Showing posts with label globalização. Show all posts
Showing posts with label globalização. Show all posts

Friday, January 13, 2023

SOMA-ZERO, CONTAS ERRÁTICAS

 



The Economist

The Economist was founded in 1843 to champion the cause of free trade. Open markets and limited government still lie at the heart of our worldview. Our cover this week draws on those principles, to warn of a looming threat to ideas that have helped bring about an astonishing improvement in people’s lives.
 
An era of zero-sum thinking has begun. Countries are racing to subsidise green industry, lure manufacturing away from friend and foe and restrict the flow of goods and capital. Mutual benefit is out and national gain is in. 
 
For many in Washington, muscular industrial policy holds a seductive appeal. America has unleashed vast subsidies, amounting to $465bn, for green energy, electric cars and semiconductors. These are bolstered with requirements that production should be local. Bureaucrats tasked with scrutinising inward investments to prevent undue foreign influence over the economy now themselves hold sway over sectors accounting for 60% of the stockmarket’s value. 
 
Fans argue that this will help seal America’s technological ascendancy over China, which has long pursued self-sufficiency in vital areas using state intervention. As carbon pricing is politically unfeasible, it could also foster decarbonisation. And it reflects a hope that government intervention will succeed where private enterprise failed, by reindustrialising America’s heartlands and even reviving support for market capitalism. 
 
Such thinking is misguided. If zero-sum policies are seen as a success, abandoning them will become only harder. In real­ity, even if they do remake American industry, their overall effect is more likely to cause harm by corroding global security, holding back growth and raising the cost of the green transition. Even when it is inspired by the best of motives, zero-sum thinking threatens to make everyone poorer and the world more dangerous.





Friday, October 30, 2020

AFIRMA PIKETTY

Aqui:   

" Qual é a mensagem deste novo livro, Capital e Ideologia?
Primeiro é a de que se queremos resolver os problemas actuais, temos de olhar para a história da desigualdade, para a história dos regimes desigualitários. E a segunda grande mensagem é de optimismo. Quando olho para a História, o que vejo é uma evolução rumo a mais igualdade e mais prosperidade e penso que é possível continuar nessa direcção. Se pegarmos nas lições da História, será possível continuar a avançar.

Correl . - Thomas Piketty vira Marx do avesso?

Tuesday, March 28, 2017

INTELIGÊNCIA CONCORRENCIAL


Chamam-lhe "inteligência artificial" mas a designação é imprecisa porque um robô apenas se distingue de outros artefactos que a humanidade foi desenvolvendo ao longo de milénios, com o intuito de substituir o esforço humano na produção de bens e serviços, pela utilização dos desenvolvimentos científicos nomeadamente da área que, grosso modo, se designa por ciência da computação. Será o seu impacto nas relações sociológicas no futuro superiores, em termos relativos, à invenção da roda, do motor de combustão, da lâmpada de Edison, por exemplo? Sem dúvida, que sim, porque a humanidade cresceu exponencialmente e o planeta, em termos de distância-tempo, encolheu. 

A globalização, apesar das reacções violentas que suscita, vai continuar, salvo se a humanidade se auto liquidar. O planeta não é extensível e não há muros de pedra ou cimento que sustenham a inevitável e crescente mobilidade das pessoas entre todos os cantos do mundo. Globalização significa concorrência, competitividade, e competitividade determina, além do mais, redução do trabalho humano necessário para os mesmos volumes de produção. E os robôs, sem exigências,  salariais nem quaisquer outras, para além de manutenção mínima, não são entes inteligentes mas artefactos concorrentes do emprego humano concebidos e produzidos pelo homem. 

O futuro pacífico da humanidade, se não estiver comprometido pela escassez de recursos naturais - a água, por exemplo - passa pela introdução de meios e políticas que amorteçam os conflitos sociais decorrentes da crescente escassez do trabalho a nível mundial. Não haverá trabalho para todos mas a solução não passa pela destruição dos robôs. O estado social, que tantos diabolizam nestes tempos em que o populismo cresce como escalracho, é a única via para a humanidade sobreviver à crescente e generalizada redução do emprego. Não, por acaso, começam a a parecer propostas de pagamento de salários condignos a quem opta por aceitar não trabalhar. 

Contudo, o crescimento exponencial observado no gráfico, nos últimos cinco anos, e previsto até ao fim desta década, não parte de uma base relativamente reduzida, há quatro décadas. Em 1980, escrevia Jean-Jacques Servan-Schhreiber em "O Desafio Mundial": Há hoje cerca de sessenta mil robots no total, no mundo, instalados em fábricas, como os que vimos na Toyota. A sua localização é a seguinte: 6000 robots na Alemanha Federal, 3200 nos Estados Unidos, 600 na Suécia, 300 em França, 180 na Grã-Bretanha, uma centena, ou menos, em meia dúzia de outros países, e 47000 no Japão". 

A deslocalização da indústria não foi apenas pressionada pela concorrência salarial. A liderança japonesa na indústria automóvel contou bastante com a robotização. Quando o sr. Trump promete aos desempregados de Detroit recuperar a indústria automóvel norte-americana e criar milhares e milhares de novos empregos, e abolir o incipiente estado social norte-americano, em que empregos está a pensar Mr. Trump?

Seguramente no dele, da família dele, e dos amigos mais chegados.  

----
O gráfico é copy/paste deste  artigo publicado esta semana no Economist.

Sunday, October 02, 2016

ALGUÉM TERÁ DE CEDER

Caro E.,


Aquele artigo* que nos enviaste há dias foi objecto de alguns comentários no almoço de sexta-feira passada. A parábola, que admitimos ser apócrifa, nenhum dos presentes se recorda de ter ouvido Pereira de Moura citá-la, é poliédrica, sugerindo leituras diferentes. 

Desde logo, conclui-se que, na escala de valores do amigo rico, a amizade está mal posicionada: a continuidade da sua presença no almoço vale menos que dez euros por semana. E o mesmo pode dizer-se da escala do medianamente abonado para quem a amizade vale menos que cinco euros semanais. Foram os operários, por outro lado, pouco avisados nas suas reclamações? Sendo, em princípio, menos habilitados merecem atenuantes. 

Numa abordagem menos restrita, na discussão sobre a equidade fiscal, por exemplo, consegue-se uma observação mais nítida da forma como pode atingir-se a sustentabilidade do equilíbrio nas relações sociais. 
Assuma-se que os impostos arrecadados medem 100 unidades, a despesa pública 120, e o défice uns insustentáveis 20. 
Um governo que herdou esta "pesada herança" propõe-se reequilibrar as contas.
Constata que as classes altas pagam, de impostos, 50, as classes médias, 25, e as classes baixas, 25.
O reequilíbrio exige redução na despesa pública mas não evita  um brutal aumento de 15% nos impostos. Como distribuir a carga adicional?

Não há critérios de equidade fiscal unanimemente aceites.
Mas há princípios geralmente tidos como razoáveis. Por exemplo, a isenção de impostos sobre rendimentos baixos até determinados limites; a progressividade das taxas, etc. 
Mas também há situações de cumprimento das obrigações fiscais geralmente conhecidas: aqueles que trabalham por conta de outrem são compulsivamente cumpridores por retenção dos impostos na fonte; os rendimentos mais elevados, sujeitos a taxas de tributação altas, são mais propensos à evasão fiscal.
Ora a evasão fiscal é homóloga do rico que abandona a mesa de convívio semanal por 10 euros. Ao abandonar a mesa, a carga fiscal fiscal evadida recairá sobre os outros contribuintes. E quanto maior o número dos que abandonam maior é a carga sobre os que ficam. 

Atravessamos um tempo de transição para uma sociedade de emprego escasso. Pela ordem natural da vida, já não iremos sentir as consequências sociológicas brutais do desenvolvimento tecnológico sobre a produtividade e a consequente redução massiva do emprego mas já observamos alguns traços desse caminho desconhecido. 

Há dias, Martin Wolf recordava - vd. aqui - o trilema que se coloca à convivência conjunta do capitalismo com a democracia e a globalização. Podem conviver, afirma Dani Rodrik, dois a dois mas não pacificamente os três em simultâneo. Alguém terá de ceder. 
A acumulação de capital no extremo do centil mais à direita da curva de distribuição de rendimentos é incompatível com uma sociedade pacífica. O estado social é uma imposição não já apenas de solidariedade social mas  da segurança interna das sociedades futuras. 

São os mais deserdados das sociedades ocidentais (EUA, França, UK, etc.) que ameaçam colocar no poder aqueles que lhes prometem encerrar as portas à imigração e garantir-lhes emprego, mas estão equivocados. A nossa aldeia é cada vez mais global, o reerguer das fronteiras alfandegárias e a construção de muros não augura senão a emergência do fantasma da guerra.


Isabel Vaz citou um cenário dos anos 60, há cinquenta anos, portanto. Daqui a 50 anos, provavelmente já não haverá operários, existirão legiões de pessoas que não sei o que farão mas dificilmente concebo que passem sem um almocinho pelo menos de vez em quando. 
---
*
"Doutores e Engenheiros", de Isabel Vaz, publicado na  revista Visão

Resumidamente, conta a parábola que sete amigos, antigos colegas na escola primária, se reuniam às quintas-feiras para almoçar. 
Dos sete, um tinha acumulado fortuna, outro era da classe média, os restantes cinco eram operários.
Metade da conta, sempre 100 euros, era paga pelo mais abonado, o quadro médio pagava um quarto, os operários pagavam o outro quarto. Assim, o rico pagava 50, o médio 25, e a cada um dos outros cinco, 5.
Pressionado pela concorrência, o restaurante reduziu os preços em 20%, e a factura dos sete amigos para 80 euros.
O rico pagou 40, o médio 20, e cada um dos cinco, 4 . 
Protestaram os operários que o rico tivesse beneficiado de uma redução de 10 euros, o médio de 5, e eles, operários, apenas 1 euro cada. 
Abespinhou-se o rico com esta contestação dos amigos operários, e não voltou mais aos almoços.
O médio fez o mesmo, no fim de contas os operários se quisessem continuar com os almoços teriam de pagar cerca de 11 euros cada um. 
Acabaram-se os almoços e o restaurante fechou. 

"E foi então que os proletários perceberam que aqueles que acumulam dinheiro, ou poupança, ou riqueza, também são úteis para ajudar a pagar as contas"

Friday, September 02, 2016

ÀS VOLTAS COM UM TRILEMA

Há cinco anos comentei aqui "The globalization Paradox", de Dani Rodrik, professor em Harvard, que concluía pela conflitualidade suscitada pela conjunção da democracia, capitalismo e globalização. É pacífica, concluía o autor, a compatibilização entre quaisquer dois destes três vectores, mas a simultaneidade dos três é conflituante. Esta hipótese já tinha sido, resumidamente, publicada aqui em Junho de 2007.

Há dias, Martin Wolf citava "The inescapable trilemma of the word economy" de Rodrik em apoio das suas conclusões em "Capitalism and democracy: the strain is showing" onde o principal colunista de economia do Financial Times observa a origem da emergência de propostas políticas populistas que estão a angariar crescente adesão de eleitores em países onde até há relativamente pouco tempo era suposto a democracia e o capitalismo estarem bem cimentados e à prova de toda e qualquer concorrência global. 

Não estão, conclui M Wolf, e a fractura já está à vista.
A globalização gerou multidões de descontentes (Stiglitz publicou "Globalization and its Discontents" em 2002) que, ameaçados pela perda de poder de compra, pela falta de oportunidades de emprego, alinham-se pelas propostas de demolição de um sistema democrático localmente igualitário num meio capitalista, agora global, por natureza não igualitário.

É deste trilema, já constatado e dissecado há algum tempo, que emergem os populismos que no passado ainda não longínquo alçaram os autoritarismos que esmagaram democracias.
Pode voltar a acontecer?
Quando as posições dos eleitores se extremam e o centro político se contrai, porque se contrai a classe média, o edifício democrático tende a desmoronar-se com a pressão dos extremos, que, como se sabe, se tocam.

Avisa Wolf: "Se pretendemos que se mantenha a legitimidade do nosso sistema político democrático, a política económica tem de ser orientada no sentido da promoção dos interesses da maioria e não de poucos. ... O casamento entre a democracia liberal e o capitalismo necessita de algum carinho. Porque não pode ter-se por definitivamente garantido"

Friday, December 12, 2014

ECONOMIA ABSURDA

Chamam-lhe  o "Yixinou", um comboío chegado esta semana a Madrid, que inaugurou uma linha directa de mercadorias entre China e Espanha. Percorreu 13000 quilómetros em 21 dias, atravessou oito países, transportando 70 contentores de papelaria, artesanato e produtos de consumo doméstico. Metade dos contentores saídos em meados de Novembro da costa leste chinesa foram descarregados em Brest, na Bielorrússia. Está previsto que o "Yixinou" regresse depois do Natal carregado com produtos espanhóis. A Espanha é o sétimo parceiro comercial da China dentro da União Europeia e a China o primeiro parceiro comercial de Espanha fora da UE. As relações comerciais entre os dois países atingiram o ano passado os 20 mil milhões de euros.

É racional o comércio a tão longas distâncias de produtos que não exigem, certamente, mão-de-obra altamente qualificada, investimentos elevados, tecnologias não dominadas em qualquer dos extremos do traçado? Racional, no sentido que decorre de razões económicas prevalecentes num mercado globalizado onde os concorrentes se confrontam armados com os respectivos custos de produção e distribuição, sem dúvida. Mas porquê a Espanha, porquê a Bielorússia, se os produtos chineses transportados no "Yixinou" são papelaria, artesanato e produtos de consumo doméstico, segundo a notícia?

Só encontro uma justificação possível para a apetência dos nossos vizinhos espanhóis (não conheço medidas da nossa) para estes made in China: o preço e o gosto pelo kitsch. É impressionante o stock à venda, lá e cá,  de imagens de "Nossa Senhora", de S. José, presépios, com burrinho, vaquinhas e borreguinhos nas encostas de musgo sintético, com casinhas a fumegar, flores de todas as cores, de Cristo Crucificado, além de outros símbolos de veneração católica, made in China. 
.
Já não há artesania em Espanha? Artesanato, há, mas é caro.  "Artesanato industrial", suponho que é assim que se designa a coisa,  pelos vistos, não.
---
Mais:  vd. aqui, notícia do El País de que tinha chegado a Madrid o primeiro combóio de mercadorias
Correl. - Una mini España en Shangai


Tuesday, January 28, 2014

MAKE MONEY, NOT WAR

O FT publica hoje um artigo de Gideon Rachman - Growth and globalization cannot cure all the world´s ills - que respiga algum contraditório das conclusões com que a gente abonada deste mundo reabastece anualmente o seu depósito de convicções nas reuniões de Davos. 

Resumidamente: Tal como os micróbios ou as bactérias vão criando resistências e tornando progressivamente menos eficazes os métodos de combate clínico também o suposto remédio mais eficaz - crescimento a globalização - contra as doenças sociais do mundo apresentam progressivos sinais de perda de potência.

E aponta para aquilo a que chama os três superbugs mais preocupantes: O alargamento do conflito no Médio Oriente, o crescimento do conflito sino-japonês, o crescimento das desigualdades sociais nas economias ocidentais e as ameaças de conflitos sociais que essas desigualdades potenciam. Têm, ou é esperável que venham a ter, o crescimento económico e a globalização, contribuido para resolver ou suster o crescimento destes conflitos? Parece que não, e as perspectivas não vão no sentido de uma contenção da sua progressão.

No Médio Oriente, Hassan Rouhani, o presidente do Irão, eleito em meados do ano passado pretende que a economia iraniana seja uma das 10 maiores do mundo, uma música agradável para os ouvidos da quase totalidade dos presentes em Davos. E, no entanto, não se observa qualquer resultado de regressão do fundamentalismo jihadista, proseguindo os combates sem tréguas na Síria. Está confinado o jihadismo aos países pobres, onde a indigência atinge a maioria da população? Não está. Há muitos jihadistas a combater na Síria que residiam na Europa. 

Na Ásia, nunca as relções comerciais entre a China e o Japão foram tão intensa nem tão interdependentes as suas economias. E, no entanto, a hipótese da emergência de um conflito bélico de consequencias imprevisíveis está muito longe de poder ser descartada. 

Nos EUA a desigualdade chocante entre a acumulação da riqueza em 1% da população e o resto está a aumentar o descontentamento generalizado;  na Europa, a mesma causa, ainda que não tão extrema, está a chocar movimentos radicais e nacionalistas que degeneram em confrontos xenófobos e racistas susceptíveis de se tornarem incontroláveis de um momento para o outro. 

Que fazer? Se não há alternativa, o capitalismo é ainda o melhor remédio, defendem aqueles que passaram por Davos e estão (ou julgam-se) imunes às consequências dos superbugs. 

Monday, March 19, 2012

NO FUTURO, NÃO VAI HAVER EMPREGO PARA OS MENINOS

Um dos temas a que mais reflexões tenho anotado neste caderno de apontamentos é o trinómio, globalização, produtividade e emprego. O outro é a Justiça (que não temos). Vezes sem conta, quando o assunto vem à baila, ou o puxamos a propósito de outro tema de qualquer modo correlacionado, tenho afirmado que "um dia quem quiser trabalhar tem de pagar por isso". Ninguém quer imaginar o mundo económico e social em que nascemos, crescemos e vivemos, do avesso.

E, no entanto, esse virar do avesso vem acontecendo sem que economistas e sociólogos o queiram encarar, interpretar para descortinar saídas que possam evitar uma ruptura que, se acontecer, será apocalíptica. O mundo anda preocupado com as finanças porque o reequilíbrio financeiro é urgente mas o aspecto mais grave da crise é o combate pelo emprego. A globalização sem regras acelerou o crescimento da produtividade ao mesmo tempo que determinava que factores de competitividade deprimentes (p.e., menores ou nenhumas garantias de segurança social) provocassem a deslocalização de indústrias desempregando nuns lados o que empregou noutros.

Globalmente, para níveis de produções crescentes são requeridos níveis de emprego decrescentes. Em sistema de mercado concorrencial o resultado não pode ser outro, se tudo o resto se mantiver constante: os preços do trabalho descem.

O programa de apoio a  estágios como forma de minimizar a redução do emprego jovem e, eventualmente, aumentar as capacidades das empresas de acolhimento, não é, obviamente, senão uma solução várias vezes repetidas no passado com os resultados que se conhecem. Avisava Albert Einstein: "Insanity is doing the same thing over and over again, expecting different results".
 
O desemprego aumenta quando há tanto para fazer neste país. Há um ano havia um consenso alargado acerca da prioridade que deveria ser dada às actividades económicas transaccionáveis, isto é, aquelas que têm se se bater com os concorrentes externos. O que é que foi feito nesse sentido, entretanto? O que fizeram os bancos, e particularmente a Caixa Geral de Depósitos, para mudarmos de paradigma? O que fizeram para privilegiar as exportações e, como auto defesa comum, preterirem os financiamentos às importações?
 
O ministério da Economia mora na Horta Seca. Quem rega a economia consoante os seus próprios interesses são os bancos. Se queremos reduzir o desemprego impõe-se que os bancos reguem de acordo também com esse objectivo. Ou seca tudo.
 
No futuro, dizia Agostinho da Silva, que em 2006 a propósito deste assunto citei aqui, não vai haver emprego para os meninos. Esse futuro, quero acreditar, ainda vem muito longe. Mas já está a começar a acontecer.

Monday, February 20, 2012

O PARADOXO DA GLOBALIZAÇÃO

O Paradoxo da Globalização - Democracia e o futuro da economia mundial - de Dani Rodrik foi editado na primavera do ano passado nos EUA, mas suponho que não se encontra ainda à venda em Portugal traduzido em português. Comentei-o, sucintamente, aqui e, em diversas notas colocadas neste bloco, tenho referido vários dos tópicos suscitados por Rodrik.

Não sendo uma obra voltada especificamente para a análise dos problemas com que a União Europeia se defronta, muitas das questões para as quais, nós, europeus, sobretudo das economias mais fragilizadas, não encontramos respostas, encontram naquela obra um contributo que deveria ser merecedor de muito mais crédito do que tem sido.

Passados seis meses, voltei a ler o meu apontamento e a reler o que no livro sublinhei ou comentei nas margens, na altura. Continua impressionante a actulidade do diagnóstico de Dani Rodrik.

É uma lástima que não exista tradução em português, suponho. Se existir, ou se a edição americana se encontrar disponível por perto, não deixem de o ler.

Monday, January 23, 2012

ACERCA DO FUNCIONAMENTO DA AUSTERIDADE

De passagem por Lisboa, Stiglitz voltou a deixar a mensagem que tem transmitido desde o início da crise na Europa : a austeridade não é solução e acabará por afundar o euro. Desta vez, ironicamente, resumiu as suas perspectivas acerca do tema numa frase concisa: "Faremos história se a austeridade funcionar".

Há 10 anos, Stiglitz publicou "Globalization and its Discontents", a obra de divulgação do seu pensamento de política económica mais citada em todo o mundo. Em 1993 tinha deixado a Universidade para presidir ao Conselho de Assessores Económicos do Presidente Clinton. Entre 1997 e 2000 foi Economista-Chefe e Vice-Presidente do Banco Mundial. No prefácio de "Globalization and its Discontents" afirmava "Escrevi este livro porque quando estava no Banco Mundial, observei em primeira mão o efeito devastador que a globalização pode ter nos países em vias de desenvolvimento, e especialmente nas classes pobres desses países".

Dez anos depois, a realidade parece contrariar am larga medida as previsões de Stiglitz: A fulgurante ascenção da China, o crescimento da Índia, o crescimento no Brasil, a recuperação na Rússi, parecem, só por si, testemunharem o contrário. E se é certo que se o crescimento experimentado pelos BRIC beneficiou sobretudo as classes possidentes também é verdade que ele se espraiou de algum modo a grande parte das populações desses países.

Crítico acérrimo dos neo liberais, a quem designa por neo fundamentalistas, Stiglitz ocupa grande parte de "Globalization and its Discontents" no ataque aos processos do FMI, segundo ele obediente incondicional do "Washington Consensus". Ao  "Tricle Down-Economics" ( o crescimento económico acabará por beneficiar os mais pobres) defendido pelos liberais opõe Stiglitz o contrato social sustentado na solidariedade deve levar os pobres a participarem nos ganhos da sociedade e os ricos a suportarem os custos em tempos de tempos de crise. Ainda é cedo para avaliar o comportamento destas sociedades actualmente em forte expensão quando o processo se inverter. Mas é inquestionável que o "trickle down-economics" aponta sempre para o crescimento da desigualdade social.

Poderá a austeridade a que estão sujeitos os países agora comandados pelos mecanismos do FMI permitir o crescimento económico? A propósito do sucesso chinês na transição para a economia de mercado, Stiglitz afirmava que esse sucesso decorrera precisamente do facto da China ter rejeitado as políticas "pronto a vestir" do FMI. Receio, como muitos receiam, que, desta vez, Stiglitz tem razão.

As sementes da crise são de natureza diversa, a economia portuguesa já se confrontava com bloqueamentos estruturais antes da crise global eclodir, a banca foi altamente irresponsável na importação e distribuição de crédito, o então governador do Banco de Portugal errou redondamente quando se convenceu e convenceu outros que na Zona Euro não haveria restrições de dívida externa, etc., de tudo resultando uma calamidade financeira em cima de uma economia já fragilizada.

A dívida tem de ser paga? A dívida tem de ser contida dentro de limites aceitáveis e os juros não podem ser insuportáveis pelo crescimento económico. Não havendo crescimento, a dívida continuará a parir juros indefinidamente cada vez mais elevados. E a austeridade só consente crescimento económico sustentado pelas exportações à custa da redução continuada dos salários. Se os vizinhos não estiverem, também eles, sujeitos a programas de austeridade.

Resultado: Podemos transitoriamente calar a verdade mas não a eliminamos. Não é possível, dentro do quadro de exigências financeiras impostas pela troica crescer e conter a dívida. É inevitável que um dia destes as cartas sejam colocadas em cima da mesa.

Disse exigências financeiras, porque há outras, por exemplo a reforma da justiça, que há muito deveriam já estar em acção. E o paquiderme é insensível às alfinetadas, por muitas que receba. 

Thursday, January 19, 2012

A CAMINHO DA DITADURA GLOBAL?

Os resultados de um inquérito realizado pelo Instituto Superior de Ciência Sociais que hoje vai ser apresentado em Lisboa concluem que a satifação com a democracia atingiu o mínimo histórico de sempre. Ainda segundo este "Barómetro da Qualidade da Democracia" assiste-se uma "consolidação de um sentimento antipartidário" e a associação da austeridade a exigências internacionais.

O estudo revela que 64,6% dos inquiridos estão insatisfeitos com a maneira como funciona a democracia em Portugal, quando em 2009, e segundo um estudo da SEDES, eram 51%. Por outro lado, em 1999, dados do World Values Survey mostravam que 81% dos portugueses consideravam a democracia um sistema muito bom ou bom, enquanto que segundo este barómetro do ICS, "apenas 55,5% consideram que a democracia é preferível a qualquer outra forma de Governo", um "mínimo histórico de sempre". ... " este "declínio sustentado no apoio à democracia" é "mais importante" do que a existência de 15% de inquiridos "susceptíveis de apoiarem, em certas circunstâncias, um regime autoritário".

Tanto quanto me é dado concluir pelos resultados e conclusões divulgados aqui não há neste estudo qualquer avaliação do impacto da globalização sobre a percepção que as pessoas fazem da democracia que temos. A austeridade é no entanto referida como tendo um significativo impacto sobre a quebra da confiança nos valores democráticos. Mas essa convicção, do meu ponto de vista, não alcança a ameaça que a globalização representa para as democracias nos paises mais fragilizados no contexto da competição global.

O crescimento da China, em grande medida resultado da sua entrada no WTO, a organização para o comércio mundial, não pode senão causar um impacto de admiração, em muitos desprevenidos, por um regime absoluto que sustenta um capitalismo selvagem sob a capa de uma sociedade socialista.

Se não houver alterações às regras da WTO iremos assistir à progressiva nacionalização chinesa dos activos, mesmo os mais estratégicos, que os países endividados são obrigados a vender para pagar as suas dívidas.

Aliás, não só a China mas também, por exemplo, a pseudo democracia de Putin alicia o governo de direita na Hungria. A Grécia pode ser o senhor que segue se a UE e os EUA desvalorizarem a sua importância geopolítica.

A desilusão com a democracia que se apodera dos portugueses é em grande parte decorrente de uma tendência que tende a alinhar por baixo os valores democráticos até à sua eliminação completa.

Monday, January 16, 2012

AEROPORTO

A globalização é irreversível? Penso que sim.
Porque se for reversível será por um motivo que poderá conduzir a humanidade a um conflito bélico global, de consequências apocalípticas. Mas a globalização, se continuar desenfreada, não pode senão ser o motivo maior da sua reversibilidade.

A competição económica entre as nações, hiperactivada pela globalização, é sobretudo uma competição entre trabalhadores, da qual não resulta necessariamente um aumento de produtividade global mas o nivelamento por baixo das condições de trabalho, da qualidade dos produtos e dos serviços, além da crescente ameaça às condições de toda a vida, animal ou vegetal no planeta.     

Houve tempo em que os transportes aéreos primavam por um serviço aos seus clientes, mesmo daqueles que não se sentam em primeira classe ou executiva,  que não encontrava paralelo nos outros meios de transporte em geral. E não me refiro às refeições a bordo, porque nunca valorizei muito esse serviço, que, por melhor que fosse, era pior do que aquele a que estava habituado mesmo em restaurantes modestos,  mas sobretudo à atenção que lhes mereciam os passageiros quer no embarque quer à saída das aeronaves. 

Hoje, a competição dispensou pessoal, as informações só quase podem ser obtidas por meios electrónicos, que nem sempre temos à mão, a despersonalização é quase total, os passageiros são números e mais nada.

Ontem, chegámos ao aeroporto de Dulles, Washington DC, com duas horas e meia de antecedência, não fosse algum percalço exigir mais tempo, já com o check in feito on-line. Por razões técnicas, que acabaram por se mostrar insolúveis, aguardámos quatro horas a bordo, aguardando os resultados de várias tentativas para resolver o imbróglio. Eram quase duas horas da manhã quando saímos do avião da British Airways, cá fora a confusão era total. Acabaram por nos enviar para um hotel nas proximidades, facultando o transporte numa carrinha com 12 lugares sentados. Outros tantos viajaram de pé, enlatados, contra todas as regras. Outros ficaram a aguardar ao frio cortante a chegada de outro mini bus,  dentro de vinte minutos, prometiam, não sei se cumpriam.
.
Resumindo, e concluindo: só às três da manhã tínhamos feito o check-in no hotel. Atrás de nós ficou uma fila de umas vinte pessoas. Já a caminho do elevador vimos, quase no fim da fila, uma senhora com uma criança de poucos meses de idade o colo. Ninguém lhe cedeu a vez, nenhum empregado veio ter com ela. Devem ter chegado ao quarto às quatro da manhã. Demos por isso pelo contínuo rodar de malas no corredor.

Quanto a pequeno-almoço, almoço, cada qual que pague o seu.
Mas, por isso, não teria despejado aqui esta nota hoje.

Thursday, January 05, 2012

DAI-NOS TRABALHO, SENHOR!

People pray on the first day of business in 2012 at the Kanda Myojin shrine in Tokyo

People pray on the first day of business in 2012 at the Kanda Myojin shrine in Tokyo

O Financial Times de ontem publicava esta fotografia a ilustrar um artigo - Japanese manufacturing in search of salvation - Concern grows as sector behind postwar miracle shifts overseas - revelador das preocupações dos trabalhadores japoneses com a deslocalização da indústria japonesa para outras paragens, onde a moeda não é forte, os salários são baixos, os custos de energia são menos elevados, a tributação fiscal é baixa.

Num país que sustentou o seu florescimento no pós-guerra na sua capacidade de produção industrial, o encerramento das fábricas apavora um povo que, até há pouco tempo, dedicava toda a sua vida profissional à empresa onde começara.

A desindustrialização, que se acentuou aceleradamente nas últimas décadas, das economias ocidentais (vd.
gráficos abaixo) em consequência da globalização, está a atingir também acentuadamente a economia japonesa, implicando o diagnóstico de mais um longo período de estagnação do crescimento nipónico.

Uma das causas mais citadas pelos empresários japoneses para o movimento de deslocalização da indústria é a sobrevalorização do yen, referindo, a propósito, a política recentemente adoptada pela Suíça de defesa da sua competitividade cambial, enveredando, aliás pela estratégia dos políticos chineses ao atrelarem o yuan renminbi ao dólar norte-americano.

Se a moda pega, a guerra cambial não será uma pescadinha de rabo-na-boca.
A guerra generalizar-se-á aos outros factores de competitividade e a globalização das retaliações pode redundar num conflito bélico.

Em resumo (insisto nisto): O comércio livre ou é menos livre, através de uma regulação da globalização que previna a perversidade de alguns dos seus efeitos, ou redundará numa guerra interminável de competitividade salarial global com consequências dramáticas para a convivência pacífica no planeta
.

Tuesday, September 20, 2011

SAIA UMA FEDERAÇÃO À PRESSÃO

Não sairá.

Para satisfação dos eurocépticos, dos nacionalistas, dos xenófobos, dos radicais de esquerda, dos ultra da direita, e de todos quantos não acreditam ou não querem acreditar numa Europa unificada pela solidariedade mas também pelo respeito por valores comuns sem prejuízo das especificidades culturais de cada região, que não contrariam mas reforçam a coesão do conjunto, uma federação (ou confederação) europeia está ainda longe de acontecer. 

E, no entanto, quanto mais tarde os europeus democraticamente reconhecerem que só a unificação política dos vectores essenciais  do Estado permite a continuidade da construção europeia, e que só o prosseguimento dessa construção evitará um novo conflito armado na Europa, mais se avolumarão as forças que impelem o seu desmoronamento e a caminhada para o confronto que os pais fundadores da união europeia quiseram prevenir. 

A unificação europeia não é senão um exemplo avançado da globalização à escala planetária, que, sendo reversível, se o for, detonará uma catástrofe bélica sem precedentes na história da humanidade. Não sendo previsível que, nos séculos mais próximos, a humanidade conquiste no espaço outros locais para habitar, o crescimento demográfico global impõe que haja capacidade de coabitação pacífica no globo terrestre, tornado cada vez mais aldeia global, se quiser evitar a sua autodestruição total.

Neste bairro chique do mundo, em que vivemos, apesar de alguns subúrbios degradados e de alguma progressiva degradação cultural, social e económica, chamado Europa, a continuação da paz só pode ser conseguida com a integração política que minimamente sustente a integração económica por onde começou. 
Pretender sustentar a coabitação no bairro sem um governo que assegure a convivência pacífica por obediência a algumas regras comuns é tentar o impossível. A crise actual já tornou evidente que o modelo adoptado até aqui tropeçou nas suas incongruências e fará cair a União se não for substituido.

No entanto, como já alguns avisaram, um novo modelo (que dificilmente deixará de passar por um governo federal ou aparentado) não pode ser imposto pela pressão das circunstâncias nem à revelia do voto popular, seguindo a fórmula construtiva utilizada até aqui.

E é neste aspecto que o deserto é total porque os caminhos alternativos não são propostos à discussão pública. Parece que existe o receio de que o enfrentamento da realidade possa perturbar o autismo  dos construtores e desmoronar a obra desequilibrada.
 
Falta aos dirigentes europeus tanto em coragem, arrojo, temeridade, quanto lhes sobra em calculismo e pusilanimidade, para enfrentar a fase mais difícil desta construção complicada.  

Friday, August 12, 2011

TRILEMA EM QUESTÃO

De Dani Rodrik, professor de Política Económica Internacional, em Harvard,  saiu recentemente "The Globalization Paradox", onde o autor reflete sobre o trilema que condiciona  a compatibilização da globalização económica com a democracia e a auto determinação de cada povo para graduar as suas necessidades e os seus valores. Confrontados com este trilema, a solução passa por fazer algumas opções: para Rodrik, a democracia e a auto determinação devem sobrepor-se à globalização extrema. Dito de outro modo, a globalização deve ter os limites que a salvaguarda da democracia e da vontade dos povos impuserem. "Democracies have the right to protect their social arrangements, and when this right clashes with requirements of the global economy, it is the latter that shloud give way".
.
Num artigo (este) publicado no Washington Post de ontem, o anterior primeiro ministro Gordon Brown, escreve sobre o mesmo tema resumindo que a crise global só pode ser superada por soluções globais. Afirma Brown: Quando se procura solução para um problema nos EUA, o Congresso e o Presidente têm de se entender; para os problemas da UE, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia têm de se por de acordo. Mas para os problemas decorrentes da globalização, que exigem soluções globais, não há sede para tratar desses assuntos.

A terminar Gordon recorda Bismark que comparava a economia com um comboio que prossegue consistente e seguro no seu caminho - e que, subitamente, acelera. Passa-se o mesmo com a globalização. Evitar que o comboio descarrile requer que a condução seja liderada capazmente.

Bem visto, Mr. Gordon.
Pena é que no combóio europeu não se vislumbre o maquinista.

Friday, August 05, 2011

MUDANÇAS DO MUNDO

clicar para aumentar
Os quadros são elucidativos. Mais, veja aqui

Sunday, July 31, 2011

DESCONFIANÇA GLOBAL

30 JUL 2911

O Presidente do BPI disse numa conferência recente (Fórum da Banca) que enquanto se lembrar do que o mercado de capitais lhe fez não quer voltar ao mercado de capitais.

E acrescentou: “ Nunca ninguém nos disse que não estávamos a gerir adequadamente o banco. E, a determinada altura, o mercado desapareceu (…) Em 2007, o BPI tinha um rácio de “core capital” de 5%, rendibilidade dos capitais próprios de 22% e “rating” da Moody´s de A+. Hoje tem um rácio de capital que é quase do dobro (9%), rendibilidade inferior a 10% e um “rating” de BBB, pouco acima de junk (…) O capital não garante bom “rating” (então) mais capital para quê? (…) e foi isso que a troca não entendeu, criando o risco de o País precisar de mais ajuda do que aquela que precisaria caso exigisse aos bancos portugueses os mesmos rácios que são impostos nos países não intervencionados. Num quadro destes, pode ter criado a inevitabilidade das nacionalizações parciais com os 12 mil milhões de euros que emprestou ao País”.

A questão do crédito, como Ulrich sabe tão bem como qualquer outro banqueiro, está para lá dos valores dos balanços, dos bancos ou das empresas não financeiras, e decorre do graus da confiança dos credores na capacidade dos devedores honrarem as suas dívidas nos prazos acordados. No limite, a um banqueiro não seria necessário um cêntimo para estabelecer banca se quem lhe confiasse o seu dinheiro tivesse a garantia real que seria infalivelmente reembolsado nos termos contratados.

Acontece que a banca portuguesa se encontra extremamente vulnerabilizada pela exposição a que se submeteu em dívida soberana, principalmente, portuguesa e grega. Para além, evidentemente, das imparidades (um termo praticamente desconhecido em 2007) só muito parcialmente reconhecidas nos balanços de créditos a empresas e famílias, um gato escondido que a troica facilmente detectou pelo rabo exposto.

A banca, não só em Portugal mas também em Portugal, encontrou na dívida soberana, directa ou indirectamente, nas produções protegidas da concorrência externa, na construção civil e obras públicas, um meio confortável e supostamente seguro de exibir lucros explêndidos que garantiam aos banqueiros rendimentos estratosféricos e aos bancários ordenados invejáveis.

Um dia, já lá vão muitos anos, disse a Ulrich que de tanto ordenhar a vaca escanzelada, o animal cairia mais tarde ou mais cedo em cima do ordenhador. Respondeu-me que os bancos não poderiam falir.

Percebe-se o desconforto de Ulrich, mesmo que ao BPI tenha sido reconhecida a melhor solidez de entre os bancos portugueses, incluindo a CGD, no recente teste de stress que envolveu os maiores bancos da EU, mas a banca portuguesa, para além de outras eventuais razões de queixa, só pode queixar-se de si própria na medida em que durante anos definiu a sua política em função dos resultados esperados de curto prazo, sem ter querido reparar que o estado português caminhava para uma situação financeiramente insustentável e a economia real, a vaca, cada vez mais escanzelada.
As árvores não crescem até aos céus, e as dívidas também não.

Como é que os banqueiros não sabiam isso?

Claro que sabiam. Mas não quiseram saber. Agora, desconfiam todos uns dos outros.

E o que mais intriga é que quanto ao cerne da questão, no sistema continua tudo como dantes.

Wednesday, June 02, 2010

ACERCA DE CIGARRAS E FORMIGAS

Aqui e  aqui, dois artigos de Martin Wolf sobre a convivência mundial entre quem poupa em quem gasta.
Interessantes, como sempre.

Tuesday, May 11, 2010

UMA BOMBA CHAMADA DÍVIDA

Fala-se pouco da globalização da dívida. E, no entanto, ela representa a face mais perigosa da globalização. Porque, mais tarde ou mais cedo, as contas entre devedores do mundo desenvolvido e credores terão de ser regularizadas mas não se sabe como.
.
A crescente monetarização da dívida normalmente dissolve-se com um processo inflacionista, que não é gratuito.
Até onde vai estar imune o dólar aos choques que por agora abalam o euro?
Se, (ou quando?), a bomba global da dívida explodir ninguém escapará aos estilhaços.
.
Entretanto, o "sistema" continua alheado e intocável nas suas bases fulcrais como se nada continue a acontecer.
.
The U.S. dollar has staged a short term rally against other currencies. But the U.S. is already gripped by hidden inflation and must refinance a mountain of short-term debt in just months.
...
You may have heard the talking heads on CNBC spouting off about the recent rally in the dollar. In fact, some Wall Street legends like Jim Rogers and Byron Wien, have recently been buying dollars in anticipation of a near-term rebound...
But they aren't holding dollars for the long term.
In fact, they're ready to drop the dollar the instant the rest of the market decides to get in.
Don't be one of them.
These traders know that the U.S. Treasury is sitting on a ticking debt time bomb: Over $2 trillion in short-term debt needs to be refinanced in the next 12 months.
And there's only one way they can do that... by printing even more money.
...

Thursday, December 10, 2009

REGULAR A GLOBALIZAÇÃO

.
Europe led the way last year in facing down the global financial crisis, restructuring our banking system and strengthening the global financial system. The European Union was also at the forefront in calling for a new forum for economic cooperation of G-20 leaders. And from the outset of the crisis, it was Europe that promoted the fiscal stimulus—and sought to coordinate it globally—that has been a major factor in preventing recession becoming a world-wide depression.
Now we need to once again lead the way in forging a new global consensus.
Stable, open and competitive European financial markets are essential to global growth. We recognize the importance to Europe of ensuring that we have globally competitive financial services, and the importance of developing world-class financial centers such as London and Paris.
But the way global financial institutions have operated raises fundamental questions that we must—and can only—address globally.
We have found that a huge and opaque global trading network involving complex products, short-termism and too-often excessive rewards created risks that few people understood. We have also learned that when crises happen, taxpayers have to cover the costs. It is simply not acceptable for them to foot the bill for losses in a deep downturn, while institutions' shareholders and employees enjoy all the gains as the economy recovers.

Better regulation and supervision are the means by which the risk to the taxpayer can be reduced for the longer term.
In regard to regulation, the EU has adopted a comprehensive set of new rules for the financial sector to avoid the repetition of the crisis: control over credit rating agencies, stronger capital requirements on complex products such as securitization, and strengthened deposit guarantee schemes. We have set up strict rules to make sure that compensation systems avoid excessive risk taking. We will also implement stricter capital rules for banks.
We also have agreed on a more efficient system for supervision of the financial sector within Europe to better monitor systemic risks, to ensure that EU regulation is applied consistently, to settle disagreement between national supervisors, and to deal with crisis situations. Banks must now hold sufficient capital, ensure liquidity, and reward only genuine value creation and not short-term risk-taking.
This crisis has made us recognize that we are now in an economy which is no longer national but global, so financial standards must also be global. We must ensure that through proper regulation, the financial sector operates on a level playing field globally.
There is an urgent need for a new compact between global banks and the society they serve:
A compact that recognizes the risks to the taxpayer if banks fail and recognizes the imbalance between risks and rewards in the banking system.
A compact that ensures the benefits of good economic times flow not just to bankers but to the people they serve; that makes sure that the financial sector fosters economic growth.

A compact that ensures financial institutions cannot use offshore tax havens to negate the contribution they justly owe to the citizens of the country in which they operate—and so builds on the progress already made in ending tax and regulatory havens.
Therefore, we propose a long-term global compact that will encapsulate both the responsibilities of the banking system and the risk they pose to the economy as a whole. Various proposals have been put forward and deserve examination. They include resolution funds, insurance premiums, financial transaction levies and a tax on bonuses.
Among these proposals, we agree that a one-off tax in relation to bonuses should be considered a priority, due to the fact that bonuses for 2009 have arisen partly because of government support for the banking system.

However, it is clear the action that must be taken must be at a global level. No one territory can be expected to or be able to act on its own. And if we can find a solution, implemented consistently across the major economies, then we may find a way to ensure that taxpayers do not pay in a systemic crisis for the risks taken on by the banking sector. We might also be able to help the funding of our Millennium Development Goals and address climate change.
To achieve global coordination, we now propose a new process of deliberating and setting macroeconomic strategy, starting with the IMF report on global contributions and leading to a major discussion at the G-20 meetings chaired by South Korea next year. Through this process, we need to correct and prevent the build up of global imbalances. We need to enhance coordination at the global level so that foreign exchange volatility does not create a risk to the recovery. Each country should take its fair share of reducing global imbalances.
Stability and confidence requires us to bring financial markets into closer alignment with the values held by families and business owners: Rewarding hard work, responsibility, integrity and fairness.
People rightly want a post-crisis banking system which puts their needs first. To achieve that, nothing less than a global change is required.
Mr. Brown is prime minister of Great Britain. Mr. Sarkozy is the president of France.