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19 de janeiro de 2014

Entrevista a Pedro Garcia Rosado



O próximo entrevistado é Pedro Garcia Rosado. Autor das séries policiais "O Estado do Crime", "Não Matarás" e "As Investigações de Gabriel Ponte", que usam sempre como pano de fundo a realidade portuguesa e que abordam temas polêmicos. 

Quero agradecer ao Pedro Garcia Rosado a disponibilidade para fazer esta entrevista. 

O próximo livro, "Morte nas Trevas", vai ser publicado em Maio, e já tem a partcipação confirmada de Joel Franco e Ulianov. 



O Estado do Crime


- Gabriel Ponte e Joel Franco são dois protagonistas dos seus livros. Como é que os criou? Qual as principais diferenças entre eles?

A literatura policial requer, normalmente, um investigador criminal como herói, ou como protagonista principal. A legislação portuguesa comete essa função, no que se refere ao crime de homicídio (que é o elemento fundamental de qualquer história deste género literário), à Polícia Judiciária. A criação de uma série, de várias histórias com um protagonista fixo, requeria um investigador criminal e ele devia ser, inevitavelmente, um inspector da PJ, da Secção de Homicídios, de preferência com experiência noutras áreas para o âmbito das histórias poder ser alargado. Foi desse modo que nasceu Joel Franco, como um investigador bem integrado no sistema, e com base na recolha de informações sobre as circunstâncias reais da actividade da PJ. Quando a série “Não Matarás” ficou parada, por motivos que me são alheios, não quis fazer um “clone” de Joel Franco e nasceu então a figura de Gabriel Ponte, como uma espécie de inspector de algum modo renegado. Gabriel Ponte tem maior liberdade de movimentos (e talvez precise dela se começar a investigar alguns casos por conta própria...) mas Joel Franco, apesar de ser um homem mudado e de certa forma revoltado, continua na PJ, como investigador. E os seus caminhos vão cruzar-se.

- Usa sempre Portugal como cenário principal dos seus livros, porque essa aposta?

Quando pensei em escrever histórias, e de acordo com as minhas preferências literárias (nessa altura na área do fantástico), pensei que seria impossível encontrar cenários para histórias de mistério, ou de crime, num país tão pequeno como Portugal. Mas depois, quando a certa altura, pensei em começar a desenvolver uma história com a dimensão de poder ser livro, se tivesse qualidade para tal, percebi que havia espaço, geográfico e não só, para contar histórias passadas no nosso país, aproveitando cenários que conhecia, como foi o caso do Alentejo, em “Crimes Solitários”, o meu primeiro “thriller”, em 2004. Dez anos depois continuo a pensar que a realidade geográfica e social é óptima para muitas histórias – Caldas da Rainha, em cujo concelho vivo, já forneceu cenários para “O Clube de Macau” (2007), “A Guerra de Gil” (2008), “Triângulo” (2012), “Morte com Vista para o Mar” (2013) e agora “Morte nas Trevas” (2014). E Lisboa e os seus subúrbios têm muito que explorar e aproveitei a cidade para “Ulianov e o Diabo” (2006), “A Cidade do Medo” (2010), “Vermelho da Cor do Sangue” (2011) e “Morte na Arena” (2013). E em 2015 talvez Gabriel Ponte vá até ao Alentejo...





- Nos seus livros aborda diversos assuntos polêmicos como a corrupção, emigração ilegal e o tráfico de influências, acha que a nossa realidade é assim tão negra?

Não é, mas a literatura policial tem de viver desses aspectos mais sombrios da sociedade e eles existem. Eu recolho a inspiração, principalmente, do que vou vendo nos jornais e essa realidade portuguesa mais sórdida tem sido tratada com toda a plausibilidade, o que é essencial, respeitando a fronteira entre a ficção e a reportagem mas aceitando que a vida real e os seus protagonistas invadam as minhas histórias.

Além de ser escritor, você também é tradutor, quais são os livros que mais gostou de traduzir?

Retenho cinco, dos cerca de cinquenta que já traduzi desde 2007: o mais recente foi o primeiro volume de “The Story of de the Jew”, do historiador Simon Schama (Temas e Debates), que é uma obra admirável sobre o judaísmo e os judeus; “Tríptico”, de Karin Slaughter (Topseller), um “thriller” perfeito que eu já tinha lido há vários anos e que redescobri ao traduzir; “Cada Dia, Cada Hora”, da romancista croata Nataša Dragnić (Porto Editora), uma bela história de amor; “Cornos”, de Joe Hill (1001 Mundos), uma combinação notável de uma história de amor com uma história de terror; e “Aliança”, do jornalista Jonathan Fenby (Quid Novi), um relato empolgante sobre a aliança Roosevelt – Churchill – Estaline.;


Não Matarás


- Para si, qual é a importância dos blogues na divulgação de livros?

O desaparecimento da crítica literária objectiva e independente de modas e favoritismos da imprensa, em geral, deixou um abismo difícil de atravessar – como é que os livros que vão saindo chegam ao conhecimento do público com uma opinião alheia aos editores e aos autores? Os blogues literários estão a cumprir essa função e da melhor maneira: os seus autores estão a ler, de acordo com as suas preferências literárias, e estão a dar opinião. E estão mais acessíveis – “on line”. Penso que os blogues literários poderão evoluir, pelo menos alguns, para sites mais estruturados sobre livros e, inclusivamente, encontrarem alguma forma de se sustentarem, alargando ainda mais a sua intervenção. E há mais: os seus autores, porque gostam de ler e têm opinião sobre aquilo de que gostam e não gostam, poderão estar até melhor preparados do que os jornalistas que, em alguns casos, parecem, parecem mais permeáveis a editoras do que a autores e géneros literários, sem memória e sem conhecimentos.

- De onde nasceu o seu interesse pela literatura?

Sempre me lembro de ter livros em casa, desde que comecei a ler, desde aventuras juvenis (de René Guillot, Jules Verne, Edgar Rice Burroughs, Emilio Salgari) aos géneros que depois fui procurar por interesse própria (fantástico, FC, mais tarde o policial, a banda desenhada franco-belga mas também a americana). E depois fui lendo sempre, com a regularidade com que ia ao cinema. Mesmo com menos tempo há sempre um livro por perto, a ser lido ou à espera de ser lido.


As Investigações de Gabriel Ponte



Quais os seus escritores preferidos?

Actualmente, Carl Hiaasen, Harlan Coben, James Ellroy, John Le Carré, Karin Slaughter, Lee Child (por enquanto...), Stephen King (às vezes) e a grande, muito grande, Ruth Rendell.

- Já tem mais projectos em mente?

A série começada com “Morte com Vista para o Mar”, com Gabriel Ponte, já me ocupa bastante (o quarto livro da série sairá em 2015, tendo para já “A Morte da Honra” como “working title”) e há uma convergência e uma cumplicidade muito grandes com a Topseller, que muito me agrada, quanto à sua continuação, enquanto tal for possível. Mas tenho em mente escrever um romance, diferente no estilo, sobre o jornalismo e os jornalistas. Dos meus mais de vinte anos como jornalista reuni muitas histórias, pessoais e outras, que podem dar um bom romance, quando passadas para o quadro de crise em que a Imprensa vive.

4 de maio de 2013

Entrevista ao escritor David Anthony Durham


A primeira entrevista internacional do blogue é com o autor norte-americano David Anthony Durham, autor da saga de fantasia "Acácia", o romance histórico "Leões de Cartago" entre outros.

Quero agradecer ao David pela sua disponibilidade em fazer a entrevista. E desejar-lhe toda a sorte nos seus futuros projectos.


Eu decidi publicar a entrevista sem traduzir o seu conteúdo por achar que na tradução a mesma poderia perder o significado.




How did you decide to become a writer?

I wouldn’t really say I “decided” to become a writer. It’s more that I realized that I already was a writer. Born that way, I guess. I’ve always had stories in my head. Initially, I didn’t do anything with them. I would imagine a story, live with it for awhile, and that it would fade away.

When I was thirteen, I had to keep a journal for one of my school classes. I had to write in it regularly. That forced me to write some of the stories I already had in me. That was when I first realized that my stories could be lasting things if they were written down.

I also told stories through role playing games like Dungeons and Dragons. I was always the Dungeon Master, and we often went on adventures of my own creation. That was a way to continue to be a storyteller, even if I didn’t yet have a clear focus.

In college finally I got serious about writing fiction. I realized that I needed to put some of those stories on the page, to trap them there and see what I could really make of them. That's what I have done ever since.

When did your interest books started?

When I discovered fantasy. Like so many other writers, I fell in love with reading because of a hobbit's adventures in Middle Earth. And by going through that wardrobe into Narnia. And by sailing the oceans of EarthSea. When I was young, reading was an intense, very private thing for me. My friends weren't particularly avid readers. My family members weren’t that interested in books. So reading was something I did on my own. In many ways I needed the escape I found in fantasy.

You started with historical fiction books, why did you decided to write a fantasy trilogy?

Though I started as a fantasy reader, I got more “serious” in college. I discovered history and became fascinated with it. Combining my interest in history with my desire to tell stories seemed like the perfect way forward. For three novels, that was enough for me.

When I began to think about my fourth novel, though, I wanted a change. My reading had been shifting back toward fantasy. Partly, this was because I had kids and was reading my old favorites with them. But also I found myself reading fantasy and science fiction on my own. I remembered the imaginative potential of the genre, and felt that I could write about serious topics within imagined worlds. What could be better?

How did you build the world of the Acacia trilogy?

I approached it as if I was writing an historical novel. I asked myself the same questions, but instead of researching the answers I created them. I needed to get a feel for the geography of the world and to figure out how these different climates and terrains created different cultures, different racial and ethnic groups. I had to figure out what they traded, which group had resources and which groups needed them. The more I knew about all of these things, the more the history of the world took shape.

The Acacian Empire is a exploitive one, but at the beginning of the book the main characters are young. They don't know the full history and reality of the riches they have inherited. So, readers come to understand how things really at the same time the main characters do. That, to me, is why fiction works. It's not just a matter of having worldbuilding information. You need characters living through a story to lead you into that world.



Do you have much contact with your fans?

Yes, more so than when I wrote historical fiction. The internet is a big part of that. I have a blog and Facebook page. My email is public and I regularly hear from readers. I always write back, too!

Also, I go to science fiction and fantasy conventions: Worldcon, World Fantasy, Readercon, Boskone. I've been to Eastercon and British Fantasy Con in the UK, and twice been to Imaginales in France. I even went to the Elf Fantasy Fair in the Netherlands a few ago! I love meeting fans and hanging out with other writers. I have many, many writer friends now, and each con is like a reunion of old friends. This contact is important because most of the time I'm home with my computer and the thoughts in my head. Getting out an interacting with people keeps me from going too crazy.

Have you ever been to Portugal? If not, would you like to visit Portugal?

I have not been to Portugal. But I would LOVE to visit. Absolutely. Saida de Emergencia once mentioned the possibility of bringing me over, but it never happened. I hope the opportunity comes up again.

It may be easier in a few years. My wife is Scottish, and I've lived in Scotland before. We're in the United States now, but we're considering returning to Scotland in a few years. If so, it'll be much easier to get across to Europe. And Portugal is at the top of my list. So... expect to see me over there before long!

Which historical civilization do you like the most?

Well, I wouldn't want to actually have lived in very many other time periods. Things are rough now, but every time period I can think of had its share of dire problems. So I'll stay here in the 21st Century!

But in terms of fiction... it is fun to voyage into far away times. I've written about the ancient Roman period with Pride of Carthage. That world continues to fascinate me. Ancient Egypt interests me a lot. I am working on a fantasy series for kids set in Egypt.

Do you have a favorite character from one of your novels?

Many, of course. They all mean a lot to me. If I had to pick one this minute I would chose Mena from the Acacia books. I love that's she's physically small but incredibly talent at fighting. She's got a violent gift, but behind it she has a thoughtful, generous mind. Her aerial fighting scenes on Elya's back were some of my favorites to write.

Who are your favorite writers?

Too many to name! I like different writers for very different reasons, and I read in many genres. Fantasy: George RR Martin, Ursula K LeGuin, Neil Gaiman. Heroic Historical Fiction: Bernard Cornwell. Space Opera: Alastair Reynolds, Ian Banks, Richard K Morgan. Contemporary American Fiction: Michael Chabon, T.C. Boyle, Toni Morrison. Science Fiction: Octavia Butler, Kim Stanley Robinson, Neal Stephenson. Horror: Dan Simmons, Stephen King. Crime: George Pelecanoes, Dennis LeHane, Ian Rankin. Young adult fantasy: Paolo Bacigalupi, Margot Lanagan. Children's fantasy: Jonathon Stroud, Angie Sage, Suzanne Collins, Kai Meyer. World Literature: Gabriel Garcia Marquez, Milan Kundera, Ben Okri, Mario Vargas Llosa.

I could go on and on and still be naming "favorite" writers. They're all important to me! I wish that I was able to read more non-English fantasy. Unfortunately, very little of it gets translated. One day, I hope.

What is your favorite book?

The next great one that I haven't read yet.

Would you like to leave a message for your Portuguese fans?

Thank you for being interested in Acacia. I very much hope you like it and spread the word about the series. If you do, I would jump at the chance to come to Portugal and eat and drink and talk with you. I hope that happens!


29 de março de 2013

Entrevista ao escritor Pedro Ventura

Pedro Ventura é o próximo autor entrevistado. Ele recentemente relançou "Goor - A Crónica de Feaglar" numa edição de autor, que poderá comprar aqui.

Dos livros publicados pelo autor eu li "Goor - A Crónica de Feaglar I" e "O Regresso do Deuses - Rebelião", que são dois romance épicos de imensa qualidade. E eu estou desejoso de ler o final do Goor.

Quero agradecer ao Pedro a disponibilidade para fazer esta entrevista e pelo autografo e dedicatória que fez no livro.  






Oito anos depois, Goor - A Crónica de Feaglar está de novo a venda, como tem sido a reacção dos leitores?

Tem sido bastante positiva, apesar das minhas limitações em termos de divulgação. Mas é uma luta bastante complicada – muitas pessoas só estão interessadas em ler os temas da "moda" e torna-se difícil flanquear esses gostos que têm uma máquina bem oleada a amamentá-los. Espero que o livro me ajude em termos de marketing, divulgando-se a si próprio com o passar do tempo. De qualquer das maneiras, já estou habituado a ter de lutar – nunca nada me caiu de bandeja...

Poderá falar-nos um pouco de Feaglar e Gar-Dena, personagens principais de Goor - A Cronica de Feaglar.

O Feaglar é aquele sujeito iluminista cheio de boas intenções (apesar de não ser isento de alguns defeitos, obviamente) que gostaria de ter a governar o meu país. A sério! A Gar-Dena... Bem, por estranho que possa parecer, sempre fomos um pouco distantes. A minha personagem feminina preferida é outra...

Se fosse uma personagem do universo Goor qual escolhia e porquê?

Talvez o capitão Thalian. É um tipo decente e competente. Não dá muito nas vistas, mas é um pilar essencial para os que rodeiam. Gosto de pessoas assim.
 



Como se inspirou na criação do mundo de Goor?

Sinceramente, não procurei criá-lo – não o projectei, digamos assim. Ele surgiu per si na minha mente e o enredo foi-se desenrolando de uma forma natural. Costumo dizer que fui um mero cronista de acontecimentos que presenciei. Não foi fácil porque, por vezes, tornava-se difícil acompanhá-los com a escrita, mas fiz o que pude.

Qual a personagem por quem nutre um maior carinho?

Calédra, sem dúvida! É um mulher pragmática, obstinada e apaixonada, com aquele "je ne sais quoi". Depois dos Goor, senti-me em dívida para com ela e tive de lhe dar protagonismo em O Regresso dos Deuses. Curiosamente, há quem a adore ou estranhe a sua frieza e sobranceria, duvidando até que uma personagem assim pudesse assumir um papel de liderança. Será? A "nossa" História parece dizer o contrário... Além do mais, quem preferiam ter do vosso lado numa situação em que se pode ter a vida em risco? A Calédra ou a Buttercup? Não entendo porque é que isso pode causar impressão, quando se engole tantas personagens femininas nos antípodas – fracas, sem carácter, submissas... Calédra acaba por ser uma homenagem às mulheres "fortes", com uma "coisinha" chamada carisma. Existem, não existem? Assusta-me que possa haver quem sinta arrepios por causa da sua personalidade... Lamento a imparcialidade, mas esta é a personagem que sempre irei defender com unhas e dentes - é o tal carinho!

Para si, qual é a importância dos blogues na divulgação de livros?

Muitíssimo grande! Como autor e leitor, só posso estar agradecido por existirem blogues como este, que não se limita a ser uma mera "passerelle" de capas bonitinhas e de apreciações do tipo "like/deslike button". A diversidade é uma coisa que aprecio muito... O que também aprecio é a oportunidade dada aos autores nacionais, que precisam cada vez mais de visibilidade e de críticas, boas ou más, desde que sejam construtivas, fundamentadas e isentas de qualquer interesse obscuro. Essa crítica pode ser uma ferramenta fundamental para o amadurecimento dos autores. Infelizmente, em Portugal acontece tudo muito ao estilo de "gritos ou silêncios", sem que haja essa preocupação, esse acompanhamento. Por outro lado, as pessoas falam da crise e preocupam-se com encerramento da loja x e da fábrica y e esquecem que os autores nacionais (aqueles que não são vedetas dos media...) também estão nesse barco. Não vejo ninguém preocupado com o facto de um autor abandonar a escrita. Que se lixe, não é? Podemos sempre importar milhares de "pérolas" literárias estrangeiras porque, essas sim, são todas de uma qualidade inquestionável... 



De onde nasceu o seu interesse pela literatura?

Não tenho uma memória desse nascimento, talvez por não haver um momento preciso. É uma daquelas coisas que se perde nas brumas do passado. No entanto, o ambiente familiar ajudou bastante nesse parto e posterior desenvolvimento. Tive a sorte de crescer rodeado de livros, muitos de Ficção Científica e Fantasia, géneros tidos por leitura "para gente com pouco siso" por uma boa parte da sociedade. Num mundo de gente tão "sã", o meu orgulho em ter pouco siso é enorme...

Quais os seus escritores preferidos?

É que são tantos... Júlio Verne, Frank Herbert, C.S. Forester, George Orwell, Bernardo Santareno, Ray Bradbury, Isaac Asimov, Aldous Huxley, Paul Brickhill, Robert Heinlein, Fernando Pessoa, Enid Blyton, Tolkien, David Brin, H.G. Wells, K. Dick, Umberto Eco, James Tiptree Jr. (Alice Sheldon), H. P. Lovecraft, Conde de Volney, Jules Verne, John William Wall, Sinclair Lewis, Jean-Michel Angebert, Alexandre Dumas, Michael Moorcock, Erich Von Daniken, etc, etc. Tenho também de referir Rod Serling, pois nem todas as preferências vieram do papel.

Qual o livro que gostava de ter escrito?

Uma boa pergunta. Mas nunca pensei nisso. Gostava era de saber o que esteve na origem de certos livros. Por uma questão de curiosidade, gostaria de ir às origens da inspiração para o Épico de Gilgamesh ou de acompanhar Luciano de Samósata enquanto ele escrevia o seu Uma História Verdadeira. Isso, sim, seria fantástico.

Já tem mais projectos em mente?

Ter projectos não é difícil, o pior é concretizá-los. Tenho pouco tempo e confesso que sou péssimo a organizar esse pouquinho que vou desenrascando no quotidiano. Para já, conto reeditar o Goor II lá para Maio ou Junho – depende de vários factores. Já tenho uma história que dá continuidade ao universo dos meus livros anteriores, passada numa época posterior, com uma visão mais centrada em questões sociais e um nível tecnológico superior, em certos aspectos – um adeus às espadas, digamos assim... Mas talvez possa surgir algo diferente, que venha a ter toda a minha atenção. Logo se vê... 

22 de março de 2013

Entrevista à escritora Susana Almeida

Antes de mais quero agradecer à Susana Almeida por ter aceite a entrevista e desejar-lhe muita sorte nos seus futuros projectos. 

Susana Almeida é uma jovem escritora algarvia, autora da trilogia de fantasia "Estrela de Nariën" publicada pela editora Saída de Emergência .  


Eu já li os livros, pode ler as minhas opiniões aqui e aqui, e gostei imenso e não posso deixar de mencionar que os mesmos se encontram com 40% de desconto no site da editora





Quando surgiu a ideia de escrever a “Estrela de Nariën”, soube de imediato que seria uma trilogia?

Na verdade não. Inicialmente pensei na “Estrela de Nariën” como um “stand-alone”, contudo, à medida que a história se ia desenvolvendo comecei a perceber que teria demasiado material para um “stand-alone”. Ponderei sobre o assunto chegando à conclusão que o enredo beneficiaria com uma divisão, até porque existiam momentos perfeitos para o clímax final de cada livro que, jamais, teriam o mesmo impacto num “stand-alone”. Desta forma avancei para uma trilogia, o que também me permitiu explorar melhor as várias personagens e as ligações estabelecidas entre elas.




O que sentiu ao ter pela primeira vez os seus livros nas mãos?

Na verdade reagi com uma certa normalidade, mas claro que é sempre uma sensação única ter nas mãos o fruto de meses de trabalho. Curiosamente no caso do “Sombras de Morte” recordo-me que levei uma semana a realmente assimilar que o livro era de facto meu, algo que já não sucedeu com os restantes dois volumes.  

Poderá falar-nos um pouco de Étaín, a vilã da trilogia "Estrela de Nariën".

Étaín é uma elfo erradicada para o mundo dos Homens, de espírito corrompido pela ganância, o desejo de poder e de controlo que não se coíbe de usar vários estratagemas para assegurar que consegue o que tanto ambiciona. É fria, cruel, calculista e manipuladora, alguém capaz de forjar alianças que apenas contemplem os seus interesses, embora consiga que pareçam igualmente benéficas para ambas as partes. É ainda uma excelente estratega usando a sua inteligência para surpreender o inimigo quando este menos espera estando sempre um passo à sua frente. Dona ainda de uma personalidade forte não teme enfrentar qualquer adversário. Contudo, tem um ponto fraco, o sentimento que nutre por Lochan que se recusa a perder para outra mulher.

Se fosse uma personagem do universo Nariën qual escolhia e porquê?

A minha escolha recairia sobre Zahara. O porquê é simples, é uma personagem forte que luta pelo que quer e se recusa a aceitar o que lhe querem impor, traços que, pessoalmente aprecio bastante.




Pelo que sei, apesar de não ser uma personagem principal, Lochan tornou-se numa das personagens preferidas dos leitores. O que acha que cativou os leitores para que assim acontecesse?

O Lochan ter-se tornado, atrevo-me a dizer, a personagem mais popular da trilogia foi uma surpresa para mim. Não estava de todo à espera, mas compreendo que por ser uma “personagem cinzenta” com um passado bastante doloroso e sofrido mas ainda assim, capaz de demonstrar carinho, preocupação e afecto tenham sido dois dos pontos fortes para ter cativado não só as leitoras, como os leitores, que curiosamente também o elegem como o seu personagem preferido.  

Qual a personagem por quem nutre um maior carinho?

É uma pergunta bastante difícil de responder uma vez que sinto por todos um imenso carinho. Foram longos meses passados diariamente na sua companhia, vendo-os crescer e, em alguns casos, amadurecer ao longo das páginas, contando o seu passado e traçando o seu futuro. Confesso que Étaín sempre teve o seu cantinho especial no meu coração assim, como Athina, que apesar de apenas surgir no 3º volume me cativou desde o início, são ambas vilãs e ambas são personagens complexas, cada uma à sua maneira. Kyran foi igualmente uma personagem que me marcou, talvez tenha sido a personagem que ao longo dos três volumes mais mudanças sofreu e foi um prazer acompanhar o seu crescimento. Poderia continuar a referir muitas outras mas estas três foram de facto as que recordo com mais saudade e carinho.  

Sei que a “Estrela de Nariën” ficou em primeiro lugar na categoria "O Melhor Livro que Li" pelo Clube de Leituras e Fãs do Fantástico, no projecto escolar Ler é Fantástico em 2011. Ficou surpreendida ao receber esta notícia?

Bastante, não estava de todo à espera mas foi uma surpresa muito agradável. Só posso agradecer aos membros do Clube de Leituras e Fãs do Fantástico pelo carinho e entusiasmo com que receberam os meus livros e a mim, aquando da minha visita assim, como à prof. Eunice Pinho pelo seu trabalho de incutir o gosto pela leitura nos mais novos.  
  


Quais os seus escritores preferidos?

Existem vários escritores que admiro como Emilio Salgari, Catherine Anderson, Robert Jordan, Robin Hobb, Juliet Marillier, David A. Durham e Alexandre Dumas... Alguns pela escrita, outros pela imaginação, pelo que me ensinaram ou pelo simples prazer que é ler os seus livros.

Qual o livro que gostava de ter escrito?

Certamente que existem vários mas o que imediatamente me vem à memória é: Amor à Primeira Vista de Catherine Anderson.

Já tem mais projectos em mente?


Existem sempre vários projectos ou ideias em mente, mas neste momento o que ocupa maior espaço é o reescrever de um manuscrito que já tem alguns anos e que gostaria imenso de ver publicado.

15 de março de 2013

Entrevista ao escritor Bruno Martins Soares

O segundo entrevistado é Bruno Martins Soares, autor de "A Saga de Alex 9", que assinou os dois primeiros volumes, "A Guardiã da Espada" e "A Coroa dos Deuses" com o pseudónimo Martin S. Braun. 

Quero agradecer ao Bruno por ter aceite esta entrevista.

"A Saga de Alex 9" que foi inicialmente planeada como uma trilogia mas agora está compilada num único volume, é uma mescla de fantasia histórica e ficção cientifica e com um enredo complexo e muito bem construído.  




Poderá falar-nos um pouco de Alex 9, personagem principal da trilogia.

Alex é uma personagem mais complexa do que pode parecer à primeira vista. É uma órfã de origens misteriosas que é adoptada pela empresa Takahashi-McNamara e treinada desde a infância para ser uma guerreira de elite. Traumatizada por um período da infância em que viveu num orfanato que se supõe cruel, criou uma carapaça de força à sua volta e só ganhou disciplina mental e emocional graças aos seus mestres Kaoru e Pierre. Alex assume-se e nós assumimo-la como uma guerreira perigosa que só serve para combater. Na verdade, a sua missão na Segunda Terra permite-lhe evoluir para uma mulher que ama, é amada, cria uma família, ganha responsabilidades de liderança e… muito mais. Esta dinâmica entre a persona do guerreiro e a essência do ser humano está, na realidade, presente em várias personagens e é uma dinâmica que me interessa imenso, pois exige sofisticação emocional.

Como se inspirou na criação do mundo?

Na verdade, pensei num mundo medieval muito parecido com a Terra. Fiz questão de dar traços culturais diferentes aos diferentes povos, uns têm traços chineses e romanos, outros franceses, outros japoneses e mongóis, outros de índios norte-americanos, só o povo de Brodom é que tem uma essência parecida com os povos típicos dos épicos de Fantasia.




Acha que o livro beneficiou da compilação ou preferia que tivesse continuado uma trilogia, uma vez que foi pensado para ser uma trilogia?

Acho que beneficiou da compilação e o último volume já foi escrito a pensar na compilação. Como normalmente, na minha escrita, os pormenores da intriga se encaixam detalhadamente uns nos outros, o livro ganha ao ser lido todo de uma vez. Só que para ser assim desde o início teria demorado muito mais tempo a publicar. Acho que assim também beneficiou do marketing já feito para os outros volumes da série e do facto de já haver fãs e pessoas à espera de o comprar.

Qual a personagem por quem nutre um maior carinho?

Está a perguntar-me de que filho gosto mais? Amo-os todos. Claro que a Alex é a menina dos meus olhos, mas gosto muito da calma, da inteligência e da liderança de Dael e adoro Jikard que evoluiu bastante ao longo do volume. Outra personagem de quem gosto é Hert de Bavra, que é outro com uma boa evolução. Mas gosto de todos. Até de Wa-Tsu e de Serkatic. Sempre que escrevia sobre Serkatic só me apetecia rir às gargalhadas, na verdade, pois é alguém que parece ser muito inteligente mas consegue sempre fazer a coisa errada. Mas também o acho irritante, às vezes. Pierre e Kaoru são outros que me dão muito gozo, pois são um casal muito unido e com um fundo muito bom, mas não são necessariamente óbvios ou estereótipos.

Para si, qual é a importância dos blogues na divulgação de livros?

Muita. Especialmente nesta área. Uma vez que não existe uma crítica organizada para este género como para a literatura ‘realista’, são um dos meios, senão ‘o meio’, que melhor divulga os livros de FC e Fantasia. E fico muito contente com a atenção que prestaram a Alex 9 – agradeço imenso.




De onde nasceu o seu interesse pela literatura?

Comecei a ler antes de saber ler. Tínhamos em casa sempre banda desenhada que eu e os meus irmãos líamos só pelos ‘bonecos’ antes de sabermos ler. Depois, quando eu tinha 10 anos, o meu pai trouxe para casa um livro juvenil ‘sem bonecos’, a que eu imediatamente torci o nariz. Mas a verdade é que pouco depois estava viciado. Desde aí que leio sempre ficção, embora tenha tido ‘períodos de carência’ em várias alturas. Lá em casa sempre se deu importância aos livros, que é algo que se aprende e deve ser ensinado desde tenra idade. Mesmo assim, nunca perdi de vista a banda desenhada.

Quais os seus escritores preferidos?

Está a perguntar-me de que pai eu gosto mais? Gosto de muitos. Mas eis alguns que me marcaram ou que devo destacar: Virginia Woolf, Boris Vian, Bernard Cornwell, Alexander Kent, George R.R. Martin, Kazuo Koike, entre outros. Todos por motivos diferentes – aprendi com todos, e continuo a aprender.




Qual o livro que gostava de ter escrito?

Quem não gostaria de ter escrito ‘As Crónicas do Gelo e do Fogo’? Mas confesso que há outro livro que admiro imenso e que me vem à cabeça pela sua construção, pela sua simplicidade e pela sua excelência: ‘O Velho e o Mar’, de Hemingway. Mas há outros. Adoro a ‘Viagem ao Farol’, de Virginia Woolf, por exemplo: a sua capacidade de construção para ter um ‘pay-off’ final é o género de coisa que eu adoro. E ‘Duna’, de Frank Herbert, é um dos livros que mais me marcou: a escrita intimista mas enorme de Herbert é excelente.

Já tem mais projectos em mente?

Claro. Sempre. Tenho sempre vários projectos em mãos. Os que vocês conhecem são apenas os que são terminados, mas há sempre mais. Se só tivesse as ideias que tenho agora, já dava para ficar a escrever até ao fim da minha vida. Estou a escrever neste momento uma coisa que não sei com o chamar mas diria que é um conto-romance: um romance constituído por vários contos. Estou a escrever em inglês e chama-se ‘The Dark Sea War Chronicles’. É uma espécie de romance naval em ficção científica. Estou a escrever vários guiões para cinema e televisão. Estou a escrever um romance ‘realista’ chamado ‘A Pé Desde as Montanhas’. Por fim, estou a trabalhar num outro romance do universo Alex 9, passado dois anos depois do fim da Saga, chamado ‘Guarda da Rainha’. Chega?

8 de março de 2013

Entrevista ao escritor Paulo Fonseca

Vou iniciar a minha série de entrevistas com o Paulo Fonseca, autor da trilogia "Império Terra", ao qual desde já agradeço pela sua disponibilidade.


Império Terra é uma trilogia que aborda um mundo pós-apocalíptico e a terrível luta pela sobrevivência. 

Eu já li os dois volumes publicados da trilogia, "O Início" e "Guerra da Pirâmide", e são dois livros com qualidade, mas que não têm o devido reconhecimento. Se estiver interessado em os adquirir poderá o fazer através do blogue do autor. 



Sei que está a fazer a revisão ao terceiro volume da trilogia, já tem alguma previsão para o lançamento?

Não posso responder a esta questão sem fazer uma introdução. O terceiro volume teve já diversas versões, contudo, apenas esta chegou ao fim. Todas as outras conduziram-me a um caminho que, a dada altura, me desagradou e me fez perceber que não era aquilo que pretendia escrever. Depois de alguma meditação sobre o assunto consegui desenhar o esquema, o story line – se preferires – e arranquei. Todavia, no final, acabei com uma história volumosa; nunca pretendi um livro muito grande, por tudo aquilo que está associado à difícil edição de livros grandes. Neste momento, a revisão implica um trabalho profundo de análise e avaliação que pretende, não só, garantir a qualidade, mas também o emagrecimento – essencial: uma tarefa descomunal, porque – regra geral, no meu caso – a revisão acaba muitas vezes por complementar o texto original, engordando-o. Além disso, existe alguma resistência nas editoras em publicar um terceiro livro, sem terem publicado os anteriores. Tudo isto somado, faz-me acreditar que não posso adiantar uma data para o lançamento; e embora gostasse muito de o publicar em 2013, talvez tenha de me conformar com a ideia de 2014. A isto não é indiferente, uma ideia que tive – uma estratégia – que poderá tornar a edição do Império Terra III, muito mais atraente; mas mais não digo – o segredo é alma do negócio. No entanto, faz parte dos meus projectos dar alguma coisa a quem gosta deste universo; tenho uma ideia para publicar directamente no meu blog http://imperioterra.blogspot.com uma história que terá lugar algures entre o momento em que Nolen relata a Guerra da Pirâmide e o início do terceiro volume.

Poderá falar-nos um pouco do mundo pós-apocalíptico que criou para a trilogia?

Quando tive a ideia de Império Terra, quis criar um Fim do Mundo diferente dos lugares comuns: asteróides, guerras e epidemias. Para mim o mundo teria de findar, mas teria de estar intacto, porque existia uma mensagem que eu queria passar que era a resposta ás seguintes questões: e se tudo aquilo com que contamos, hoje, acabasse? Quem nos tornaríamos? Que caminho seguiríamos  Este foi o inicio de tudo... Mas também aqui é importante fazer um preâmbulo. O primeiro livro a ser escrito foi a Guerra da Pirâmide. Isto aconteceu, porque eu tenho alguma obsessão pela coerência. Assim, tinha de arranjar um passado que pudesse trazer semelhante fim; esse passado surgiu com a Guerra da Pirâmide. Apenas com o ataque de um povo que não gosta de usar a sua tecnologia superior, que prefere perseguir e acossar, e que não pretende nada mais do que encontrar uma coisa que há muito procura, seria possível ter um mundo vazio de gente – de repente – e intacto, em condições de permitir que a humanidade escolhesse o seu novo caminho. E só então, escrevi Império Terra: o princípio; depois de saber o que tinha acontecido há milhares de milhares de anos atrás e as suas consequências para um nefasto dia de Outubro de 2029. É claro que, depois, a fasquia tornou-se mais alta e a pergunta principal nasceu: E se tudo o que te contaram não for a verdade? O meu projecto inicial transformou-se numa – não diria epopeia – mas numa jornada para mostrar uma história do Universo, e da humanidade, diferente.



O que o levou a escolher Lisboa como o cenário original?

«Escreve sobre o que conheces», é uma máxima apontada por muito escritores. Lisboa é uma cidade que conheço bem, principalmente a área onde a história se desenvolve, é uma cidade cheia de luz e movimento, e sendo a capital de Portugal que melhor sítio para se desenhar um princípio de um fim, para demonstrar os contrastes entre aquilo que o mundo era e aquilo em que ele se tornou?Apenas para aguçar a curiosidade, no terceiro volume regressamos a Lisboa...

Qual a personagem por quem nutre um maior carinho?

Gabriel, sem dúvida nenhuma. Será injusto não referir os outros, porque todos são importantes, e porque a todos me apeguei de alguma maneira; por exemplo, gostei muito do Argu Revorelta, da Elira, do Sibael, do Nolen e do Trebar... e na redacção do terceiro comecei a apreciar outros. Mas, se tivesse de eleger um, seria o Gabriel. Mas isto dos personagens é interessante. Cada autor relaciona-se com eles de uma maneira particular, tal como os leitores. Para mim, a partir do momento que estão criados são livres – por assim dizer – e desenvolvem-se sozinhos – por assim dizer, também; e, por vezes, quebram as nossas expectativas e desiludem-nos ou superam-nas e tornam-se heróis inesperados. Por exemplo, nas Crónicas de Allarya, do Filipe Faria, eu sou fã do Quenestil. E tu, na Guerra da Pirâmide, surpreendeste-me ao dizeres que o teu preferido era o Onileva – que aos meus olhos é um personagem secundário; o que me fez crer que foi um personagem muito credível.

Para si, qual é a importância dos blogues na divulgação de livros?

No nosso mundo, onde a maioria das pessoas vai à internet em busca de informação, os blogs têm um importância determinante. E isso sucede, não só por facultarem informação, mas porque numa sociedade em que abundam tantos títulos dentro do mesmo género, e em que o tempo é escasso, torna-se necessário escolher bem o que se vai ler, e os blogs dão-nos essa possibilidade. Ao fazerem isso tornam-se referências para os leitores e - em alguns casos – essas referências são tão importantes que as próprias editoras se associam aos blogs. Desta mecânica surge uma sinergia que é a própria divulgação das obras e dos autores. Para além dos blogs, como o teu, que divulgam diversas obras, há depois os próprios blogs dos autores, dedicados ás próprias obras. Devo dizer, sobre os últimos, que é muito complicado conseguir fazer essa divulgação quando se tem um trabalho 9-18 e se quer escrever todos os dias – é por isso que, regra geral, apenas publico ás quartas.

De onde nasceu o seu interesse pela literatura?

O meu interesse pela literatura foi nascendo aos poucos, e posso dizer que até despontou tarde. O meu pai tinha, e tem, muitos livros em casa; não era uma vasta biblioteca, mas para mim era imensa, e sempre sentira curiosidade pelo conteúdo daqueles «pacotes de papel» e comecei a ler alguns. Até dada altura o meu género estava cingindo ao policial e ao mistério, que era aquilo que mais existia em casa dos meus pais; mas depois comecei a ler títulos menos representativos, mas assaz interessantes e que me mostraram outros géneros. Creio que o momento mais alto, aquele que me define enquanto leitor, foi quando descobri que podia levar livros para casa, de borla, da biblioteca municipal; foi aí que comecei a ler a sério e comecei pela Trilogia do Senhor dos Anéis. Depois disso ninguém mais me parou; lia tudo aquilo que achasse interessante. Já do ponto de vista do escritor, de como a ideia de escrever nasceu, tudo começou numa brincadeira: um concurso literário, no 9º ano. O que escrevi foi uma patacoada enorme, em que – basicamente – brincava com alguns familiares meus. Mas foi o suficiente para que nascesse o «bichinho». Nesse ano escrevi dois proto-romances policiais – o género em que estava mais à vontade. Mais tarde, num desafio lançado à turma por um professor de Português, escrevi um pequeno conto sobre a aventura de um pescador no mar revolto. O professor adorou; comparou-me a Raúl Brandão – o que me deixou orgulhoso – e o que me valeu a alcunha de Alfred «patilhas» Hitchcock. Nesse momento nasceu o sonho de ser escritor, comecei a escrever o meu primeiro romance policial, que está na gaveta - cheio de coisas escritas por um adolescente que via na escrita de histórias a possibilidade de ser o herói que desejava; de lá até cá, numa jornada conturbada, fui escrevendo alguns contos, alguma poesia, e esse sonho foi ficando esquecido. Até que ressurgiu e deu origem ao Império Terra.



Quais os seus escritores preferidos?

Como tenho sempre dito, não me considero um escritor de género. Ou seja, gostaria de ser visto, um dia – se tiver essa sorte – como um escritor, tão somente. Gosto muito do género fantástico e Hoje acho que daqui a muitos anos – espero eu -, quando olhar para aquilo que produzi, estarei a ver uma pilha de livros de Fantástico e umas torres mais pequena - e menos vistosas - de outros géneros; no entanto, posso estar enganado. A verdade é que escrevo conforme a história nasce, e nem sempre nasce no fantástico. Devo isso ao facto de ter convivido, se assim se pode dizer, com uma vasta gama de géneros literários. Sendo verdade que comecei pelos policiais, não é menos verdade que assim que pude pisar outros terreno o fiz. Por isso, estão entre os meus autores, favoritos: Agatha Christie, John Le Carré, Balzac, Kafka, Marion Zimmer Bradley, Juliet Mariller, Arthur C. Clark, Konsalik, Isac Asimov, Almeida Garret, Tolkien, Julio Verne, Daniel Silva, Paulo Coelho... Poderia continuar e continuar. O que importa dizer - e isto é uma espécie de sugestão; é que todos os autores nos enriquecem de alguma maneira; em todos eles eu encontrei inspiração e força para continuar a trilhar este caminho.

Qual o livro que gostava de ter escrito?

Não consigo dar essa resposta. Há livros que me impressionaram pela história, mas que o modo como foram escritos não me arrancaram nenhuma exaltação. Há livros cuja história não é nada de especial, mas o escritor deu-lhe uma vida inebriante através das suas palavras. Um bom livro é conseguido pelo equilíbrio daquelas duas dimensões. Por isso, dizer que gostava de ter escrito este ou aquele livro, é impossível. Mais facilmente identifico partes das narrativas que gostava de ter escrito; ou melhor, que gostava de conseguir escrever com igual brilhantismo. São essas partes que me inspiram e me fazem querer ser um melhor escritor.

Já tem mais projectos em mente?

Um escritor escreve. Aqui há algum tempo li um texto que dizia exactamente isto: há pessoas que querem ser escritores e há os escritores; os primeiros perseguem um sonho, os segundos realizam-no. Eu enquadro-me no segundo; escrevo. Por isso a resposta à pergunta é sim. Tenho dois livros publicados, um terceiro em revisão; mas tenho mais dois terminados; e entretanto publiquei dois contos pelas colectâneas da Pastelaria Studios – «Ocultos Buracos» (Poseidon) e «Na Corda Bamba» (Madnov); estou a escrever outro romance, enquanto faço a revisão do Império terra III. E, para terminar, há o tal projecto de romance online. Ideias tenho muitas, vou apontando-as num caderninho; o tempo é que é pouco.