sábado, 13 de outubro de 2012

A ressaca

Era domingo de Carnaval.
Levantou meio zonzo e foi até a cozinha. Na gaveta do armário, procurou um antiácido. Ou um anti-qualquer-coisa. Ou qualquer outro remédio. Talvez um que não existisse.
Mas insistia na procura.
Logo, tinha encontrado um envelope pequeno que rasgado sem muita perícia, foi despejado no copo com água. Olhou para a espuma. Quase numa contemplação.
Ele não estava feliz.
E não havia motivos para estar. Acordara com uma ressaca absurda. Mas não, não havia saído na noite anterior. Havia passado o sábado de carnaval em casa.
Sozinho.
Assistira ao desfile das escolas de samba de São Paulo. Junto, uma garrafa inteira. Sem misturas ou aperitivos.
Ou companhia.
Andara pelos blocos da cidade na sexta e no sábado. Bebera o dia inteiro. Voltou pra casa. Não pelos motivos que deveria.
Não, não estava doente. Era. Tentou, depois de tantos anos, brincar o carnaval. Não foi capaz.
O golpe derradeiro fora a noite anterior. Em frente à televisão, percebeu a total ausência de sentido da sua respiração. Queria ter um coquetel molotov para destruir suas alegorias.
Precisava de uma solução para aquela sensação.
Era um clichê ambulante. Saber disso não o fazia sentir melhor. Ignorar também nunca resolveu nada. Era ele, ali, sentado no sofá da sala, garrafa na mão, uma vez mais sem respostas.
Insistia.
Era forte. De um lado pro outro, pensava. Não que fosse solução. Foi ao quarto. Em frente à porta, olhou para dentro. Antes de entrar.
Encarou o ambiente.
Dentro, abriu o armário. Contemplou o interior por dez ou doze segundos. No cabideiro, estava a fantasia de Super Homem. Ao lado dela, os ternos que usava nos outros 360 dias do ano. Nas gavetas, mágoas.
Separadas por cor e tamanho. Tudo aquilo havia sido acumulado ao longo de muitos anos. Sem fechar a parte em que mexia, abriu a porta ao lado.
Vazio.
Pegou a fantasia. Vestiu-se com o que restava de dignidade e foi para o terraço do prédio.
Não retornou mais ao apartamento.


Nenhum comentário: