por Marcelo Moraes
Está sempre por perto, não tem preço, só faz bem, é de todos e não se esgota; gente grande ou pequena pode fazer, e os animais também; quanto mais se pratica, mais ele se fortalece. É um gesto ou sentimento. Nós, humamos, o chamamos de... Carinho.
É algo tão simples, porém de difícil manifesto para alguns (suposição). Transmitir carinho a alguém pode ser motivo de chacota para uns, enquanto para outros a força motivadora para a vida. Povos diversos com costumes que assim o valorizam, ou que o desprezam. E nós aqui, brasileiros, vez ou outra ficamos no meio termo.
Nunca tive problema em transmitir este gesto, muito menos em recebê-lo. Claro que isso tem a ver com a criação, com a educação recebida na família, afinal, grande parte dela aprendemos na infância. Então, quanto a isso, não posso reclamar, pois carinho não me faltou. Mas, afinal, carinho é um gesto único como o abraço? Não, pelo menos não que eu saiba, pois podemos demonstrá-lo em diversas situações: um abraço propriamente dito, um beijo, uma carta, um presente, uma ligação, uma visita, uma tarde junto com alguém, um aperto de mão, um olhar, um sorriso...
Um gesto genérico, poderia dizer, não é? Mas sempre depende da situação e da proximidade entre as pessoas, ou entre pessoas e animais, ou entre pessoas e plantas, ou entre pessoas e coisas (carinho pelo trabalho, pela sua casa, pela refeição preparada...).
Hoje em dia tornou-se mais prático para nós, simplesmente passarmos um e-mail dizendo um "oi" ou perguntando por notícias; deixar um recado nos sites de relacionamento com um "passando pra dizer um oi, ou um beijo"; bater um longo ou curto papo pelo messenger; os torpedos. Aos que se entregaram a estas ferramentas tecnológicas, dificilmente vai dizer que está sempre ligando ou visitando seus contatos que sempre deixam recados on-line. Isso até pode acontecer, mas dentre tantos conhecidos, poucos serão os felizardos de terem o "ar da nossa graça" ao vivo!
Ainda ouvimos dos que são resistentes à tecnologia, dizer, que isso não tem nada de humano as pessoas se falando sem se ver, se ouvir... E elas não estão totalmente erradas. Se fizermos uma exceção aos contatos distantes que temos e que conquistamos frequentemente pela web, aqueles que estão próximos de nós (isso inclui parentes e amigos), por que tornou-se tão distante este contato humano? O trabalho nos ocupa muito tempo, sim, mas não trabalhamos o tempo todo! Não dormimos o tempo todo! Não ficamos na net o tempo todo (opa, aí eu me engano, né?)! Acabamos substituindo hábitos mais humanos para hábitos mais mecânicos, padronizados, com palavras de sentimentos coletivos.
Pensando nisso, já faz um bom tempo que procuro evitar de enviar e-mails assim, aqueles que são encaminhados com palavras "bonitas, imperdíveis e com uma lista de e-mails gigantesca que receberam a MESMA atenção que eu", pois para mim, mesmo que o contato seja de certa forma mecânico, deve ser pessoal. Procuro, então, escrever diretamente à pessoa, com as palavras que EU quero dizer a ela e não a todos, afinal, cada um é único naquilo que nos representa. E da mesma forma, procuro me encontrar ou me comunicar o mais "offline" possível com meus contatos, ops, com meus amigos e parentes. Poder ver os olhares, dar aquele abraço, sorrir, falar, ouvir...momentos que nos custam a acontecer mas que valem muito serem vividos (mesmo se for por alguns minutos ou algumas horas). Como eu disse, eu só evito, mas não me proibo "de", pois certas mensagens, dosadamente recebidas, não atrapalham nosso contato humano.
Recentemente passou no Fantástico, uma matéria sobre assaltos em lojas, onde os assaltantes, geralmente menores, portavam armas e agrediam as pessoas do local após o assalto. E quando digo agrediram, é no peso real da palavra. As cenas não me deixam enganar.
Diante de todas estas cenas, a que mais me chamou a atenção (e acredito que a todos que sofreram a violência), foi a do pai "assumindo que 'acha' que errou" na educação do filho e, em seguida, pede "perdão às vítimas pelo que o filho fez". Desculpa, "pai", o senhor quis dizer que seu filho agride pessoaS e, depois, é só pedir "perdão"? Quando ele mata o senhor pede também? É só uma dúvida que eu tenho...
Uma boa parte da matéria é "conversa pra boi dormir", pois repete as mesmas falas de que o jovem é isso, que o jovem é aquilo, que estava drogado e bla-bla-bla... Quando se fala em agressão não tem que ficar fazendo "onda" não, a pessoa cometeu o ato, agora resta dar a devida PUNIÇÃO. O que mais vai adiantar ficar só falando de possibilidades de ela estar drogada ou não? Talvez deixe a matéria esteticamente "completa", é isso (ahan...)!
Existem várias maneiras de se criar um filho (ou dois, ou três, ou quatro...). Cada pai pode justificar como:
- eu já coloquei ele no mundo, agora o mundo que se encarregue de cuidar dele;
- eu não queria que ele nascesse agora, não contava em ser pai (ou mãe) tão cedo;
- eu não tenho tempo para dar atenção a ele(s);
- não adianta eu falar, ele(a) não me obedece;
- você quer que eu faça o que, se ele é assim?;
- eu já trabalho o dia inteiro e ainda quer que eu dê atenção a ele?
- meu filho tem de tudo, não falta nada pra ele...
- onde foi que eu errei?
Com certeza deve haver muitas outras justificativas de pais "relapsos" (não sei se é bem este o termo), mas independente da vida que levam, dar carinho vai além de qualquer uma destas dificuldades (ou obstáculos) que enfrentam. Os animais, dos mais selvagens aos mais domesticados, praticam o carinho com a sua prole (ou semelhante) sem qualquer manual de instrução que lhe ensine o que fazer. Enquanto isso, muitos humanos continuam achando que colocar um filho na escola já está dando "educação" a ele. Então, carinho tem preço? Não vem mais de berço, vem da escola? Preciso me atualizar, então, vou procurar urgente um curso de especialização em carinho. Talvez aquele pai da reportagem não teve um professor BEM CAPACITADO para ensinar carinho ao seu filho... E eu, então, sem curso (olha o perigo!) não estou ensinando carinho aos meus alunos! #medo #vergonha
Só espero que este pai, possa, de alguma maneira, aprender com o ato do filho, a sentir um pouco mais as dores dos outros que sofreram (e talvez continuarão sofrendo) e ver que, no fundo, o que mais faltou ali foi uma boa e constante dose de carinho, mas..., se ele pediu (e não o filho) "perdão" aos outros, com certeza ele recebeu uma dose, mesmo que mínima e de singela educação, deste gesto nobre e fundamental que é de todos em algum momento da sua vida. E por que, então, não passou isso adiante? Mais uma dúvida que tenho...
Sei que apenas dar carinho a alguém não CURA, nem resolve os problemas do mundo (coisa óbvia e lógica), mas não preciso de dados estatísticos nem clínicos para saber que, pelo menos, ele impede ou contribui e muito para que este mal não se dissemine...
Agora, para terminar meu "fantástico mundo de Bob" ou de "Lucas Silva e Silva", tenho mais uma dúvida: Será que faltou carinho para esta CRIATURA também? Clique no link e desvende este mistério para mim...Agradeço desde já a intenção. Obrigado.