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domingo, 3 de abril de 2011

O circo e a vergonha ou a falta dela

Estas eleições do Sporting demonstram mais uma vez o muito que há de errado com o futebol português. A imprensa que desempenhou até ao final dos anos cinquenta um papel fundamental na construção e divulgação do futebol português tornou-se desde o final dos anos oitenta no megafone dos poderes do futebol português. Cândido de Oliveira, Ribeiro dos Reis, Ricardo Ornellas, Tavares da Silva, entre muitos outros, devem estar a revolver-se nos respetivos túmulos.
O Record através do seu diretor, já veio pediu desculpa à oligarquia por se ter atrevido a sugerir na sondagem que o periódico divulgou que não ia continuar tudo na mesma. Diz que o " O erro residiu na ponderação final, da exclusiva responsabilidade do diretor deste jornal." Mas desde quando é que o diretor de um jornal aplica taxas de ponderação a sondagens? Onde é que está a ficha técnica da sondagem? O que é que a Entidade Reguladora da Comunicação, que tem o dever de "regular e acompanhar a realização e publicação deste género de estudos" tem a dizer sobre o facto de o diretor do Record ter uma palavra a dizer na "ponderação final da sondagem", seja lá o que for que isso quer dizer. Mas nada disto surpreende quando vem de alguém que se recusou a noticiar as escutas e a corrupção na arbitragem em Portugal sob o argumento de que não morde a mão que lhe dá de comer. É evidente que não. Ao mesmo já sabemos - como se não soubéssemos... - qual é a mão que lhe dá de comer. Dizia o diretor do Record, numa resposta a José Diogo Quintela: "Nós pertencemos a um circo que vive de emoções - de golos e de erros, títulos e de frustrações. E não temos vergonha disso.” O Jogo, alinhou também pela medida do Record. Mas, claro, o Jogo é propriedade de Joaquim Oliveira, que é o maior cliente de Pedro Baltazar. Mas vamos deixar isso de lado por instantes. A Bola, sempre alinhada com os poderes, sendo o único jornal que não "falhou" na noite eleitoral - seja lá o que for que isso quer dizer no cenário em que nos encontramos - chamou imediatamente Godinho para a limpeza de imagem, da mesma forma que há ano e meio tinha oferecido a Roquette um púlpito de onde pregar aos fiéis para os alertar dos aventureiros e aldrabões, que vieram um ano e meio mais tarde integrar a lista que apoiava. Mas o pior nem foi isso. Foi a notícia publicada às 00.07 de segunda-feira a anunciar os números finais das eleições. Os tais 14.619 eleitores e 91.842 votos que algumas horas antes eram 14.205 eleitores e 88-530 votos. Mas o pior não foi a publicação acrítica dos votos, como se não fosse suficientemente mau. Imaginem o que seria a Comissão Nacional de Eleições dizer que afinal a taxa de abstenção indicada no início da votação se alterou no dia seguinte à contagem dos votos. Nem em ditaduras saloias se observa este à vontade na manipulação eleitoral e mediática quanto mais no mundo civilizado. Mas, dizia, o pior nem foi isso. Foi a pura e simples mentira sobre a fonte. Às 00.37 de segunda-feira dia 28 de Março, e ao contrário do que afirma a notícia de A Bola, não havia qualquer indicação no site do Sporting sobre novos totais de eleitores e votos. A notícia que dava os resultados eleitorais tinha sido publicada horas antes, a meio da tarde, e sem totais. Porquê então escrever na notícia "Estes números, que estão no site oficial do clube, são superiores ao último balanço feito por responsáveis do clube, sábado após o último votante."?

quinta-feira, 31 de março de 2011

Onde é que eles andam?

O Record não pára. Agora garante aos seus leitores que o Sporting já contratou oito jogadores para a próxima época. Não diz que vai contratar, que está a pensar contratar, que está a negociar. Não. Já contratou. Para quando mais um editorial de Alexandre Pais a dizer que se enganou e que afinal não eram 8, eram 0. Já estou o ver o "jornalista" a dizer que "O erro residiu na ponderação final, da exclusiva responsabilidade do diretor deste jornal". Se bem que ninguém saiba exatamente o que é isso da "ponderação final" conseguimos perceber que é uma espécie de afinação. Uma afinação alinhada.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Nem notáveis, nem sheiks: a democracia no Sporting

Ao longo das últimas semanas têm-se sucedido nos meios de comunicação social as notícias sobre reuniões entre "notáveis", putativas vagas de fundo e a autorização - sempre tácita - por parte da banca a essas candidaturas. Em todo este cenário falta sempre a coisa mais importante: os sócios e as eleições. Apesar de tudo, para a banca ou os notáveis poderem tomar conta do clube não o poderão fazer sem o apoio dos sócios do Sporting Clube de Portugal e sem lhes apresentar um programa. A pobreza do discurso dos candidatos, proto ou não, e dos media contrasta de forma absolutamente chocante com o espírito de debate e crítica - no melhor e mais democrático sentido do termo - que reina naquilo que podemos chamar de esfera pública leonina. Nas últimas semanas, mas também desde há muito tempo, personalidades como José Goulão, José de Pina, José Diogo Quintela ou Daniel Oliveira, entre outros, têm vindo a reflectir sobre a vida do clube de forma bastante interessante. Mesmo para lá destas figuras públicas a sensação com que fico ao circular pela blogosfera é que no Sporting conseguimos (e aqui acho que A Última Roulote, a par de muitos outros blogues, também contribuiu para isto) criar um espaço de debate sobre o clube que ultrapassa em muito a questão meramente desportivo-futebolística. Apesar de todos os problemas, foi nestes últimos anos de crise e em especial desde a primeira assembleia-geral no Pavilhão Atlântico em 2006, que se pôde observar a emergência, para responder a um estado de emergência, de uma vibrante e informada comunidade que debate de forma apaixonada a gestão do Sporting e o sentido da sua existência. Esta participação, e este espaço público, não se limita contudo às redes sociais e ao espaço mediático. Participei ao longo dos últimos anos em conferências organizadas por três grupos distintos. Desde um debate no hotel Barcelona organizado por pessoas próximas de Subtil de Sousa e no qual participou, por exemplo, Zeferino Boal, passando pelas iniciativas da AAS até ao Movimento Leão de Verdade penso que estamos - reafirmo a dimensão colectiva e comunitária deste processo - a transformar as formas de participação dos sócios na vida dos clubes. Claro que as roulotes, como os cafés da Europa Central onde Habermas situa as raízes da esfera pública burguesa, ou, numa analogia um pouco mais feliz, as tabernas da Inglaterra que E.P.Thompson considera fundamentais para a construção de uma identidade de classe entre os trabalhadores industriais do século XIX, são também espaços de socialização e produção de pontos de vista, tal como sucede nas bancadas do nosso estádio. Finalmente, temos as assembleias-gerais. Também elas passaram a ser bastante concorridas. Tornaram-se, contra a vontade das direcções e dos presidentes da mesa da AG, o espaço por excelência de reafirmação dessa filiação clubista e da importância que o Sporting tem nas nossas vidas.
Perante tudo isto, que não considero que seja coisa pouca, terá que surgir obrigatória e necessariamente uma alternativa credível ao projecto Roquette. Uma alternativa que não passe nem por notáveis paternalistas portugueses nem por sheiks das arábias ou oligarcas russos. A crise do Sporting e a tentativa de destruição da sua dinâmica associativa teve como efeito perverso - no melhor sentido do termo - criar esta dinâmica democrática cuja profundidade é relativamente original no contexto desportivo português. Tudo isto para dizer que surgiu mais um espaço de debate e reflexão sobre o Sporting Clube de Portugal. O Movimento Sporting Sempre. Tem entre os seus fundadores duas pessoas com quem já passei algumas horas a discutir o Sporting e que participam activamente na vida do clube: o José Gomes e o Miguel Lopes. Não sei se estaremos sempre de acordo, e nem sempre estivemos no passado, mas os pontos de encontro são muitos. Só nós é que podemos transformar o Sporting. Não são os notáveis, os sheiks ou os bancos que vão salvar o nosso clube.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Cooperação estratégica

Depois de feito o negócio segue-se a assadura dos concorrentes, como lhes chamou Bettencourt na AG, em lume brando. Ontem, Dias Ferreira, numa tentativa de limpar um bocado o negócio, já havia referido a possibilidade de Moutinho usar algumas das cláusulas de desvinculação introduzidas nos últimos anos pela FIFA. Não percebi muito bem, mas aparentemente por Moutinho já ter mais de cinco anos de contrato cumpridos poderia sair pagando o que faltava do seu contrato mais uns trocos. Mas o que é verdadeiramente interessante é a ofensiva mediática de hoje. Olhando para o DN, o JN e o Jogo assistimos a um relato meticuloso das incompetências que possibilitaram este negócio. Até o habitualmente solícito Jean-Paul Lares desta vez malha forte. O mais curioso é reparar na propriedade dos referidos órgãos de comunicação: todos pertencem à Olivedesportos, que por sua vez detém 20% da SAD por via directa e mais 10% por via da Nova Expressão, empresa desse grande sportinguista que dá pelo nome de Pedro Baltazar. Para cúmulo, refira-se que, ao contrário do que sucede com o Benfica, que está a pedir 40 milhõs, a SAD já negociou e vendeu os direitos televisivos até 2019, por 15 milhões de euros à mesma Olivedesportos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Debate democrático e imprensa II

Já tinha feito referência a dois jornais numa posta anterior. Faltava A Bola. O jornal da Travessa da Queimada faz hoje uma primeira página gigantesca com o ex-presidiário e o pai do défice. Destaques destes por aqueles lados geralmente só se encontram quando o Benfas ganha um joguinho. Não coloco a primeira página daquele jornal aqui na roulote, para vossa visualização, porque, apesar de tudo, a pornografia (nada contra) não está incluída nos nossos rigorosos critérios editoriais. Temos o pleno. A Bola, Record e o Jogo estão pela situação. A Última Roulote alinha pela sportinguização.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Debate democrático e imprensa

As AG gerais são uma chatice. É só gritaria e ninguém se entende. Certo. Então onde é que os sócios se podem informar sobre a vida do clube e ter acesso a pontos de vista divergentes. O Leão da Estrela escreve sobre O Jogo. Pelo que a esse respeito está tudo dito. Olhando hoje para o Record temos uma entrevista de duas páginas ao mentor do projecto financeiro. Isabel Trigo Mira lá aparece, mas sem qualquer tipo de destaque minimamente comprável àquele. Alguém foi falar com a oposição, ou ela é só um produto da nossa imaginação?

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A monocultura do vazio

Por motivos profissionais aqui há uns anos fui obrigado a ler parte substancial da imprensa desportiva. E quando digo ler, digo ler desde a fundação até à actualidade. Nesses tempos, lutava com o meu colega de trabalho para saber quem é que ia ficar com A Bola, justamente intitulada durante anos como "o jornal de todos os desportos" ou a Bíblia do Futebol. Durante anos ouvi dizer que a Bola era o jornal português melhor escrito. Essa experiência de leitura não só o confirmou como me colocou na desconfortável e um tudo nada sentimental posição de ter saudades de um tempo que não vivi. Tratava-se de facto de um jornal monumental. Arrisco mesmo a dizer do melhor que a humanidade já viu. Não apenas a nível de escrita, como pelo próprio papel que desempenhou no desenvolvimento do desporto, sobretudo futebol, ciclismo e hóquei em patins, colocando-o ao mesmo nível da arte ou da ciência. Era de facto um jornal especializado, apaixonado por desporto e com um importantíssimo papel político que não cabe aqui desenvolver. Isto para dizer à semelhança do Cherbakov também eu deixei de dar para esse peditório, dado que o contraste com o passado que vim a conhecer tornou o presente insuportável. No meu caso já faz alguns anos, com intervalos ocasionais, que se observam exclusivamente quando não consigo ver os jogos do Sporting. De resto a Bola, como o Record e o Jogo tornaram-se prostíbulos, no duplo sentido do termo. A luta de audiências a isso obriga, mas a subordinação absoluta aos interesses instalados à volta do futebol, que vão desde os clubes, aos dirigentes passando pelos empresários, apenas de forma muito generosa permite que se possa continuar a tratar a imprensa desportiva como qualquer coisa que se aproxime do jornalismo. À vacuidade absoluta da imprensa no terreno do futebol (veja-se, para não ir mais longe, a questão do apito dourado) junta-se também o desprezo às outras modalidades, e até mesmo a tudo o que seja futebol e ultrapasse a esfera dos três grandes. Temos assim três pasquins que nem sequer se dedicam à monocultura do futebol. Dedicam-se simplesmente à monocultura do vazio. Aqui, como noutras áreas, a única possibilidade de mudança está no poder dos consumidores dizerem não.