domingo, janeiro 11, 2009

Leitura de morte

Há meses li algures uma crítica sobre este livro e anotei o título num dos meus cadernos. Não sabia que iria demorar meses a encontrar o livro (na Madeira) nem que mal chegasse a Bruxelas o iria encontrar na versão original e com desconto. (Mas estou contente por voltar a ler em português.) Por ter passado tanto tempo não me lembro exactamente o que li que me fez querer ler o livro. Posso garantir-vos que de certeza que não tinha lido algo como "vais chorar pelo menos quatro vezes".

A rapariga que roubava livros, the book thief, vale muito a pena a leitura mas após meses de espera deixou-me com uma ligeira sensação de que a montanha pariu um rato. Não sou grande fã de histórias cuja acção decorre numa das grandes guerras, sou um bocado demasiado maricas para dizer a verdade. Contudo a contra-capa avisava-me. Digamos que a ideia de ter a Morte como narradora pareceu-me inovadora e interessante (e foi) e gosto da ideia de uma rapariga que rouba livros.

Eu não estava era a contar com uma rapariga que sofre como uma desalmada junto a personagens que sofrem desalmadamente ou que fazem sofrer. Sempre que a rapariga roubava um livro e o lia o livro parecia ganhar outro alento. As descrições da narradora por vezes pareceram-me um pouco forçadas. A vida das personagens principais rodeou-me completamente, daí o chorar quatro vezes.

Uma vez disse a um escritor português que não tinha gostado do seu livro mas que o dito cujo me tinha feito chorar e que um livro que nos movia era um livro importante. Ou algo assim, já não sei bem. Devia ter ficado calada, até devo ter ofendido o homem... Embora tenha gostado do livro não gostei de tanto sofrimento e dor. Se bem que há partes hilariantes. Leiam se puderem mas se forem tão maricas como eu sugiro verem um filme da Pixar depois.

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quarta-feira, dezembro 10, 2008

Direitos humanos: desde 1948

Vídeo da Amnistia Internacional que relembra os artigos da declaração dos direitos humanos:

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segunda-feira, dezembro 01, 2008

Make love, not CO2!

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domingo, novembro 30, 2008

Festa química

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quarta-feira, novembro 26, 2008

Como é que se diz connard em português?

O meu chefe, que eu considerei amigo até bem pouco tempo informou-me há cerca de uma hora e meia que quando me ajuda com coisas da empresa, por exemplo, explicar-me o que é formação x ou qual é a função y da pessoa n, ou então liga aos seus contactos para obter respostas que eu não tenho que isso faz parte do seu trabalho e que na verdade não tem a ver com o facto de sermos amigos. Ou seja, em troca dessas coisas que eu achava normais ele quer que eu fique mais tempo no escritório. Eu não sabia que as coisas estavam ligadas, sou parva e ingénua. Mas enfim, ao menos aprendi antes de me ir embora. E claro que não vou ficar mais tempo no escritório a mês e meio de ir embora.

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segunda-feira, novembro 17, 2008

covers tão boas que esquecemos que são covers

Um colega meu disse em voz alta e em frente a testemunhas que não se devia fazer versões de músicas, covers ou qualquer coisa parecida. Porquê? Porque são sempre más. Acho sinceramente que baralhou remakes de filmes com covers. Apresentei-lhe uma série de músicas cujas versões são melhores que o original mas naturalmente a maioria só me ocorreu em casa. Portanto vão ter de levar com o meu Top20 de covers tão boas que esquecemos que a versão original existiu. A base para este top foram versões de músicas que normalmente as pessoas não sabem que é uma versão, ou que é tão boa que eu pessoalmente já nem oiço a versão original. Sempre que possível deixo à disposição as duas versões. (Quando o Youtube não me ajudou usei o meu arquivo pessoal). P.S. Há muito mais versões fantásticas por esse mundo fora, o Elvis especializou-se em versões e a Cat Power tem centenas...). 20 - Alien Ant Farm - "Smooth criminal" - original de Michael Jackson.

19- Kt Tunstall - "I want you back" - original de Jackson 5.

18- The Hollies - "The air that I breathe" - original de Albert Hammond.

17 - The Byrds - "Turn, turn, turn" - original de Pete Seeger (e da Bíblia).

16 -Faith no more - "Easy" - original de Commodores.

15 -Nirvana - "The man who sold the world" - original de David Bowie.

14 -Sinead O'Connor - "Nothing compares 2 u" - original de Prince.

13 - Feist - "inside out" - original dos Bee Gees.

12 -The Doors - "Alabama song" - original de Kurt Weill e Bertolt Brecht.

11 - Ike & Tina Turner - "Proud Mary" - original de Creedence Clearwater Revival.

10 - Joe Cocker - "With a little help from my friends" - original de The Beatles.

9 - Harry Connick Jr - "For once in my life" - original de Ron Miller, versão Motown mais popular até hoje de Stevie Wonder.

8 - Jeff Buckley - "Hallelujah" - original de Leonard Cohen.

7- Ben Sollee - "A change is gonna come" - original de Sam Cooke.

6 - Cat Power - "Sea of love" - original de Phil Phillips.

5 - Johnny Cash - "Hurt" - original de Nine Inch Nails.

4 - Elvis Presley - "Hound dog" - original de

Jerry Leiber and Mike Stoller, Willie Mae "Big Mama" Thornton.

3 - Aretha Franklin - "Respect" - original de Otis Redding.

2 - Cat Power - "I found a reason" - original de Velvet Underground.

1 - Jimi Hendrix - "All along the Watchtower" - original de Bob Dylan.

Agora se não se importam vou enviar isto ao meu colega...

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quinta-feira, novembro 06, 2008

As queixas de George Orwell

Nem tudo correu bem quando viveu na Birmânia:

"In Moulmein, in lower Burma, I was hated by large numbers of people—the only time in my life that I have been important enough for this to happen to me.

In the end the sneering yellow faces of young men that met me everywhere, the insults hooted after me when I was at a safe distance, got badly on my nerves. The young Buddhist priests were the worst of all.

Theoretically—and secretly, of course—I was all for the Burmese and all against their oppressors, the British. As for the job I was doing, I hated it more bitterly than I can perhaps make clear. In a job like that you see the dirty work of Empire at close quarters. The wretched prisoners huddling in the stinking cages of the lock-ups, the grey, cowed faces of the long-term convicts, the scarred buttocks of the men who had been flogged with bamboos—all these oppressed me with an intolerable sense of guilt.

I perceived in this moment that when the white man turns tyrant it is his own freedom that he destroys. He becomes a sort of hollow, posing dummy, the conventionalized figure of a sahib. For it is the condition of his rule that he shall spend his life in trying to impress the “natives,” and so in every crisis he has got to do what the “natives” expect of him.

And my whole life, every white man’s life in the East, was one long struggle not to be laughed at."

O texto está disponível online.

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quinta-feira, outubro 30, 2008

Morde a língua - traduções directas

Apesar de trabalhar em francês e inglês e falar inglês em casa, o meu cérebro ainda acha que é português, ora vejam o que ando a dizer - gostaria de salientar que isto foram coisas saídas de conversas animadas, sou perfeitamente capaz de traduzir melhor:

That's how Germany lost the war!

You dont put a spoon between a husband and a wife...

Piece by piece the chicken gets full.

You're just throwing green fruits to see if the tree gives you a good one.

Uma que eu ouvi e que ainda repito entre risinhos (não melhora com a idade) é de um senhor flamengo meio maluco. Depois de lhe ter feito uma cara confusa explicou-me que a ideia é que eu não teria ganha-pão. Depois da explicação tive um ataque de riso que acabou com a conversa. Depois ainda dizem que eu não sou sociável. A frase deve soar muito bem em neerlandês mas tal como as minhas frases anteriores dita assim só se arrisca a causar confusão. Imaginem-me a explicar que queria viajar e que para isso estava disposta a gastar as minhas economias... Ao que o senhor responde:

Olha que não vais fazer sandes.

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terça-feira, outubro 28, 2008

For the Bible tells me so

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quinta-feira, agosto 28, 2008

Conseguem ver?

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domingo, agosto 24, 2008

O homem invisível desconhecido

" All my life I had been looking for something, and everywhere I turned someone tried to tell me what it was. (...) I was looking for myself and asking everyone except myself questions which I, and only I, could answer." Ralph Ellison, Invisible man, P.15

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sábado, agosto 16, 2008

Inspiração

Este senhor sofre de esclerose múltipla e pediu a um fotógrafo profissional para o ajudar a tirar uma foto que o incitivasse, que lhe desse mais coragem para viver e lutar pelo filho de 12 anos. História completa aqui.

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quinta-feira, julho 31, 2008

Faculdade de letras

Desde o fim de semana que não ando a dormir bem, ora é o calor - lembram-se de ter falado do verão esquizofrénico? Bem, depois de duas semanas de chuva ou ameaça de chuvca, a Bélgica está envolta de um calor estúpido (hoje estão 33 graus) e de uma humidade rara (às 22h estava com a roupa colada ao corpo) - ora é um vizinho que gosta de música turca e de Celine Dion e a falta de sono começa a afectar-me.

Ontem de manhã o despertador tocou às 7h30, liguei o telemóvel e suspirei; acordei às 8h deitada na diagonal com o telemóvel na mão e (ainda a dormir ) corri para o trabalho. Com a pressa esqueci-me do cartão de acesso, dirigi-me à recepção para pedir um temporário e reparei que também não tinha o BI, pedi desculpas e procurei algo com uma foto e achei o meu cartão da FLUL. Sim, eu ainda tenho o cartão da faculdade e o da biblioteca nacional apesar de não viver em Portugal há quase três anos. Expliquei que era o cartão da faculdade mas que tinha uma foto, o segurança disse que não havia problema. Acrescentei que o meu nome tinha uma letra mal na base de dados. Também não havia problema, assegurou-me. Vi-o a escrever quatro ou cinco vezes e nada. Voltei a dizer o meu nome e nada. Vi-o a soletrar algo que não se assemelhava ao meu nome. Então reparei no que estava escrito na parte de trás do meu cartão, ao lado da minha foto inocente do primeiro dia de aulas do primeiro ano (17 aninhos, snif). Dizia em letras maiúsculas:

FACULDADE DE LETRAS. Ano lectivo 2004/2005.

Ao menos percebi por que razão o segurança não conseguia encontar o meu nome no sistema.

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quarta-feira, julho 02, 2008

Especial banda desenhada PT 5

O especial de hoje volta a incluir obras-primas, livros para todas as idades, BDs para crianças e adultos e alguns dos meus volumes preferidos. Se por acaso lerem algumas das obras que mencionei digam-me o que acharam; lembraram-se de outras obras que ainda não mencionei, apitem... têm um gosto particular mas não sabem o que ler, pode ser que vos possa sugerir qualquer coisa. Lembrem-se que estes especiais também são vossos.

Maus: A survivor’s tale, Art Spiegelman. Dizer que este livro é apenas um relato de um sobrevivente do Holocausto é diminuir a sua importância e arte. O livro conta as experiências de um judeu polaco e a história da sua sobrevivência assim como a sua relação conflituosa com todos os que o rodeiam demonstrando como os efeitos de uma guerra podem ser vistos em gerações posteriores. Os judeus são representados como ratos (maus em alemão), os nazis como gatos, os americanos como cães etc o que mostra o ridículo do racismo e de uma forma bizarra ajuda a humanizar ainda mais a história. Não deixem que o tema vos afaste do livro como me afastou durante muito tempo, Maus é uma obra-prima sobre o que é ser humano, sobre história e os efeitos desta numa família. Depois de ganhar o prémio Pullitzer recebeu tanta atenção que a obra de dois volumes passou a ser utilizada em algumas escolas para abordar o tema do Holocausto a crianças de diferentes idades. Guia para professores aqui. Para fãs do canal história, de Persepolis, de Blankets e de O diário do meu pai.

Y: The last man, Brian K. Vaugn. Já aqui falei sobre esta série (10 volumes), ideal para quem gosta de suspense e de ficção científica, mas não me importo de voltar a elogiar a obra. Quando acabei o primeiro volume fui logo ao Book Depository encomendar o resto da série. Todos os homens do planeta morreram excepto um aprendiz de mágico e o seu macaco de estimação, tem a cabeça a prémio e a responsabilidade de ser um único sobrevivente mas será? As mulheres começam a reconstruir pouco a pouco, quase todos os pilotos morreram, há milhões de carros nas estradas ainda e muitas memórias de familiares perdidos. A história é descrita de uma forma soberba, com detalhes irónicos e suspense digno de Hitchcock. Agora que se vivem os momentos após a praga falta também saber o que a causou. Yorrick tem também de fugir às mulheres que se consideram as Filhas das Amazonas e que os homens eram uma praga. No meio disto há ainda que domesticar o seu macaco que insiste em atirar cócó a toda a gente. Para fãs de Battlestar Gallactica, Bone, Hitchcock, de Buffy e de The escapist.

Goodbye Chunky Rice, Craig Thompson. O autor de um dos meus livros preferidos, Blankets, começou a sua carreira com este pequeno livro. Chunky Rice é uma tartaruga pequenita, com olhos redondos de partir o coração que não se sente bem na sua cidade, isto apesar da amizade profunda que o une a Dantel um ratinho de olhos enormes. Chunky decide partir e encontrar o seu lugar no mundo, este pequeno volume conta a história dessa partida, dessa busca e da força dos laços de amizade; se há livro que sabe explicar como é difícil partir e deixar alguém para trás, como é difícil ter saudades é este.O livro conta também com duas gémeas siamesas estranhas, dois irmãos separados por anos de ressentimento e uma bela colecção de histórias de marinheiros. Não percam este belo conto sobre a amizade. Para fãs de Blankets, Bone, Owly, de Jojo, de Game Over e de fofices.

Small Favors, Colleen Coover. Coover é agora reconhecida como a Milo Manara das lésbicas e encontrou nesta série a sua galinha dos ovos de ouro. Small favors é estritamente para adultos mas enganem-se os que acham que é apenas sexo, humor e aventuras não faltam. Os volumes de "Girly porno comic" contam as aventuras sexuais de um casal de lésbicas nos Estados Unidos, sim, é tudo explícito mas sem ser reles, sem haver silicone e às vezes com um certo toque de sado-masoquismo mas tudo na dose certa. Não é preciso ser homosexual para desfrutar desta leitura, a imaginação e luxúria de cada página são razões suficientes. Quem sabe se não apanham uma dica ou outra? Para quem gosta de sexo e de rir, simples, não?

Usagi Yojimbo, Stan Sakai. Apesar do título pomposo esta série é uma excelente forma de entrar no vasto mundo das mangas sem tropeçar em Pokemons (não tenho nada contra mas não é para mim), é igualmente uma excelente forma de dar os primeiros passos na cultura Bushido, o código de honra dos samurais. Usagi é um samurai ronin, sem mestre, que vagueia pelo Japão oferecendo os seus serviços como guarda-costas. Apesar das inúmeras cenas de luta e batalhas Sakai raramente mostra sangue ou violência oferecendo a velocidade e habilidade de Usagi como justificação o que torna a obra ideal para qualquer idade. Apenas o vilão Hikiji tem forma humana todas as outras personagens são representadas por um animal diferente oferecendo cenas de batalhas dignas de um zoológico. Para fãs de mangas ou para quem não sabe onde começar, para apreciadores de artes marciais e fãs de Kill Bill.

Owly, Andy Ruton. Descobri esta pérolazinha recentemente e estou completamente rendida, um crítico descreveu Owly como o equivalente a receber um abraço e dois volumes depois só posso concordar. Owly é uma coruja bondosa mas extremanente só que pode mostrar a qualquer pessoa de qualquer idade como é importante ter amigos e como às vezes são precisos sacrifícios. Com apenas desenhos super detalhados e alguns símbolos a história avança sem uma única palavra. Ao folhear a obra muitos pensarão que é apenas para crianças a partir dos 2 ou 3 anos mas eu vi dois trintões soltarem alto um "awwww" durante a leitura. Para corações de manteiga, fãs de Jojo, Mamette e de Miyazaki.

Próximo especial será dedicado a Will Eisner, o Papa das grapic novels (romances gráficos). Daqui a dias chega o segundo especial Webcomics.

Especial BD 1. Especial BD 2. (especial clássicos) Especial BD 3. Especial BD 4.(especial crianças) Especial BD 4.5.

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segunda-feira, junho 23, 2008

Importa-se de repetir?

Eu disse:

- Encomendas livros pela internet sem pagar portes de envio.

http://www.bookdepository.co.uk/

Pena que não sabia disto na semana passada quando encomendei 20 livros BD pela Amazon, cujos portes de envio são verdadeiramente criminosos.

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quinta-feira, abril 24, 2008

Pago pela empresa dá no que dá

Comecei ontem as minhas aulas de neerlandês organizadas e pagas pela minha empresa. É um curso intensivo de dois meses, duas vezes por semana, disseram-me.

Após a primeira aula posso dizer-vos que me sinto muito ultrapassada e velha. A escola ao que parece desenvolveu um método original de ensino com bons resultados mas eu estava há espera de uma sala de aulas, mesas, cadeiras, um caderno, um lápis e uma caneta, certo? Na verdade temos cadeirões, não escrevemos, pelo menos por enquanto, e andamos pela sala, arrastamos a mobília e cada palavra tem um gesto (lembrei-me das minhas aulas de língua gestual portuguesa). Não começamos pelo básico "olá" mas sim por frases como "onde está o meu telefone?", "temos de nos despachar" etc Ah, e cada um de nós tem um nome nerlandês falso e não podemos utilizar os nossos nomes, ou seja, quando tínhamos de nos apresentar tínhamos de olhar para a etiqueta com o nome e temos de memorizar dois nomes para cada pessoa, o verdadeiro e o falso. Muito estranho.

Saí da sala ainda a gesticular e cansada; experimentei as minhas palavras novas com a primeira flamenga que apanhei a jeito.

- Mas estás a falar com sotaque holandês?? A ******* da tua professora é holandesa? *******! Tens de reaprender tudo, não podes viver cá e falar como uma **** duma holandesa!

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domingo, janeiro 13, 2008

O que o inverno na Letónia e na Bélgica me ensinou

É que se em Janeiro ou Fevereiro estiver um belo dia de sol e céu azul, está um frio do caraças lá fora.

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quarta-feira, outubro 04, 2006

A questão

Ocorreu-me que não expliquei bem a questão. Há dias proferi o que alguns consideraram um sacrilégio, disse preferir utilizar a língua inglesa em certas situações. Permitam-me que me explique melhor: sim, o português é a minha língua materna e sim, gosto muito de falar português e irrito-me quando cometo erros porque deveria saber esta língua muito melhor e apesar de às vezes não parecer é e será a língua que conheço melhor. Contudo, acredito que em certas ocasiões o inglês me é mais do que útil (no sentido de poder comunicar com pessoas de toda a parte do mundo), é também mais acessível e fácil.

Não estou a pensar em termos literários, nesse caso escolheria o português mas apenas para os autores portugueses, ler traduções -nem menciono as inúmeras traduções ridículas que existem - é sempre um risco porque o texto é diferente noutra língua ou como diziam alguns dos meus professores e colegas, é outro texto (em alguns casos extremos eram mesmo outros textos tais eram as alterações).

Em situações em que estou menos à vontade como quando entro numa sala cheia de gente vestida a rigor, em entrevistas de emprego e o pesadelo dos meus pesadelos, a bendita conversa de circunstância prefiro falar inglês porque me sinto mais à vontade.

Não quero com isto dizer que o meu conhecimento da língua inglesa é mais aprofundado do que o da língua portuguesa. A questão é que a equação do inglês é mais simples; sei muito mais facilmente como ser educada ser ser demasiado educada, não apenas porque não tenho de me preocupar com o "tu" e o/a "senhor/a", mas sim porque a língua inglesa é mais sintética e menos ambígua. Claro que o inglês também é traiçoeiro (esta frase fora de contexto parece referir-se a uma pessoa de naturalidade inglesa) mas quer seja porque já vi demasiados maus filmes com entrevistas que correram mal ou cheios de conversa em elevadores ou porque falar em inglês ajuda a quebrar o gelo, a verdade é que nos momentos que já referi se pudesse utilizava sempre ou quase sempre o inglês.

E outra verdade incómoda é que cada um tem a relação que tem com as línguas. O problema, na minha humilde opinião, é que queremos sempre ter amigos no clube ou achar que só há um certo e um errado.

Por exemplo, eu acho errado que se ache errado dizer palavrões; se a língua é tão arbitrária como dizem eu poderia utilizar "guarda-chuva" em vez de "merda" mas a sociedade optou por definir palavras normais e permitidas e as não permitidas. E eu desde que me apercebi disso que faço questão de dizer palavrões todos os dias. Não os digo no trabalho, em funerais etc porque sei que as pessoas não pensam como eu e até estou habituada mas irrita-me (A tal questão de querer amigos no clube). Digo palavrões porque acho que não são palavras feias, são o que as pessoas fazem delas. Uma colega de faculdade quando tinha sete ou oito anos ficou de castigo um dia porque chamou o pai de "reaccionário" (influências da Mafalda).

"Não se deve julgar os homens pelas suas opiniões, mas por aquilo que essas opiniões fazem deles."(Georg Lichtenberg, Observações e Pensamentos. )

Apesar de parecer campanha eleitoral, não pretendo trazer malta para o clube até porque a maioria dos meus amigos não tem problemas de timidez, embaraço, falta de assunto etc logo não precisa desta utilidade do inglês. E definitivamente não quero tornar-me num tio que eu cá sei que fica meses e anos a remoer nas coisas e a reclamar aos altos berros sobre as coisas que não percebe ou com as quais não concorda. E porque quando posso acompanhar a lógica gosto que me mudem a opinião. Mas gosto que me deixem explicar. E será sacrilégio também ser mais fácil explicar por escrito que oralmente?

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