quinta-feira, janeiro 08, 2009

Camaradas

"Comunismo e Nacionalismo em Portugal abre com uma história curiosa contada por André Malraux: durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), nas proximidades de Toledo, abate-se sob as tropas republicanas mais um punhado de bombas do céu que, ao contrário de tantas outras, desta vez não explodem. Surpreendidos, os republicanos descobrem-lhes no dorso uma mensagem em português – «camarada, esta bomba não explodirá» – indiciando a sabotagem dos engenhos algures na passagem de Portugal para Espanha. " Daqui.

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sábado, dezembro 06, 2008

Musical "prop 8"

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quarta-feira, dezembro 03, 2008

Quarta-feira em Bruxelas: lição cultural

Belgian Side Story: Flandres Vs Wallonie.

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terça-feira, dezembro 02, 2008

A falta de método

O partido de extrema-direita belga precisa de aprender e adoptar o método das testemunhas de Jeová. Pela quarta ou quinta vez recebi um panfleto a apelar pelo fim da imigração.

O último panfleto dirigia-se claramente contra os muçulmanos falando em rios de sangue em terras católicas, fim das nossas tradições seculares e claro, o facto de o nome mais comum para um rapaz em Bruxelas ser Mohamed. Uma pequena nota: os rios de sangue são quase, quase literais. Os muçulmanos não comem carne de porco e a carne restante deve ser halal (o que é permitido/da forma que é permitido), podem comer carne mas os animais devem ser abatidos de uma certa forma, ou seja, em nome de Alá. (Não sou perita na matéria por isso perdoem-me se a explicação não é muito detalhada.) Devido ao ritual os muçulmanos - de várias nacionalidades mas maioritariamente marroquinos e turcos em Bruxelas - dirigem-se ao matadouro de Bruxelas para todas as questões de carne, às terças e quintas os esgotos/restos do rio Senne ficam vermelhos. Eu sei isto porque há um museu do esgoto e é possível visitar as entranhas de Bruxelas. E não, os extremistas não mencionam o facto de os cristãos que comem carne também serem responsáveis pelo rio de sangue.

Desta vez o panfleto apela ao fim da imigração em geral. Ou seja eu e a minha gata estamos incluídas. Claro que sei que os extremistas estão mais preocupados com os marroquinos e os turcos mas não deixa de ser mau marketing e gestão de serviços, mais vale não me enviarem nenhum exemplar e oferecê-lo a uma velhinha cuja mentalidade não avançou desde o fim da guerra. Uma velhinha com gatos belgas.

Ainda me surpreendo como é possível uma minoria chatear tanto...

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segunda-feira, novembro 17, 2008

Não devia ir à internet durante o expediente

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quinta-feira, novembro 13, 2008

Especial Banda Desenhada - parte 6 - dose dupla

Nem sei como é que deixei passar tanto tempo desde o meu último especial... Espero compensar o desleixo nos próximos tempos. Hoje o especial é dedicado a artistas com duas ou mais obras que adoro e eu não soube escolher só um para o especial. O especial contém igualmente três grandes mestres cujo trabalho marcou e mudou a história da BD.

Buddha, Osamu Tezuka. (8 volumes). Não deixem que o tamanho desta obra épica vos assuste, vale cada página. Tezuka é tão importante para a história das mangas e da banda desenhada como o Walt Disney é importante na história da animação. Trouxe características "manga" como os olhos enormes e as expressões de espanto para uma história supostamente sisuda como a vida de Buddha e influenciou entre outros Stanley Kubrick e Maurício de Sousa (sim, o da Mônica). Buddha é uma obra inesperada e surpreendente, mostra ao mesmo tempo o crescimento e desenvolvimento da vida e santidade de Buddha ao mesmo tempo que relata a violência e a sexualidade de outras personagens. Há muitos ângulos inesperados (para uma BD) e no fim ficamos com a ideia de que vimos um filme, um biopic da vida de Buddha e de personagens contemporâneas fictícias. É uma excelenente forma de mostrar o budismo e a sua doctrina pondo-a em contexto sendo ao mesmo tempo uma BD que custa a parar de ler. Para fãs de: Budismo ou curiosos, Astro-Boy, de mangas (embora este se leia na ordem ocidental), da série Tom Sawyer de Miyazaki.

A Contract with God e New York, Will Eisner. Um preferido pessoal. Tenho adiado falar nesta obra por achar que merecia mais destaque mas o tempo foi escasso. Will Einer foi mais importante do que eu sei explicar, hoje há os prémios Will Eisner nos Estados Unidos, os Oscars da BD. A contract with God foi uma das primeiras graphic novels, romance gráfico. Sem este livrinho muita BD de hoje em dia não existiria. Houve graphic novels antes mas nenhuma desta qualidade. É uma colecção de contos cuja acção se desenrola no mesmo bairro, a maioria dos habitantes são judeus emigrados nos Estados Unidos e entre os seus problemas pessoais a BD lida com a sua integração na sociedade americana e com as dificuldades das gerações seguintes. O desenho é muito realista embora em momentos de crises as personagens se tornem caricaturas delas mesmas ou se encolham ou afundam de formas pouco naturais que fazem o leitor querer dar-lhes um abraço. New york é uma antologia de vários volumes sobre a vida na grande cidade, sobre New York, desenhos de pessoas com demasiada pressa para viver, da vida dura de um emigrante no pós-guerra etc O volume Invisible people por exemplo lembrou-me de quando cheguei a Lisboa pela primeira vez. Dois dias depois tinha comprado quase toda a obra de Eisner. Para fãs de: Dostoevsky, Craig Armstrong, Maus: A survivor's tale, Kurt Vonnegut, Michael Chabon, José Carlos Fernandes.

Fraise et chocolat (2 volumes) e Je ne verrai pas Okinawa, Aurélia Aurita. Fraise et chocolat é quase um clássico de culto francês, facto que me manteve afastada do livro durante dois anos, até que recentemente descobri o Je ne verrai pas Okinawa... Aurita desenha com lápis fino de uma forma tão corriqueira que por um momento pensamos ser fácil desenhar. Tem o dom de fazer com que cada página pareça ter sido desenhada no autocarro, mas quando olhamos uma segunda vez apercebemo-nos que aquilo deve ter dado imenso trabalho. Fraise et chocolat relata as aventuras amorosas e sexuais de um casal francês no Japão. Os detalhes sexuais são muito explícitos e cómicos, não há detalhes Hollywoodescos de como tudo é perfeito à luz das velas e o primeiro volume é talvez a melhor descrição dos primeiros meses de uma relação sexual que já vi. O segundo volume acompanha uma relação mais madura mas ainda muito sexual assim como uma tournée BD e outros detalhes culturais do Japão. Os livros têm um sentido de humor muito apetitoso. Je ne verrai pas Okinawa é quase todo passado no aeroporto de Tokyo e ilustra de forma genial as dificuldades burocráticas de entrar num dos países mais fechados do mundo, o Japão. Apesar da autora ter dinheiro, de receber direitos de autor e de não ser uma ameaça para os trabalhadores japoneses as autoridades proibem-na de ficar os três meses que o visto permitia. Aurita tinha planeado visitar Okinawa nessa visita... É um relato dos tempos em que vivemos. Podem ver páginas de amostra aqui. Para fãs de: Small Favors, Milo Manara, nouvelle manga, Anais Nin, Tatsumi.

Elle(s) e Hollywood San (com Michael Sanlaville), Bastien Vives. Se algum dia fizer um especial sobre BDs para jovens este "miúdo" terá lugar de destaque. Digo miúdo porque é mais novo do que eu, o estúpido. Elle(s) segue um jovem de 26 anos que sem saber bem como, vê-se no meio de duas jovens de dezoito anos e das suas aventuras, desventuras e dos seus namorados também. Há sms, festas, cinema, amizades...Quem acha que está desligado das novas gerações pode aproveitar a leitura fácil. Hollywood Jan relata a história de um adolescente franzino, Jan (/ian/), que sofre como muitos de nós sofremos no liceu. Há rufias, professores arrogantes, colegas cruéis e o Jan sente-se invisível. E ainda por cima uma das professoras é amiga da mãe (também me aconteceu...) Para o ajudar há (I kid you not) o Arnold Schwarzenegger, o Sylvester Stalone e o Russell Crowe. Com a sua imaginação mortal e sedutora, o jovem Jan ora imagina conversas com os miúdos populares ora o Arnold a matar o pessoal todo. Mas e aquele hábito de pensar em voz alta?... Para fãs de: Wonder Years, Coupling, Le combat ordinaire. Parece-me especialmente indicado para leitores jovens (quer de idade ou mentalmente).

Abandon the old in Tokio, The push man e Good-bye, Yoshihiro Tatsumi - Já cá falei no senhor mas as únicas três obras traduzidas merecem mais destaque. Exactamente, o grande mestre japonês só tem três obras traduzidas no ocidente. É uma vergonha. Se há obra que nos faz abrir os olhos e apercebermo-nos que o Japão é um país longe dos estereótipos, com problemas como o nosso, com pessoas traumatizadas com o pós-guerra, com pessoas deprimidas, com gente que não gosta do trabalho, com filhos que não querem ser responsáveis pelos pais, com mulheres chatas, com homens ansiosos por ver pornografia num país altamente censurado, pessoas à beira de um esgotamento porque a vida não é nada do que tinham sonhado quando era novos etc são estes livrinhos. Qualquer história de Tatsumi permite-nos ao mesmo tempo sentir pena dos japoneses, desdém por personagens humanas (mas) cruéis, permite-nos descortinar um pouco as pressões de uma sociedade com uma hierarquia muito complicada e antever muitos esgotamentos. Temos sempre a sensação que estamos a desvendar um segredo muito bem guardado, que o Japão não são só gueixas, samurais, templos e ordem... Para fãs de:Dostoevsky, Aki Shimazaki, Osamu Tezuka, Coco Wang, Orhan Pamuk,para ver o Japão com outros olhos.

Où le regard ne porte pas...(2 volumes), George Abolin e Olivier Pont. Em 1906 a família de William troca Londres por uma vila italiana, os italianos não ficam muito satisfeitos e há uma tensão no ar. Mas para quatro miúdos de dez anos, isso não tem importância. Entre as aventuras dos petizes e as confusões dos adultos há sonhos, memórias de outros tempos, as crianças parecem lembrar-se todas dos mesmos acontecimentos. De outra vida? O segundo volume passa-se vinte anos depois, há vinte anos que os quatro protagonistas não se viam, há o matar saudades habitual, um ajustar de contas e uma viagem à Costa Rica para procurar o quarto rapaz. Entretanto os sonhos, visões são cada vez mais fortes e parecem ser pistas para o paradeiro do rapaz. Para fãs de: mistérios, Brian Weiss, BDs de época.

Especiais anteriores: Especial 5. Especial 4. Especial 4.5. Especial 3. Especial 2. Especial 1.

Especial BD online 1 e 2.

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quinta-feira, novembro 06, 2008

As queixas de George Orwell

Nem tudo correu bem quando viveu na Birmânia:

"In Moulmein, in lower Burma, I was hated by large numbers of people—the only time in my life that I have been important enough for this to happen to me.

In the end the sneering yellow faces of young men that met me everywhere, the insults hooted after me when I was at a safe distance, got badly on my nerves. The young Buddhist priests were the worst of all.

Theoretically—and secretly, of course—I was all for the Burmese and all against their oppressors, the British. As for the job I was doing, I hated it more bitterly than I can perhaps make clear. In a job like that you see the dirty work of Empire at close quarters. The wretched prisoners huddling in the stinking cages of the lock-ups, the grey, cowed faces of the long-term convicts, the scarred buttocks of the men who had been flogged with bamboos—all these oppressed me with an intolerable sense of guilt.

I perceived in this moment that when the white man turns tyrant it is his own freedom that he destroys. He becomes a sort of hollow, posing dummy, the conventionalized figure of a sahib. For it is the condition of his rule that he shall spend his life in trying to impress the “natives,” and so in every crisis he has got to do what the “natives” expect of him.

And my whole life, every white man’s life in the East, was one long struggle not to be laughed at."

O texto está disponível online.

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quarta-feira, novembro 05, 2008

Americana

Antes das eleições americanas:

Depois das eleições (aos 0.45 segundos):

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quinta-feira, agosto 28, 2008

Conseguem ver?

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segunda-feira, agosto 04, 2008

Segunda-feira: rir é o melhor remédio

Decidi que cada segunda-feira vou mostrar-vos um vídeo ou imagem "paródia". Porquê? Bem, porque eu detesto segunda-feiras e suspeito que não estou sozinha. Se bem me conheço a maioria será da MadTV. Se o you tube não coloborar e os vídeos desaparecerem o tempo todo sou capaz de desistir da ideia mas vamos fazer figas.

O primeiro vídeo está um pouco atrasado, foi feito antes de Barack Obama conseguir a nomeação para a presidência dos EUA.

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segunda-feira, julho 21, 2008

Dia nacional da Bélgica

E onde estamos neste país irrequieto? Depois da terceira demissão do primeiro-ministro o Rei decidiu dar-lhe a oportunidade para se demitir uma quarta vez. Ontem no seu discurso anual o Rei fez questão de relembrar a todos os belgas que é preciso encontrar uma forma de viverem juntos sem toda esta azáfama política.

Entretanto começo a perceber isto tudo um bocadinho melhor: Há a minoria flamenga que quer a indepêndencia, os flamengos que não gostam de estrangeiros e votam no partido de extrema-direita e os flamengos "normais"; há também os wallons que são extremistas e que querem ser anexados à França (ou seja, separados da Flandres) e os wallons que começam a mentalizar-se que mais cedo ou mais tarde a Bélgica deixará de existir; portanto temos estas cinco "personagens" envolvidas mais os estrangeiros, como eu, que cá vivem e os estrangeiros ligados à UE.

Para haver separação é preciso haver uma maioria num referendo e nenhum dos lados com extremistas - flamengos que querem ser independentes ou os wallons que querem fazer parte da França - tem sequer um terço da população. Ou seja, se um dos lados realizar um referendo não tem hipóteses de ganhar. Nem de longe.

Então porquê toda esta confusão e pânico contante ao longo do último ano e meio? Bem, por um lado não sei e acho que os jornais e os extremistas aproveitam-se do facto da maioria da população não perceber bem o que se passa e instam mais medo do que o necessário. Mas por outro estes dois lados têm de se entender para uma decisão ser tomada em relação a tudo. Para terem uma ideia todos os orçamentos estão à espera de aprovação desde 2007, as acções do governo belga e do banco belga estão a descer porque o mercado bolsista não tem confiança num país sem governo, a economia do país piora a cada mês sem governo.

Hoje no dia nacional belga há bandeiras belgas por todo o lado, mais do que no ano passado devido à instabilidade, o Rei até tem razão, sabem? Se milhões conseguem entender-se no seu dia-a-dia por que não consegue o governo?

Vou participar nas celebrações porque gosto do país e não apenas de uma comunidade ou outra e porque Bruxelas é interessante precisamente porque pertence a duas comunidades e a estrangeiros confusos. Há museus com bilhetes a 1e, fogo de artifício, parada militar, feiras, barraquinhas de comida, igrejas abertas ao público só hoje... vou juntar-me a um grupo de japoneses com máquinas fotográficas e mostrar as fotos do que um dia foi a Bélgica aos meus netos? Ou vou continuar a rir-me disto tudo? Para já vou rir-me dum detalhe das celebrações: quem quiser e gostar de emoções fortes pode ir até ao palácio da justiça e saltar do telhado em rappel.... estes belgas são doidos.

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terça-feira, julho 15, 2008

Mas eu já não vi este filme?

Ontem o primeiro ministro belga demitiu-se - pela segunda ou terceira vez, já nem sei. O dia nacional belga é já segunda-feira e não há governo, nem acordo à vista, o rei ainda não se pronunciou mas aposto que também lhe apetece distribuir uns reais tabefes.

Para os fracos de memória sugiro visitarem os arquivos do fim do mundo com a etiqueta "Bélgica", quando me apetece rir um bocadinho costumo ir lá parar.

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segunda-feira, junho 23, 2008

E quando me aborreço demora a passar

Cartoon Fim do Mundo II.

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sexta-feira, junho 20, 2008

Há dúvidas por que amo o Jon Stewart?

Vejam o Jon Stewart a analisar as primeiras imagens dos primeiros casamentos gay na Califórnia.

Ao que parece a Califórnia pertence agora à lista de países prestes a desaparecer de vez, assim profetizam os fundamentalistas cristãos.

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Vista da minha cozinha ontem à tarde

Nada como viver em Bruxelas para ter "exclusivos" em todas as manifs...

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O Maio de 68 flamengo I

Em 1968 Leuven (Louvain para os wallons) tinha uma das duas universidades mais importantes da Flandres (a outra fica em Gent/Gand) mas por razões que me escapam as aulas eram em francês e não era permitido tê-las em neerlandês. Influenciados pelo Maio de 68 os estudantes flamengos insurgiram-se contra a discriminação e como resultado passamos a ter a Katholieke Universiteit Leuven e a Université Catholique de Louvain.

Disto desta forma até parece um acontecimento banal mas não é bem assim, a Katholieke Universiteit ficou em Leuven, na Flandres, e a Université Catholique teve de ser construída de raíz... na Wallonie (começou a ser construída em 1969). E no fim ficam a 30km de distância. Criou-se a vila Louvain-la-neuve (nome super original, eu sei) que começou a ser habitada em 1972.

O mais giro nesta história é que a biblioteca também sofreu: de A - M está tudo em Leuven e de M a Z os livros estao na Wallonie. Estes belgas são doidos!

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terça-feira, junho 17, 2008

A Bélgica é perfeita para cartoonistas

Lembram-se de há dias ter mencionado a disputa entre flamengos e wallons sobre as três terrinhas (os três porquinhos)? Pois bem, como a história está longe de terminar o cartoonista Kroll pensou numa solução possível: um túnel. O solo continua a ser da Flandres mas os wallons passam por baixo e continuam a lá morar. Piadas à parte, esta solução faz muito mais sentido do que as propostas apresentadas pelos partidos.

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quarta-feira, junho 04, 2008

As subtilezas belgas

Este cartoon do artista Kroll exemplifica perfeitamente a situação na periferia de Bruxelas. Não sei se se lembram mas Bruxelas tecnicamente pertence à Flandres, basta ver no mapa como dizem os flamengos; contudo é uma região à parte, não só é a única parte bilingue do país como a nível de votos tem muito que se lhe diga. Ora quando há eleições Bruxelas e a sua periferia contam como uma única área, a Flandres como outra e a Wallonie como outra; contudo há três terrinhas na periferia bruxelense que apesar de estarem na Flandres, apesar de estarem rodeadas de flamengos são maioritariamente wallonas. O que é que isto quer dizer? Que se for a Linkebeek (e vale a pena só pelo melhor restaurante Thai na Bélgica) vou falar francês e que se sair dois metros da terrinha tenho de falar flamengo. Os flamengos andam há anos a lutar por estas três terrinhas, sobretudo nos anos mais recentes, ao ponto de ao fim de seis meses de negociações não se podia formar governo porque os flamengos insistiam que estas três vilas começassem a contar para as eleições flamengas e os wallons não podiam ceder porque praticamente só há wallons nas três vilas.

Como o cartoon ilustra as três vilas - os três porquinhos - não se vão deixar apanhar pelo lobo mau - os flamengos- isto é quase poético. Quase. E como é que os flamengos reagem? Um pouco como o Cavaco Silva quando acha que esta a ser modesto, ignoram pura e simplesmente e continuam a insistir no mesmo ponto. Em contra-partida na Wallonie também há três vilas que só falam flamengo e lá há menos sarilho mas há sarilho na mesma. Para evitar que esta situação se repita os flamengos impuseram a regra que para comprar casa ou terreno na Flandres é preciso ou falar flamengo ou provar intenção de o fazer (incrição numa escola, por exemplo), a União Europeia diz que isso é discriminar e não pode ser, os flamengos dizem que não têm medo do lobo mau da comissão... Como disse, isto é quase poético ou épico ou estúpido, já não sei.

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terça-feira, maio 20, 2008

Especial Iraque com toques Monty Pyton

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domingo, abril 20, 2008

As pequenas desilusões americanas

A maior parte das pessoas adora odiar os Estados Unidos, adora ser anti-americano, assim como muitos adoram defender o regime cubano como o paraí­so na terra. Mesmo com razões dí­spares para serem anti-americanos parece haver um sentido de união nestes grupos: seja o capitalismo, seja a guerra do Iraque, seja o presidente Bush ou Hollywood, muita gente acaba por concordar em detestar a América (os Estados Unidos, não a minha prima dos Açores). Os que não detestam abertamente manifestam um desinteresse público curioso: juram nunca visitar o país mas consomem os piores blockbusters do mercado e passam meses a contar aos amigos como o filme foi mau como se isso provasse por A + B que tinham toda a razão em desprezar os americanos.

Se tivesse regras na minha ética mutante uma delas seria a de evitar estes sentimentos generalizados e fortes. Não gosto de sentimentos fortes, fazem-me tremer as mãos; tenho sentimentos fortes o tempo todo mas nunca por boas razões. Ainda agora estou a sentir algo muito forte em relação ao meu portátil que está há três horas a apitar as fases da verificação do disco (ainda não consigo aceder a um único ficheiro, snif) mas por não gostar de sentimentos fortes decido fazer o que muitos portugueses fazem tão bem, esperar que passe.

Por que razão não nos incomodamos tanto com os britânicos, por exemplo? Entraram em força na guerra contra o Iraque e por pertencerem (lá à maneira deles) à União Europeia as decisões tomadas pelos seus maus governos ou governos mal informados afectam-nos mais directamente. No entanto nunca ouvi ninguém dizer “detesto o Reino Unido, nunca lá porei os pés!” Excepto a minha prima Francisca que namorou com um inglês.

Quer-me parecer que gostamos muito de acreditar em utopias, embora de formas diferentes. A ideia de que lá fora as coisas são melhores tem as suas raízes numa utopia também. Seguimos as eleições americanas com mais interesse do que as nossas – aqui podia muito bem cair na piada fácil – olhamos para o Barack Obama com um brilhozinho nos olhos e para as imagens do Bush a receber o Papa com azia.

No fundo, no fundo, mesmo os que insistem no anti-americanismo não conseguem resistir à ideia de um país tão novo ser tão energético, dinâmico e, temos de o admitir, tão capaz quando se decide a sê-lo. Podemos não querer que Portugal seja tão capitalista ou politicamente correcto mas mantemos uma esperança secreta de que um dia trabalhemos tanto como eles por um ordenado igualmente justo, que a nossa literatura seja apreciada como a deles, que a nossa ciência descubra tanto como a deles etc

Não sendo exclusivamente pró-americana incomoda-me o anti-americanismo pura e simplesmente porque não gosto de pôr tudo no mesmo saco, de misturar as coisas; não vou ver blockbusters cheios de explosões e de músculos oleados, leio muita literatura e oiço muita música norte-americana mas separo as coisas. O sistema educativo americano é muito mau para quem não tem dinheiro - ou são muito inteligentes e têm um bom professor que os descubra e ajude entre as suas centenas de alunos ou começam a trabalhar aos 16 anos -não posso chamar um país inteiro de burros conhecendo a realidade, seria como atirar pedras a um ceguinho. E já agora, repararam que os Estados Unidos são o país com mais prémios Nobel?

Um amigo disse-me uma vez que julgava os países pelo seu melhor e não pelo seu pior, uma regra rara em Portugal. Defendemo-nos dizendo que temos mais música do que o fado, mais coisas para além do futebol, mais escritores para além do Saramago no entanto não somos capazes de o fazer para outros países.

Será que preferimos a má língua acima de tudo?

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