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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sebastianismo e saudosismo

Há um certo sebastianismo em algumas famílias. Há sempre quem viva no passado, achando que os tempos idos eram mais felizes, que as pessoas eram melhores e que os antepassados eram mais valorosos. Nem tudo é verdade.

Também entre os parentes mortos há aqueles que foram desonestos, desumanos, maus profissionais, pais ausentes, péssimos maridos.

Mas a morte, como se fosse efetivamente aquilo que liberta a alma boa do corpo vil, apaga os defeitos e ressalta as qualidades - mesmo as inexistentes.

Também é verdade que, como os parentes de pessoas mortas, há quem ache que sua cidade, seu tempo de juventude, seu passado não tão distante era melhor que hoje. Será isso fato ou imaginação?

Talvez seja bom lembrar que o mito sebastiano original nunca se resolveu. Até hoje os portugueses, saudosistas como nenhum povo há - até pelo uso da palavra "saudade", que dizem não existir com esse significado em nenhuma outra língua -, continuam esperando o retorno de Dom Sebastião das areias de Marrocos. Esperam há cinco séculos. Esperam por alguém que sequer viram partir.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Ceia imaginária


Meu pai morreu há alguns anos, e com ele o natal.
No começo eu lamentava muito a ausência do dito espírito natalino em mim, depois pouco, e hoje lamento não conseguir lamentar a falta do simbolismo contagioso de tão importante data.
Talvez as pessoas próximas nem percebam (disfarço bem, presumo), mas sequer uma minúscula árvore de natal jamais foi armada em casa desde então.
Neste natal, numa tentativa de quebrar este paradigma, árvores e ornamentos foram comprados, com muito amor e carinho inclusive, mas logo doadas a pessoas que nunca puderam ter tal luxo. Pessoas que se iluminaram com o presente recebido. Pessoas imersas no espírito do natal. O verdadeiro povo natalino.
Se a realidade ainda reúne um punhado de pessoas queridas à volta da nossa ceia, cercadas de rabanadas e petiscos mil, a utopia se encarrega de trazer à mente e à mesa os falecidos, os ausentes, os viajantes, os renegados e os esquecidos, todos queridos.
Hoje percebo, entre um sorriso e uma lágrima, que a ceia imaginária aquece o meu coração com amor e saudade.
Opto pela utopia!
Assim seja.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mais do que espelhos

Quem ainda estava nos bancos escolares e universitários nos anos 80 lembra, com certeza, da coleção Primeiros Passos da Editora Brasiliense. Agora, a versão profundada é a série FGV de Bolso, da Editora Fundação Getúlio Vargas. Estou acabando de ler este Os Índios na História do Brasil, escrito com maestria pela professora Maria Regina Celestino de Almeida. Leitura super prazerosa, e muito mais aprofundada do que aqueles primeiros passos. O mais bacana é a atualização da visão/interpretação dos historiadores atuais  do papel e do comportamento dos primeiros e ancestrais  habitantes do Brasil no período colonial. Desmancha aquela a imagem do índio vítima, que recebia espelhos em troca das riquezas da terra recém-"descoberta". Como tudo no Brasil, "a indefinição é o regime". Tudo foi e continua a ser tudo meio lusco-fusco abaixo do Equador...
A sinopse do livro (abaixo) resume bem. Mas, arrisco dizer: Os Índios na História do Brasil é leitura obrigatória.
Este livro trata da história de índios em contato com as sociedades coloniais e pós-coloniais no Brasil. Índios que, até muito recentemente, quase não mereciam a atenção dos historiadores. O objetivo é apresentar uma revisão das leituras tradicionais sobre o tema, a partir de pesquisas recentes que têm revelado o amplo leque de possibilidades de novas interpretações sobre as trajetórias de grupos e indivíduos indígenas. É importante assinalar que essas novas leituras não resultaram apenas da descoberta de documentos inéditos, mas principalmente de novas interpretações fundamentadas em teorias e conceitos reformulados.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Dois insones num planeta insano


Ele lê Haruki Murakami, ela escuta Joan Baez.
Tic tac.
Whatsapp.
Separados pelos bairros, respiram a quarenta horas de distância.
Tic tac.
Facebook.
Imersos na insana insônia, buscam a saída.
Tic tac.
Pheed.
Será a tela do mundo uma mera aurora virtual?
Tac tic.
Game over!

Graças a Deus é segunda-feira!

sábado, 7 de setembro de 2013

Steve Jobs, entre a devoção e o menosprezo

É impossível acompanhar este blog sem saber que o nosso chefe de redação, Carlos Barretto, é um dos inúmeros fãs de carteirinha de Steve Jobs e consumidor contumaz de produtos tecnológicos que, quando produtos de informática, são da Apple. Assim, este não seria exatamente o local mais adequado para reproduzir o texto abaixo, uma crítica ao filme jOBS, que o público de Belém finalmente poderá assistir, escrita por Pablo Villaça, do Cinema em Cena, que como todo crítico é um chato, alternando momentos de brilhantismo com outros da mais cansativa marrentice.

Caberá a quem ler a crítica e ver o filme (devo vê-lo hoje) avaliar até onde Villaça foi feliz. Devo alertar que ele já começou a escutar. As primeiras respostas de leitores dadas a sua crítica (leia aqui) foram aborrecidas. Fazem-lhe acusações. Felizmente para ele, num nível decente e merecedor de respeito, que em suma dizem que ele não escreveu sobre o filme. Talvez algum despeito inconfesso tenha movido o rapaz. Mas há, claro, quem também elogie o crítico e a lucidez de seu texto, que fala sobre o comportamento das pessoas neste mundo de hoje.

Quem me conhece sabe que, desta vez, concordarei com Villaça. Naturalmente, não sobre os aspectos de um filme que não vi. Mas certamente sobre Ashton Kutcher ser um ator limitado e sobre computadores, telefones e gadgets, de um modo geral, serem apenas... máquinas. Ele os chama debochadamente de "eletrodomésticos". Um exagero, decerto, mas mesmo nós, modestos blogueiros domésticos, recorremos habitualmente a recursos de estilo para dramatizar, chocar e prender a atenção. Já fui bombardeado mil vezes por causa disso. E até admiti que devo evitar as generalizações.

Enfim, os gadgets de um modo geral, e mesmo os da Apple (também concordo com Villaça quando não consegue identificar a proclamada superioridade da marca), podem ser muito mais do que eletrodomésticos e contribuírem para mudanças radicais no modo como as pessoas vivem (p. ex., fazer um cara como eu, que sou professor, ter que competir com o WhatsApp...), mas eles continuam sendo máquinas e nada mais. São questões claras para mim, a ponto de não merecerem questionamento: bichos, por mais amados que sejam, não são pessoas; máquinas não são sujeitos de direitos. Daí a frase de Villaça, para mim, foi luminosa: eu também jamais aplaudiria um produto vendido em shoppings.

Mas cada qual no seu quadrado. Deixo-lhes a crítica e, se eu conseguir ver o filme, depois volto para falar algo a respeito. Há duas pessoas que eu queria ouvir sobre o tema. Uma é o nosso Barrettão, por isso fiz esta postagem aqui. A outra é um amigo filósofo, que convidarei para ler.

No mais, um belo final de semana para todos.

Eu tenho um iPhone. Aliás, neste exato momento estou usando o aparelho para ouvir canções organizadas numa lista especial que emprego sempre que escrevo. É uma invenção útil, sem dúvida alguma, e que facilitou bastante meu cotidiano pessoal e profissional. Dito isso, permanece sendo um aparelho, um eletrodoméstico. Não se trata da cura do câncer, de uma obra de Arte inesquecível ou de um tratado filosófico. Assim, quando, na cena inicial deste Jobs, o personagem-título apresenta o iPod como “uma ferramenta para o coração” e é aplaudido de pé por dezenas de pessoas enquanto travellings aproximam a câmera do rosto de personagens que sorriem com expressão de terem testemunhado a História sendo feita, tive a sensação de estar assistindo a uma comédia. Como membro da classe média, sou consumista como qualquer um, mas posso garantir algo: jamais me verão aplaudindo um objeto vendido em shoppings.
Terceira parte de uma trilogia informal que conta também com A Rede Social e Os Estagiários, este Jobs pode ser encarado como uma prequel dos capítulos anteriores, já que a aborda parte do surgimento da tecnologia que permitiria a propagação da Internet para os lares de todo o mundo: o computador pessoal. Escrito pelo estreante Matt Whiteley, o longa reconta a história da fundação da Apple a partir da trajetória de Steve Jobs (Kutcher), que passa boa parte da projeção celebrando vendas recordes e apresentando invenções “revolucionárias” para seus adoradores – e seu gênio para vendas pode ser constatado a partir da legião de fãs que atingem orgasmos múltiplos apenas com a menção de seu nome, atribuindo ao sujeito a responsabilidade por tudo de bom e justo que aconteceu no planeta nos últimos 30 anos.
O que é curioso, pois, se julgarmos pelo que é apresentado aqui, Jobs era bem canalha. Demonstrando seu descaso para com qualquer outro ser humano ao estacionar sempre na vaga para deficientes de sua empresa, o protagonista diz, em um instante, não ligar para posses materiais apenas para, momentos depois, ficar sem fala ao receber uma oferta de 5 mil dólares para completar um trabalho, não hesitando em mentir para o amigo Steve Wozniak (Gad, que, apropriadamente, também esteve em Os Estagiários) a fim de ficar com a maior parte do dinheiro resultante dos esforços deste. Tratando os subalternos com estupidez e agressividade, Jobs não vê problema em roubar a ideia de um parceiro comercial ao conceber o Apple II como uma máquina completa (em vez de uma simples placa-mãe), mas, hipocritamente, irrita-se ao suspeitar ter sido plagiado por um Bill Gates em início de carreira.
Aliás, se Jobs tem uma virtude é justamente o fato de evitar se transformar em uma hagiografia, retratando o personagem-título como um indivíduo egoísta, egocêntrico e mesmo cruel. Infelizmente, o longa falha ao jamais estabelecer uma conexão lógica ou mesmo alguma transição entre as várias fases e facetas do sujeito: em um instante, Jobs surge lamentando ter sido abandonado pelos pais biológicos (em uma troca de diálogos risível, diga-se de passagem); em outro, expulsa a namorada grávida de sua casa sem hesitar um segundo, recusando-se a visitar a criança mesmo depois de ter sua paternidade comprovada por exames – e quando, subitamente, a filha (já adolescente) aparece morando em sua casa, o filme não se preocupa em explicar como ele subitamente se transformou em “pai do ano”, contentando-se em mostrá-lo chamando a garota para tomar café e observando o filho caçula brincando no jardim. (E, do ponto de vista psicológico, seria no mínimo interessante observar que o nome do computador Lisa é o mesmo da filha por ele abandonada.)
Dirigido pelo mediano Joshua Michael Stern, Jobs traz constantes planos nos quais seguimos Steve Jobs enquanto caminha pelo campus, pelos corredores da Apple e em feiras de informática, como se acompanhássemos uma figura icônica – um ícone que permanece indecifrável e cuja natureza mutante se reflete nos figurinos: aqui, usa coletes e ternos para parecer mais profissional; ali, é o único a surgir usando roupas casuais em encontros de negócios. Enquanto isso, o design de produção faz um trabalho exemplar não só de recriação de época (melhor: épocas), como também é hábil ao sugerir a atmosfera amadora do início da Apple e, posteriormente, o ambiente estéril e corporativo que tomaria conta da empresa. Este cuidado com a fidelidade, aliás, é exibido com orgulho nos créditos finais, quando vemos fotos das figuras reais ao lado dos atores que as encarnaram – e, ao longo da projeção, o cineasta inclui inúmeros planos abertos que têm, como único objetivo aparente, demonstrar como Ashton Kutcher aprendeu a imitar o caminhar típico de Steve Jobs.
Kutcher que, infelizmente, não consegue ir muito além de uma imitação em sua performance, já que, em nenhum momento, conseguimos esquecer que ali se encontra o astro de That 70’s Show e Cara, Cadê Meu Carro? e cuja vida pessoal tem mais destaque que a profissional. Ator naturalmente limitado, ele constantemente deixa clara a artificialidade de sua composição – e quando Jobs se levanta abalado após ser excluído da empresa que ajudou a fundar, a expressão de Kutcher denota um ator que aprendeu a imitar uma emoção em vez de vivê-la em cena. Por outro lado, parte do problema de seu personagem deve-se mesmo ao roteiro, que falha em decidir-se não apenas com relação à natureza do protagonista, mas também de sua empresa. Steve Jobs era um idealista ou um mercenário? Sentia remorso de suas ações passadas ou achava-se justificado? E já que em vários momentos ouvimos personagens falando orgulhosamente sobre “o que a Apple representa”, creio ser razoável que perguntemos, então, o que ela representa, afinal – algo que o filme jamais se preocupa em esclarecer. Quando pensamos na marca, o que deve vir à mente: produtos úteis no cotidiano e de design elegante ou as fábricas na China que exploram trabalho escravo, incluindo mão-de-obra infantil? E se estivermos falando da primeira opção, o que torna a Apple diferente da Sony, da Microsoft ou da HP? Se a resposta for “o estilo” ou mesmo “a qualidade dos produtos”, sinto em dizer que isto não “representa” nada do ponto de vista filosófico (como muitos parecem querer acreditar), tratando-se meramente de características industriais.
E é aqui que Jobs peca como narrativa: mesmo enxergando seu protagonista como um homem falho, o longa ganha tons reverenciais sempre que aborda a Apple como empresa, com direito a trilha inspiradora durante a apresentação dos produtos, quando beira o puro infomercial. Além disso, ao estabelecer Steve Wozniak como o verdadeiro gênio por trás das tecnologias apresentadas pela companhia, o filme inspira mais interesse pelo sujeito do que pelo personagem-título – o que, associado à performance multifacetada de Josh Gad, sugere que, num mundo justo, estaríamos assistindo a Woz em vez de a Jobs.
Porque se Steve Jobs tinha um talento especial, este dizia respeito ao comércio, já que suas apresentações repletas de frases de efeito e hipérboles levavam os MacHeads ao delírio, quando aplaudiam empolgadamente produtos (o que já é ridículo por natureza) sem nem mesmo terem uma ideia clara do que estes faziam (o que cruza a fronteira do patético). Se provocar devoção a ponto de levar adultos a permanecerem dias e dias numa fila interminável apenas pelo prazer de se encontrarem entre os primeiros a comprar um eletrodoméstico é algo digno de admiração, Jobs homenageia a pessoa certa; por outro lado, se a criatividade, o puro gênio e um bom caráter fossem os critérios avaliados, o filme se beneficiaria caso se concentrasse no gordinho barbudo que, mesmo criando tudo que estabeleceu a Apple como a Apple, virou coadjuvante de luxo do sujeito que se encarregou de vender suas invenções e descartar todos que deixavam de ser úteis ao seu projeto pessoal de grandeza.
Um homem tão falho que nem o longa que recria sua trajetória parece aturar.
05 de Setembro de 2013

sábado, 17 de agosto de 2013

De um segundo ao outro



Quando a AT&T encomendou ao lendário diretor alemão Werner Herzog um documentário sobre digitar e/ou ler textos em celulares enquanto se dirige veículos automotores, talvez ninguém pudesse imaginar uma obra tão devastadora quanto "From One Second To The Next".
Herzog nos envolve com maestria ao mostrar quatro casos, flutuando entre rostos e relatos. e nos obrigando a mergulhar na profundeza de nossas próprias emoções.
Acredito que, apesar de ser uma obra "não muito fácil" de se assistir, seu efeito quando exibido em escolas e instituições afins será bombástico.
Afinal, como sintetizou o próprio diretor, "em um segundo, vidas inteiras ou são varridas, ou modificadas para sempre".
Imperdível!

ps: vídeo compartilhado, via Facebook, por Vicente Cecim.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Deep web: yottabytes de mistério


Página inicial doThe Hidden Wiki, o "Google" do subsolo da internet

Se é realmente verdade que a internet indexada na qual navegamos, a dita surface web, representa apenas 10% de todo o conteúdo global, é de se supor que a gigantesca parte oculta deste iceberg de informações, a misteriosa deep web, tenda a aumentar mais e mais após os recentes escândalos de vigilância ilegal sobre os cidadãos do mundo, exercida há muitos anos pelo governo dos EUA.
Muitas lendas cercam a deep web e a sua própria origem é distorcida por uma cortina de incertezas.
O fato é que a matemática complexa de anônimos programadores ajudou a desenvolver um dos melhores softwares de proxy de todos os tempos, o TOR (The Onion Router), que permite acesso anônimo e clandestino a fóruns, sites de compartilhamento e portais para praticamente todos os assuntos que possam interessar os humanos, inclusive (e principalmente) os mais sombrios.
E o TOR, por sua vez, responde por apenas 25% da deep web;
Todo tipo de aberrações comportamentais e crimes habitam esse mundo virtual de sombras.
Hackers e polícia cibernética travam batalhas contínuas e ocultas pelos firewalls que nos impedem de vislumbrar transações envolvendo prostituição, pedofilia, necrofilia, zoofilia, suicídios, satanismo, tráfico de pessoas e órgãos, sequestros, assassinato, narcotráfico e fraudes bancários, entre outras atividades de muitas naturezas, inclusive política.
Se queremos anonimato, ou pelo menos discrição em relação a nossas vidas privadas, então não devemos nem nadar na superfície (não esqueça: Big Brother is watching you!) e muito menos mergulhar num universo misterioso onde só surfa que tem conhecimento e/ou interesses fortes para tal.
Manter-se off line pode ser o único caminho para a liberdade.

Para informações adicionais sobre o "lado negro" da deep web sugiro matéria do blog Isso è Bizarro (cuidado com as imagens, que podem chocar facilmente o leitor desavisado).

Para vislumbrar o "lado mais claro", como a disseminação cultural e do conhecimento e a proteção das informações, indico matéria da Revista Galileu.

Desta última, copio e colo o que para mim resume a deep web:

 “Oi, eu sou a Humanidade e quando não tem ninguém olhando é isso que eu faço”


terça-feira, 18 de junho de 2013

Pânico em SP


O movimento punk parece seguir seu curso, indiferente às modernidades.
A música acima, da banda paulistana Inocentes, é de 1986, mas foi a trilha sonora mental da última quinta-feira, em São Paulo.
Eu estava num restaurante na Alameda Santos, a uma quadra da Av. Paulista, e desde então sigo ouvindo o refrão: "-ni-co em SP!!!".

quarta-feira, 12 de junho de 2013

De quem eu gosto...

... nem no blog confesso!!!

Dedicado aos enamorados que pelo FLANAR flanam (e eu sei que não são poucos), compartilho um dos fados mais famosos, na voz da imortal Amália Rodrigues.
Feliz dia dos enamorados!




quinta-feira, 6 de junho de 2013

Mia, a gata

Imagem: Lis Lamarão

O leitor mais antigo do blog há de se lembrar do jegue Jerônimo Severino (vide Um Jegue de Muita Sorte), aquele que trocou o trabalho duro nas dunas da Praia do Cumbuco pelo paraíso de um lar paraense.
Pois na mesma propriedade onde reside o jegue ocorreu um episódio curioso envolvendo uma pequena gata, doravante batizada de Mia.
Provavelmente indesejada e rejeitada ao extremo, Mia iniciou sua existência de aventuras sendo jogada do mundo cruel por cima do muro de quatro metros, gastando a primeira das sete vidas logo de cara.
Operada por um doutor com nome de messias, medicada por via intramuscular com afinco pelo comandante da propriedade e mimada entre cães, gansos, pavões, galos e passarinhos por sua jovem "dona", Mia está livre para viver com dignidade.
E até já ousa ensinar aos cães que beber água do meio das plantas é mais gostoso, para desespero da patroa.
Mia, a gata highlander, é o contraponto e a resposta à matança recente dos cães no Marajó - uma verdadeira ode à vida!
Afinal, como diz o sábio Seu Zé, "até bicho tem que ter sorte na vida".

domingo, 2 de junho de 2013

Um raio de sol para Maria Alekhina e Nadezhda

O sol brilha e a temperatura confirma que a primavera, atrasada, chegou nessa parte da Europa.
Mas, não consigo viver um domingo ensolarado sem pensar nos presos de consciência,
gente que por uma opinião contrária a um governo vive preso. É o caso de Maria Alekhina,
24 anos, poeta, estudante, mãe de um menino de 5 anos. E  Nadezhda Tolokonnikova, 23 anos, artista visual e estudante, mãe de uma menina de 4 anos. Junto com Yekaterine Samutsevich,
elas formam a banda punk russa Pussy Riot. Todas foram presas, em fevereiro de 2012,  durante um protesto numa igreja ortodoxa em Moscou contra Putin & quadrilha. Depois de um julgamento que não passou de farsa, as duas primeiras foram condenadas a um campo de trabalho forçado - sim meus caros, Stalin não morreu -  e  Yekaterine vive em liberdade condicional. Maria Alekhina fez greve de fome na semana passada para protestar pelo fato de que que não é ouvida nem nas audiências em que o pedido de liberdade condicional delas é examinado.
Ai Wewei, o artista chinês dissidente, há uns meses, fez a madona ortodoxa encapuzada acima em
homenagem às Pussy Riots.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Caetaneando com Thiago de Melo

Thiago de Melo (poeta amazonense) verbaliza:
"Mas o homem em seu desejo -para sempre insatisfaeito- rouba a cadência da terra,
deixando, por onde passa, marcas profundas no chão: que em cânones se transformam
e indicam, perseverantes -à maneira de faróis balizando em mar bravio-, a tão procurada fonte onde todos beberão".
 
Caetano Veloso (compositor) reitera:
"Marcha o homem sobre o chão 
Leva no coração uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão da infinita beleza
Finda por ferir com a mão essa delicadeza
A coisa mais querida
A glória da vida...
"

sexta-feira, 26 de abril de 2013

E assim caminhou a Humanidade


E procurando uma boa tradução para  Le Sonnet du Trou du Cul  de Rimbaud / Verlaine na internet, para o post Mariage pour tous,  me deparei com essa animação dirigida por Rodrigo Burdman, com texto de Marcelino Freire, narrado pelo Paulo Cesar Pereio (grande ator e narrador insuperável).
Para refletir nesses tempos infelicianos.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Mariage pour tous


A França se torna o 14° país a adotar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E, garanto, meus caros, a vida seguirá seu curso normal, como aqui na Bélgica, o 2° país onde o casamento homoafetivo virou lei (2003) - o 1° foi a Holanda, em 2001.
Em dez anos, a sociedade belga não desapareceu, nenhum castigo divino caiu dos céus, a família vai bem, obrigado, e não existe nem sombra de uma "ditadura gay" -  mesmo desde  2011, ano em que  o país passou a ser comandado por um notório homossexual, o chefe do governo, o nosso primeiro-ministro, Elio Di Rupo.
E é incrível que a terra do Liberté, égalité, fraternité demorou tanto para avançar nessa questão fundamental para uma grande parcela de seus cidadãos. Não deixei de pensar em geniais franceses que amam e amaram o amor que não ousa (ousava) dizer seu nome: a tenista Amelie Mauresmo e sua esposa Sylvie Bourdon, o mestre Yves Saint-Laurent e o seu marido Pierre Bergé, e, claro, eles da fotografia acima, os nossos chouchous Paul Verlaine e Athur Rimbaud.
E para homenagear este avanço na terra do croissant, ouso publicar o clássico Soneto do Olho do Cu, dessa dupla do barulho no final do século XIX. Não que eu queira reduzir o amor entre iguais numa questão anatômica, mecânica, como algumas manifestações que vi no Facebook, onde os contrários ao casamento gay comparam pessoas a parafusos/porcas, plugs/tomadas para ilustrar que, na vida afetiva/sexual, num mundo onde a religião de uns devem ser a lei para todos,  apenas os contrários são complementares. 
Poesia como transgressão. Poesia como reflexo do ser humano. Poesia como expressão do Amor.

Segue mais abaixo uma livre tradução desse Soneto maldito feita pelo mestre dos mestres José Celso Martinez Correa e Marcelo Drumond,  para montagem do Oficina para a peça de Jean Genet, As Boas, em 1991 - tradução que foi musicada por José Miguel Winisk, que pode ser ouvida aqui no Youtube.


 Le Sonnet du Trou du Cul

(Paul Verlaine - Arthur Rimbaud)

Obscur et froncé comme un oeillet violet
Il respire, humblement tapi parmi la mousse
Humide encor d'amour qui suit la pente douce
Des fesses blanches jusqu'au bord de son ourlet.


Des filaments pareils à des larmes de lait
Ont pleuré, sous l'autan cruel qui les repousse,
À travers de petits caillots de marne rousse,
Pour s'en aller où la pente les appelait.


Ma bouche s'accoupla souvent à sa ventouse ;
Mon âme, du coït matériel jalouse,
En fit son larmier fauve et son nid de sanglots.


C'est l'olive pâmée, et la flûte caline ;
C'est le tube où descend la céleste praline :
Chanaan féminin dans les moiteurs éclos !


Soneto do Olho do Cu
(Verlaine- Rimbaud - tradução livre José Celso Martinez Corrêa e Marcelo Drumond)

Oculto , com pregas humilde , úmido ainda do amor cravo roxo ,
escondido respira no meio de mousse
que na bunda branca desce em doce debruce ,
em colo que rola na orla do arrocho ;

corrimentos escorrem , lágrimas de leite
por peidos cruéis expulsos , choram ,
pedrinhas de barro vermelhas molham , convulsam ,
escorregam na descida onde chamam ,'' Vem , deite ''

Sempre caí de boca e língua nessa ventosa ,
minha alma tri na foda material , invejosa ,
ela fez dele lacrimário rubro , ninho de soluço , sabre , brocha , tabu ;

mas é azeitona babada , flauta carinhosa ,
tubo onde desce a amêndoa oleosa ,
Canaã feminina na umidade abre , desabrocha , molha , olha , vê
oh cu !

sábado, 13 de abril de 2013

De bigode e salto alto em Israel e no mundo

Há um tempo escrevi algo sobre a música e a cena dance de Israel. Tel Aviv tem umas das noites mais animadas e diversas que conheço. Nos últimos anos, o hype israelense corre o mundo graças ao sucesso do projeto Arisa. O produtor Omer Tobi  teve a ideia de tocar músicas típicas do Oriente Médio  em uma festa gay que acontece uma vez por mês em Tel Aviv e que reúne cerca de 2 mil Ele teve a inspriração de chamar Uriel Yekutiel (o bigodudo)  e Eliad Cohen (que faz o tipo bofe/barbie) para fazer performances das músicas ao vivo e  em vídeos, que viraram febre na páginal oficial do projeto no Youtube.  Isso foi o estopim para que a festa gay se tornasse a mais descolada festa do país, atraindo inclusive o público heterossexual.
Depois, eles sairam organizando noites Arisa pela Europa, pelo mundo, e chegaram a ir a São Paulo em 2011, numa das Viradas Culturais.
Uriel Yekutiel, de cílios postiços, maquiagem e bigode, é personagem em clip de outras bandas descoladas da cena israelense, como a The Young Professionals, sobre a qual escrevi aqui, em setembro de 2011, o post Tel Aviv Beats.
 Os videos da Arisa são hilários porque brincam com estereótipos,  e isso no berço de todo  radicalismo religioso, Israel.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

A gata borralheira do rock


Na segunda metade dos anos 1980 eu tinha uma certa dose de preconceito em relação às bandas americanas de rock. Hard rock, ou era britânico, ou simplesmente não prestava.
Claro que isso logo caiu por terra com Guns N' Roses, Bon Jovi, Motley Crue e outros tantos grupos que invadiram a minha mente e nunca mais a abandonaram.
Recentemente resgatei uma banda a qual eu havia renegado àquela época, Cinderella, que despejava um som pesado de alta eficiência, baladas incríveis e letras pra lá de diferenciadas em relação ao padrão da época.
A banda não conseguiu sobreviver aos anos 1990, vítima da ditadura da então poderosa (e absolutamente  "thatcheriana")  MTV, que só priorizava o grunge e ainda boicotava todos os grupos cujos vídeos não fossem "muderninhos".
Hoje entendo que eu, naqueles tempos um candidato a jovem macho-alfa, jamais poderia curtir em público ou mesmo usar uma camiseta de uma banda chamada... Cinderella!
Mas me perdoo...

quinta-feira, 21 de março de 2013

Vinte e um, três vezes


Há exatamente um ano, eu quase desabei em emoção ao escrever aqui no Flanar sobre o DIA INTERNACIONAL DA SÍNDROME DE DOWN, e optei por comemorar esta data em 2013 apenas com imagens.
Reproduzo acima um portrait feito pela artista americana Joan Butler Gore, de onde transbordam dois atributos sempre presentes nos olhinhos puxados dos anjos sem asa: o vazio de ego e a plenitude da inocência.
Comemoremos, famílias e amigos dos Down!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Discuta em língua estrangeira!


Quer controlar as suas emoções na hora de tomar decisões? Faça-o em idioma estrangeiro!
Há tempos que tenho a convicção de que usar uma segunda língua em situações em que precisamos aguçar a razão, contrapondo-a à emoção, pode ser muito útil numa gama de momentos cruciais de nossas vidas.
Pude testar empiricamente esta ideia no período em que morei fora do Brasil, tanto no aspecto profissional quanto nas relações interpessoais, e acabei por concluir para os meus próprios botões que tendemos a brigar menos, a questionar menos e a evitar conflitos diretos usando este artifício.
Mas era apenas um feeling meu, uma observação livre, e eu jamais havia lido nada a este respeito até a semana passada, quando um link da revista  Mente e Cérebro me levou a uma interessante publicação de autoria de Boaz Keysar, de 2011, no periódico PsychologicalScience.
A princípio, seria intuitivo pensar que as pessoas tomam decisões independentemente de qual língua estejam usando para a comunicação. Keysar e seu grupo da Universidade de Chicago, no entanto, demostraram ser justamente o oposto em seis experimentos.
Portanto, fica a informação de cunho prático: em situações adversas, no trabalho ou na vida pessoal, tente argumentar em língua estrangeira e a chance de obter um maior equilíbrio entre perdas e ganhos aumentará muito.
Just do it!

terça-feira, 12 de março de 2013

Bola fora no Vaticano?

Brasileiro é deslumbrado que dá nuju, como diz o cabôco. De uns dias para cá, surgiram notícias de que o cardeal brasileiro Dom Odilo Scherer seria um dos mais cotados para se tornar o novo Bispo de Roma. Eu nem me meto no mérito da questão, porque não sou católico e, honestamente, não estou minimamente preocupado com o desfecho do conclave, inclusive por não acreditar que vá ocorrer alguma mudança substancial na estrutura ou no modo de ser da Igreja.

Todavia, vejo com preocupação a eleição do brasileiro. Por mais virtuoso que ele possa ser, os efeitos emocionais que isso traria a um povo histérico e descompensado como o brasileiro seriam terríveis. No mínimo, os não-católicos teriam que suportar bullying por muito tempo...

Para piorar, a imprensa internacional tem dado margem a essas especulações. Hoje, p. ex., o Corriere della Sera publicou uma charge na qual Dom Scherer dribla os demais cardeais.


A charge está sendo interpretada como reconhecimento das reais chances do brasileiro. Eu, no entanto, como advogado do diabo, pergunto-me se não seria apenas uma piada com o fato de o Brasil ser conhecido como país do futebol, talvez até uma ironia. Mas sei lá. Aguardemos o desfecho da coisa. O conclave mal começou, no entanto pode ser que hoje mesmo a fumaça branca apareça no céu de Roma.