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Friday, August 21, 2020

E A ESPANHA AQUI TÃO PERTO


A meio de Junho, a Espanha, um dos países do continente europeu mais afectados pela covid-19, atingia o número mais baixo de infecções diárias de sempre: foram 109 casos em 24 horas. 

Agora, é o país da Europa com mais novas infecções por cada 100 mil habitantes, segundo os dados divulgados esta sexta-feira pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) – são 138,7 casos por cada 100 mil habitantes, valor que diz respeito aos últimos 14 dias.

Em números absolutos, a Espanha tem, desde o início da pandemia, 377.906 casos e 28.813 mortes, mas em termos proporcionais é dos países onde a taxa de novos casos mais tem crescido, principalmente desde o desconfinamento. A tendência de crescimento de novos casos, mas também do número de vítimas mortais nas últimas três semanas, está a preocupar as autoridades de saúde e já levou Fernando Simón, director do Centro de Coordenação de Emergências Sanitárias do Ministério da Saúde espanhol, a avisar: “Não se enganem, as coisas não vão bem”. c/p aqui

PÚBLICO -











A curva epidémica espanhola. Evolução do número de casos entre 2 de Março e 16 de Agosto.

Tuesday, June 30, 2020

AMANHÃ NO CAIA, A TROCA DAS PRINCESAS

ONTEM
Rui Rio diz que DGS “não tem estado à altura” da pandemia.

ONTEM

Governo garante capacidade do SNS para responder à pressão acrescida na Grande Lisboa. Rui Rio diz que DGS “não tem estado à altura” da pandemia.

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, considerou esta segunda-feira que “várias coisas correram mal” na gestão da pandemia na região de Lisboa. “Várias coisas correram mal e é importante reconhecer. Quem não reconhece que há um problema, não tem capacidade de resolver um problema”, começou por referir no habitual comentário na TVI24.
Para Medina, o que falhou em primeiro lugar foi “o facto de se ter instalado um sentimento de que tudo isto estava ultrapassado, que não havia vírus, que não havia problema, que a pandemia estava ultrapassada”. “Isto é falso. A situação que estamos a viver na região de Lisboa prova isso mesmo”, afirmou.
Em segundo lugar, “o que falhou foi a informação sobre a real situação que se estava a viver na região de Lisboa e a sua origem”, considera. “Na região de Lisboa, quando começaram a surgir os dados dos novos infectados a subir, as razões que foram aduzidas para essa avaliação mostraram-se claramente insuficientes ou até erradas relativamente ao diagnóstico da situação”, referiu Medina.
Além desta falha na “informação do apoio à decisão”, Medina considera também que “falhou a acção no terreno”. Depois do diagnóstico, a acção não foi “eficaz, atempada ou ajustada” e “houve quebra da capacidade de rastreio das cadeias de transmissão”, defendeu.
Para o líder da autarquia de Lisboa, há cinco pontos essenciais no combate à pandemia na região: a “consciência individual” de cada um; a redução da demora nos resultados dos testes; a acção das chefias no terreno, que têm de “pôr ordem na casa” e “agir rápido”; o aumento do “exército da saúde pública no terreno”; a acção das “equipas mistas”, que envolvem a saúde, segurança social, Protecção Civil, câmaras municipais, entre outros.- AQUI

AMANHÃ

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o rei Felipe VI de Espanha, e os primeiros-ministros português, António Costa, e espanhol, Pedro Sánchez, vão estar juntos na reabertura das fronteiras entre Portugal e Espanha, no dia 1 de julho.- AQUI

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Curiosidade histórica
 
A Troca das Princesas realizou-se a 19 de Janeiro de 1729. A troca foi feita no Rio Caia. A cerimónia fez-se literalmente a meio do rio, numa grande ponte-palácio de madeira ricamente decorada construída para a ocasião, com vários pavilhões em ambas as margens também. Praticamente toda a Corte participou, tendo todas as vilas e lugares entre Lisboa e Elvas sido enfeitadas com arte efémera, tal como arcos triunfais, jardins artificiais, fontes, etc., para receber os imensos cortejos na ida e na volta da fronteira. As preparações para a troca das princesas foram de tal modo detalhadas que já em Janeiro de 1727 a Coroa colocava encomendas de berlindas em Paris, e pedia contribuições extraordinárias dos quatro cantos do império para financiar todo o esplendor desejado.

Saturday, December 23, 2017

ALEGRE E OS COMPANHEIROS DA ALEGRIA

O sr. Manuel Alegre opina hoje no Público - Catalunha, uns séculos depois - que

 "Enfim, a Catalunha falou através do voto, por certo o fará mais vezes. Penso que nós portugueses, independentemente das simpatias pessoais, devemos ser fiéis à Constituição da República e respeitar a liberdade de escolha onde quer que ela se manifeste."

Enfim, o sr. Manuel Alegre está baralhado ou pretende baralhar-nos.
Porque, segundo se depreende do que opina, o respeito pela lei constitucional devido pelos cidadãos em regimes democráticos é incontestável em Portugal mas redundante em Espanha. 

A opinião de MA só é relevante porque é parte do coro da extrema-esquerda trauteando a música do coro na direita extrema, a música da nacional-soberania. 
Que os resultados das votações demonstrem que na Catalunha, como no referendo ao Brexit no Reino Unido, o eleitorado se reparta em dois blocos praticamente idênticos, é para eles irrelevante;
Que na Catalunha os independentistas obtiveram maior número de assentos no parlamento mas com um significativo menor número de votos* é para eles irrelevante;
Que, tanto na Catalunha como no Reino Unido, pretendam os secessionistas que um voto apenas é democraticamente suficiente para fixar definitivamente o querer das gerações futuras, é negligenciável.

Que uma eventual independência da Catalunha desencadearia um processo imparável de fragmentação em cadeia da União Europeia, é aplaudida pelos extremos, à esquerda e à direita, 
porque sempre viram e continuarão a ver na União Europeia uma ameaça ao nacional-soberanismo, que é o seu feitiço, percebe-se.  

Que essa ameaça de fragmentação se potencie por outras linhas de fractura, mais notoriamente a leste, para gáudio do sr. Putin, não relembre ao sr. Manuel Alegre e outros companheiros da alegria o assomar do avantesma da guerra entre europeus, em paz apenas há cerca de 70 anos, é repulsivo.

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* Os mesmos eleitores teriam votado nāo à independência por cerca de 150 mil votos de diferença. Cf . aqui

Sunday, November 26, 2017

A AGONIA DO TEJO




A seca,  os transvases e os efluentes sem passagem por estações de tratamento de esgotos,
deixaram o Tejo moribundo.

O El País publica aqui uma reportagem - Gretas onde havia água - de que transcrevo a parte inicial:

"Todas las heridas de sus más de mil kilómetros de tronco principal se resumen aquí, a las afueras de Aranjuez. El Tajo, el río más largo de la Península Ibérica, agoniza. Y la sequía, la peor en España de las dos últimas décadas, está dejando más expuestos que nunca sus gigantescos problemas. La imagen en ese punto de Aranjuez lo dice todo: a un lado, el hilo verde y limpio del mermado Tajo; al otro, el negruzco Jarama, con mucho más caudal. Ambos se unen aquí, pero el cauce principal lleva tan poca agua que es incapaz de diluir la contaminación del afluente, que arrastra los desechos de la ciudad de Madrid y su área metropolitana ... "

Leia, veja, e veja se acorda. 

Friday, November 17, 2017

REFERENDO, INSTRUMENTO MAQUIAVÉLICO DOS POPULISTAS


Sobre a consistência da  União Europeia subsistem diversas ameaças, mas a consideração do referendo como instrumento democrático de avaliação da vontade popular pode ser particularmente demolidor de todo o edifício comunitário ainda em construção. 

O referendo que, por escassa margem, tombou para o sim pela saída do Reino Unido e o frustrado referendo na Catalunha que instalou em Espanha, e, por tabela, em toda a União Europeia, para gáudio de Putin e Trump, o fantasma de um retorno de um desentendimento irreversível entre os povos europeus, têm que ser denunciados pelos objectivos que os determinaram: a recusa de alguns em participar num espaço de paz sustentável que, para o ser, tem de ser de comunhão dos mesmos valores primordiais e de solidariedade entre todos os seus povos. 

Entre mais de quarenta apontamentos sobre o tema "Referendo" (para quem a curiosidade for tanta que os queira ler todos, deve clicar no "label" respectivo colocado no fim de cada apontamento) vd. aqui comentários sobre o assunto, em meados de Junho de 2008. Quase uma década depois, mantenho aquilo que, no essencial, foi e continua a ser, a minha apreciação das inconsistências do "referendo" enquanto instrumento de avaliação democrática da vontade popular.



Sobre as prováveis consequências do referendo que veiculou o populismo que desembocou no “Brêxit”, leia-se British politics is being profoundly reshaped by populism publicado no Economist desta semana.

Friday, October 27, 2017

A REVOLTA DOS CEIFEIROS

Enquanto o Parlamento da Catalunha aprovava resolução para declarar a independência - vd. aqui

o Senado, vd. aqui    aprovava a aplicação do artigo 155 da Constituição na Catalunha.

La revuelta de 1640 y la República Catalana

Cataluña ya se proclamó república independiente en 1641, después de la revuelta de los segadores. Eso sí, tras apenas unos días, el país se colocó bajo protección francesa.
Las tensiones entre Cataluña y España llevaban años alimentándose. Por un lado, la política imperial castellana supuso un abundante gasto para las arcas. El conde-duque de Olivares, valido del rey Felipe IV, intentó compensar esta situación económica con la Unión de Armas. El objetivo era que todos los reinos de la monarquía, y no solo Castilla, contribuyeran económicamente y con hombres al esfuerzo militar. Barcelona se negó porque iba contra las constituciones catalanas.
A eso se unió que España entró en guerra con Francia en 1635. Se trataba de un nuevo episodio de la Guerra de los Treinta Años, que llevaba en marcha desde 1618. El ejército francés invadió el norte de Cataluña y Olivares respondió enviando miles de hombres para preparar la nueva campaña, pero sin permiso de las instituciones catalanas. Olivares envió una carta al virrey que interceptaron los catalanes y se leyó en la Diputación: “Los catalanes son naturalmente ligeros: unas veces quieren y otras no quieren. Hágales entender V. S. que la salud del pueblo y del ejército debe preferirse a todas las leyes y privilegios”.
El alojamiento de tercios de Felipe IV creó tensiones con el campesinado, que incluyeron, como se recuerda en la Història de Catalunya dirigida por Albert Balcells, el “saqueo, profanación e incendio” de varias iglesias.
Todo esto contribuyó a suscitar un alzamiento popular en 1640 contra las tropas castellanas. Segadores (e insurgentes disfrazados de segadores) entraron en Barcelona, acorralaron al virrey en su palacio y lo asesinaron junto a todo su séquito en la playa, mientras trataba de huir en un galeón.
“Fue bastante caótico -escribe Henry Kamen en España y Cataluña: historia de una pasión-: la ley y el orden se quebraron totalmente en Cataluña porque las clases altas catalanas temieron actuar contra sus propios vasallos”. En octubre se firmó un acuerdo de defensa con los franceses. El 16 de enero de 1641, Pau Claris, presidente de la Generalitat, proclamó la república, pero el 23 de enero se transfirió el título de conde de Barcelona de Felipe IV a Luis XIII, “poniéndose de este modo y voluntariamente bajo la corona francesa”.
No salió bien. Kamen apunta “el Estado francés era mucho menos respetuoso con sus privilegios que los castellanos” y el experimento terminó 12 años más tarde. Felipe IV recuperaría Cataluña, pero Luis XIV se quedó el Rosellón y parte de la Cerdaña. El rey español juró respetar las constituciones, eso sí. No estaba para ponerse exquisito: en 1640 Portugal también había declarado su independencia, gracias a una alianza con Inglaterra. - aqui
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Wednesday, October 25, 2017

PELA BOCA, A CATALUNHA

"La inquietud sobrevuela Sant Sadurní, el pueblo del cava"

"Los extremeños alertan del efecto bumerán de boicotear los productos catalanes"



A questão catalã está a esbarrar entre dois redutos politicamente irreconciliáveis:

De um lado, a integridade territorial da Espanha prevenida no artigo 155 da Constituição contra as intenções independentistas, e a oposição da União Europeia à independência por decisão unilateral unilateral de parte de qualquer dos seus países membros;
Do outro, a dificuldade, provavelmente diplomaticamente inultrapassável, do governo de Espanha fazer cumprir as directivas decorrentes da aplicação do artigo 155, qualquer que seja a intensidade decidida para essa aplicação. 

A chave parece encontrar-se, à medida que passam os dias e os discursos de confronto se apaziguam em ambos os lados perante as dificuldades de consensos, na imposição de uma realidade que é impossível não considerar: a integração económica do espaço hispânico e deste no espaço da comunidade económica europeia. 
Os independentistas podem desvalorizar os custos da transferência das sedes de grande parte das principais empresas para outras comunidades de Espanha mas não podem ignorar a inquietação crescente de muitos milhares de empresas, da Catalunha e do resto de Espanha, que, como fornecedores ou clientes de empresas catalãs, começam a observar consequências negativas nos seus negócios.  

O tempo corre a favor do governo em Madrid e contra o governo em Barcelona. 
Rajoy terá dificuldades em acertar com os partidos que apoiam a aplicação do artigo 155 o grau e o modo dessa aplicação e só em última instância avançará para uma imposição de forçada. 

Será, não vejo outra via, o reconhecimento dos independentistas de uma realidade inultrapassável - a integração económica - que amainará as suas ambições e levará a reaproximarem-se dos outros povos de Espanha.

Friday, October 20, 2017

O ATAQUE POR DENTRO

De Joschka Fischer, ministro das Relações Exteriores e Vice-Canceler da Alemanha entre 1998 e 2005 e líder do Partido Verde alemão durante quase 20 anos, pode ler-se aqui um artigo que resume o pensamento de quem percebe bem que a eventual independência da Catalunha desencadearia um processo imparável de fragmentação da Espanha que auto destruiria a União Europeia por dentro. 

Afirma Fischer,

"... Em 1 de Outubro o Governo da Catalunha realizou um referendo que, além de ser ilegal, segundo a Constituição espanhola, o referendo nem sequer estabeleceu as regras determinantes de quem poderia votar. ... O referendo alternativo catalão provocou medidas drásticas do primeiro-ministro Mariano Rajoy, que interveio para encerrar as mesas de voto. Foi uma grande tolice política, porque as imagens da polícia reprimindo com bastões os manifestantes catalães desarmados outorgou uma legitimidade enganosa aos secessionistas. Nenhuma democracia pode ganhar este tipo de conflito. E no caso de Espanha a repressão recordou imagens da Guerra Civil de 1936-1939, o seu mais profundo trauma até agora. 
A União Europeia não pode permitir a desintegração dos seus Estados membros porque são o seu cimento. Se a Catalunha se torna independente teria que encontrar um caminho futuro sem a Espanha nem a União Europeia. Com  o apoio de muitos Estados membros preocupados com os seus próprios membros secessionistas, a Espanha bloquearia qualquer intenção da Catalunha para ser membro da zona euro e da União Europeia. ..."

A partir deste ponto, Fischer continua a apontar um conjunto de argumentos de oposição à independência da Catalunha em nome da integridade da Espanha e da União Europeia e dos interesses culturais e económicos dos catalães.   

Nos apontamentos que, sobre este tema, tenho deixado neste bloco de notas, há uma quase total coincidência com este artigo de Fischer. Excepto num ponto, que é também aquele em que divirjo daqueles que, coincidindo com os argumentos de oposição à fragmentação da Espanha e da União Europeia, defendem que o Governo de Espanha não se deveria ter oposto à realização do referendo. Excluo, portanto, desta análise aqueles que, posicionando-se na extrema direita e na extrema esquerda contra a existência da União Europeia, coerentemente, defendem a independência da Catalunha e a proclamação dessa independência decorrente de um referendo. 

O Governo de Espanha não tinha, nem tem alternativa, senão pautar a sua acção no âmbito das suas responsabilidades constitucionais. E, constitucionalmente, o referendo com os objectivos que pretendia alcançar foi ilegal, e sê-lo-ia mesmo sem a intervenção da polícia. Assim o julgou, por unanimidade o Tribunal Constitucional espanhol. 
Se o referendo não tivesse sido perturbado pela intervenção da polícia, os catalães que discordassem da sua realização muito provavelmente não votariam. E o grupo independentista, mais mobilizado e catequizado, teria obtido um resultado favorável à independência, ganhando uma dinâmica imparável e despertando todos os movimentos independentistas em Espanha e fora dela, com os do País Basco na primeira linha de combate. 

Lamenta-se a pancada, lamentam-se todas as guerras e guerrilhas, todos os actos de confrontação quando a inteligência humana só por si não garante a paz. Mas não pode ir a ingenuidade ao ponto de imitar o compreensivo e tolerante Manuel, canalizador, quando advertiu o Joaquim, soldador: Oh Joaquim, tem mais cautela... Mandaste-me um pingo de solda para o olho...


Thursday, October 19, 2017

POR QUE É QUE OS INCÊNDIOS EM PORTUGAL SÃO TÃO LETAIS?

Vale a pena ouvir o que sobre o assunto pensam outros.
Vale a pena ler o artigo publicado hoje aqui no El País - ¿Por qué los incendios en Portugal son tan letales? -  que se transcreve na íntegra: 

"Armando y sus cuatro hermanos han heredado 55.000 hectáreas de monte. “Fuimos a pedir permisos para construir una casa. Nos dijeron que podíamos hacer lo que quisiéramos, pero registrarla no”. Lo habitual en Portugal es construir como sea en medio del bosque, sin observancia de las muchas leyes forestales que rigen el país —sobre franjas de cortafuegos o perímetros de seguridad alrededor de núcleos urbanos— y sin dejar huella en registros oficiales.
Poco a poco, durante tres días, Portugal ha ido contando, hasta llegar a 43, los cadáveres localizados bajo la escoria de más de 500 incendios que convirtieron el país en una caldera. Cuatro meses antes habían muerto 64 personas en Pedrógão (en el centro). Desde junio, los políticos preguntan a expertos forestales qué hay que hacer para acabar con esta plaga.
El año 1989 fue a Galicia lo que el 2017 a Portugal. Aquel año habían ardido 200.000 hectáreas y muerto cuatro personas. Al año siguiente el Gobierno autonómico de Manuel Fraga dio un golpe en la mesa para cambiar la tendencia. Creó una subdirección general dedicada exclusivamente a la prevención de incendios y quien hoy dirige toda la prevención oficial y combate al fuego, Tomás Fernández-Couto, ya estaba entonces en esa labor. Este ingeniero forestal de la Escuela Técnica Superior de Ingenieros de Montes de Madrid (ETSI) lleva más de un cuarto de siglo dedicado al bosque gallego.Portugal suele ser líder europeo por número de incendios y superficie quemada. Hay años en que más de la mitad de la extensión destruida en toda Europa es portuguesa cuando el país ocupa solo 92.000 kilómetros cuadrados de los 4,4 millones que tiene la UE. Este 2017 va a ser uno de esos años. Los expertos dirigen su mirada a la vecina Galicia, que desde los noventa ha reducido a la mitad las hectáreas quemadas por año. Existen más razones para mirar al norte. De Coimbra a Bragança la orografía recuerda mucho a Galicia, ambas regiones concentran los incendios de sus respectivos países; ambas comparten el clima, el minifundismo rural y su abandono.
El minifundismo familiar portugués es único en el mundo. El 85% del bosque está en manos privadas, según el Inventario Forestal Nacional, en comparación con el 75% de Francia, el 70% de España, el 66% de Italia o el 22% griego. El Estado portugués solo posee el 2% de la floresta (el resto son áreas públicas). Se sabe que casi todo el monte es privado, pero poco más se sabe. Si no hay registros de casas, menos de sus ocupantes y propietarios. Tras la desgracia de Pedrógão se ha reemprendido la misión de crear un catastro forestal nacional. Los terrenos que no se registren pasarán al Estado después de unos años sin reclamaciones. Hoy por hoy se desconoce de quién es el bosque, quién vive en él y, por tanto, quien muere en él.Durante cuatro meses, una denominada Comisión Técnica independiente creada ex profeso por el Parlamento para investigar el incendio de Pedrógão repartió en su informe final culpas para todos, desde el vicio de cambiar la dirección de Protección Civil según el color político, a la promiscuidad de árboles y casas en el mundo rural.
Sí se sabe que hay una parte del bosque que nunca se incendia, el de la industria. Las papeleras gestionan el 6,5% de los terrenos privados, algo más de 200.000 hectáreas. Sus eucaliptos no arden, y cuando lo hacen es por contagio del vecino. El sector invierte cuatro millones de euros anuales en labores de prevención y silvicultura. Su brigada de intervención rápida se mantiene en alerta todo el año. Casi todos los fuegos que apagan (el 85%) están en propiedades vecinas.
“Portugal combate los incendios con bomberos voluntarios; España con profesionalismo y conocimientos”, señala el ingeniero forestal y profesor Paulo Fernandes, para apuntar diferencias entre ambos países respecto a las políticas de lucha y extinción de fuegos. “En los noventa, España y Galicia cambiaron el plan de extinción; lo hicieron más eficiente, más basado en el conocimiento, más profesional, más americano por así decirlo, se combate con técnicas forestales”. Galicia fue pionera en el empleo de aviones anfibios, en las técnicas de fuegos controlados, en los centros de coordinación, en la instalación de cámaras automáticas de vigilancia. “El plan gallego es impresionante, con análisis de incidencias y causalidad por semanas, por días, por horas”, explica Inés González, catedrática de la Escuela de Ingenieros de Montes en la Universidad Politécnica de Madrid (UPM).
Para eso hace falta dinero. “España destina unos 2.000 millones (anuales) solo a la extinción. Creo que salvo Estados Unidos, no hay otros países que tengan tanto presupuesto por persona”. En Portugal son 100 millones.
Según el ingeniero forestal Fernandes, apenas llegan a 2.000 los bomberos profesionales en Portugal, en España son 20.000. “El 90% de la fuerza de combate al fuego es de bomberos voluntarios”, dice sobre su país. Estos voluntarios reciben cursillos de vez en cuando, se compran su material de trabajo y, si les llaman, cobran 45 euros por día de trabajo. Sin fuego, no cobran. Son los primeros en llegar al siniestro, pero sus conocimientos técnicos son limitados y aún más sus herramientas. El bombero profesional, con salarios de entre 800 y 1.500 euros al mes y horario fijo, también debe ocuparse del traslado de enfermos para, por ejemplo, una sesión de diálisis. Con el incendio en marcha, la responsabilidad del mando pasa a Protección Civil, “un buen servicio para defender vidas y casas, pero no para extinguir el incendio”, asegura Fernandes.
La Comisión Técnica (CTE) critica la descoordinación de las diferentes estructuras y mandos. “De la vigilancia se ocupa la Guardia Nacional; de la prevención, el Ministerio de Agricultura y de la extinción, el Ministerio de Administración Interna”, afirma Fernandes. En el otro lado de la frontera, ya desde 1990 Galicia tiene un mando único para todos los trabajos, desde las cuadrillas de prevención a la intervención urgente de militares. La CTE ha recomendado implantar el mando único en Portugal.
“Portugal se ha centrado en el combate, asumiendo que estructuras robustas y eficientes pueden dar respuesta a todas las situaciones, y eso es imposible”, afirma Domingos Lopes, director del Departamento Forestal de la Universidad de Tras-os-Montes e Alto Douro (UTAD). “La naturaleza ha demostrado a los políticos que el camino es la prevención. Si no hay una gestión preventiva de la silvicultura, las tragedias se repetirán”. La prevención es el pariente pobre del combate a las llamas. “Solo con quitar un 4% del presupuesto dedicado a la extinción para dárselo a la prevención, se vería una respuesta efectiva al problema”, apuesta el experto Lopes.
Fernandes compara la balanza del gasto en Portugal y Galicia: “Apenas el 5% del presupuesto de la floresta se dedica a los trabajos de prevención, como limpieza de los bosques o creación de cortafuegos, un 15% a la vigilancia y el resto a la extinción”. En Galicia, dos tercios del presupuesto se destina a la prevención y solo uno al combate; en Portugal es al revés.
“El abandono deja a los bosques no solo sin cuidados, sino, sobre todo, sin aprovechamiento; la leña que se cortaba para la casa, la hierba para los animales, el pastoreo... todas esas labores prevenían incendios”, apunta la catedrática González Doncel de la Politécnica de Madrid. En el último lustro ha disminuido un 12% la superficie de explotación rural, por ejemplo, el monte de Armando y sus hermanos que, con 72 años de edad, no está por la labor de explotarlo. “Si no sacamos nada del monte, tampoco vamos a gastar en él”.
“Hay una sobreprotección del bosque que está haciendo mucho daño a lo que se quiere proteger”, señala González Doncel. “El monte hay que aprovecharlo, está muy bien sacar dinero de él, lo de la limpieza es un mito; el bosque hay que gestionarlo”.
El domingo 15 de octubre ardía Galicia y ardía Portugal. En un lado, hubo cuatro muertos y 4.000 hectáreas quemadas; en el otro, suman 42 muertos y 100.000 hectáreas; pero, la fuerza de extinción era prácticamente la misma: 5.000 personas. En Portugal, la mayoría eran bomberos voluntarios; en el caso gallego, militares y profesionales. Pese a la desgracia reciente en Galicia, el director general de Montes de Galicia, Fernández-Couto, declaró algo que es impensable decir en Portugal: “No ha existido falta de medios en la extinción de los incendios”.

Wednesday, October 11, 2017

A INTERDEPENDÊNCIA DA CATALUNHA

O presidente do Governo da Catalunha, Puigdemont, declarou a independência da Catalunha mas suspendeu-a no momento seguinte e propôs ao Governo de Espanha o início de negociações sem condições prévias.
O presidente do Governo de Espanha, Rajoy, já respondeu perguntando ao Governo da Catalunha se este declarou a independência. E, em caso afirmativo, diz-lhe que a retire.
Caso contrário, considera o Governo de Espanha que estarão reunidas as condições previstas no artigo 155 da Constituição de Espanha, implicando o termo da autonomia da Catalunha.

Deste modo percebe-se a subtileza entre declaração da independência seguida da sua suspensão e a suspensão da declaração. Rajoy percebeu-lhe a intenção mas não o deixou passar. O que vai responder Puigdemont não sabemos mas o mais provável é que reafirme a Rajoy o que ontem declarou no Parlament: declarou mas suspendeu. Trata-se, certamente, de um puzzle jurídico e, das duas uma, ou Rajoy obtem uma interpretação do Tribunal Constitucional ou considera que a reafirmação da declaração de independência, suspensa ou não, é motivadora do accionamento do artigo 155.

Em qualquer caso é muito evidente que Puigdemont está a tentar recuar sem cair depois de ter encenado uma tragicomédia da qual é inadmissível que não conhecesse a sequência dos episódios.
Ele sabia que não teria nem o reconhecimento nem o acolhimento da União Europeia. E também sabia, ou deveria saber, que o poder económico se lhe atravessaria no caminho independentista, nacionalista, à procura de uma soberania serôdia que a interdependência do mundo actual não consente.

Não pode o poder económico sobrepor-se ao poder político.
Pois não. Mas convém considerar-lhe a mobilidade. Puigdemont não contava com isso? Não ouviu os empresários?
Se não, enganou, propositadamente, os catalães que o apoiaram.





Thursday, October 05, 2017

O ÚLTIMO ENCONTRO ENTRE O REAL E O BARÇA


Hoje ficou a saber-se que 

"a direção do Futbol Club Barcelona emitiu um comunicado onde apela ao diálogo e negociação para "encontrar soluções políticas" para a situação de crise na Catalunha e ofereceu-se para mediar a crise".

Resta saber agora como se posiciona no terreno o Real Madrid Club de Fútbol
Mas não seria má jogada se também os de Madrid se oferecessem como mediadores.

Wednesday, October 04, 2017

QUEM É QUE NA EUROPA APOIA OS INDEPENDENTISTAS CATALÃES?

É a pergunta feita hoje no El País - ¿Quiénes en Europa apoyan en realidad a los independentistas catalanes? - e a resposta é óbvia.

Os extremistas de direita (e de esquerda, acrescento eu, porque, já se sabe, os extremos tocam-se)
Aqueles que nunca pouparão esforços para excitar instintos populistas, nacionalistas, racistas, e tudo quanto possa contribuir para a destruição da União Europeia e, consequentemente, fomentar a guerra entre os europeus depois do período mais longo de paz observado na lado oeste da Europa. 




São estes os mais notórios figurões que se apresentam como paladinos do direito de voto, aqueles que, em nome da democracia, pretendem aniquilar a União Europeia. 
Alguns argumentos dos independentistas catalães coincidem com os dos ultra direitistas nos países membros da União: invocam o nacionalismo como forma de incitar à recusa de solidariedade entre os diversos países membros. A Catalunha, rica, não se conforma com os custos da solidariedade com, p.e., a Andaluzia, mais pobre. 

A inquietação sobre o desafio da Catalunha estende-se à União Europeia, lê-se noutro artigo publicado no El País. E há quem se ofereça como medianeiro entre as partes em confronto. 
"O líder do Partido Popular Europeu, o alemão Manfred Weber reclamou "diálogo entre democratas".
O eurodeputado espanhol Esteban González Pons, contudo, descarta o diálogo com o Governo catalão e recusa a mediação da UE, pedida por vários membros do parlamento europeu."

"A todos nos duelen las imágenes que vimos el domingo. Pero España no es Yugoslavia. Somos una democracia estable y madura, y no necesitamos tutelas. Ni mediadores con los políticos insurrectos. Vamos a dialogar, pero bajo el manto de la Constitución".

São inquietantes as cenas dos próximos capítulos. 

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Correl . - MITOS Y FALSEDADES DEL INDEPENDENTISMO

Tuesday, October 03, 2017

E COM QUEM VAI JOGAR O BARÇA?


Anteontem, na Catalunha, em dia de referendo, para além dos confrontos com a polícia nacional de Espanha, observou-se um facto sintomático do modo como pode o futebol vir a influenciar as pretensões dos independentistas catalães: o jogo entre Barcelona e o Las Palmas em Camp Nou realizou-se com as portas fechadas ao público. 
Um tema que comentei aqui em Novembro de 2014 e aqui em Setembro de 2015.

Segundo o que pode ler-se aqui, a selecção espanhola de futebol treinou ontem em Las Rozas, Madrid, e a reacção de cerca de duas centenas assistentes ao treino, entre cerca de mil, desafiados pelos cânticos de um grupo de dez jovens ultra nacionalistas contra a presença de Gerard Piqué, defesa central do Barcelona, nascido em Barcelona, -  “¡Piqué, cabrón, fuera de la selección!”. “¡Piqué, llorón, España es tu nación...!” acabou por provocar, após vinte minutos, a suspensão dos trabalhos, sem que alguns dos convocados tenha tocado na bola.

E a partir de agora, como vai ser?
O Futbol Club Barcelona, mas também o Espanyol  (curiosamente, Reial Club Deportiu Espanyol de Barcelona) e o Girona Futbol Club já anunciaram o seu alinhamento pela causa independentista. Na liga secundária é muito provável que se observem opções idênticas. O futebol motiva paixões e reacções frequentemente incontroláveis, a mistura com os instintos nacionalistas pode tornar-se explosiva.

Da União Europeia já chegou a mensagem de que a questão catalã tem de ser resolvida internamente e no respeito pela Constituição espanhola não sendo admissível como membro da União Europeia qualquer território separado à revelia da lei fundamental do país de que faz parte. 
E a FIFA, como reagirá a FIFA perante uma eventual declaração unilateral de independência da Catalunha? Apesar dos rombos que a FIFA apresenta na sua honorabilidade, dificilmente se pode prever que a Catalunha independente entre enquanto a Espanha não autorizar que ela entre. 

Alguém pode acreditar que isto não influenciará bastante o curso da querela independentista?

Wednesday, August 23, 2017

V E R G O N H A !


Quando, em vários apontamentos colocados neste bloco de notas, questionei a, para mim inexplicável, ausência dos militares portugueses no combate aos fogos florestais, estava longe de ter conhecimento da presença em Portugal, há dois meses, de militares espanhóis. 
É, portanto, para mim surpreendente só agora saber-se, através do Público online - aqui -, que há

"Centenas de militares e veículos espanhóis no combate aos fogos em Portugal
Membros de unidade das Forças Armadas operam há dois meses no nosso país. Meios aéreos do país vizinho já fizeram 525 horas de voo e 1814 descargas de água. Neste momento existem 20 aeronaves espanholas em Portugal."

Eu não sabia da presença de militares espanhóis no combate aos fogos florestais em Portugal mas, pelo que facilmente se deduz das notícias saídas há dias - vd. aqui, cit. aqui, os militares portugueses também não sabiam, foram surpreendidos com a presença de militares espanhóis em Pedrógão Grande e o ministro da Defesa não esclareceu a situação.

Que haja militares espanhóis a fazer em Portugal aquilo que os militares portugueses deveriam fazer não tem outro nome mais brando: É uma vergonha!

Que os militares portugueses não soubessem dessa presença e o ministro da Defesa não tenha prestado esclarecimentos aos meios de comunicação social (pelos vistos também eles desastradamente distraídos) é inconcebível. 

Que os deputados da Comissão Parlamentar de Defesa tenham manifestado ao Expresso estranheza "pela presença de veículos militares espanhóis em Pedrógão Grande, em Junho, e levantaram dúvidas sobre a sua legitimidade, tendo dito ainda que foi evidente a surpresa e desagrado de elementos militares portugueses ao depararem-se com a presença espanhola" só pode ser enredo de tragicomédia.

No mínimo, se os comandos militares são, ao que parece, inamovíveis, pelo menos o ministro da Defesa deveria demitir-se. 
Por que não?



Saturday, August 19, 2017

AFINAL O INIMIGO EXTERNO EXISTE E É ESPANHOL

Há dias dizia aquinão imagino quem possa ser mas partamos do princípio que o território nacional pode ser invadido por um inimigo externo ... " 
Menos de duas semanas depois ficámos a saber - vd. aqui -, que forças militares espanholas entraram em território nacional sem que os militares portugueses tenham dado por isso:

"um grupo de militares e várias viaturas do Exército espanhol entraram em Portugal na zona de Pedrógão Grande logo após os grandes incêndios que atingiram aquele concelho em Junho" ... "os responsáveis militares portugueses foram surpreendidos pela presença de tropas espanholas em território nacional. 
O Ministério da Defesa não esclarece a situação"

A notícia publicada no Expresso de hoje insere duas fotos do equipamento introduzido pelas forças invasoras. 



Que a tropa não tenha dado pelo assalto aos paióis de Tancos é gravíssimo.
Que a tropa espanhola entre em Portugal e a tropa portuguesa não compareça, o que é?

Thursday, December 01, 2016

HISTÓRIAS PARALELAS - E QUE VIVA ESPANHA!

Já em tempos anotei aqui que, por ter faltado o Frederico a uma aula, faltou-me o guache vermelho para pintar um burro castanho e Mestre Santa Maria riscou de uma ponta a outra a minha obra com um lápis encarnado. O Frederico, fiel depositário do vermelho, era meio endiabrado. A aula de desenho estava instalada no salão nobre da escola, as pequenas mesas de trabalho eram mais elevadas que as carteiras normais e os bancos móveis. Em dias comemorativos ou de recepção a alguma individualidade oficial, os contínuos retiravam as mesas e os bancos para um espaço de arrumações no rés-do-chão do edifício, e as aulas de desenho eram suspensas durante dois ou três dias, uma festa a triplicar para os artistas de palmo e meio.

Naquele ano, o primeiro de Dezembro entrou na quarta-feira, na segunda ainda houve desenho, na terça quem teria aula não teve porque a sala foi evacuada dos equipamentos habituais e colocada no extremo-direito da sala uma base elevada onde era instalada a mesa dos oradores que naquele dia incitavam o ardor nacionalista inspirado na "expulsão dos castelhanos", de um tal de Vasconcelos atirado janela fora por estar a tremer de medo, vejam lá se isto se percebe, dentro de um armário onde se tinha metido, pequeno demais para o tamanho dele, coisas que só costumam acontecer nas anedotas de amantes clandestinos surpreendidos em flagrante acontecimento. Era este Vasconcelos descendente, mas, provavelmente, no salão nobre onde se enaltecia a raça em doses brandas, ninguém sabia, talvez porque não houvesse ainda Internet, de D. Sancho I de Portugal, Henrique II de Inglaterra, Roberto II de França, Carlos Magno, entre outros das mais variadas nacionalidades. Com tão dispersa e dourada ascendência é admissível que o Vasconcelos não estivesse muito certo de que terra era. Além do mais, Vasconcelos foi defenestrado por ter aumentado os impostos, a mando de Filipe IV. Imagine-se quantas defenestrações haveria se hoje ainda o português valente mantivesse o sádico gosto de mandar os elevadores de impostos pela janela abaixo!

Na aula de desenho, mais ou menos a meio da sala, sentava-se, estrategicamente, na mesa à minha direita, o Frederico, o tal do guache vermelho, e os outros sócios da cooperativa das cores na mesma zona. Na mesa à frente do Frederico, a Amélia. 
Já não me recordo qual era a empreitada artística  de que estávamos incumbidos naquela segunda-feira. Do que me recordo, e seria preocupante se agora me tivesse esquecido, é da arte e enlevo com que Mestre Santa Maria, de pé, debruçando-se sobre a mesa de trabalho onde se sentava a Amélia, sustentava a posição com a mão esquerda e pincelava à direita umas andorinhas a esvoaçar sobre um castelo, seria um castelo?, que a nossa colega de turma tinha desenhado. 

A cada andorinha pincelada, Santa Maria endireitava o corpo, mirava o trabalho e voltava à posição anterior para outra andorinha. E é neste vai e volta às andorinhas que ao Frederico, que tinha mergulhado o pincel no guache vermelho, ocorre o incontido impulso de se debruçar para a frente sobre a sua mesa e passar o pincel pela parietal da calva de Santa Maria. Reage, instintivamente o Mestre, passando a mão direita por onde sentiu uma passagem fugaz, e fica apopléctico a olhar a mão manchada de sangue.
Santa Maria, já se disse, tinha atribulações mentais controladas, e essa vulnerabilidade era conhecida e respeitada pelos seus colegas mais novos, mas não comovia a garotada em transição para a juventude. E ficou possesso à procura da campainha que lhe trouxesse o contínuo de serviço e transporte para o hospital. 

Veio o contínuo, que convenceu Santa Maria que aquilo não era sangue mas tinta, e que, talvez ele mesmo, tivesse passado pela cabeça, distraidamente, o pincel com que pintara as andorinhas da Amélia. Não deveria o contínuo ter ido além das suas atribuições, não há andorinhas vermelhas e se aquilo era sangue ou tinta só o no hospital se averiguaria.
Ali mesmo ao lado, não contive o riso, e a risota espalhou-se.
Fomos imediatamente, eu e o Frederico, postos fora da sala. 

No dia 1 de Dezembro também fui dispensado das cerimónias. Eu, e a grande maioria, porque nas coreografias da Mocidade Portuguesa só entrava quem tivesse farda, e as fardas eram poucas  para o número total de alunos da escola, e no salão nobre, a nossa sala de desenho em dias úteis, não cabia mais ninguém além dos convidados, professores e alunos fardados.
Na segunda-feira seguinte soube-se que o Mestre já não voltaria até às férias do Natal.
Depois reformou-se.

Com o fim das aulas, princípios de Verão, a cidade começou a receber os habituais banhistas de Castilla y Leon: Salamanca, Zamora, Ciudad Rodrigo. Pelo fim da tarde, no jardim a animação  da pequenada espanhola, sob o olhar atento das mães, competia com a chilreada dos pardais. De olhos fechados poderíamos supor encontrarmos-nos em Burgos num fim de tarde.

E perguntava-me se ainda fazia algum sentido celebrar-se no inverno a expulsão de um povo que recebíamos de braços abertos no verão. Só faria porque o regime se sustentava, e continuou a sustentar-se  ainda durante vinte anos, numa excitação nacionalista que tinha, poucos anos antes, destroçado a Europa.


E que ameaça voltar a destroçar num cerco que se aperta desta vez de leste a oeste do mundo ocidental.
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Nos últimos três dias, as mais altas individualidades deste país receberam pomposamente os Reis de Espanha. No Porto e em Lisboa, os presidentes das duas principais autarquias entregaram-lhes as chaves de ouro das cidades. Filipe VI discursou ontem na Assembleia da República e, segundo me pareceu ouvir, só o BE não aplaudiu o monarca.
Esta manhã ouço na rádio que o trânsito está fechado na Avenida da Liberdade em Lisboa para desfile com filarmónicas celebrando a Restauração.
Restauração de quê?
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Correl . - The new nationalism

Saturday, September 26, 2015

COM QUEM VAI JOGAR O F C BARCELONA?

Em Novembro de 2014 coloquei aqui, em título, o mesmo titulo de hoje: "Com quem vai jogar o F B Barcelona" se nas eleições de amanhã os votos dos pró-independência forem claramente maioritários? 

No mesmo apontamento coloquei link para o El País que, nesse dia, apontava aqui: "Las 10 consecuencias económicas de una Cataluña independiente". 

 1 - Salida del euro y ausencia del BCE
 2 - Sin supervisión bancaria europea
 3 - Sin fondos estructurales y fuera del BEI
 4 - Impacto en los mercados y en la prima de riesgo
 5 - Dudas sobre la financiación, el déficit y la deuda
 6 - La caída del comercio y de los aranceles
 7 - Menos atractivo para la inversión extranjera
 8 - El riesgo de las deslocalizaciones
 9 - ¿El fin de la gallina de los huevos de oro del turismo?
10-  El coste de crear un nuevo país y del reingreso en la UE

Nenhuma destas 10 ameaças parece ter demovido os nacionalistas catalães. 
Hoje, quase um ano depois, o FT coloca aqui  a 11ª. ameaça : "Madrid warns Catalonia independence would be own goal for Barça", mais ou menos isto: Madrid alerta os independentistas catalães para um golo na própria baliza. Se a Catalunha se tornar independente, o Barça deixará de poder jogar na Liga Espanhola.
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Será que o 11º. argumento terá a força que os dez restantes, em conjunto, não parecem ter?
Amanhã, veremos.
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Curioso é que, se for o caso, um português, neste caso Cristiano Ronaldo, tal como os restauradores em 1640, influencie, de algum 
modo, as pretensões nacionalistas dos catalães.


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Friday, July 17, 2015

O "LÍO" DOS SOBERANISTAS EUROPEUS

O El País de hoje noticia aqui que o rei de Espanha recebe hoje o presidente da Generalitat da Catalunha, que lhe leva a intenção de prosseguir um "caminho jurídico" para a independência após a obtenção, vd. como aqui, de uma maioria clara dos catalães nesse sentido. Esta entrevista realiza-se apenas três dias depois de o mandatário catalão ter acordado com o líder da ERC, Esquerda Republicana da Catalunha, um plano para a soberania e um dia depois do presidente do governo de Espanha ter assegurado sem titubear que "não vai haver independência na Catalunha".

O que pode fazer Filipe VI enredado neste "lío" a enrolar-se há três séculos? Presume-se que, quanto muito, poderia tentar, à semelhança da Raínha de Inglaterra, manter-se como mestre-mor de cerimónias de um futuro Reino Unido das Espanhas. Não podendo as forças reais ir mais além é previsível que o catalão-mor lhe peça apenas o que o monarca lhe pode dar: equidistância na contenda entre Barcelona e Madrid. Mas aceitará Filipe VI a oferta do mandatário com o republicano de esquerda na antecâmara e as outras regiões autonómicas a observar-lhe as tendências? Não é provável, apesar das aparentemente boas relações entre Mas e Filipe. A independência da Catalunha precipitaria a desagregação de Espanha e abalaria ainda mais a estabilidade de uma União Europeia em desequilíbrio.


A crise grega tornou mais evidente a fragilidade de uma construção europeia sobre alicerces instabilizados pela ânsia de soberanismos, existentes e pretendentes. 
Os soberanismos europeus, radicados em percursos históricos antigos e confrontos seculares, reflectem hoje, em regimes democráticos, sobretudo sentimentos chauvinistas, de convicta superioridade intelectual, ou egoístas, de domínio de recursos que a natureza lhes concedeu, ou simplesmente basófias por imaginários de independência de que dificilmente lhe descortinam os horizontes e os suportes.

A solidariedade que a Grécia (ou Portugal, ou a Itália, ou a Espanha ) espera da Finlândia numa união de povos europeus é a mesma que a Andaluzia ou a Galiza esperam da Catalunha. As fracturas que poderão estilhaçar a Espanha têm as mesmas origens que podem desmontar a União Europeia.



Sunday, March 22, 2015

A BESTA E O SOBERANO


Na quarta-feira passada a direcção do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona decidiu cancelar uma exposição internacional colectiva - A besta e o Soberano - por causa de uma escultura da artista austríaca Inez Doujak, considerada demasiado polémica: representa o rei Juan Carlos de Espanha a ser cavalgado por Domitília Barrios de Chúngara, uma activista sindical e feminista boliviana, já  falecida em 2012. O conjunto alegórico remete, muito obviamente, para o imaginário das sequelas da brutalidade espanhola no continente sul americano há séculos atrás mas também, certamente, para a fogosidade do rei garanhão reformado.

Após o cancelamento, levantaram-se fortes protestos em nome da liberdade de expressão, e a exposição foi reaberta ontem.

Mais informação: leia aqui.

Friday, December 12, 2014

ECONOMIA ABSURDA

Chamam-lhe  o "Yixinou", um comboío chegado esta semana a Madrid, que inaugurou uma linha directa de mercadorias entre China e Espanha. Percorreu 13000 quilómetros em 21 dias, atravessou oito países, transportando 70 contentores de papelaria, artesanato e produtos de consumo doméstico. Metade dos contentores saídos em meados de Novembro da costa leste chinesa foram descarregados em Brest, na Bielorrússia. Está previsto que o "Yixinou" regresse depois do Natal carregado com produtos espanhóis. A Espanha é o sétimo parceiro comercial da China dentro da União Europeia e a China o primeiro parceiro comercial de Espanha fora da UE. As relações comerciais entre os dois países atingiram o ano passado os 20 mil milhões de euros.

É racional o comércio a tão longas distâncias de produtos que não exigem, certamente, mão-de-obra altamente qualificada, investimentos elevados, tecnologias não dominadas em qualquer dos extremos do traçado? Racional, no sentido que decorre de razões económicas prevalecentes num mercado globalizado onde os concorrentes se confrontam armados com os respectivos custos de produção e distribuição, sem dúvida. Mas porquê a Espanha, porquê a Bielorússia, se os produtos chineses transportados no "Yixinou" são papelaria, artesanato e produtos de consumo doméstico, segundo a notícia?

Só encontro uma justificação possível para a apetência dos nossos vizinhos espanhóis (não conheço medidas da nossa) para estes made in China: o preço e o gosto pelo kitsch. É impressionante o stock à venda, lá e cá,  de imagens de "Nossa Senhora", de S. José, presépios, com burrinho, vaquinhas e borreguinhos nas encostas de musgo sintético, com casinhas a fumegar, flores de todas as cores, de Cristo Crucificado, além de outros símbolos de veneração católica, made in China. 
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Já não há artesania em Espanha? Artesanato, há, mas é caro.  "Artesanato industrial", suponho que é assim que se designa a coisa,  pelos vistos, não.
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Mais:  vd. aqui, notícia do El País de que tinha chegado a Madrid o primeiro combóio de mercadorias
Correl. - Una mini España en Shangai