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Monday, September 23, 2024

ENGAWA NO CAM GULBENKIAN II

Na visita feita ao Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, vd. aqui, aberta anteontem para o público, depois de quatro anos em que foi encerrado por motivos de ampliação, a nossa apreciação ficou muito aquém das expectativas:

1 - Alargamento do espaço total - Os nossos muitos aplausos.
 
O espaço Gulbenkian prolonga-se agora até à Rua Marquês de Fronteira, em frente, do outro lado da rua, do Palácio Vilalba, onde esteve instalado entre 1946 e 2006 o Quartel General de Lisboa, e agora é sede da Provedoria de Justiça. (A propósito: por que despropósito foi transferida para o Palácio Vilalba a Provedoria da Justiça, certamente o menos relevante e influente na administração da Justiça em Portugal?)

Fica-se por saber que razões impedem a concretização do projecto - muito publicitado com imagens de ante visão dos resultados previstos - de ligação, por viaduto pedonal, do Espaço Gulbenkian ao, agora muito mal cuidado, ajardinamento do outro lado da Avenida Gulbenkian, e deste, também por viaduto pedonal, ao espaço em frente, que já foi parque de estacionamento, e agora é nada, assim como o terreno anexo onde existiu o restaurante Gôndola e uma vivenda, destruída, propriedade da Câmara Municipal.

2 - Ajardinamento do espaço alargado - Aquém do projecto do arquitecto Ribeiro Teles. 
Ainda assim, um aplauso.

3 - Arquitetura do CAM após expansão - Muito aquém das expectativas.
Quem visita o CAM verá muito divulgada a palavra "Engawa". Pronuncia-se, segundo nos disse uma das vigilantes, Engauá, ou sonoridade parecida.
Para saber o que é a (ou o?) Engawa, transcrevo da página do sítio (homepage) do CAM Gulbenkian:
 
"Temporada de arte contemporânea japonesa

Desde 2023 que a Temporada Engawa tem vindo a apresentar aos lisboetas um conjunto de artistas e pensadores do Japão e da diáspora japonesa, reunindo diversas colaborações com artistas e instituições culturais. Este programa investiga o modo como uma nova geração de artistas japoneses, num contexto de pressão social e psicológica, abraça uma diversidade de linguagens interligadas e considera o lugar da inteligência emocional como possibilidade de partilha para habitar o complexo mundo atual.

As obras que se apresentam no culminar desta temporada no CAM articulam-se e dialogam com o projeto do novo edifício, concebido pelo arquiteto japonês Kengo Kuma, e com a ampliação do Jardim Gulbenkian. O título da temporada toma o nome de Engawa, que se manifesta no CAM sob a forma de uma magnífica pala inspirada nas casas tradicionais japonesas, o símbolo deste projeto arquitetónico, e que é visto como um espaço de transição para encontros e transformação.

Engawa pode ser tomado como uma metáfora para um «espaço liminar», uma ideia amplificada na década de 1980 no Japão e no mundo ocidental através do conceito de 間 [ma]. Esta noção de «espaço liminar» ou de transição materializou a possibilidade de um diálogo comum, refletida nos movimentos artísticos multidisciplinares do Japão a partir do pós-guerra, um período em que emergiu uma multiplicidade de histórias paralelas que questionavam a ficção da história oficial que construía a identidade japonesa.

Este capítulo da temporada desenvolve estes temas através de um programa de exposições de arte temporal, projetos site-specific e obras encomendadas a artistas a meio de carreira, cujo trabalho é apresentado pela primeira vez em Portugal. As suas práticas levantam questões fundamentais sobre a nossa coexistência com os mais variados tipos de entidades na presente era de transformações tecnológicas, sociais e políticas, proporcionando perspetivas sobre questões que nos afetam a todos relacionadas com os problemas sociais, históricos e ecológicos que o mundo enfrenta na atualidade.

Num profundo processo colaborativo com o contexto intercultural de Lisboa e Portugal, o programa tem como objetivo refletir sobre o modo como as inter-relações entre perceção e emoção criam outras realidades. Também se relaciona com as principais exposições inaugurais do CAM e outros eventos de artes performativas, abrindo novas vias para a compreensão das ligações entre o Japão e o resto do mundo. No seu conjunto, estas ligações produzem uma circularidade prolífica, entrelaçando significados e narrativas, com destaque para as relações entre Portugal, o Japão e o Brasil.

Em 2023, apresentámos obras do coletivo artístico 目[mé], e dos artistas Ryoji Ikeda e Lei Saito na Fundação Gulbenkian e noutros espaços da cidade. A temporada incluiu um programa de homenagem à participação japonesa no movimento Fluxus internacional, em particular a Mieko Shiomi, importante compositora japonesa deste movimento, bem como uma intervenção no bairro lisboeta de Marvila pelo coletivo Chim↑Pom from Smappa!Group (CPfSG), em parceria com o Alkantara Festival 2023.

Curadoria de Emmanuelle de Montgazon, com Rita Fabiana."

Perceberam? Ainda bem que perceberam. 
Eu também percebi. Só não vejo como é que a vedeta de toda a transformação operada no CAM - "uma magnífica pala inspirada nas casas tradicionais japonesas" - seja tão admirável. 
Problema meu. 
Aquilo não não é uma pala, é uma enormidade, que, além do mais, não descobre porque reduz a visualização do espaço do jardim em frente. 
 
4 - Organização do Espaço Interior do CAM  - Para mim, incompreensível.
É incompreensível que tenham criado um espaço (escavado no solo) destinado à exposição permanente da Colecção de Arte Moderna da Gulbenkian, e acessível no canto esquerdo mais distante, o acervo (supomos que parte dele) da Colecção, em expositores rolantes. Obviamente, não rolantes a pedido de cada curioso.

5 - Exposição temporária de Leonor Antunes, ocupando todo o espaço principal do CAM - É um exagero que, tanto julgo saber, nunca antes tinha sido concedido a outro artista plástico.
Resulta melhor em fotografia que entre os objectos pendurados. 
 

Saturday, March 30, 2024

PRR JAPONÊS

PRR Japonês
PRR Portugês
- Descubra das diferenças a partir da segunda parte deste apontamento
 
Na página da Medeia FilmesEvil Does Not Exist - O Mal não Está Aqui. a sinopse do filme, começa pela referência elogiosa à carreira do realizador japonês Aku Wa Sonzai Shina, que lhe valeu diversos prémios. Não conhecemos outros filmes deste cineasta para além daquele que assistimos ontem, - no Nimas, uma sala modesta, sem pipocas nem coca cola, que se destaca dos buracos para projecção de filmes nos centros comerciais -  a abordagem feita pela generalidade das apreciações foca-se no aspecto mais saliente desta obra, a ecologia, as consequências decorrentes das agressões feitas ao equilíbrio natural do meio ambiente. Em resumo:
"Evil Does Not Exist - O Mal Não Está Aqui", o novo filme de Ryusuke Hamaguchi, pai e filha confrontam-se com a ameaça à sua vida em comunhão com a natureza. Filme é um conto ecológico sobre a construção de um parque de campismo de luxo".
 
O título que atribuí a este comentário, não corrige nem procura de algum modo contraditar as apreciações feitas pela generalidade da crítica especializada na arte cinematográfica porque apenas procura ver para além da temática central do filme que, no entanto, opta no fim por uma deriva que não é determinante para a pertinência da obra e que, pela minha perspectiva, o desvaloriza: um argumento menos forte tende a debilitar um argumento forte. 
 
O que no entanto parece ter escapado à generalidade dos críticos é a similitude entre as causas e as consequências em que se atravessam conveniências e conivências na subsidiação de planos de desenvolvimento económico e social (planos de recuperação e resiliência) após os anos de retrocesso da pandemia covid 19. 
No caso concreto que motivou este filme, e que parece corresponder, pelo menos parcialmente, a factos reais, uma empresa, supostamente especializada na caça de talentos, elabora um plano de instalação de um camping de luxo, destinado a altos quadros de grandes empresas situadas em grandes cidades (Tóquio é a 
referida no filme, como exemplo) que procuram férias num ambiente natural tão selvagem quanto possível para recuperarem da exaustão física e psicológica dos meses de trabalho intenso nos grandes centros urbanos. 
E enviam dois supostos talentos ao local onde vai ser instalado o camping de luxo para informarem os residentes, uma comunidade que ali vivia desfrutando a tranquilidade da natureza. 
É um requisito fundamental para aprovação do plano que os residentes sejam ouvidos, mas não necessariamente  atendidas as suas objecções. Os dois talentos, que se vem a saber depois que de talento terão pouco e conhecimento do assunto objeto da sua missão ainda menos, enfrentam, entre outras objecções dos residentes, uma  de ultrapassagem impossível para os dois talentos: o camping requer a instalação de uma fossa séptica que drenará os seus efluentes para os lençóis freáticos contaminando as águas puríssimas da região. 
Por esta razão, entre outras, voltam os dois talentos a Tóquio para transmitirem à direcção da empresa de caça de talentos as razões dos residentes. E que melhor seriam mesma que direcção ouvisse os residentes, presença, aliás, reclamada por estes.
Enfureceu-se a direcção à distância, a direcção está bem longe dali, ordenando aos dois talentos que voltassem ao local, e convencessem os residentes, se preciso fosse corrompendo o líder dos contestatários, caso contrário o projecto não seria atendido, a empresa perderia muito dinheiro e eles perderiam o emprego.
E que tudo deveria estar feito como devia, dentro dos prazos exigidos pelas regras de atribuição de fundos e subsídios atribuíveis segundo o plano de recuperação e resiliência após o tombo provocado pelo covid. 
Dos dois talentos, um desistiu, o outro terá morrido de exaustão.  

Lá como cá. Cá,  desde há muito tempo.
Escrevi aqui em 2 de Março: se ganhares, perdes; se perderes, ganhas.
Ganhou Montenegro.
O quê?


 

--- A propósito disto, 
 

Friday, January 06, 2017

TRUMP CONTRA TODOS, EXCEPTO PUTIN E COMPANHIA

Mr. Trump recebe hoje os relatórios de 3 agências de "intelligence" norte-americanas que concluem ter havido interferências dos serviços russos de espionagem nas eleições norte-americanas com o intuito de o favorecerem. Veremos como como é que Trump, que tem insistentemente tuitado contra os serviços secretos de informação do seu país se limpa a este guardanapo. 

Atirando em todas direcções, salvo Putin, Marine Le Pen, Nigel Farage, e outros comparsas da mesma trupe, a quem não regateia abraços, Trump, depois de avisar os chineses que vai colocar barreiras alfandegárias para proteger os empregos nos EUA, que Obama deixa em situação de quase pleno emprego, ameaça impor direitos aduaneiros à importação de carros Toyota se o fabricante japonês não desistir de aumentar as suas actividades no México. Já tinha ameaçado a Ford e a General Motors no mesmo sentido, mas enquanto estas, por serem norte-americanas vão dizendo que sim, veneradoras e obrigadas, os japoneses não parecem amedrontados e já anunciaram que não vão desistir do fazerem o que melhor entenderem, não se esquecendo de recordar a Trump as muitas fábricas que têm nos EUA e os empregos que elas garantem, principalmente no Kentucky.

Trump tem estado a negociar vários processos em disputa judicial antes de tomar posse no próximo dia 20. Um desses casos parece, no entanto, pairar sobre a "inauguration" como uma nuvem de mau augúrio para o sujeito que tem por lema comprar o que for preciso comprar para chegar onde quer chegar. 
José Andrés, um mundialmente reputadíssimo chef espanhol aceitou um convite de Trump. Quando Trump, durante a campanha eleitoral, começou a atirar ameaças contra os mexicanos, José Andrés denunciou o contrato invocando que a sua cozinha é espanhola e a maior parte dos que a apreciam são falantes da sua língua materna. Reagiu Trump exigindo a Andrés uma indemnização de 10 milhões por quebra de contrato, ripostou Andrés pretendendo ser indemnizado com 8 milhões por alteração dos pressupostos em que assentava o sucesso do seu trabalho. 
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Segundo notícias de última hora Trump já reagiu aos relatórios das agências considerando-os como uma caça à bruxas e que se recusa acusar a Rússia de interferência nas eleições em que foi eleito.
Ninguém esperaria o contrário.

Thursday, April 23, 2015

ARTE ASIÁTICA

Beauty in Spring

O Google relembra hoje o 140º. aniversário de Uemura Shōen, artista japonesa nascida a 23 de Abril de 1875. A arte asiática não participa ainda em medida muito evidente nos leilões dos nomes mais sonantes do negócio, apesar de alguns artistas plásticos, japoneses e chineses estarem a obter crescente reconhecimento dos coleccionadores ou investidores em obras de arte. Por outro lado, depois das aquisições feitas por japoneses durante o boom económico nipónico, os investidores chineses já colocaram o seu país também no primeiro lugar do mercado da arte ocidental. 
Um dia destes chegará a vez do entusiasmo especulativo pela arte asiática.
E evolução do valor da arte está sempre intimamente ligada à evolução da acumulação de riqueza apropriada por aqueles que, mais do que admiradores da obra adquirida, esperam que outros mais ousados ou mais abonados,  no futuro, subam a parada. Ou que eles mesmos, em tempos que considerem oportunos, provoquem a subida.

Monday, January 28, 2013

O DESAFIO AMERICANO

Para quem se recorde do título da obra de Jean Jacques Servan Schreiber de há meio século atrás, o desafio americano de hoje que este artigo publicado hoje no Washington Post me sugeriu é exagerado. JJSS tinha fundado o semanário L´Express em 1953, dez anos depois publicaria "Le défi américain", que iria estremecer o nacionalismo francófono e vender 600 mil exemplares. Dez anos mais tarde, apareceria em Portugal o "Expresso".  Na década de 80, publicou "Le défi mondial", que por ser mais prospectivo e abrangente não teve o impacto na opinião pública que "Le défi américain" tinha provocado, ainda que tenha antecipado a emergência da Ásia no contexto económico mundial numa época em que o Japão lhe poderia ter sugerido outro título mais apelativo.
 
Hoje, que desafio se coloca, não apenas à França de JJSS mas à União Europeia de que o seu hexágono faz parte? O desafio chinês? O desafio asiático? A espantosa ascensão do Japão depois de saradas as extensas feridas da guerra, suturadas em grande medida com a ajuda norte-americana, perdeu fulgor e no final da década de 90. Bill Emmott, que foi jornalista no "Economist" afirmava em 1990, em "The Sun also sets" "porque é que o Japão não será o número um". E não foi. Se confiarmos nos pressupostos de Emmott, concluiremos que, depois da rotação do mundo económico, o desafio americano voltará a emergir no horizonte.
 
A Europa, feita de uma diversidade cultural que lhe deu esplendor cultural e grandeza económica mas parece condená-la a um confronto permanente por ausência de um sentimento de pertença comum a uma realidade agregadora dos seus diferentes percursos históricos, está perante um dilema que a inibe de olhar sequer para qualquer desafio que se situe para lá dos seus múltiplos umbigos. Americano ou chinês, indiano ou brasileiro, russo ou qualquer outro, o ensimesmamento da Europa parece não se aperceber dos desafios do mundo, que não vai parar à espera que ela se liberte da teia em que a enredaram as irresponsabilidades dos banqueiros.
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Querido Banif
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La banque d´abord!

Friday, January 18, 2013

A MELHOR APOSTA


Soube-se hoje - vd aqui - que nos EUA os Republicanos dicidiram aumentar o teto da dívida por três meses, o que representa uma quase vitória de Obama. Quase, porque este recuo da oposição é significativo de que os conservadores dificilmente virão a querer assumir a responsabilidade de uma recessão que a admissão das suas propostas implicaria. De qualquer modo haverá um ajustamento da despesa, isto é, cortes de despesa suficientes para conformarem o défice com o novo teto "debt ceiling". São frequentes os relatos das consequências das restrições orçamentais.

No Economist desta semana, por outro lado, destaca-se a decisão do primeiro-ministro japonês, eleito recentemente, de realizar um programa de renovação de infraestruturas - vd aqui - de 13 triliões de yenes, cerca de 150 biliões de dólores, equivalente a 2,6% do PIB, um valor que excede o investimento público de reconstrução em consequência do terramoto de 2011. Criticado pela oposição de reincidir em políticas de obras públicas, defendem-no os seus apoiantes confiantes argumentando que este programa de cimento relançará a economia por, além dos efeitos directos sobre a actividade de obras públicas, provocar a desvalorização do yene e, desse modo, aumentar a competitividade da indústria japonesa no exterior.


A aposta de crescimento económico prevalecente nos EUA e no Japão subalterniza, portanto, o crescimento da dívida pública, que no Japão atinge os 200% do PIB, mas muito maioritariamente interna, e o câmbio das respectivas moedas. Aliás, se alguma intenção deliberada existe em matéria cambial ela parece resumir-se a "quanto mais baixo melhor". Krugman*, que tem apoiado uma política anticíclica nos EUA desde o deflagrar da crise em 2008 e criticado a politica de austeridade na União Europeia, determinada sobretudo pela Alemanha, a partir de 2010, tem aplaudido repetidamente a decisão do primeiro-ministro japonês logo que ela foi anunciada.

Porque a China joga com cartas viciadas e o valor da sua moeda, internacionalmente, reflete sobretudo as decisões do governo, a aposta da União Europeia é singular na mesa que junta os ainda principais protagonistas da economia a nível mundial. Até quando a aposta europeia pode ainda sair vencedora, não se sabe. O que se  sabe é que parece, e cada vez mais, perdedora.
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*Krugman publicava há dias um gráfico comparativo da dívida pública, que tem observado uma escalada sem precedentes  desde a Segunda Guerra Mundial, com a evolução praticamente insensível dos preços no consumidor.

Thursday, January 05, 2012

DAI-NOS TRABALHO, SENHOR!

People pray on the first day of business in 2012 at the Kanda Myojin shrine in Tokyo

People pray on the first day of business in 2012 at the Kanda Myojin shrine in Tokyo

O Financial Times de ontem publicava esta fotografia a ilustrar um artigo - Japanese manufacturing in search of salvation - Concern grows as sector behind postwar miracle shifts overseas - revelador das preocupações dos trabalhadores japoneses com a deslocalização da indústria japonesa para outras paragens, onde a moeda não é forte, os salários são baixos, os custos de energia são menos elevados, a tributação fiscal é baixa.

Num país que sustentou o seu florescimento no pós-guerra na sua capacidade de produção industrial, o encerramento das fábricas apavora um povo que, até há pouco tempo, dedicava toda a sua vida profissional à empresa onde começara.

A desindustrialização, que se acentuou aceleradamente nas últimas décadas, das economias ocidentais (vd.
gráficos abaixo) em consequência da globalização, está a atingir também acentuadamente a economia japonesa, implicando o diagnóstico de mais um longo período de estagnação do crescimento nipónico.

Uma das causas mais citadas pelos empresários japoneses para o movimento de deslocalização da indústria é a sobrevalorização do yen, referindo, a propósito, a política recentemente adoptada pela Suíça de defesa da sua competitividade cambial, enveredando, aliás pela estratégia dos políticos chineses ao atrelarem o yuan renminbi ao dólar norte-americano.

Se a moda pega, a guerra cambial não será uma pescadinha de rabo-na-boca.
A guerra generalizar-se-á aos outros factores de competitividade e a globalização das retaliações pode redundar num conflito bélico.

Em resumo (insisto nisto): O comércio livre ou é menos livre, através de uma regulação da globalização que previna a perversidade de alguns dos seus efeitos, ou redundará numa guerra interminável de competitividade salarial global com consequências dramáticas para a convivência pacífica no planeta
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Wednesday, September 23, 2009

CEU

Se há um pódio para as maiores potências mundias, os lugares cimeiros neste momento são ocupados, o primeiro, inquestionavelmente ainda, pelos EUA, o segundo, menos inquestionavelmente, pela China, o terceiro, muito questionavelmente, pela União Europeia.
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E digo, muito questionavelmente, porque a União Europeia em dois dos vectores fundamentais que suportam a superioridade estratégica dos blocos em que se reparte o mundo político, defesa e representação externa, apresenta fragilidades evidentes.
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Não me parece, contudo, que possa atribuir-se à Rússia, ainda a lamber muitas das feridas abertas pelo processo de reconversão a que foi sujeita, nem ao Japão, há muito estagnado depois de décadas em ascensão fulgurante, mérito relativo para ocupar o terceiro degrau.
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A notícia de hoje de que a Comissão Europeia procura antecipar-se à resolução do G20, marcada para amanhã em Pittsburg, Pensilvânia, na reformulação das regras do sistema financeiro, é um desafio a Obama e uma nota muito positiva de afirmação de quem tem na área económica e financeira uma força que lhe confere mérito suficiente para ser considerada um dos G3.
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Durão Barroso parece, deste modo, querer aproveitar a oportunidade de um segundo mandato para se afirmar como o representante de um parceiro que quer superar algumas contradições e ser a corpo inteiro uma das potências líderes deste século.
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China, Estados Unidos, União Europeia, um pódio em paz? Um pódio onde, pelo menos, o terceiro lugar continuará desde já a ser muito disputado.
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Thursday, August 20, 2009

PÓS CRISE


A edição de 8/14 Agosto do Economist dedicava a capa e o editorial à questão que aqui abordei: a vulnerabilidade da economia alemã resultante da sua dependência das exportações e, consequentemente, da evolução económica dos países seus clientes. O editorial do Economist concluía: "Now the country needs to gear up the domestic economy. Politicians often protest that services are for dodgy financiers or downtrodden burger-flippers and that Germany deserves better. As September’s vote draws near, they should think again, if only for the sake of millions of their underemployed compatriots. It is time to experiment."

A economia japonesa caracteriza-se por um perfil exportador semelhante. Não penso que tanto num caso como noutro se observe um paradima diferente daquele que tem caracterizado as respectivas economias.

O FMI confirma as últimas previsões acerca da inversão da tendência do ciclo e previne que devem os EUA aumentar as exportações e a China as importações, se se quiser sustentar a recuperação da economia global. Já agora, acrescento eu o que quase toda a gente diz, também Portugal tem de aumentar as exportações se quiser evitar o completo descalabro da sua economia. E, evidentemente, o exercício prolonga-se a todos os países do planeta. Se o FMI se refere às economias norte-americana e chinesa é porque elas são, incontestavelmente, agora, os pivots do comportamento económico mundial.

Mas "uma coisa pensa o cavalo e outra quem está a montá-lo". No caso português, toda a gente (ou quase) concorda que Portugal tem de aumentar a sua produtividade e competitividade para reduzir o défice externo e suster o crescimento das dívidas. Mas como é que isso se faz? Há várias receitas mas levam tempo a engolir. Como o potencial de crescimento continua a rastejar, mesmo que a crise global se extinga mais depressa do que ainda há bem pouco tempo era previsível, não nos sobrará grande margem para aproveitar plenamente a retoma. O menos mau que nos poderá acontecer é continuarmos a voar baixinho.

Nos casos dos EUA, da Alemanha, do Japão e da China, os quatro principais motores económicos mundiais, as questões que se colocam são completamente diferentes. China e EUA não têm alternativa senão prosseguirem políticas de ajustamento que possam permitir um maior equilíbrio entre as suas relações comerciais. À China não pode interessar continuar a empilhar dólares em reservas ou aplicações em dólares susceptíveis de desvalorizações. Os EUA não podem continuar a sustentar-se com o crescimento do endividamento externo. Uma das consequências deste reajustamento passa necessariamente por uma alteração do papel da divisa chinesa no contexto do sistema financeiro internacional.

À economia norte-americana detem o mais elevado índice de produtividade do mundo e é ainda uma das mais competitivas. Não lhe falta potencial para voltar a ser o principal motor da economia mundial. Durante os últimos anos a disponibilidade chinesa para vender e financiar os compradores provocou um desequilíbrio comercial que não pode perdurar indefinidamente.

Que podem os norte-americanos exportar? Em princípio tudo, ou quase. Não lhes falta nem capacidade física, nem competência humana, nem know-how. Exportar mais ou menos depende fundamentalmente das condições que o mercado lhes oferecer ou lhes pedir. Até agora os mall têm enchido as suas lojas de produtos maid in muitos países, com particular destaque para a China. Mas isso não significa que não haja competência para produzir os produtos importados em território norte-americano. A longo prazo o mercado cumpre a razão porque nasceu: a troca. Ninguém pode perdurar a vender (a comprar) mais do que comprar (vender).

Monday, May 04, 2009

E O JAPÃO, COM QUEM APRENDE?


Europe must learn from Japan’s experience
Wolfgang Munchau

Our Great Recession has been compared with several crises of the past, but Japan’s lost decade is perhaps most relevant. This is not because of the way the two crises developed – we do not yet know what will happen to us – but because of our failure to learn from Japan’s mistakes. Otto von Bismarck said only fools would learn from their own mistakes, while he preferred to learn from the mistakes of others. We are mostly fools.
I am particularly struck by the similarity of the policy responses in Japan then and Europe today.
Adam Posen, deputy director of the Peterson Institute in Washington, made the following observation in a book* he published in 2000 about the parallels between Japan’s lost decade and US policy during the savings and loan crisis. He wrote: “Bank regulators issued a litany of announcements meant to be reassuring about the extent of the bad loan problem and the adequacy of Japanese banks’ capital, each of which was correctly disbelieved by other financial firms, foreign banks, and by Japanese savers as understating the problem.”
This is exactly what is happening in Europe today. Governments are not coming clean on the scale of the crisis. Süddeutsche Zeitung, the German newspaper, recently revealed an internal memo from Bafin, the country’s banking regulator, showing the estimated scale of write-offs would be more than €800bn ($1,061bn, £712bn), about a third of Germany’s annual gross domestic product. By comparison, the entire capital and reserves of its monetary and financial institutions were only €441.5bn in February. If the leaked number is true, it would mean the German financial system is broke.
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Monday, January 26, 2009

MALTHUS REVISITADO

Afirma João Miguel Vaz, em comentário a propósito do artigo Japan Works Hard to Help Immigrants Find Jobs, publicado no Washington Post, que citei aqui :
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Discordo em absoluto da noção: a falta de crescimento demográfico é um problema.
O planeta tem gente a mais, especialmente o Norte Ocidental e o Sudoeste Asiático. A pressão sobre os recursos torna-se sim um problema dramático. A procura do crescimento pelo crescimento, mais e mais bens materiais, até ficarmos inanimados por uma obesidade mórbida, e aborrecidos de morte tal é a abundância de tudo e mais alguma coisa. Já no Sul a escassez de recursos conduz à existência de má nutrição de grande parte da população.O problema das nossas sociedades (e do Japão) também é que deixamos de saber viver sem "crescimento económico" i.e. sem estarmos obcecados com "o ter".
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As the world population continues to grow geometrically, great pressure is being placed on arable land, water, energy, and biological resources to provide an adequate supply of food while maintaining the integrity of our ecosystem. According to the World Bank and the United Nations, from 1 to 2 billion humans are now malnourished, indicating a combination of insufficient food, low incomes, and inadequate distribution of food. This is the largest number of hungry humans ever recorded in history. In China about 80 million are now malnourished and hungry. Based on current rates of increase, the world population is projected to double from roughly 6 billion to more than 12 billion in less than 50 years (Pimentel et al., 1994). As the world population expands, the food problem will become increasingly severe, conceivably with the numbers of malnourished reaching 3 billion.

Friday, January 23, 2009

MARÉS

Quando, há uns anos, visitei uma fábrica japonesa na região do Monte Fuji, fui surpreeendido pela inscrição, em português, em letras brancas, compridas, uns dez centímetros, num chão verde, impecavelmente limpo: de um lado, "Olhe à esquerda", do outro, "Olhe à direita". De repente, não percebi o que se passava, penso que admiti estar subitamente transtornado após alguns dias sem ver palavra em caracter alfabético, ou que, por gentileza extrema dos meus anfitriões, eles tivessem preparado a minha visita ao ponto de inscreverem mensagens que me evitassem algum atropelamento.
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Obviamente, nada do que instantâneamente me ocorrera ao ler os avisos tinha a ver com a razão porque eles estavam ali quando as portas se abriram. A razão era bem mais prática: Com o objectivo de atrair imigrantes que contrariassem o declínio demográfico no Japão, o governo nipónico decidiu alterar as leis restritivas da emigração nos anos 90 e, em sequência disso, mudaram-se para lá cerca de 500 000 trabalhadores brasileiros de ascendência japonesa com as suas famílias. Que, naturalmente, não sabia, e muitos ainda não sabem, falar japonês. Daí a necessidade de advertir os trabalhadores brasileiros do movimento dos robots na fábrica.
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Lembrei-me disto quando hoje li no Washington Post: Japan Works Hard to Help Immigrants Find Jobs. A crise também chegou ao Japão e muitos desses imigrantes, tendo perdido os seus empregos ou correndo o risco de os perder, estão a pensar em voltar ao Brasil. O que, no entanto, as entidades locais estão a tentar contrariar com medidas de apoio à sua permanência no país onde estes imigrantes têm as suas raízes e que, sem eles, verá o seu declínio demográfico ainda mais acelerado.
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Uma perspectiva de repensar a forma de ultrapassar a crise que parece avolumar-se cada dia que passa.