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sábado, 1 de novembro de 2014

Pra você, você sabe

 
 Se te desengana
e a cura já é grande sofrimento
Veja:
    o terror do abismo
    é pra quem o teme
    não pra ti
    que o enfrenta
E lembre:
    ao fim do que te aflige
    no vinco do temor
    há também o Vale Encantado
    onde brota amor em verdejantes flores
    entre dinossauros e alienígenas
    para divertirem nossas crianças
 
 

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

pavão xenofóbico em versos estrangeiros

entre oxente e oh shit
fico com a estupefação:
há tantos vitoriosos, lindos e poderosos
perfeitos em suas derrotas
ao perseverar o sistema
que não amam, mas divulgam
e sacrificam-se e mentem
para ser quem não são
ou
para vender-se com a dignidade
que desconhecem
ainda que a busquem
em vitórias, lindas e poderosas
mas tão vazias quanto a busca
de algo que se despreza.
me pergunto: uai e why
tanto desperdício da simples
relação íntima e úmida
do complexo e sincero amplexo?
pra quê aparentar
se podemos apenas relaxar
nas brumas dos sonhos
ou
apreciar um sorriso infantil?
existe celebridade no anonimato
e fama na solidão.
estar só é passear consigo
muito bem acompanhado
entre os próprios espaços.
isso é forrô ou for all?
estamos tolos ou tolhidos
pela perseverança vã e confusa
e inconclusa disso tudo
que é nada.
aqui, estupefato, me pego
desejando o que não quero
nem ao inimigo.
sou o pavão xenofóbico:
pio em versos estrangeiros
o que não entendo, mas repito
senão me desvio de ser quem não sou
e deixo de alcançar o que me cansa.
oh shit!
ou oxente?

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ou leia aqui.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Flipiri 2014 com a participação do Bar do Escritor

a Flipiri - Festa Literária de Pirenópolis vai de 30/4 a 3/5 nessa belíssima cidade histórica goiana de cachoeiras e livros. O Bar do Escritor estará lá para participar de várias mesas de debate e uma oficina, baseada na experiência do Bar do Escritor, claro.
A festa contará com os amigos Giovani Iemini, Cristiano Deveras, Nicolas Behr, Alexandre Lobão, Rosângela Vieira Rocha, Margarida Patriota e Maurício Melo Júnior, além de diversos outros escritores que serão convidados a compartilhar seus textos aqui no BdE, trocar umas ideias e quebrar uns copos (afinal, é festa).
Apareça.

para saber sobre minhas participações de Giovani Iemini, veja aqui.

www.correiobraziliense.com.br

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A ti, de mim



Se anima, seu animal
O tédio se vincula ao que recebe dos outros, não ao que vai de si
Então, envaideça
se ainda há indignação em sua carcaça desgastada
se há revolta digna contra a submissão
A esperança é a única força
útil, potente
e inabalável, de que algo está por vir
Só a morte encerra a visão racional e legítima
de que o bem vence o mal
Essa existência não é literatura
É maior, mais confusa, mais inóspita,
Mais incrível e assustadora que a pior ficção
Te levanta, bicho
Tua fé é a razão
Age por teus instintos
e renuncia à mediocridade do que te enjaula
que cerceia tua crença
de alguma resposta fiel
para si, para os seus, até para os que não sabem o que fazem
sobre a grandiosidade de ser
de fazer, de criar e de ir
aonde nenhum como você jamais esteve
Sê certo, besta
O ânimo e a razão são os alicerces
da esperança
Faça o que nunca fez, seja quem jamais foi
Erre como nenhum outro
com a infinita certeza dos loucos
e a insanidade dos heróis
Mas não te acame, tampouco abdique da infantil sinceridade
De que sua história só você conhece
e sofre e chora
Mas ama
Com o poder de mudar o mundo.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Conto sob nova ortografia

Publiquei o conto "Rumo ao Paraízo" com a nova ortografia simplificada proposta pelo professor Ernani Pimentel, do projeto Simplificando a Ortografia (originado pelo Acordar Melhor). O professor Ernani participa, juntamente com o professor  Pasquale Cipro Neto, de Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado Federal, que pretende discutir a simplificação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Conheça o projeto. Leia o conto.


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

conto, poema e vídeo no blog Bastardos do Velho Safado.

publiquei, no blog Bastardos do Velho Safado, que divido com Pablo Treuffar, Barata Chichetto e Emerson Wiskow, o poeminha puxa-saco, sobre a política no brasil, o vídeo do poema O fornecimento da solução, texto falado na III bienal de poesia de rua de brasília e o conto A última vila do oeste, este cheio de citações, inclusive ao amigo escritor André Giusti.
dá um chego lá.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A quem gosta e não gosta de mim



A quem gosta e não gosta de mim

Não quero que gostem de mim
mas gosto que gostem de mim
gosto ainda mais se gostam de mim
sem querer

Gosto de quem não gosta de mim
gosto mais ainda se gostei de quem não gosta de mim
gosto do meu bom gosto para quem não gosta de mim
por querer

Gosto de esquecer quem não gosta de mim
gosto mais ainda de esquecer que não gosta de mim
sem querer

Gosto de mim por gostar
de quem gosto, de quem não gosto
por querer

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publicado originalmente no Blog Bastardos do Velho Safado.
 

domingo, 1 de setembro de 2013

João





Ele ainda não consegue falar muita coisa, mas já nos comunicamos perfeitamente.
- João, olha os passarinhos.
- uh?
- perto das flores.
- uh!
- E veja o Auau.
- Auau. – Ele abre os braços e o sorriso que me derrete.
- quer beber água?
- água.
Coloco a mamadeira em sua boca e ele dá só um golinho, depois outro, repete várias vezes. Parece comigo quando birito uma cachacinha.
- você quer comer alguma coisa, joão?
- uh?
- comer?
- uh?
- você quer nhame-nhame?
É aquele sorrisão e a resposta: - nhame-nhame nhame-nhame.
Dou uma fruta de petisco. Ele sempre estranha os novos sabores, mas prova, sabe que pode confiar no que ofereço.  Quando gosta, repete ”nhame-nhame”, mas se não gosta, pede água e prova de novo. Fecha o cenho, me olha e come até o fim. Confiança.
- como foi seu dia, meu filho?
- uh?
- tem curtido essa onda de ser um bebê?
- uh?
- vamos brincar de rasgar papel?
- uh?
- o que você quer fazer?
Ele repete o “uh” e suspira, se cansa de pensar em tantas palavras difíceis, parece comigo quando tento conversar em inglês, é realmente estafante.
- João, olha o vovô João.
Os olhinhos se arregalam ao notar o homenzarrão de cabelos compridos, longa barba branca e uma enorme cabeça que impõe respeito. Me agarra os braços e se encolhe.
- calma, filhote. É o vovô João. Veja, vou pegar na barba dele.
Ele faz uma cara de espanto, como se eu estivesse me arriscando em algo assustador. Não cede às brincadeiras do vovô, ainda tem medo do meu velho.
No fim de semana encontramos um casal de amigos. Apresentei o João à Fernanda e ele, sempre simpático, sorriu, mas quando o mostrei ao amigo João Barbosa, ele se encolheu.
- calma, João. Este é o tio João. Ele se parece com o vovô João, lembra? É grandão também, tem cabeção e barba branca como o vovô.
- uh? – Os olhinhos ainda estavam arregalados.
- veja, vou pegar na barba dele.
Então abriu o berreiro. Me puxou o braço como se falasse: “tira a mão da boca desse monstro, papai”.
- calma, meu filho. É só o tio João. Veja, é amigo do papai. – Mais puxões na barba. – é o tio João, parecido com o vovô João.
Ele se acalmou, mas continuou alerta. Eu o sentei no sofá.
- tá mais tranquilo, neném João?
Pude jurar que ele fez umas avaliações mentais antes de escancarar novamente a boca num choro ressentido. Era como se me dissesse: “o vovô João é aquele monstro com cabelos no rosto. O tio João é este gigante com a cara peluda. E eu sou o neném João. Será que vou me transformar num João grandão, cabeçudo e cabeludo como eles? Nãããooo...”.
- calma, João.  – Eu ri, mas não dele, foi pela satisfação com sua inteligência. -Grandão, cabeçudinho e cabeludo você já é, filhote, mas é muito mais bonito que os outros joões por ai.
- uh?
- Já te contei, filho, que Giovani em italiano é João?
Ele me olhou, tremeu os lábios e buáááá.
Quando voltei pra casa, raspei a barba de domingo e penteei os cabelos. Ele fala pouco, mas nos entendemos muito bem.



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Sobre os tais 20 centavos




Deixei o carro de manhã na oficina eu fui pro ponto de ônibus. Até me ofereceram carona, mas falei “ah, um busu não incomoda, relaxa”. Subi no 136 para sair do burguês Lago Norte em direção ao centro de Brasília. “É pela W3, motora?”, ele confirmou.
Li na plaqueta: ônibus urbano I custava 2 reais, urbano II era 3 reais e outros mais. “Quanto é?”, o cobrador esticou dois dedos, depois aumentou um, ou seja, 3 reais. Paguei, mas, confesso, achei estranha a mudança de dedos, talvez fosse lerdeza do cara.
Pensei na minha própria lerdeza e fui me sentar. Sou daqueles calmões que saem da paz completa para DEFCON 5 em milésimos, normalmente por conta de sacanagens, babaquices ou tirações de onda.
Aconteceu, certa feita, de ir com minha sobrinha ao banco e parei o carro em frente a uma vaga. Esperava o veículo da frente passar, não queria atrapalhá-lo, porém ele embicou pra minha vaga. Dei uma buzinadinha, dessas que dizem “hei”. O sujeito, um hipster, falou “você não tava dando seta”. Ok, não tava mesmo, não era óbvio que eu ia estacionar? Mas me contive, acelerei cinco metros e estacionei em outra vaga. Saí de mão dada com a sobrinha em direção ao banco. O sujeito, cabelinho irregular, óculos grosso sem lente, camisa xadrez de flanela vermelha combinando com o tênis AllStar, me abordou e proferiu “pra você estacionar na vaga tem que dar seta”. Da paz a DEFCON 5. Soltei a mão da sobrinha e a empurrei para trás de mim. “Fica na tua, filho da puta, que não reclamei da tua babaquice”. Ele insistiu “mas a seta...”. “vá se foder, seu merdinha, que tu é um escroto ladrão de vaga que não vale a bosta que come”.
Minha sobrinha cobriu os ouvidos e, espirituosa, comentou “pode falar, tio vani, que não tô escutando nada. Laralá”. Mas eu já tinha dado meu recado. O hipster se calou, fez que ia voltar para o carro, se virou para o banco e, então, deu a volta sobre si mesmo e foi pra lugar incerto e desconhecido.
Ri um pouquinho, é verdade, mas como eu deveria agir com um sujeitinho desses, que pra se justificar por sua descortesia, tentava me culpar pelo próprio erro? Se eu já havia consentido que ele poderia ficar com a vaga pela minha falta de seta, pra quê tirar onda? Ri mais um pouco do desconcerto do cara depois da minha bronca.
O motorista do busu que eu tava entrou no Eixo W em direção à rodoviária. Fui até a frente e perguntei “hei, motora, você não falou que ia pela W3?”. Ele não respondeu. Resolvi manter a calma, não quero mais rugas e, como parafraseou o confrade Carlos Ayres Britto, para isso basta diminuir as rusgas. Saltei do ônibus e andei o excedente até meu destino.
Na volta do escritório, à noite, peguei o mesmo ônibus e, curiosamente, com a mesma dupla motorista e cobrador. Coincidência? Isso não existe, era mesmo indução quântica sobrenatural.
Perguntei novamente ao cobrador, “quanto é?” e ele respondeu “dois”. 
Eu ri. Ou melhor, mostrei os caninos. Que malandro, o cara. Sacou que o branquelão aqui com cara de burguês nem imaginava o preço da passagem de manhã e surrupiou um real, 50% do valor total, muito mais que os tais 20 centavos que estão mobilizando o Brasil. Eu ia deixar barato? Jamé!
“Ô cobrador, a passagem baixou?”. Ele abriu dois olhões de reconhecimento. “Tá lembrando de mim, né? Você me roubou um real!”. Ele olhou para o motorista, o tal que não foi pela W3 e me obrigou a caminhar excessivamente. Provavelmente eram parceiros. Eu poderia enraivecer até o DEFCON máximo, mas havia me exercitado durante o dia, caminhada com mochila nas costas, tava com fome, ia deixar barato sim, mas não sem dar o recado. “Tu é um ladrão filho da puta de merda, é por conta de gentinha como você que este país é um cu fodido.”. Exibi novamente os caninos. “Vou quebrar tua cara”.
É claro que não bati nele. Retesei os músculos e rosnei um “há” pra cima do canalha. Ele quicou de susto. E eu, novamente, ri. Fazer o quê? Espancar cada babaca safado que cruza meu caminho? Não sou o Zorro, só vivo nessa zorra humana por falta de opção, aliás, só mesmo num mundo alienígena para me sentir em casa.
Me sentei, caninos expostos num sorriso de vingança, pensando quão relaxante estava pegar o busu vendo a cara de vergonha do cobrador. Ainda me incomodava o caso do hipster, a bronca com ele só voltou por entender que algumas pessoas já estão exasperadas com as babaquices alheias, porém ele não deveria ter tirado onda. Comigo não, faço de tudo para não atrapalhar a vida de ninguém, não me venham com sacanagens.
Quando chegou meu ponto, gritei pro motora “anda mais cinco metros, safado, que quero descer desta vez no lugar certo”. Ele assentiu sem pestanejar, sabia que me devia isso.
Os 20 centavos que incomodam tanto não são uma questão dinheiro, mas de educação, respeito e honestidade. 

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crônica tb publicada no blog do autor.