p. 494-495, cf. MEW 3, p. 26; CW 5, p. 36). Porém, não somente condena as ideias burguesas sobre a moralidade. Seu alvo é a própria moralidade, toda moralidade. A ideologia alemã afirma que a concepção materialista da história, ao mostrar a vinculação entre ideologia moral e interesses materiais de classe “quebrou o suporte de toda a moralidade”, independentemente de seu conteúdo ou filiação de classe (MEW 3, p. 404; CW 5, p. 419). Quando um crítico imaginário critica que “o comunismo anula toda a moralidade e religião, em vez de formá-las de novo”, o Manifesto Comunista responde não negando a verdade da acusação, mas por sua vez observando como a revolução comunista significará uma ruptura radical com todas as relações tradicionais de propriedade, também significará o corte mais radical ainda com todas as ideias tradicionais (MEW 4, p. 480-481; CW 6, p. 504). Evidentemente Marx pensou do mesmo modo que a abolição da propriedade burguesa será uma tarefa da revolução comunista, outra será a “abolição de toda moralidade”. Marx inclusive chega a unir-se ao mal moral contra o bem moral. Insiste que na história “é sempre o lado mal o que finalmente triunfa sobre o bem. Pois, o lado mal é o que indica o movimento da vida, o que faz a história levando a luta à sua maturidade” (MEW 4, p. 140; CW 6, p. 174).


[...] para leitura do texto completo [14 páginas] - acesse aqui!

19 março 2014

Anarquia - como teoria política

Escrito por A.F. Holmes

A Anarquia (lit. “sem governo”) denota certa gama de circunstâncias que vão desde a inexistência de leis e o caos social até um sistema cooperativo de associações voluntárias como estrutura social preferida. O conceito comum a todos estes usos é a rejeição de um governo autoritário a favor de uma organização voluntária, para garantir a máxima liberdade individual compatível com a existência da sociedade. Contempla com suspeita as estruturas legais, incluindo as instituições democráticas e os partidos políticos.

As tendências anarquistas são um fenômeno histórico recorrente. Alguns exemplos incluíram a Zenon (aproximadamente 263 a.C.), o estoico grego que rejeitou as ataduras da cultura; os antigos essênios; alguns anabatistas primitivos; os Doukhabors, uma seita russa do século XVIII; os Levelles na guerra civil inglesa; e outros grupos que defendiam que Cristo nos libertou de todos os males deste mundo e das ataduras da lei. Baseando-se num fundamento religioso parecido com este, Leon Tolstóy denunciou ao estado e seu domínio das leis, renunciando inclusive as suas propriedades e a sua posição social. O escritor norte-americano Henry Thoreau (1817-1862) adotou um paradigma baseado num fundamento romântico e alguns revolucionários soviéticos rejeitaram a “ditadura do proletariado” de Marx a favor de um sindicato de grupos trabalhistas voluntários. Mais recentemente os estudantes ativistas dos anos 60, em diversos países, se rebelaram contra o status quo social e político. Na obra Anarchy, State and Utopia de Robert Nozick (1938- ) encontramos uma expressão mais de direitas deste tipo de ideias anarquistas; nela o autor insiste em que os indivíduos tem a liberdade de conseguir todo o que se proponham, sempre que o lhes tirem ilegalmente de outros. Este direito que tem o indivíduo de conseguir o seu objetivo, constituí assim, o fundamento central da sociedade.

A preferência anarquista pelas estruturas voluntárias antes que legais assume que os seres humanos são bons por natureza, que a coação é desnecessária, e que a autoridade governamental tende a fazer mais mal do que bem. A Bíblia, como contraste, fala da autoridade civil como algo ordenado por Deus para limitação da maldade e do fomento da bondade (Rm 13:1-7; 1 Pe 2:13-17).

A.F. Holmes, B.A., M.A., Ph.D., professor de Filosofia no Wheaton College.


Extraído de A.F. Holmes, “Anarquia,” in: David J. Atkinson, ed., Diccionario de Ética Cristiana y Teología Pastoral (Barcelona, Editorial CLIE & Publicaciones Andamio, 2004), pp. 226-227.

Traduzido em 17 de Março de 2014.
Rev Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO.

18 março 2014

Como a ética evolucionária influenciou Adolf Hitler

Por Richard Weikart

Um ponto que eu explico no meu livro From Darwin to Hitler: Evolutionary Ethic, and Racism in Germany, despertou considerável controvérsia, e inflamou-se ainda mais depois que Ben Stein me entrevistou para o documentário: Expelled: No Intelligence Allowed, que promoveu o Designer Intelligent. Esta controvérsia girou em torno da alegação de que Hitler e os nazistas foram influenciados profundamente pelo Darwinismo.

Quando comecei investigar o impacto do Darwinismo na ética, moralidade e pensamento social no final do século XIX na Alemanha, Hitler e o nazismo não eram o meu campo de pesquisa. No entanto, como eu comecei a descobrir as conexões entre o Darwinismo e a eugenia, eutanásia e extermínio racial, não pude deixar de notar como muitas ideias estão sendo promovidas em nome da ética evolucionista, e isto se assemelhava notavelmente semelhante a ideologia nazista. Afinal, os nazistas tinham desenvolvido o programa mais radical de esterilização obrigatório no mundo, a fim de tentar melhorar a hereditariedade humana. Tudo começou após a Segunda Guerra Mundial, com os milhares de assassinatos de deficientes.

Então, comecei a estudar a ideologia de Hitler em profundidade para descobrir o quão importante era o Darwinismo em sua cosmovisão. Muitos historiadores haviam comentado sobre a importância do Darwinismo social na ideologia de Hitler. No entanto, poucos tinham explorado isso a partir do ângulo da ética evolucionista. Eu descobri que, apesar de Hitler nunca ter usado o termo “ética evolutiva”, ele realmente baseou a sua moralidade sobre a evolução darwiniana.

Quando escrevi From Darwin to Hitler: Evolutionary Ethic, and Racism in Germany apenas o capítulo final explicita o papel do darwinismo na cosmovisão de Hitler. Este capítulo provocou uma enorme controvérsia, porém, com alguns críticos da internet alegando que Hitler rejeitou o Darwinismo, e, portanto, ele era um criacionista. Assim, decidi escrever um livro inteiro dedicado ao papel da evolução na cosmovisão de Hitler: Hitler’s Ethic: The Nazi Pursuit of Evolutionary Progress. Então, demonstrei não apenas que Hitler acreditava na evolução darwiniana, incluindo a evolução dos seres humanos, mas também, demonstrei em detalhes que a ética evolucionista foi central para a cosmovisão de Hitler. Ela influenciou muitos elementos da ideologia nazista e política, incluindo:

1) A desigualdade racial:
Hitler acreditava que diferentes raças haviam se formado através de processos evolutivos e ocupavam diferentes níveis evolutivos. Ele pensava que a raça ariana ou nórdica (esses termos foram usados como sinônimos pelos nazistas) era a mais avançada. Estas opiniões não eram idiossincráticas, mas eram comuns entre os biólogos evolucionistas alemães no início do século XX.

2) A história como uma luta racial para a existência:
Hitler pensava que as raças estavam presas num inevitável conflito racial. Ele promoveu políticas que obviamente favoreciam aos arianos, enquanto que colocam em desvantagem outras raças supostamente, especialmente os judeus, a fim de ajudar os arianos vencer a luta pela existência. Naturalmente, os judeus e similares perderiam a luta e seriam eventualmente eliminados, de uma forma ou de outra, e os arianos receberiam todo o globo.

3) Políticas eugênicas, como esterilização obrigatória, abortos forçados e morte de pessoas com deficiência:
Estas políticas de eugenia foram projetadas para prevenir a degeneração biológica e ajudar ao longo do processo de evolução.

4) A unidade de expansão da população:
Darwin alegou em Descent of Man que a taxa de natalidade não deve ser limitada, porque uma taxa de natalidade mais elevada seria vantajosa para a evolução. Hitler concordou e muitas vezes, e expressou a mesma opinião.

5) A necessidade de adquirir espaço de vida (através de meios militares):
Esta ideia se originou com Friedrich Ratzel, um alemão biólogo darwiniano que se tornou um geógrafo, que argumentou que a luta pela existência era essencialmente uma luta por espaço. Hitler expressou muitas vezes a necessidade de espaço de vida em termos evolutivos. Ele vinculou a expansão da população com a luta racial. Ganhando espaço para viver, e expulsando os habitantes, a maneira de melhorar a espécie humana seria aumentando a corrida "mestre" em detrimento das raças “inferiores”.

6) A evolução dos traços morais:
Hitler, como muitos outros biólogos contemporâneos e psiquiatras, argumentou que as características morais foram biologicamente determinadas. Ele acreditava que os arianos tinham uma moralidade mais avançada, por serem supostamente mais leais, honestos, diligentes, etc.. Por outro lado, ele considerou os judeus biologicamente imorais, pois ele os culpava serem preguiçosos, mentirosos, sexualmente lascivos, gananciosos, e etc.. Assim, ao livrar o mundo dos judeus e substituí-los por arianos, Hitler em sua própria perspectiva pervertida, pensou que estaria melhorando o mundo, banindo a imoralidade e aumentando a moralidade.

Por que isso importa? Como muitos de meus críticos têm apontado, de fato, a maioria dos darwinistas não são nazistas. Então, por que devemos nos preocupar se os nazistas usaram o Darwinismo para seus próprios propósitos pervertidos?

Embora seja improvável que algo parecido com o Nazismo nunca mais surja novamente das premissas darwinistas, ainda hoje há muitas outras maneiras em que o Darwinismo está sendo usado para desvalorizar a vida humana (como eu mostrei no meu parte anterior). O aborto está desenfreado, e a eugenia bem como a eutanásia está, mais uma vez, tornando-se um assunto atual nos círculos acadêmicos. Embora o Darwinismo não seja a única causa dessa desvalorização da vida humana, muitos estudiosos proeminentes, tais como Peter Singer e Richard Dawkins, admitem que a teoria desempenha um papel significativo.


Sobre o autor: Richard Weikart é professor de história na California State University, Stanislaus, e autor de From Darwin to Hitler: Evolutionary Ethics, Eugenics, and Racism in Germany e Hitler’s Ethic: The Nazi Pursuit of Evolutionary Progress.

Extraído de http://www.credomag.com/2012/01/05/how-evolutionary-ethics-influenced-hitler-and-why-it-matters/ acessado em às 17:00h, em 18 de Março de 2014.


Traduzido em 18 de Março de 2014.
Rev Ewerton B. Tokashiki
Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Porto Velho
Professor de Teologia Sistemática no SPBC-RO.

15 março 2014

A fé cristã é compatível com o socialismo marxista?

CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER COMENTADO
Por Johannes G. Vos

Pergunta 140. Qual é o oitavo mandamento?
R: O oitavo mandamento é: não furtarás.

Pergunta 141: Quais são os deveres exigidos no oitavo mandamento?
R: Os deveres exigidos no oitavo mandamento são a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens; dar a cada um aquilo que lhe é devido; restitui aos donos legítimos os bens tirados deles ilicitamente; dar e emprestar gratuitamente, conforme nossos recursos e as necessidades dos outros; moderar os nossos juízos, desejos e sentimentos relativos aos bens mundanos; o cuidado e a busca providente para obter, guardar, usar e dispor das coisas necessárias e convenientes à sustentação da nossa natureza e apropriadas á nossa condição; ter um meio de vida lícito e empenhar-se nele; a frugalidade; evitar processos judiciais, fianças ou outras demandas semelhantes; e o esforço, por todos os meios justos e lícitos, de procurar, preservar e aumentar a riqueza e o estado exterior, tanto de outros quanto o nosso próprio.

COMENTÁRIO:
1. Qual é o alcance geral do oitavo mandamento?
O alcance geral do oitavo mandamento é o respeito à santidade da propriedade, da mesma sorte que o sexto impõe respeito á santidade da vida e o sétimo, à santidade do sexo. A propriedade ou a riqueza é criada por Deus e confiada ao homem para o seu uso na glorificação e no serviço a Deus. É, portanto, um compromisso administrativo atribuído ao homem e por isso tem de ser respeitado. O oitavo mandamento, portanto, requer não apenas que nos guardemos de roubar o bem do nosso próximo, mas que conquistemos e conservemos o nosso.

2. A Bíblia autoriza a propriedade privada?
Sim. A posse da propriedade privada, no estado pecaminoso em que a humanidade existe desde a queda, é necessária para que uma vida possa glorificar e gozar a Deus. A propriedade privada fundamenta-se não na mera invenção ou costume humanos, mas na lei moral de Deus. Está definitivamente autorizada pelo oitavo mandamento – “Não furtarás” – o qual só fará sentido se houver por trás dele uma ordenação divina para a propriedade privada. Mesmo fora da Bíblia, a revelação natural ensina a todos os homens que roubar é errado. Está profundamente equivocado quem hoje pensar que a propriedade privada é maligna. Os males que ele tem em mente procedem não da propriedade privada em si mesma, mas dos abusos da propriedade privada.

3. À luz da Bíblia, que devemos pensar do comunismo?
Segundo o que a Bíblia ensina, o comunismo é errado a princípio. Não é errado meramente em alguns de seus aspectos ou práticas, ou por causa dos abusos a ele associados, mas é errado e maligno na sua ideia fundamental. Se pudéssemos imaginar um “perfeito” estado de comunismo, em que não houvesse tirania, campos de concentração, policia secreta, propaganda politica, nem censura de informações, ele ainda seria inerentemente pecaminoso e maligno. O capitalismo viola a lei moral de Deus pelos males e abusos a ele vinculados; o comunismo viola a lei moral de Deus por sua própria natureza e ideia fundamental. O principio do comunismo é a posse coletiva da propriedade imposta pelo Estado. Isso pressupõe que a posse particular do indivíduo é um mal que só pode ser tolerado em pequena escala, como uma concessão à natureza humana. Isso é contrário à Bíblia, que ensina que a propriedade privada é um direito dado por Deus. O ser humano individual, como portador da imagem de Deus, deve ter o direito à propriedade conforme o propósito de Deus e para O glorificar plenamente na sua relação com o seu ambiente. A imagem de Deus no homem abrange a implicação de que o homem deve ter o domínio sobre a Terra (Gn 1.27-28); mas o homem é essencialmente um indivíduo, com alma e consciência individuais, com competência e habilidades individuais, com esperança e desejos individuais. O comunismo procura fundir o indivíduo à massa da humanidade e isso envolve o sacrifício do elemento essencial da personalidade do homem, como portador individual da imagem divina e mordomo de Deus com domínio sobre uma parcela da criação de Deus. O comunismo assume que o indivíduo existe por causa da massa, da sociedade, mas isso é contrário a Palavra de Deus, a qual nos ensina que a sociedade e todas as instituições sociais existem por causa do indivíduo, para que ele possa alcançar o propósito divino da sua vida e assim glorificar a Deus. É o indivíduo quem possui uma alma mortal, uma consciência e a capacidade para a comunhão com Deus. Essas coisas sobreviverão a esse mundo e existem para sempre. Elas é que dão dignidade e valor reais à vida humana. Qualquer sistema que considere o ser humano individual como sem importância e busca amalgamá-lo á massa supostamente pelo bem-estar da “sociedade” é fundamentalmente errado e anticristão. Isso se aplica tanto à propriedade coletiva compulsória quanto às outras subversões da individualidade da personalidade humana.

4. Segundo registra Atos (2.44; 4.32-27), a igreja primitiva não praticava o comunismo?
É verdade que existia um tipo de “comunismo” na igreja de Jerusalém, mas era totalmente diferente do comunismo que existe hoje. Deve-se observar que (a) era voluntária e não compulsória, como mostram as palavras de Palavras de Pedro a Ananias em Atos 5.4; 9 (b) era parcial e não total, como demonstra o fato de que a casa de Maria, mãe de João Marcos, não fora vendida; (c) logo surgiu uma murmuração acusatória de que as rações de comida não estavam sendo distribuídas de modo justo (At 6.1); (d) isso foi apenas temporário, sendo descontinuado mais tarde, provavelmente no tempo de grande perseguição que se seguiu ao martírio de Estevão, quando os crentes se espalharam a partir de Jerusalém (At 8.1-4); (e) não há menor indicação de que tenha sido implantado algum “comunismo” assim em nenhuma das Igrejas estabelecidas pelos apóstolos, além da igreja em Jerusalém. É claro, portanto, que o “comunismo” temporário da Igreja de Jerusalém não era uma questão de princípios, mas de contingência em face das condições peculiares àquele tempo e lugar. É extremamente insensato, antibíblico e anti-histórico apresentar o estado temporário das ocorrências na Igreja de Jerusalém como análogo ao comunismo moderno, ou como um padrão a ser imitado pelos crentes em Cristo de todos os lugares.

5. O socialismo é contrário ao cristianismo?
A palavra socialismo é usada com uma variedade tão grande de sentidos que é difícil falar categoricamente dela sem primeiro a definir, para sabermos precisamente o que quer dizer. O socialismo marxista, que é raiz do comunismo moderno, é indubitavelmente contrário à religião cristã. Embora haja uma forma limitada de socialismo que não é contrária ao ensinamento da Palavra de Deus. O governo operar serviço postal, em vez de deixa-lo à iniciativa de particulares ou de corporações, é uma forma de socialismo; mas não se pode achar que seja pecaminoso o envolvimento do Estado nesse empreendimento. Na maioria dos países do mundo as ferrovias, os serviços telefônicos e os de comunicação são operados ou majoritariamente ou exclusivamente pelo Estado. Podemos, ou não, achar que isso seja inteligente, mas dificilmente conseguiremos provar que seja contrário à Bíblia; assim mesmo faz-se necessário traçar um limite em algum ponto. Seria errado, com certeza, que o Estado controlasse e operasse todos os negócios e comércios. A operação de negócios pelo Estado deveria limitar-se a atividades como as do serviço postal, que são essenciais para todos os habitantes do país e por questão de economia requerem monopólio de alcance nacional. O Estado deve proporcionar as condições para que os negócios privados sigam adiante, e deve regulamentá-lo em prol da justiça, mas não deve suplantá-lo competindo contra ele. Deus instituiu o governo civil para promover o bem das pessoas pela manutenção da justiça na sociedade humana (Rm 13.4), e não para se firmar como um colossal empreendimento coletivo em concorrência com os seus próprios cidadãos.


Extraído de Johannes G. Vos, Catecismo Maior de Westminster Comentado (São Paulo, Editora Os Puritanos, 2007), pp. 433-437.

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