terça-feira, janeiro 20, 2009

Leitura criminosa

Lê-se muito mais depressa do que eu esperava. Acho que o meu lado sádico esperava mais detalhes ou razões mas o livro "apenas" compila justificações de vários assassinos. De vez em quando há uma ilustração. De vez em quando soltei uma gargalhada no metro, em troca recebi olhares. Se fosse uma personagem do livro os olhares teriam sido mortos à facada ou algo assim. Eis alguns exemplos:

"ERRATA Onde se lê: Matei-a porque era minha. Leia-se: Matei-a porque não era minha."

"Negou ter-me pedido emprestado o quarto volume... Um buraco nas costelas, como aquele na prateleira."

"Foi por pura teimosia. Não custava nada para ele ter feito. Que não, não e não. Vocês não podem imaginar. Há gente assim. Mas quanto menos houver, melhor."

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quinta-feira, janeiro 15, 2009

Estou quase de férias

Espero que após este vídeo estejam tão contentes como eu.

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quarta-feira, janeiro 14, 2009

Especial Banda Desenhada parte 7

Hoje não há quarta-feira em Bruxelas, muito simplesmente por falta de tempo. Mas há este especial BD que estava na fase "rascunho" há semanas e que espero que compense.

Obra completa, Sempé. Não consigo escolher só um livro mas posso sugerir alguns como Rien n'est simple, Comme par hasard, Luxe, calme et volupté, Insondables mystères. Sempé é mais conhecido pela série O menino Nicolau mas as suas ilustrações encantam-me há anos. Na minha humilde opinião poucos (ou mesmo ninguém) iguala o traço ora humorístico ora maroto ora irónico de Sempé. As suas ilustrações conseguem ter o valor de uma anedota bem contada ou de uma história partilhada com amigos. Ainda estou para descobrir alguém que com tão pouco numa página consiga espelhar a infância e as diferenças caricatas entre crianças e o modo destas verem o mundo dos adultos. Para todos com sentido de humor e ironia e para quem quer (re)lembrar-se da infância. Para o filho que diz que ninguém o compreende.

Fables: legends in exile, Bill Willingham & Ian Medina. Imaginem que as personagens dos contos de fadas fossem reais e vivissem exiladas no nosso mundo. Imaginem o Lobo Mau como um detective privado que tem de conter o mau feitio de forma a não revelar o seu lado lobisomem, a Branca de Neve após um divórcio litigioso com o Príncipe Encantado (um engatatão de primeira) e o Monstro e a Bela em sessões de terapia conjugal. Tudo isto bem msturado a um homicídio nas barbas de toda a gente. Uma leitura envolvente e surpreendente. Para quem gosta de contos de fadas, para quem acha que é demasiado velho para contos de fadas.

Jacques Delwitte: Little White Jack, Max de Radiguès. Uma obra belga para variar. Um guitarrista genial anda pela rua a tocar a troco de moedas, é chamado para ajudar uma banda nova com o novo disco e os flashbacks ajudam-nos a descobrir uma carreira bem sucessida e as razões do fim da carreira. Um desenho pastoso que se destaca do traço imediato da maioria das obras actuais. Jacques é inspirado num músico de rua de Bruxelas, contudo a história é fictícia. Para gosta de música de rua, de desafios e de BDs com desenho diferente.

Je t'ai aimé comme on aime les cons (original: Te quise como sólo se quiere a los cabrones), Giménez & Fonollosa. Após o fim de uma relação, longe de ser perfeita, e após quatro anos longe da cidade natal, Miranda é obrigada a regressar a casa dos pais. Como lidar com uma mãe que parece mais destroçada do que ela, com as amigas mais do que dispostas a dizer mal do ex (mais do que Miranda até) e com as memórias boas e más da relação? Como acabar uma relação e manter o sentido de humor também era um título que funcionava. Não digo para irem já a correr oferecer um a alguém que esteja a sair de uma relação mas é para quem ao menos já namorou alguém e hoje se pergunta porquê.

Too cool to be forgotten, Alex Robinson. Se me dissessem que iria regressar ao liceu por tempo indeterminado garanto-vos que iria entrar em pânico. Pois Alex foi apenas fazer hipnose para deixar de fumar, acontece que a génese do problema, do seu vício estava precisamente no liceu. Como é que um homem de 40 anos reage ao ser enfiado para dentro do corpo de um adolescente magricela, com aparelho e borbulhas? Ainda por cima sem aviso prévio. Enquanto enfrenta medos e rufias passados o leitor tem direito a rir dos anos 80. Para quem conhece os liceus (anos 80 ou não) e não tem particularmente vontade de lá voltar.

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segunda-feira, janeiro 12, 2009

Guerras de escritório

No meu trabalho actual (o último dia é já sexta-feira!) há uma impressora por andar. Além de imprimir também “scanna” documentos para o email e fotocopia. Ou seja é muito útil e, como devem imaginar, muito concorrida. Mas a malta exagera…

Tinha mais de 60 páginas em formato pdf para imprimir, como esperar que a impressão acabe equivale a ver tinta a secar (ainda tenho de agradecer aos ingleses por esta bela expressão) fui buscar um copo de água. Quando voltei a minha impressão tinha sido cancelada. Respirei fundo e recomecei. Por volta da página 15 já estava aborrecida e fui buscar mais água. Erro fatal, já sei. Quando voltei a minha minha impressão tinha sido cancelada. Só que desta vez o criminoso ainda estava a agrafar, olhou para mim de soslaio e começou a agrafar muito depressa. Suspirei alto e voltei a carregar no botão. O criminoso começou a afastar-se rapidamente e eu, com a minha lata reconhecida mundialmente, reclamei em voz alta :

- Há um motivo pelo qual eu não estava aqui, sabe. É por achar que num escritório de adultos me iriam respeitar a impressão de 60 páginas.

- Eu…

- Não era preciso cancelar a impressão, os meus documentos também são importantes.

Estava a sentir-me imbatível. Inconscientemente tinha decidido que este criminoso iria pagar por todos os outros que ao longo deste ano me cancelaram impressões, me apagaram ficheiros da impressora, me fizeram andar km entre a minha secretária e a impressora. O criminoso olhou-me nos olhos.

- Quando cheguei cá não havia nenhuma impressão em curso. EU não cancelei nada.

Silêncio.

- Ah… Peço desculpa.

Afastou-se a passos largos e ofereci a sola do sapato à impressora. Voltei ao meu computador para relançar a impressão, agarrei no telemóvel, peguei num banco e fui sentar-me ao lado da impressora e de pernas cruzadas joguei três jogos até a impressão acabar. Num pequeno intervalo o meu chefe passou no corredor. Não me viu.

- Olá, chefe ! - gritei.

Assustou-se. Uma pequena vitória, finalmente.

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sábado, dezembro 13, 2008

Digno de nota

Na quinta-feira voltei a sair com alguns colegas de trabalho. A maioria nem trabalha directamente comigo mas por uma razão ou outra tornamo-nos compinchas. Ao longo das seis horas de festa (sim, cheguei ao trabalho na sexta-feira de manhã mas em muito mau estado) reparei em algumas coisas, eis alguns exemplos ou coisas que aprendi:

  • Na Austrália há muitas cobras e aranhas. Toda a gente tem no frigorífico um poster que explica como agir em caso de mordida.
  • Quando perguntamos ao único francês do grupo se tinha namorada respondeu: "Depende. Sou francês."
  • Um Australiano-Italiano pegou numa sandes mista, pôs maionese no meio, sal e cheetos e só então foi capaz de apreciar a comida.
  • O mesmo Australiano-Italiano pôs mostarda no queijo que veio com as bebidas.
  • Em Bruxelas há um restaurante que só aceita pessoas sem reserva se tiverem cartão de negócios/visita. O sítio está sempre cheio porque pelo fim da refeição o restaurante transforma-se numa discoteca... com palco giratório.
  • Se uma jovem atraente sair de um carro "em marcha-atrás" ou seja, com o rabo primeiro e só depois a cabeça, ninguém está a olhar para ela. Eu olho para um, ele olha para o outro e o terceiro olha para o chão.
  • Se um francês bêbado desaparecer e for encontrado atrás de uma paragem de autocarro claramente a urinar, não está de facto a urinar, está a atender um telefonema.

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quarta-feira, dezembro 03, 2008

Quarta-feira em Bruxelas: lição cultural

Belgian Side Story: Flandres Vs Wallonie.

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terça-feira, dezembro 02, 2008

A falta de método

O partido de extrema-direita belga precisa de aprender e adoptar o método das testemunhas de Jeová. Pela quarta ou quinta vez recebi um panfleto a apelar pelo fim da imigração.

O último panfleto dirigia-se claramente contra os muçulmanos falando em rios de sangue em terras católicas, fim das nossas tradições seculares e claro, o facto de o nome mais comum para um rapaz em Bruxelas ser Mohamed. Uma pequena nota: os rios de sangue são quase, quase literais. Os muçulmanos não comem carne de porco e a carne restante deve ser halal (o que é permitido/da forma que é permitido), podem comer carne mas os animais devem ser abatidos de uma certa forma, ou seja, em nome de Alá. (Não sou perita na matéria por isso perdoem-me se a explicação não é muito detalhada.) Devido ao ritual os muçulmanos - de várias nacionalidades mas maioritariamente marroquinos e turcos em Bruxelas - dirigem-se ao matadouro de Bruxelas para todas as questões de carne, às terças e quintas os esgotos/restos do rio Senne ficam vermelhos. Eu sei isto porque há um museu do esgoto e é possível visitar as entranhas de Bruxelas. E não, os extremistas não mencionam o facto de os cristãos que comem carne também serem responsáveis pelo rio de sangue.

Desta vez o panfleto apela ao fim da imigração em geral. Ou seja eu e a minha gata estamos incluídas. Claro que sei que os extremistas estão mais preocupados com os marroquinos e os turcos mas não deixa de ser mau marketing e gestão de serviços, mais vale não me enviarem nenhum exemplar e oferecê-lo a uma velhinha cuja mentalidade não avançou desde o fim da guerra. Uma velhinha com gatos belgas.

Ainda me surpreendo como é possível uma minoria chatear tanto...

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domingo, novembro 30, 2008

Escalada

Fui com um grupo de pessoas da empresa a uma sala de escalada. Já tinha experimentado escalar no exterior, durante uma caminhada em Namur (e durante muitas horas com o meu primo na Madeira) mas nunca tinha experimentado escalar no interior. Foi porreiro até ao momento em que tive a minha primeira cãibra no braço esquerdo, realmente é uma actividade que puxa muito pelo corpo. Além de escalar tivemos direito a uma aventura no cubo (foto acima) onde a dada altura estamos na horizontal e é suposto continuarmos como o Homem-Aranha debaixo de uma ponte. Uma vez no topo do cubo saltamos como o Tarzan. Bem, não exactamente como o Tarzan, a corda está bem presa ao nosso cinto e depois saltamos. Gritei "weeeeee" quando saltei, fui a única. A última actividade foi uma iniciação à espeologia. Claro que não foi numa gruta verdadeira mas já deu para ficar com vontade de fazer mais. Basicamente entrei em tuneís rectangulares e triangulares alguns tão apertados que acabei em posições estranhas e a empurrar-me com pés, rabo e ponta dos dedos. Por vezes ao sair de um túnel de cabeça para a frente tinha de achar uma posição para me virar e descer com os pés visto haver um escorrega ou um buraco que obrigava a escalar a descida. Havia também um túnel feito de cordas (nada estável) onde tive de esperar até ao meu colega da frente conseguir sair de uma descida, ele prometeu emagrecer. Estou a prever comprar um cartão de 10 visitas à sala e usar todas as visitas até partir para a Tailândia.

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quarta-feira, novembro 26, 2008

Como é que se diz connard em português?

O meu chefe, que eu considerei amigo até bem pouco tempo informou-me há cerca de uma hora e meia que quando me ajuda com coisas da empresa, por exemplo, explicar-me o que é formação x ou qual é a função y da pessoa n, ou então liga aos seus contactos para obter respostas que eu não tenho que isso faz parte do seu trabalho e que na verdade não tem a ver com o facto de sermos amigos. Ou seja, em troca dessas coisas que eu achava normais ele quer que eu fique mais tempo no escritório. Eu não sabia que as coisas estavam ligadas, sou parva e ingénua. Mas enfim, ao menos aprendi antes de me ir embora. E claro que não vou ficar mais tempo no escritório a mês e meio de ir embora.

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segunda-feira, novembro 24, 2008

Como vender um carro às mulheres

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sábado, novembro 22, 2008

Gato fedorento legendado: stinky cat!

Gosto tanto disto que lá descobri como pôr legendas, se conhecerem algum "bife" já podem partilhar.

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sábado, novembro 15, 2008

Poça

". . . imagine a puddle waking up one morning and thinking, 'This is an interesting world I find myself in, an interesting hole I find myself in, fits me rather neatly, doesn't it? In fact it fits me staggeringly well, must have been made to have me in it!' This is such a powerful idea that as the sun rises in the sky and the air heats up and as, gradually, the puddle gets smaller and smaller, it's still frantically hanging on to the notion that everything's going to be alright, because this world was meant to have him in it, was built to have him in it; so the moment he disappears catches him rather by surprise. I think this may be something we need to be on the watch out for." Douglas Adams.

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sexta-feira, outubro 31, 2008

halloween bruxelense

Ontem nevou na periferia de Bruxelas. Não vi no telejornal, ninguém me contou, simplesmente olhei pela janela no dia trinta de OUTUBRO e vi neve a cair. Eram flocos gordos e largos. Caíram tantos que quase deixei de ver o prédio do outro lado da rua. Estamos em Outubro e ao chegar a casa fui buscar o meu casaco de inverno. Hoje no dia de Halloween nenhuma criança sairá à rua de traje, disfarçada, com um saco de papel à espera de chocolates belgas e um sorriso entre as bochechas... Os poucos que saem - vão à até à casa dos vizinhos, dos amigos dos pais - terão de abrir os casacos felpudos, tirar as luvas e o chapéu para mostrarem aos adultos entorpecidos a roupa de homem-aranha, de Harry Potter etc Por baixo do meu casaco enorme, das minhas luvas e do meu chapéu está uma portuguesa lixada com o frio.

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Praia.

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Perguntas para o fim de semana

"Cada vez que ouvem Santana Lopes acusar o ex-Presidente da República de ser o principal responsável pela queda do seu Governo, também pensam: "Obrigado, Dr. Sampaio"?"

"Também controlam o número de produtos que os clientes à vossa frente nas caixas "até 15 unidades" trazem no cesto?"

"Existe algum limite para o número de palavrões que podemos dizer enquanto tentamos barrar manteiga dura em pão de forma?"

"Percebemos que está sempre a dar a mesma coisa na Televisão quando saímos de casa com Cavaco Silva a discursar e regressamos no momento em que está a acabar "A Múmia"?"

"O inferno existe e é no IKEA aos domingos?"

"Tudo na vida evolui excepto o teletexto?"

"Quando estamos na fila para pagar e o funcionário da caixa ao lado pergunta "Quem está a seguir?", porque é que a primeira pessoa a ser atendida nunca é quem está a seguir?"

"Em que raio de pessoa me tornei eu, que olho para os estudantes fazerem as mesmas figuras que eu fazia há 10 anos, e acho tudo aquilo perfeitamente idiota?"

"Afinal para que passei eu dias preciosos da minha infância a decorar que o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos?"

Perguntar não ofende.

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quinta-feira, outubro 30, 2008

Morde a língua - traduções directas

Apesar de trabalhar em francês e inglês e falar inglês em casa, o meu cérebro ainda acha que é português, ora vejam o que ando a dizer - gostaria de salientar que isto foram coisas saídas de conversas animadas, sou perfeitamente capaz de traduzir melhor:

That's how Germany lost the war!

You dont put a spoon between a husband and a wife...

Piece by piece the chicken gets full.

You're just throwing green fruits to see if the tree gives you a good one.

Uma que eu ouvi e que ainda repito entre risinhos (não melhora com a idade) é de um senhor flamengo meio maluco. Depois de lhe ter feito uma cara confusa explicou-me que a ideia é que eu não teria ganha-pão. Depois da explicação tive um ataque de riso que acabou com a conversa. Depois ainda dizem que eu não sou sociável. A frase deve soar muito bem em neerlandês mas tal como as minhas frases anteriores dita assim só se arrisca a causar confusão. Imaginem-me a explicar que queria viajar e que para isso estava disposta a gastar as minhas economias... Ao que o senhor responde:

Olha que não vais fazer sandes.

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quarta-feira, outubro 29, 2008

A eficiência Jeová

Há dias além da publicidade habitual tinha um envelope sem remetente com um enigmático S. Barbara Rodrigues. Confirmei que era má pessoa porque imediatamente olhei em volta à procura de suspeitos. Se a Maggie ainda cá estivesse nem teria aberto com medo de uma carta-bomba. Enquanto abria a porta fui abrindo o envelope, quase certa que era coisa da Leen. Fechei a porta e tirei um panfleto colorido d' As testemunhas de Jeová em português.

Vou voltar a explicar. Eu recebi em Bruxelas - cujas línguas oficiais são o francês e o neerlandês - um panfleto religioso das testemunhas de Jeová em português de Portugal. Os mesmos panfletos que me faziam atravessar a rua quando os via na mão de uma velhinha sorridente (outro sinal de alarme).

Depois do ataque de riso que tive nas escadas (não acho que tenha sido coincidência ouvir alguém a trancar a porta) tentei adivinhar o sistema do distribuidor. Será que tem uma amostra em cada língua? Vê o "s" em vez de um "z" então mete um em português em vez de espanhol? E por que não português do Brazil? Conhecem as estatísticas demográficas de cada freguesia? Ou cada zona tem uma pessoa responsável pela divulgação religiosa como no Masters of Atlantis ? No meu prédio há portugueses (não sou a única), alemães, belgas, iranianos e uma outra nacionalidade que ainda não identifiquei, será que cada recebeu um panfleto na língua materna? Será que há um Hélder à espera para ser convidado a entrar só cinco minutos?

Há coisas que não me deixam dormir.

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quinta-feira, outubro 09, 2008

Índia VIII: Agra (cidade do Taj Mahal)

Mal chegamos à cidade comecei a ficar um bocado aborrecida: só via hotéis, turistas pálidos, lojas de para turistas (com colares e pulseiras) e pouco mais. Depois de Jaipur é uma desilusão. Contudo não posso dizer que tenha sido uma surpresa, afinal de contas é a terra do Taj Mahal.

O hotel foi provavelmente o mais chique que tivemos e custou um terço do de Delhi.
Um dos pontos altos foi vermos a nossa primeira banheira - com o tradicional balde, lá está - mas o ponto mais alto foi a visita recorrente de uma osga à nossa casa de banho, formigas do tamanho de aranhas com um ar nada simpático e muitos mosquitos. Vi pela primeira vez com atenção publicidade e programas indianos na televisão, o tamanho da minha confusão e choque cultural é indescritível. Os melhores exemplos são um programa com indianos obesos a competirem numa espécie de jogos sem fronteiras onde uma das tarefas/jogos era correr para uma mesa cheia de bolos e tartes, escolher um e gritar alto o número de calorias; outro belo exemplo é o anúncio Axe, na Europa bombardeiam-nos (em casa, no cinema, na rua...) com o sex-appeal de uns tipos macricelas e sorridentes e se bem percebo os anúncios o sex-appeal é tão forte que qualquer mulher nas proximidades perde a cabeça e às vezes mais do que isso num elevador, na rua, num carro... na Índia vemos um par de mãos, um close-up das mãos como se houvesse algo mais e mais nada. Sim, porque nada como um par de mãos excitadas para vender um desodorisante na Índia.
O famoso Taj Mahal causa uma primeira impressão deslumbrante e após alguns segundos percebi por que é aclamado como uma das sete maravilhas do mundo, todavia, acho que a visão comercial e ambição maluca dos indianos estão a estragar aquilo. Há demasiadas pessoas, demasiado barulho, demasiadas máquinas fotográficas. Do que adianta pôr degraus de madeira por cima dos degraus de mármore originais se depois as pessoas estão à vontade para tirarem fotos deitadas, de pé, de lado e aos montes por todo o lado? Há filas para tirar uma foto no banco onde a Princesa Diana se sentou, há empurrões discretos... Será que se esquecem que o Taj, por mais bonito que seja, é um masoléu? (Também não estou de acordo com escrever com corrector ortográfico na campa do Jim Morrison em Paris).
Há com cada um...
Esta imagem é muito conhecida mas o que muita gente não sabe é que a obsessão dos indianos pela simetria fez com que construíssem uma mesquita em cada lado do Taj Mahal. Na verdade a primeira (a da esquerda) foi construída por motivos religiosos mas depois para melhorar a imagem contruíram uma mesquita idêntica do lado direito e que está virtualmente vazia.
A da esquerda é a razão pela qual o Taj Mahal está fechado às sextas-feiras de forma a permitir aos muçulmanos privacidade para visitarem a mesquita. E também porque não devem conseguir controlar duas multidões ao mesmo tempo. Já agora, às senhoras e meninas que pretendem visitar o Taj Mahal no futuro: entrem pelo detector de metais das senhoras e preparem-se para um apalpanço profundo e hmmm, bem direccionado.
O Taj Mahal visto do rio.

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sexta-feira, outubro 03, 2008

Índia II: a chegada

O primeiro dia foi claramente o pior. Talvez tenha sido do susto, do choque cultural, da diferença de horários e temperatura mas não há dúvidas que o primeiro dia na Índia foi o pior de todos.

O balde: Um banho indiano.

Acordamos com alguém a dar um encontrão na porta do quarto. Devia ser a senhora da limpeza mas não recomendo como despertador. O nosso hotel era tão manhoso que não queríamos sair do quarto e depois de cerca de 20 minutos de discussão decidimos fechar as malas com o cadeado, trancá-las com uma corrente anti-roubo, fechá-las dentro do armário e pôr o aviso "do not disturb" na porta.

Depressa nos apercebemos que não estávamos na parte chique da cidade. Começamos por olhar para o chão quando um homem (ou dez) parava de andar e ficava a olhar para nós. Seguimos em frente até não haver mais pessoas a vender fosse o que fosse. Não foi fácil: há montes de pessoas na rua, cães e merda de cão, carros, motas, rickshaws e todos funcionam numa ordem, numa lógica que nos escapa. Movimentos antes simples como atravessar a rua são complicados e cansativos. Tenho de me concentrar em não ser atropelada, em não esbarrar em pessoas, em não me separar da Maggie, em não pisar merda de cão, em memorizar o caminho para o regresso, prestar atenção às mochilas... Outro factor importante é o calor, acabadas de chegar de Helsinki parecia que tinhamos acabado de entrar numa estufa. Não tinhamos água e não podíamos beber da torneira e não víamos onde comprar mais. Ao fim de quase uma hora de andar sem rumo e super concentradas achamos uma farmácia onde comprei um creme para os lábios e uma garrafa de água. Verificamos que estava bem fechada (é importante) contudo ficamos desconfiadas porque tinha um sabor estranho.
Ora se o norte fica para a frente e o hotel fica no fim do mundo...

Fomos seguidas durante mais de meia hora por um indiano feioso. Decidimos apanhar o metro. É super moderno e limpo e para nossa surpresa muito mais vazio do que a rua. Temos de passar por detectores de metais: há uma entrada para as mulheres, infelizmente só reparamos depois. Abrem as mochilas e espreitam tudo. O metro era muito parecido ao de Lisboa, há uma secção para as mulheres onde estavam sentados homens de várias idades, decidi olhar pela janela para não reparar nos olhares. Após três ou quatro paragens chegamos a uma das praças principais, super elogiada no nosso guia. Entramos em choque, a praça é um misto de edifícios coloniais podres, mercado de rua, lojas com segurança à porta, exército e mais carros do que parece humanamente possível. Somos seguidas por um comediante. Após uma volta completa à praça (cerca de meia hora) não tinhamos sítio para comer e eu já tinha desviado a primeira mão apalpadora, por pouco não bati no homem. Entramos no Macdonnalds de puro desespero. Segurança à porta, abre as mochilas, comemos batatas fritas e bebemos água. Um senhor com as duas filhas pergunta-nos de onde vimos (pergunta que ouviríamos ad infinitum durante a nossa estadia) e nós aproveitamos para fazer perguntas. Por mero acaso diz-nos que no dia anterior tinham explodido três bombas naquela praça e que outras duas tinha sido desactivadas. Aconselhou-nos a regressar ao nosso país depressa. Ao menos isso explicava o exército na zona e o metro estar tão vazio. Perto do café encontramos um mapa que indicava que havia coisas para ver na zona. Após outra hora sofrível chegamos a esta zona:

Não sei explicar a nossa felicidade e frustração ao contemplarmos os edifícios, andamos cerca de 4h na cidade para encontrar este espaço.

Só depois de muito procurarmos no guia é que percebemos que estávamos no ministério de não sei o quê, de frente para a casa do presidente e a alguns metros do parlamento.

Os indianos parecem gostar muito de simetria, os edifícios eram idênticos, um em frente ao outro. O sol estava na minha direcção, não deu para tirar uma foto à casa do presidente, apenas a este detalhe da entrada:

Com o avançar das horas decidimos regressar ao hotel. Tivemos problemas em reconhecer o caminho a partir do metro. Sim, tinhamos tentado prestar atenção e sim não era muito longe mas um dos grandes problemas para os estrangeiros é que não há placas com nomes de ruas ou grandes referências. Mesmo quando há lojas há vendedores de tapetes e de tudo em frente, é possível andar horas a fio sem reconhecer algo. Andamos cerca de 2h às voltas na mesma zona. Outro problema é que os indianos detestam dizer que não sabem, então fomos indicadas para cinco direcções diferentes. Já de noite uma senhora mostrou-nos uma ruazinha que reconheci, quase que corremos para a entrada do hotel. Não há muita iluminação nas ruas à noite e continua a haver muito trânsito, senti-me um coelhinho em frente aos faróis tanta vez... Estávamos completamente exaustas e fomos seguidas até ao quarto por três empregados às risadinhas. Não havia água quente. Interrogamo-nos se não foi um erro vir à Índia.

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quinta-feira, outubro 02, 2008

Índia I: um começo auspicioso

O nosso vôo obrigava a uma escala em Helsinki, como nunca lá tinha ido achei por bem aproveitar. Chegávamos às 22h e partíamos no dia seguinte às 14h, sempre era uma manhãzinha num país diferente. Cheguei a dar uma vista de olhos em guias de turismo de Helsinki de forma a poder escolher um ou outro monumento. Ou seja, tudo parecia fantástico.

Segundos depois de pormos as malas no check-in a Maggie decidiu perguntar se as malas saíriam connosco em Helsinki ou se iriam directas para Delhi. Afinal de contas ainda íamos dormir uma noite na capital finlandesa; à resposta "só as recuperam em Delhi" apercebemo-nos - no exacto momento em que o tapete levou as malas para os escafandros do aeroporto - que não tínhamos pensado nisso e que não tínhamos pijama, muda de roupa, escova ou pasta de dentes... e que a maioria das nossas roupas quentes (que já nem eram muitas) estavam também dentro das malas. Sabem quantos graus há em Helsinki em Setembro? Normalmente entre 6 a 10... Um começo auspicioso, sem dúvida. Ainda nos rimos um bocado mas eu acho que foi do nervoso.

Depois de comprar uma pasta de dentes na farmácia do aeroporto (4e!!!) e uma escova consegui modificar e bloquear o código de um cadeado sem me aperceber. Isto porque tinha comprado dois especiais que pudessem proteger as nossas mochilas enquanto andássemos de metro ou no meio de multidões. Ou seja, tinha acabado de nos oferecer um belo quebra-cabeças para nos entreter durante a viagem, ao que parecem existem cerca de 500 possibilidades. Fazendo juz a uma tradição minha fui comer pães de alho (não perguntem) e quase me engasguei com a quantidade de alho que puseram. Foi erro pelo qual pagamos caro. Dois minutos depois de reclamar do gosto a alho consegui bloquear o outro cadeado. A Maggie retirou-os da minha mão. Por magia lá conseguiu abrir um mas o outro apesar de nos ter entretido umas belas horas no avião continua fechado até hoje.

A Maggie com as suas defesas sobrenaturais contra o frio.
Em Helsinki estavam 4 graus e nós só com um casaquinho. Depois de 20 minutos muitos longos o autocarro chegou. Após uma 1h30 chegamos à pousada - foi uma festa. Ou teria sido se não estivesse tanto frio que só conseguíamos pensar em cobertores. Tocamos à campaínha e a porta abriu. O prédio estava mais silencioso que um cemitério, mas não achei estranho visto ser uma da manhã. Ao chegarmos à recepção não vimos ninguém, absolutamente ninguém. Decidimos esperar um pouco, alguém tinha aberto a porta por isso... esperamos imenso em vão. Subimos e descemos à procura de uma outra recepção, voltamos a tocar à campaínha... nada. Às quase 3h da manhã não sabíamos se íamos procurar outro sítio ou dormir no sofázinho da entrada. Com a ajuda de panfletos começamos a ligar para hotéis e pousadas, quase todos sem lugar, encontramos um caro mas o cansaço falou mais alto. Já na saída a Maggie voltou a tocar à campaínha e voltaram a abrir a porta. Mau.... Ela subiu e eu fiquei aos saltinhos na entrada a ver se aquecia. Afinal o senhor tinha adormecido e apesar de parecer que estava sob o efeito de uma substância estranha lá nos inscreveu. Por razões que não percebi o papel estava em italiano e russo. Quando quis pagar o senhor estava a olhar para o vazio e nem me viu a acenar as notas em frente ao seu olhar; chamei-o várias vezes, a Maggie e eu tivemos tempo de rir com o nervoso e discutir estatégias até ele se aperceber de alguma coisa. Eu só queria dormir.

Os corredores metiam medo (eram todos como ou pior do que na foto) e a cama da Maggie tinha sangue seco. Uma maravilha.

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sexta-feira, setembro 26, 2008

Novidades frescas de Delhi

(teclado sem acentos) Hoje a tarde enquanto estavamos a procura de corantes (para o trabalho da Maggie) recebi uma proposta de casamento de um indiano de cerca de 70 anos.

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